Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Bodas em Caná. “Fazei o que Ele vos disser” - estas palavras são o testamento de Maria. Por quê?



Bodas em Caná na Galileia. A mãe de Jesus, Maria,  estava lá. Também Jesus e os seus discípulos foram convidados... O primeiro milagre do Homem de Nazaré...!  - Este é um dos mais conhecidos episódios bíblicos do Novo Testamento.  À primeira vista pode parecer que, talvez, já saibamos tudo sobre este tema e que não exista mais nada que alguém possa  “acrescentar”.  Mas, será que é assim?



O comentário de  M. Asun Gutiérrez Cabriada que apresento agora no blog Indagações,  é uma reflexão que tem muito para oferecer a cada um de nós. 

Não deixe de ler.
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[Os interessados pedem ler esse texto em apresentação de PPS, acessando o site das Monjas Beneditinas de Montesserrat: http://www.benedictinescat.com/montserrat/imatges/Dom2C13port.pps     Trabalho muito bonito!]




Maria, a mulher que não se resigna perante a contrariedade de Caná, mostra-nos que há uma lei fundamental pela qual as coisas podem ir do pequeno ao grande, do débil ao forte, da água ao vinho, em todas as situações.

É a lei da esperança.


Ermes Ronchi 


Evangelho segundo João 2, 1-11



Naquele tempo, realizou-se um casamento em Caná da Galileia e estava lá a Mãe de Jesus. Jesus e os seus discípulos foram também convidados para o casamento. A certa altura faltou o vinho. Então a Mãe de Jesus disse-Lhe:

«Não têm vinho».
Jesus respondeu-Lhe:
«Mulher, que temos nós com isso? Ainda não chegou a minha hora».
Sua Mãe disse aos serventes:
«Fazei tudo o que Ele vos disser».
Havia ali seis talhas de pedra, destinadas à purificação dos judeus, levando cada uma de duas a três medidas.
Disse-lhes Jesus: «Enchei essas talhas de água».
Eles encheram-nas até acima.  Depois disse-lhes:
«Tirai agora e levai ao chefe de mesa.»
E eles levaram. Quando o chefe de mesa provou a água transformada em vinho - ele sabia  donde viera, pois só os serventes, que tinham tirado a água sabiam – chamou o noivo e disse-lhe: -«Todos servem primeiro o vinho bom e, depois de os convidados terem bebido bem, serve o inferior. Mas tu guardaste o vinho bom até agora.»
Foi assim que, em Caná da Galileia, Jesus deu início aos seus milagres. Manifestou a sua glória e os discípulos acreditaram n’Ele.
  


Comentário

Naquele tempo, realizou-se um casamento em Caná da Galileia
e estava lá a Mãe de Jesus.
Jesus e os seus discípulos foram também convidados para o casamento.

O Deus de Jesus não se revela num templo nem rodeado de imponente majestade. Revela-se num ambiente de alegria e de festa, na festa humana por excelência, acompanhado de amigos.
Algo que conviria ter presente em ambientes que se consideram cristãos e olham de esguelha e/ou censuram o que suponha diversão, prazer e alegria.
Jesus começa a sua missão participando na festa do amor, porque o amor é a única força capaz de encher a terra de milagres.

A certa altura faltou o vinho. Então a Mãe de Jesus disse-lhe:
«Não têm vinho».
Maria participa na festa dos que usufruem, dançam, desfrutam do vinho, riem, cantam, sem deixar de observar tudo o que acontece à sua volta.
A sua observação, ativa, discreta, criadora e comprometida, permite-lhe ver o que ninguém vê. Vive pendente de quem necessita ajuda, vive em atitude de interesse e amizade para os outros, disposta a solucionar situações difíceis e momentos de apuro.
Não diz: “já não há vinho” de forma impessoal, mas: “não têm vinho”. Primeiro as pessoas, depois as coisas. Pede para os outros.

Há casais, há pessoas as quais “não têm vinho”, sinal de uma alegria que elas não podem desfrutar, pelas injustiças e a falta de solidariedade. Não têm dinheiro para chegar ao fim do mês. Carecem de um emprego digno e estável, não podem aceder a uma casa o os desalojam da sua.

