O
tema da morte sempre intriga todo o ser humano. É carregado de suspense,
incertezas, inquietude, resignação, medo e pavor - para uns; de certeza,
confiança, saudade, espera e a prontidão de entregar a sua vida a Deus,
em quem acreditam – para outros; ou é
considerado absolutamente “normal”, mas também absurdo, como a própria morte, e
por isso corriqueiro, “dispensável”, tratado sem dar a ele nenhuma importância,
porque simplesmente “não restará nada!” – para outros ainda. Para esses
últimos, o que importa é viver até quando for possível, e é só! O “resto” não
importa.
Na
verdade, um pouco de tudo isso sempre fica nos pensamentos de qualquer pessoa,
quando o assunto é o fim da vida humana
e a morte inevitável - o fato, que é a única certeza que o homem tem neste
mundo, onde é apenas peregrino. Ninguém permanecerá aqui para sempre, eis a verdade! A imagem da folha seca, caindo ao chão, levada
pelo vento – é muito expressiva quando comparada com a fragilidade e a temporalidade
da vida humana neste mundo.
Qualquer
que seja “visão” ou “explicação” que se possa dar ao desfecho da vida humana,
sempre estará carente de provas contundentes e definitivas que permitiriam
afirmar com certeza que é assim mesmo, e
não diferente. Isso explica o fato de existirem tantas versões diferentes, tantas doutrinas, e
– na vida concreta – tantas posturas diversas, muitas vezes completamente
opostas, em relação à morte.
Também
nós, os cristãos, acreditamos na doutrina sobre o último destino do ser humano,
baseando-nos nos ensinamentos de Jesus Cristo e na Revelação Divina contida nas
Sagradas Escrituras, confirmados pela fé e pregação dos primeiros Padres da
Igreja (patrística). Acreditamos que a morte não é o fim do ser humano, pois
assim nos garante Jesus Cristo, o Filho de Deus. Ele próprio padeceu, foi morto
e sepultado, mas ressuscitou e está vivo! E porque acreditamos na doutrina da
Igreja de Jesus cristo, dizemos também: creio na comunhão dos santos, na
remissão dos pecados, na ressurreição da carne, na vida eterna. Amém. (Credo - “Símbolo dos
Apóstolos”)
Mas,
como realmente entendemos todos esses termos? A doutrina cristã sobre a
escatologia¹ usa muitos outros termos, que fazem parte do nosso vocabulário: o céu,
o juízo, o purgatório, o inferno, a volta de Jesus Cristo, a ressurreição dos
mortos... Tudo isso, apesar de ter
nomes, faz parte de um grande mistério. O próprio Jesus
disse com as palavras da parábola sobre rico e o Lázaro: “[...] Ademais entre
nós e vós há um grande abismo. Os que quiserem passar daqui para aí não podem
nem tampouco daí para cá” (Lc 16,26).
Portanto, não há como provar nada, verificar nada, a não ser acreditar. E para quem acredita – não há mais dúvidas: há
a certeza da fé! Quem, no entanto, não acredita – não existem provas materiais
que lhe provem ao contrário.
Nós
tentamos, muitas vezes, imaginar tudo isso com as nossas limitadas categorias
humanas, cheias de imagens grotescas e exuberantes, talvez ainda do tempo da
nossa infância... A imaginação humana freqüentemente mostra-se exageradamente
“fértil” e quase “ilimitada” nas obras cinematográficas, poluindo e deformando
mais e mais a mente de muitas pessoas
passíveis às influências... Nós nos baseamos na fé cristã, porém,
freqüentemente, misturamos ao nosso gosto as suas verdades essenciais com os
elementos da cultura, folclore, superstições e até de “magia”...
Enfim,
qual é a doutrina da Igreja Católica sobre a morte e o destino do homem? Como
podemos entendê-la melhor, para não cultivar imagens falsas ou deformadas em relação ao que ela nos ensina? O que é
essencial nessa doutrina e o que não é?
É
sobre estes assuntos serão as próximas reflexões no blog Indagações. São os
textos de autoria de Ferdinand Krenzer², que podem ajudar, a todos nós, a
compreendermos melhor as questões que fazem parte da escatologia. O autor
dirige essas reflexões para os cristãos de modo geral, principalmente para os jovens.
Para
começar, o texto que aborda a pergunta: “Morte, e o que depois?”
É interessante.
Não deixe de ler.
(1)
Morte
e o que depois?
Deus é como alguém
conquistado – o céu;
como alguém perdido
– o inferno;
como alguém que
investiga – o juízo;
como alguém que
purifica – o fogo.
Um
comunicado no jornal de tarde era curto: Uma catástrofe de Boeing 727 na baía
de São Francisco: 129 mortos. A causa do
acidente desconhecida. Não foi possível prever o que aconteceu. A
catástrofe surpreendeu os passageiros do avião. A morte chegou “como ladrão
durante a noite”.
