A parábola do homem rico e Lázaro é uma das mais conhecidas passagens
bíblicas. Muitas vezes, certamente,
já lemos ou ouvimos diversos comentários sobre ela. Mas, será que a mensagem
que ela transmite está surtindo efeito concreto
nos corações dos seres humanos?
O comentário que trago hoje para o blog
Indagações, do padre e teólogo espanhol
José Antônio Pagola, é muito bom. Foi publicado no site do Instituto Humanitas
Unisinos (IHU).
Não
deixe de ler.
WCejnog
IHU
– Notícias
Sexta,
27 de setembro de 2013.
Romper
a indiferença
A
leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo
Lucas 16, 19-31, que corresponde ao 26º Domingo do Tempo
Ordinário, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta
o texto.
Eis o texto
Segundo
Lucas, quando Jesus gritou “não podem servir a Deus e ao Dinheiro”, alguns
fariseus que estavam escutando-o e eram amigos do dinheiro “caçoaram de Jesus”.
Jesus não recua. Pouco depois, ele narra uma parábola lancinante
para que aqueles que vivem escravos da riqueza abram os olhos.
Jesus
descreve com poucas palavras uma situação sangrenta. Um homem
rico e um pobre mendigo que moram perto um do outro, mas estão separados pelo
abismo que existe entre a vida da opulência insultante do rico e a miséria
extrema do pobre.
O relato descreve os dois personagens, destacando fortemente o
contraste entre ambos. O rico se
veste de púrpura e linho fino, o corpo do pobre está coberto de feridas. O rico
dá banquetes não somente nos dias de festa, mas todos os dias; o pobre está
caído à porta do rico, sem poder comer nada das sobras que caem da mesa do
rico. Somente se aproximam para lamber suas chagas os cachorros que procuram
alguma coisa no lixo.
Em
nenhum momento se diz que o rico explorou o pobre, ou que o maltratou ou o
desprezou. Até pode-se dizer que não tenha feito nada de errado. Porém, toda sua
vida é inumana, pois vive somente para seu próprio bem-estar. Seu coração é de
pedra. Ignora totalmente o pobre. Está na sua frente, doente,
faminto e abandonado, mas não é capaz de atravessar a porta para cuidar dele.
Não
podemos nos enganar. Jesus não está denunciando somente a situação da Galileia
dos anos trinta. Está tentando sacudir a consciência daqueles que estão
acostumados a viver na abundância, tendo ao lado de nossa casa, muito próximo
de nós, povos que estão vivendo e morrendo na mais absoluta miséria.
É inumano nos fecharmos em nossa “sociedade do bem-estar”,
ignorando totalmente essa outra “sociedade do mal-estar”. É cruel seguir alimentando essa “secreta ilusão de
inocência”, que nos permite viver com a consciência tranquila, pensando que a
culpa é de todos e não é de ninguém.
Nossa
primeira tarefa é quebrar a indiferença. Resistir a seguir desfrutando de um bem-estar vazio
de compaixão. Não nos isolarmos mentalmente para deslocar a
miséria e a fome que há no mundo para uma distância abstrata e assim viver sem
ouvir nenhum clamor, gemido ou pranto.
O
Evangelho pode nos ajudar a viver vigilantes, sem nos tornarmos
cada vez mais insensíveis aos sofrimentos dos abandonados, sem perder o sentido
da responsabilidade fraterna e sem permanecer passivos quando podemos agir.
Fonte:
IHU – Notícias
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