“(...) O filho mais
velho estava no campo. Ao voltar e aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças.
Chamou um servo e perguntou-lhe o que havia. Ele lhe explicou: ‘Voltou teu irmão. E teu pai
mandou matar um novilho gordo, porque o reencontrou são e salvo’.
Encolerizou-se ele e não queria entrar, mas seu pai saiu e insistiu com ele. Ele,
então, respondeu ao pai: ‘Há tantos anos que te sirvo, sem jamais transgredir
ordem alguma tua, e nunca me deste um cabrito para festejar com os meus amigos.
E agora, que voltou este teu filho, que
gastou os teus bens com as meretrizes, logo lhe mandaste matar um novilho
gordo!’ Explicou-lhe o pai: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu
é teu. Convinha, porém, fazermos festa,
pois este teu irmão estava morto, e reviveu; tinha se perdido, e foi achado’. “
(Lc 15, 25-32)
As palavras desta e das outras parábolas
proferidas por Jesus incomodam muita gente “boa e honesta”... Muitas pessoas,
incluindo cristãos e cristãs, têm uma enorme dificuldade para entender e assimilar a lógica de Deus Pai – a lógica
do amor e do perdão, que contrasta cada vez mais com a lógica da exclusão e
discriminação para com os mais fracos, que o mundo promove.
Como entender, então, essas palavras que Jesus dirige a
todos nós?
Trago para o blog Indagações o
comentário do padre e teólogo espanhol
José Antônio PagolaFoi publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
É uma reflexão curta mas muito concreta!
Não deixe de ler.
WCejnog
IHU – Notícias
Sexta, 13 de
setembro de 2013.
O gesto mais
escandaloso
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho
de Jesus Cristo segundo Lucas 15, 1-32, que corresponde ao
24º Domingo do Tempo Ordinário, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo
espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
O gesto mais provocador e escandaloso
de Jesus foi, sem dúvida, a sua forma de acolher com especial simpatia a
pecadoras e pecadores, excluídos pelos dirigentes religiosos e marcados
socialmente pela sua conduta à margem da Lei. O que mais irritava era o seu
hábito de comer amistosamente com eles.
Normalmente, esquecemos
que Jesus criou uma situação surpreendente na sociedade do seu tempo.
Os pecadores não fogem dele. Pelo contrário, sentem-se atraídos pela sua pessoa
e por sua mensagem. Lucas nos diz que ”os cobradores de impostos e pecadores se
aproximavam de Jesus para o escutar”. Ao que parece, encontram nele um
acolhimento e compreensão que não encontram em nenhuma outra parte.
Entretanto, os setores fariseus
e os doutores da Lei, os homens de maior prestígio moral e
religioso perante o povo, só sabem criticar, escandalizados, o comportamento de
Jesus: “Esse homem acolhe pecadores, e come com eles!”. Como pode um homem de
Deus comer na mesma mesa com aquela gente pecadora e indesejável?
Jesus nunca fez caso das suas
críticas. Ele sabia que Deus não é o Juiz severo e rigoroso de que falam, com
tanta segurança, aqueles mestres que ocupavam os primeiros assentos
nas sinagogas. Ele conhece bem o coração do Pai. Deus entende
os pecadores; oferece o seu perdão a todos; não exclui ninguém; perdoa tudo.
Ninguém há de obscurecer e desfigurar o seu perdão insondável e gratuito.
Por isso, Jesus oferece-lhe a sua
compreensão e a sua amizade. Aquelas prostitutas e aqueles cobradores hão de
sentir-se acolhidos por Deus. São os primeiros. Nada têm a temer. Podem
sentar-se à sua mesa, beber vinho e cantar cânticos junto a Jesus. O seu
acolhimento vai curando-os por dentro. Libera-os da vergonha e
da humilhação. Devolve-lhes a alegria de viver.
Jesus acolhe-os tal como são, sem
exigir-lhes previamente nada. Vai contagiando-os com sua paz e
sua confiança em Deus, sem estar seguro de que responderão mudando a sua
conduta. Faz confiando totalmente na misericórdia de Deus que já os está
esperando com os braços abertos, como um pai bom que corre ao encontro do seu
filho perdido.
A primeira tarefa de uma Igreja fiel
a Jesus não é condenar os pecadores, mas compreendê-los e acolhê-los
amistosamente. Em Roma, eu comprovei há alguns meses que, sempre que o Papa
Francisco insistia em que Deus perdoa sempre, perdoa tudo, perdoa a todos…, as
pessoas aplaudiam com entusiasmo. Seguramente é o que muita gente de fé pequena e
vacilante necessita escutar hoje com claridade da Igreja.
Fonte: IHU
Nenhum comentário:
Postar um comentário