(Podemos
também pensar na recente tragédia do incêndio
no boate em Santa Maria, RS, que provocou a morte de mais que 230 pessoas, além de muitos feridos, na
sua maioria jovens universitários, trazendo dor, desespero e luto para tantas
famílias e amigos das vítimas. [N do T.])
Onde
vivem os homens, sempre existe também a possibilidade de perder a vida. Não tem
sentido fechar os olhos para isso. Os transplantes de coração, transplantes da
medula e de outras novas células, as cirurgias realizadas em baixas
temperaturas, etc. servem para prolongar
a vida, mas não liquidam a morte.
O que é a morte?
O que acontece quando uma pessoa morre? Diante desta pergunta todos ficamos preocupados. O último passo cada um faz sozinho. A respiração para, o coração deixa de bater, terminam as atividades do cérebro – eis o último quadro que permite dar o atestado de óbito. Mas, será que isso já diz tudo sobre a morte?
O que acontece quando uma pessoa morre? Diante desta pergunta todos ficamos preocupados. O último passo cada um faz sozinho. A respiração para, o coração deixa de bater, terminam as atividades do cérebro – eis o último quadro que permite dar o atestado de óbito. Mas, será que isso já diz tudo sobre a morte?
Procurando
na Bíblia as respostas sobre a morte,
não podemos esperar que de lá surgirá algo mais para entrar nas discussões
médicas. O que aqui interessa é uma explicação e compreensão religiosa de
morte. A Bíblia se expressa com as imagens que, às vezes, não são fáceis para entender e, por isso,
facilmente muitas delas são
interpretadas dentro dos esquemas humanos e servem como fonte de
imaginação infantil. Por isso é necessário sempre investigar com o novo
empenho, qual é o verdadeiro sentido das imagens de conteúdo teológico. Compare:
“Quando
era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como
criança; quando cheguei a ser homem, deixei as coisas de criança agora inúteis.
No presente vemos por um espelho e
obscuramente; então veremos face a face. No presente conheço só em
parte; então conhecerei como sou
conhecido.”
(1 Cor 13, 11-12).
Por que o homem
deve morrer?
De
imediato a nossa resposta é esta: Porque as forças e energias do corpo se esgotaram. Começamos a existir,
crescemos, madurecemos, alcançamos o ponto máximo, e depois, com a idade, vamos
sofrendo a diminuição da vitalidade. Morrer é, portanto, algo totalmente
natural. Isto é verdade. Mas, será que não nos desafia o fato que, por
exemplo, esse processo de desgaste não
afeta na mesma proporção o estado psíquico e espiritual do ser humano? Têm
enfermos no corpo e pessoas velhas, que espiritualmente permanecem muito
jovens, conscientes e ágeis. A morte do ser humano não é só o processo físico – químico: o homem sabe da
sua morte e sobretudo fica consciente
das perguntas ligadas a ela. Morre de modo diferente que uma planta ou animal.
Na
Bíblia, a morte freqüentemente tem ligação com o pecado que desde o início
perturba a vida humana: “[...]
Foi por isso que o pecado entrou no mundo como por um só homem e, pelo pecado,
a morte, e assim a morte transmitiu-se a todos os homens naquele em quem todos
pecaram.” (Rm
5,12). Isso não significa que se não tivesse pecado, que o homem não haveria de morrer. Mas, certamente, não
experimentaria a morte como catástrofe, como um grande absurdo. A morte não
seria simplesmente o fim, mas se tornaria uma transformação, complementação e o
ponto culminante. Atrás disso existe o
pensamento que o homem pode se libertar
das garras da morte unicamente em ligação com Deus, a fonte de toda vida.
No
projeto Divino do mundo a morte realmente é uma intrusa, uma inimiga do homem: “O último inimigo
reduzido a nada será a morte [...]”(1Cor 15, 26). Não
deveria existir e também não permanecerá para sempre. Por isso o novo protesto
contra ela é totalmente justificado. A morte contraria, no sentido mais
profundo, o nosso desejo de viver.
(KRENZER,
F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 345-346)³
Continua...
___________________
¹ Escatologia cristã é o estudo do fim
das coisas, tanto o fim de uma vida individual, ao final da época, ou o fim do
mundo, nos aspectos do cristianismo. A palavra "escatologia" é
derivada de duas palavras gregas que significam: "último" e
"estudo" (ἔσχατος, por último, e
λογία, lit.). Em termos gerais, é o estudo do destino do homem como é revelado
na Bíblia, fonte primária de todos os estudos sobre escatologia cristã.
(Wikipédia)
² Krenzer Ferdinand (nascido em 22 de maio de 1921
em Dillenburg, Hesse, † 08 de maio de 2012 em
Hofheim am Taunus)
foi um teólogo católico alemão,
sacerdote e escritor na aposentadoria.
[N. Do T.]
³
Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer
fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a
entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis
desta doutrina.
Os
textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse
autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o
português), com uma pequena atualização dos dados, quando necessário. O título original: “Morgen wird man wieder
Glauben”. [N. Do T.]
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