Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

domingo, 2 de março de 2014

“Amor e confiança absoluta em Deus.” - Comentário bíblico de Asun Gutiérrez Cabriada. Muito bom!



O comentário bíblico de M. Asun Gutiérrez Cabriada sobre o texto Mt 6, 24-34 (faz parte do sermão da montanha)  é  muito interessante. É uma excelente oportunidade para uma boa reflexão.
Não deixe de ler.
WCejnog

Obs.: Os interessados podem  ler esse texto em apresentação de PPS, acessando o  site das Monjas Beneditinas de Montsserrat: benedictinescat.com/montserrat  Trabalho muito bonito!


O Reino não é uma série de mistérios em que temos de acreditar, mandamentos a que temos de obedecer sob ameaça, hierarquias às quais temos de nos submeter, ritos que temos de cumprir.
O Reino é viver bem o dia a dia.
Talvez seja esta a sua máxima novidade: o dia a dia é o Reino;
o dia a dia  pode ser o Reino: não é preciso mais nada do que vivê-lo como filho.

No Reino não tem cabimento nada que seja “cobrar”, “retribuir”, “castigar”,  “vingar-se”. Tudo isso talvez tenha lugar noutros âmbitos: no Reino não tem sentido.
Os filhos não cobram.
Portar-se como filho não é um mérito, mas uma sorte.
Não se trabalha para receber mas porque já se recebeu.

José Enrique Ruiz de Galarreta.

********************
Jesus sobe ao monte e aproximam-se muitas pessoas para O escutar. Fala da verdadeira felicidade nas bem-aventuranças (Mt 5,1-12), do compromisso fraterno (Mt 5,21-26); do amor aos inimigos (Mt 5,43-48); de reconhecer e de dirigir-se a Deus como Pai (Mt 6,5-13).

E agora, seguindo o sermão da Montanha, vai ao fundo:  Amor e confiança absoluta em Deus...  Esta deve ser a primeira preocupação dos seus seguidores e seguidoras, a preocupação central, a verdadeira e importante.




Comentário

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:
“Ninguém pode servir a dois senhores,
porque ou há-de odiar um e amar o outro,
ou se dedicará a um e desprezará o outro.
Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro.
  
Jesus avisa-nos do perigo que supõe converter o dinheiro de meio em fim. Sabe que a sedução do dinheiro desumaniza as pessoas e é incompatível com a simplicidade, a compaixão e a liberdade interior. O que está em jogo é a fidelidade a Deus ou à idolatria do dinheiro. É necessário optar, porque são incompatíveis.

Advertimos – ou temos - posturas tolerantes e condescendentes no que se refere ao terrível ídolo do capitalismo e posturas muito rígidas e intransigentes em temas doutrinais, sexuais, morais..?  Coincide essa atitude com a atuação e recomendação de Jesus?

Por isso vos digo: Não vos preocupeis  
quanto à vossa vida,
com o que haveis de comer ou de beber,
nem quanto ao vosso corpo, 
com o que haveis de vestir.
Não é a vida mais do que o alimento
e o corpo mais do que o vestuário?

Jesus sabe que a comida e o vestir são necessários  e um direito de todas as pessoas.
O texto é um convite a saber diferenciar o fundamental do secundário.  A viver duma maneira mais serena  dando a cada coisa a importância que tem.
Há coisas que valem muito mais que o que se pode comprar, como a amizade, a convivência, os “momentos perdidos" com os amigos, a capacidade de desfrutar das coisas mais simples e profundas que nos oferecem a vida, as pessoas, a natureza. 

Olhai para as aves do céu: 
não semeiam nem ceifam
nem recolhem em celeiros; 
o vosso Pai celeste as sustenta.
 Não valeis vós muito mais do que elas?
Quem de entre vós, por mais que se preocupe,
pode acrscentar um só côvado à sua estatura?

Jesus repete-me: não andes preocupado, não te inquietes pelo que não é fundamental para construir um mundo mais humano, mais justo e mais feliz para todos.
 
Sou livre frente ao dinheiro e aos bens materiais? Que me preocupa? Que me angustia? Crio necessidades supérfluas?

