“Deserto - lugar de busca, de decisões, de austeridade, de escuta, de discernimento, de oração, de reflexão, de encontro consigo mesmo e com Deus. “ – Comentário bíblico de M. Asun Gutiérrez Cabriada. Muito bom.

“Naquele tempo, Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, a fim de ser tentado pelo demônio.”(Mt 4,1)

Quaresma - tempo de reflexão, de conversão, de preparação  para a Páscoa definitiva.

Quaresma – tempo de preparação para o encontro com Jesus Ressuscitado... !

É tempo própício para parar um pouco nessa correria intensa que é a vida que hoje levamos,  e conseguir  calar... pensar... meditar...

Ressoam as palavras “Tu és pó, e ao pó retornarás”  (Gen 3, 19)...

Tantas perguntas, provocações, indagações!

A Bíblia fala das tentações de Jesus no deserto... O que isso tem a ver conosco? Será que significa alguma coisa para mim, para você, para nós?

Sobre essa passagem bíblica (Mt 4,1-11) fala o comentário de  Asun Gutiérrez Cabriada, que trago para o blog Indagações-Zapytania.  É muito  interessante e pode ser útil para uma boa reflexão.

Não  deixe de ler.

WCejnog

  

[Os interessados pedem ler esse texto em apresentação de PPS, acessando o site das Monjas Beneditinas de Monteserrat: benedictinescat.com/montserrat Trabalho muito bonito!]

Quaresma é o tempo que vem e vai,
tempo para ser vivido em caminho,
sem se instalar, sem o reter, sem lamento,
com a esperança sempre à flor da pele
e o olhar fixo noutro tempo,
a Páscoa, que é definitiva.

Florentino Ulibarri

  Comentário

Naquele tempo, Jesus foi conduzido

pelo Espírito ao deserto,

a fim de ser tentado pelo demônio.

Jejuou quarenta dias e quarenta

noites e, por fim, teve fome.

O Espírito é protagonista na vida de Jesus. É o Espírito quem O conduz ao deserto. Não é uma armadilha, é algo positivo que responde ao plano de Deus.
A nós também nos convida o Espírito a ir, com Jesus, ao deserto. Lugar de busca, e decisões, de austeridade, de escuta, de discernimento, de oração, de reflexão, de encontro consigo mesmo e com Deus.

Lugar de misericórdia e de amor: De ti recordo o teu carinho juvenil, o amor do teu noivado, aquele seguires-me pelo deserto. (Jr 2,2)

A Jesus, o Espírito fá-lo sentir fome de serviço, de humildade, de justiça, de compaixão, de entrega, de confiança... Também a mim? 

O tentador aproximou-se  e disse-Lhe:
- Se és Filho de Deus, diz a estas pedras

que se transformem em pães..
Jesus respondeu-lhe:
- Está escrito: Não só de pão

vive o homem,
mas de toda a palavra

que sai da boca de Deus.

As tentações oferecem a Jesus um caminho triunfalista: utilizar o milagre fácil em proveito próprio. O objetivo é que Jesus atue à margem do plano de Deus.

A tentação está em considerar a satisfação das necessidades materiais como o objetivo último e definitivo. 

De que vivo? Qual é o meu alimento para amadurecer e crescer?

Um bom alimento podia ser buscado no encontro com a Palavra de Jesus, escucutá-l’O nas pessoas que encontre e nas circunstâncias e acontecimentos de cada dia.

Recordando a tantas pessoas que carecem do pão material e do necessário para sobreviver, lutando por um mundo mais justo, sem pessoas famintas.

Então o demônio conduziu-O à cidade santa,

levou-O ao pináculo do templo e disse-Lhe:
- Se és Filho de Deus, lança-Te daqui abaixo,

pois está escrito:

Deus mandará aos seus anjos

que te recebam em suas mãos,

 para que não tropeces em alguma pedra.
Respondeu-lhe Jesus:
- Também está escrito:

Não tentarás o Senhor teu Deus.

É a tentação do afã de domínio, o desejo do poder. A alternativa que Jesus propõe a esta espalhada e atual tentação é o serviço. Na última ceia, lavando os pés, deixa-nos em testamento a forma de exercer o poder. E pede-nos que o façamos em sua memória.

É a tentação da falta de responsabilidade: acudir a Deus para que nos dê sorte ou o que julgamos ter necessidade, de forma quase mágica, sem mover um dedo pela nossa parte.

De novo o demônio O levou consigo

a um monte muito alto,

mostrou-Lhe todos os reinos do mundo

e a sua glória, e disse-Lhe:
- Tudo isto Te darei, se prostrado,

me adorares.
Respondeu-lhe Jesus:
- Vai-te Satanás, porque está escrito:
Adorarás o Senhor teu Deus 

e só a Ele prestarás culto.

A tentação de tentar utilizar e manipular Deus, de querer ser como Deus, construir um Deus à nossa medida,  pode apresentar-se até baseando-se na Escritura.
Jesus não vai fechar o seu coração nem as suas mãos pelo poder e pelas riquezas; necessita delas livres para abraçar, tocar leprosos, aliviar os cansaços do caminho, sarar feridas, devolver a dignidade e a alegria e mostrar a compaixão do Pai para com as pessoas que O necessitam.
Não vai trocar o tesouro do Reino, que o Pai Lhe confiou, por outros reinos.

Escolheu livremente, com confiança inquebrantável,  seguir o caminho que o Pai lhe vai mostrando.

Adorar só a Deus torna-nos pessoas livres e fraternas.

Então o demônio deixou-O

e logo os anjos se aproximaram

e serviram Jesus.

Com a sua vitória Jesus mostra-nos que todas as debilidades, que sem dúvida teremos, podem ser superadas.

Como Ele, contamos com a força do Espírito e a luz da Palavra. Sentir a tentação-prova é bom. Ajuda-nos a crescer e amadurecer, a ser mais realistas, mais fortes, mais compassivos, mais compreensivos.

Ajuda-nos a sentir necessidade de oração constante e conversão permanente.

“Jesus tolera ser tentado para que n’Ele
aprendamos todos a triunfar”
(Santo Ambrósio).

Tempo propício

Bendito sejas, Pai, por este tempo tão oportuno, para a conversão e o encontro, que Tu concedes gratuitamente a todos os teus filhos que andamos desorientados pelos caminhos da vida.

Bendito sejas, Pai, porque chamas a cada homem e mulher, seja qual for a sua história ou a sua vida, a empreender cada dia, de maneira mais pessoal e consciente, o seu compromisso de seguir Jesus, teu Filho e nosso Irmão.

Bendito sejas, Pai, por nos despertares dos nossos doces sonhos,
tão vaporosos e infecundos, por nos interpelares no radical da vida, por nos libertares das nossas falsas seguranças, por pores a descoberto os nossos ídolos secretos que tanto defendemos e tentamos justificar.

Bendito sejas, Pai, porque nos dás o teu Espírito, o único que pode converter-nos, o único que pode dar-nos um coração de filhos, o único que pode atravessar os nossos pensamentos, o único que pode  guiar-nos pela senda do Evangelho, o único que torna possível o  nosso regresso ao teu seio.

Bendito sejas, Pai, por este tempo tão propício!

                                                                                  

Ulibarri  Fl.