Como Maria, podemos  assumir o compromisso de trabalhar para procurar que a ninguém falte o vinho do amor, da felicidade, da  amizade, da fé, da alegria, da beleza, das condições necessárias para poder viver com dignidade.

Jesus respondeu-lhe:
«Mulher, que temos nós com isso? Ainda não chegou a minha hora».
Sua Mãe disse aos serventes:
«Fazei tudo o que Ele vos disser».

Maria tem algo que dizer e fazer quando seu filho vai iniciar a sua missão, o primeiro de seus sinais. São as últimas palavras de Maria no Evangelho. Não podia ter dito nada mais claro e mais profundo. Fazei o que Ele vos disser.
Fazei, quer dizer, atuai, escutai a sua Palavra, abri-vos a ela, guardai-a em vosso coração, comprometei-vos com ela, dai fruto, praticai o Evangelho, que é o caminho para introduzir o amor no mundo.
Estas palavras são o testamento de Maria.
Não necessita realizar aparições para dar novas mensagens, às vezes aterradoras. A sua última e definitiva mensagem é: Fazei o que Ele vos disser. Só Ele.

Havia ali seis talhas de pedra, destinadas à purificação dos judeus,
 levando cada uma de duas a três medidas.
Disse-lhes Jesus:
«Enchei essas talhas de água».
Eles encheram-nas até acima.
   
As talhas são símbolo da antiga aliança que já não dá vida nem alegria, estão vazias. Pesam, são de pedra, é difícil mudá-las, movê-las.
Jesus muda a água – purificações que a lei ordenava -, por vinho excepcional e abundante, símbolo de festa, dos novos tempos messiânicos, do amor, da presença do Reino e do partilhar.
Na boda na qual “falta o vinho”, oferece–se o “vinho bom”, a melhor revelação do rosto de Deus.
Depois disse-lhes:
-«Tirai agora e levai ao chefe de mesa.»
E eles levaram. Quando o chefe de mesa provou a água transformada em vinho - ele sabia  donde viera, pois só os serventes, que tinham tirado a água sabiam – chamou o noivo e disse-lhe:
-«Toda a gente serve primeiro o vinho bom e, depois de os convidados terem bebido bem, serve o inferior. Mas tu guardaste o vinho bom até agora.»

Sem a disponibilidade de Maria, sem a resposta dos serventes, a água não se teria convertido em vinho. Os “milagres” são também ação e responsabilidade humana. Jesus conta sempre conosco.
Os serventes colocaram-se às ordens de Jesus e a água se converteu em vinho.
Se nos pusermos à sua disposição, poderemos descobri-l’O em todos os instantes da nossa vida e proclamar as maravilhas que faz em nós e por nós.

Vejo a ação de Deus na minha vida? Sou sensível às necessidades dos outros? Tem a minha vida, para benefício dos outros, o vinho da fé, da alegria, da amizade, da paixão, da bondade, da amabilidade, da festa interior, da ternura, do amor?

Foi assim que, em Caná da Galileia, Jesus deu início aos seus milagres.
Manifestou a sua glória e os discípulos acreditaram n’Ele.

Os sinais do quarto Evangelho são indicadores que apontam para Jesus e ajudam a fortalecer a fé n’Ele.
Os sinais realizados por Jesus foram escritos  “para que acrediteis”. Todos somos chamados a fazer sinais e, sobretudo, a ser sinal que provoque, desperte, estimule a alegria de viver e a fé dos outros.
Que sinais faço? Que sinais posso fazer?



Que posso eu levar ao Senhor?
Como os serventes de Caná, só água, nada mais que água.
Apesar disso, Ele quer-a toda e precisamente aquela.
E quando as seis talhas de pedra da minha humanidade lhe forem oferecidas cheias de pobreza, cumulada da minha humanidade,
será Ele quem vai converter esta simples água no melhor dos vinhos:
Ele, o mestre perito em banquetes, que alegra os pobres, um Deus que está do lado do vinho, da festa, um Deus feliz que dá o prazer de existir e de acreditar.
Eu creio em Deus porque é o Deus de Caná,
Deus feliz que deseja a felicidade de seus filhos e filhas.

 (Ermes Ronchi)







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