Trata-se de não me centrar só nas minhas coisas para ser livre e poder estar pendente das necessidades dos outros. Não me preocupar, sem deixar de me ocupar. 

E porque vos inquietais com  o vestuário?
 Olhai como crescem os lírios do campo:
 não trabalham nem fiam; mas Eu vos digo:
nem Salomão em toda a sua glória, se vestiu 
como um deles.
Se Deus assim veste a erva do campo, 
que hoje existe e amanhã é lançada ao forno,
não fará muito mais por vós, homens de pouca fé?

Jesus diz que a felicidade não depende dos bens materiais, por muitos que se tenham. O desejo de açambarcar,  usurpar,  acumular posses e privilégios, escraviza, afasta do amor generoso e gratuito do Pai e dificulta a solidariedade entre os irmãos.
Jesus  assegura-nos que a cobiça, a ansiedade, a ambição, o egoísmo, a prepotência, o afã de poder não é o caminho para a autêntica felicidade. O que torna feliz o ser humano é o respeito a si mesmo e para com os outros, praticar a generosidade, a bondade, o amor...,  pondo a fé e a confiança, em suas mãos.  Só o amor é digno de fé. 

Não vos inquieteis dizendo: ‘Que havemos de comer?
Que havemos de beber? Que havemos de vestir?’
Os pagãos é que se preocupam com todas estas coisas.
 Bem sabe o vosso Pai celeste que precisais de tudo isso.

Jesus não nos anima à passividade, à irresponsabilidade, a  cruzarmos os braços esperando a atuação da providência divina. É um convite a confiar plena e activamente em Deus, colaborando no seu projeto de construir um mundo mais justo, mais solidário, mais amável, mais humano para todos.

Procurai primeiro o reino de Deus e a sua justiça,
e tudo o mais vos será dado por acréscimo.

A chave fundamental deste texto é o convite a buscar o reino de Deus  e o que é próprio dele: a justiça, a austeridade, a solidariedade..., tudo o que  transforma o mundo a partir da ótica e do desejo de Deus, para mudar de raíz toda a situação de injustiça de  falta de solidariedade e o sistema que as provoca e as causa. Buscar e construir o Reino é continuar a missão de consolar, escutar, curar, libertar, tocar, lavar pés, dar de comer, dar de beber, praticar a compaixão, ofecer alegria e esperança..., confiando o presente e o futuro nas mãos de Deus. Como Jesus. 

Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã,
porque o dia de amanhã tratará das suas inquietações.
 A cada dia basta o seu cuidado.

Cada dia  é um dom no qual posso viver a proximidade e a ternura de Deus. Partilhar o amor, o humor, os meus melhores sentimentos. Desfrutar da brincadeira, do sorriso, da música, do passeio, da poesia, do tempo com as pessoas que amoo e que encontro no caminho.
Cada dia é um convite a seguir Jesus, a semear e construir os valores do Reino deixando que Deus, Pai/Mãe, programe livremente o meu futuro.


Uma Boa Notícia
 
Senhor, Rabboni  e  Mestre:
Cada dia, cada noite, bates à nossa porta
para nos despertares para a realidade do Deus vivo.
Mas ao veres-nos  preocupados, e até obcecados,
por tudo isso que  chamamos de necessidades básicas
- a comida, o vestir, a saúde, o trabalho...-,
te surpreende a nossa angústia, e nos falas do Pai
com uma linguagem e um tom que rompem os nossos esquemas de vida.
“Ele se ocupa das aves e as alimenta.
E veste as flores do campo de beleza...
Ele sabe sempre das vossas necessidades.
Para Ele valeis muito mais que aves e flores,
portanto, não andeis angustiados com a vida.
Buscai primeiro que reine a sua justiça...”
...
Ele se ocupa com o que nos preocupa
e quer que nos ocupemos  com o que O preocupa.
Singular troca, só compreensível
a partir da pobreza e insatisfação que arrastamos
e do amor que de ti recebemos grátis!
 
Ulibarri Fl.

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