Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

1. Sobre a morte. O que sabemos? No que acreditamos?



O tema da morte sempre intriga todo o ser humano. É carregado de suspense, incertezas, inquietude, resignação, medo e pavor - para uns; de  certeza,  confiança, saudade, espera e a prontidão de entregar a sua vida a Deus, em quem acreditam – para outros;  ou é considerado absolutamente “normal”, mas também absurdo, como a própria morte, e por isso corriqueiro, “dispensável”, tratado sem dar a ele nenhuma importância, porque simplesmente “não restará nada!” – para outros ainda. Para esses últimos, o que importa é viver até quando for possível, e é só! O “resto” não importa.

Na verdade, um pouco de tudo isso sempre fica nos pensamentos de qualquer pessoa, quando o assunto  é o fim da vida humana e a morte inevitável - o fato, que é a única certeza que o homem tem neste mundo, onde é apenas peregrino. Ninguém permanecerá  aqui para sempre, eis a verdade!  A imagem da folha seca, caindo ao chão, levada pelo vento – é muito expressiva quando comparada com a fragilidade e a temporalidade da vida humana neste mundo.

Qualquer que seja “visão” ou “explicação” que se possa dar ao desfecho da vida humana, sempre estará carente de provas contundentes e definitivas que permitiriam afirmar com certeza que  é assim mesmo, e não diferente. Isso explica o fato de existirem  tantas versões diferentes, tantas doutrinas, e – na vida concreta – tantas posturas diversas, muitas vezes completamente opostas, em relação à morte.

Também nós, os cristãos, acreditamos na doutrina sobre o último destino do ser humano, baseando-nos nos ensinamentos de Jesus Cristo e na Revelação Divina contida nas Sagradas Escrituras, confirmados pela fé e pregação dos primeiros Padres da Igreja (patrística). Acreditamos que a morte não é o fim do ser humano, pois assim nos garante Jesus Cristo, o Filho de Deus. Ele próprio padeceu, foi morto e sepultado, mas ressuscitou e está vivo! E porque acreditamos na doutrina da Igreja de Jesus cristo, dizemos também: creio na comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne, na  vida eterna. Amém. (Credo - “Símbolo dos Apóstolos”)

Mas, como realmente entendemos todos esses termos? A doutrina cristã sobre a escatologia¹ usa muitos outros termos, que fazem parte do nosso vocabulário: o céu, o juízo, o purgatório, o inferno, a volta de Jesus Cristo, a ressurreição dos mortos... Tudo isso,  apesar de ter nomes,  faz  parte de um grande mistério. O próprio Jesus disse com as palavras da parábola sobre rico e o Lázaro: “[...] Ademais entre nós e vós há um grande abismo. Os que quiserem passar daqui para aí não podem nem tampouco daí para cá(Lc 16,26). Portanto, não há como provar nada, verificar nada, a não ser acreditar. E  para quem acredita – não há mais dúvidas: há a certeza da fé! Quem, no entanto, não acredita – não existem provas materiais que lhe provem ao contrário.

Nós tentamos, muitas vezes, imaginar tudo isso com as nossas limitadas categorias humanas, cheias de imagens grotescas e exuberantes, talvez ainda do tempo da nossa infância... A imaginação humana freqüentemente mostra-se exageradamente “fértil” e quase “ilimitada” nas obras cinematográficas, poluindo e deformando mais  e mais a mente de muitas pessoas passíveis às influências... Nós nos baseamos na fé cristã, porém, freqüentemente, misturamos ao nosso gosto as suas verdades essenciais com os elementos da cultura, folclore, superstições e até de “magia”...

Enfim, qual é a doutrina da Igreja Católica sobre a morte e o destino do homem? Como podemos entendê-la melhor, para não cultivar imagens falsas ou deformadas  em relação ao que ela nos ensina? O que é essencial nessa doutrina e o que não é?

É sobre estes assuntos serão as próximas reflexões no blog Indagações. São os textos de autoria de Ferdinand Krenzer², que podem ajudar, a todos nós, a compreendermos melhor as questões que fazem parte da escatologia. O autor dirige essas reflexões para os cristãos de modo geral,  principalmente para os jovens.
Para começar, o texto que aborda a pergunta: “Morte, e o que depois?”
É interessante.  Não deixe  de ler.


 (1)

Morte e o que depois?
Deus é como alguém
conquistado – o céu;
como alguém perdido –  o inferno;
como alguém que investiga – o juízo;
como alguém que purifica – o fogo.

Um comunicado no jornal de tarde era curto: Uma catástrofe de Boeing 727 na baía de São Francisco: 129 mortos. A causa do  acidente desconhecida. Não foi possível prever o que aconteceu. A catástrofe surpreendeu os passageiros do avião. A morte chegou “como ladrão durante a  noite”.

(Podemos também pensar na recente  tragédia do incêndio no boate em Santa Maria, RS, que provocou a morte de mais  que 230 pessoas, além de muitos feridos, na sua maioria jovens universitários, trazendo dor, desespero e luto para tantas famílias e amigos das vítimas. [N do T.])

Onde vivem os homens, sempre existe também a possibilidade de perder a vida. Não tem sentido fechar os olhos para isso. Os transplantes de coração, transplantes da medula e de outras novas células, as cirurgias realizadas em baixas temperaturas, etc. servem para  prolongar a vida, mas não liquidam a morte.

O que é a morte?

O que acontece quando uma pessoa morre? Diante desta pergunta todos ficamos preocupados. O último passo cada um faz sozinho. A respiração para, o coração deixa de bater, terminam  as atividades do cérebro – eis o último  quadro que permite dar o atestado de óbito. Mas, será que isso já diz tudo sobre a  morte?

Procurando na Bíblia as respostas sobre a  morte, não podemos esperar que de lá surgirá algo mais para entrar nas discussões médicas. O que aqui interessa é uma explicação e compreensão religiosa de morte. A Bíblia se expressa com as imagens que, às vezes, não  são fáceis para entender e, por isso, facilmente muitas delas são  interpretadas dentro dos esquemas humanos e servem como fonte de imaginação infantil. Por isso é necessário sempre investigar com o novo empenho, qual é o verdadeiro sentido das imagens de conteúdo teológico. Compare: “Quando era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança; quando cheguei a ser homem, deixei as coisas de criança agora inúteis. No presente vemos por um espelho e  obscuramente; então veremos face a face. No presente conheço só em parte; então conhecerei  como sou conhecido.” (1 Cor 13, 11-12).

Por que o homem deve morrer?

De imediato a nossa resposta é esta: Porque as forças e energias do  corpo se esgotaram. Começamos a existir, crescemos, madurecemos, alcançamos o ponto máximo, e depois, com a idade, vamos sofrendo a diminuição da vitalidade. Morrer é, portanto, algo totalmente natural. Isto é verdade. Mas, será que não nos desafia o fato que, por exemplo,  esse processo de desgaste não afeta na mesma proporção o estado psíquico e espiritual do ser humano? Têm enfermos no corpo e pessoas velhas, que espiritualmente permanecem muito jovens, conscientes e ágeis. A morte do ser humano não é só  o processo físico – químico: o homem sabe da sua morte e sobretudo fica  consciente das perguntas ligadas a ela. Morre de modo diferente que uma planta ou animal.

Na Bíblia, a morte freqüentemente tem ligação com o pecado que desde o início perturba a vida humana: “[...] Foi por isso que o pecado entrou no mundo como por um só homem e, pelo pecado, a morte, e assim a morte transmitiu-se a todos os homens naquele em quem todos pecaram.” (Rm 5,12). Isso não significa que se não tivesse pecado, que o homem não  haveria de morrer. Mas, certamente, não experimentaria a morte como catástrofe, como um grande absurdo. A morte não seria simplesmente o fim, mas se tornaria uma transformação, complementação e o ponto culminante. Atrás disso existe  o pensamento que o homem pode se  libertar das garras da morte unicamente em ligação com Deus, a fonte de toda vida.

No projeto Divino do mundo a morte realmente é uma intrusa, uma inimiga do homem: “O último inimigo reduzido a nada será a morte [...]”(1Cor 15, 26). Não deveria existir e também não permanecerá para sempre. Por isso o novo protesto contra ela é totalmente justificado. A morte contraria, no sentido mais profundo, o nosso desejo de viver.

(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 345-346)³

Continua...
­­­­­­­­­­­­­­­­___________________
¹   Escatologia cristã é o estudo do fim das coisas, tanto o fim de uma vida individual, ao final da época, ou o fim do mundo, nos aspectos do cristianismo. A palavra "escatologia" é derivada de duas palavras gregas que significam: "último" e "estudo" (σχατος, por último, e λογία, lit.). Em termos gerais, é o estudo do destino do homem como é revelado na Bíblia, fonte primária de todos os estudos sobre escatologia cristã. (Wikipédia)

²   Krenzer Ferdinand (nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, 08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus) foi um teólogo católico alemão, sacerdote e escritor na aposentadoria. [N. Do T.]


³  Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português), com uma pequena atualização dos dados, quando necessário.  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”. [N. Do T.]



 

Nenhum comentário:

Postar um comentário