Abaixo, uma reflexão muito interessante e bem atual do padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola. Foi publicada no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não
deixe de ler.
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IHU – Notícias
Sexta, 07 de março de 2014.
A nossa grande tentação
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 4,1-11 que corresponde ao Primeiro Domingo de Quaresma, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
A cena “das
tentações de Jesus” é um relato que não devemos interpretar
apressadamente. As tentações que nos são descritas não são propriamente de
natureza moral. O relato nos adverte que podemos arruinar nossa vida, se nos
desviamos do caminho de Jesus.
A primeira tentação é de importância decisiva, pois pode perverter e corromper nossa vida de base. Aparentemente, é oferecido a Jesus algo bem inocente e bom: colocar Deus a serviço da Sua fome. “Se és o Filho de Deus, ordena que estas pedras se convertam em pães”.
A primeira tentação é de importância decisiva, pois pode perverter e corromper nossa vida de base. Aparentemente, é oferecido a Jesus algo bem inocente e bom: colocar Deus a serviço da Sua fome. “Se és o Filho de Deus, ordena que estas pedras se convertam em pães”.
No entanto, Jesus reagiu de forma
rápida e surpreendente: “Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que
sai da boca de Deus”. Não fará do seu próprio pão um absoluto. Não
colocará Deus a serviço do seu próprio interesse, esquecendo o projeto do Pai.
Sempre procurará primeiro o reino de Deus e a sua justiça. Em todos os momentos
escutará a Sua Palavra.
As nossas necessidades não se
satisfazem apenas em assegurar o nosso pão. O ser humano necessita e aspira a
muito mais. Inclusive, para resgatar da fome e da miséria quem não tem pão,
temos de escutar a Deus, o nosso Pai, e despertar na nossa consciência a fome
de justiça, a compaixão e a solidariedade.
A nossa grande tentação é hoje
converter tudo em pão. Reduzir cada vez mais o horizonte da nossa vida à
mera satisfação dos nossos desejos; fazer da obsessão por um
bem-estar sempre maior, ou do consumismo indiscriminado e sem limites, o único
ideal das nossas vidas.
Enganamo-nos se pensamos que esse é o
caminho a seguir em direção ao progresso e à libertação. Será que não estamos vendo que uma
sociedade que arrasta as pessoas para o consumismo sem limites e para a
autossatisfação não faz senão gerar vazio e sem sentido nas pessoas, junto com
egoísmo, falta de solidariedade e irresponsabilidade na convivência?
Por que estremecemos com o fato de
que cresce de forma trágica o número de pessoas que se suicidam a cada dia? Por
que continuamos encerrados no nosso falso bem-estar, levantando barreiras cada
vez mais desumanas para que os famintos não entrem nos nossos países, não
cheguem até as nossas residências, nem chamem à nossa porta?
A chamada de Jesus pode-nos ajudar a
tomar mais consciência de que não só de bem-estar vive o homem. O ser
humano precisa também cultivar o espírito, conhecer o amor e a amizade,
desenvolver a solidariedade para com os que sofrem, escutar a
sua consciência com responsabilidade, abrir-se ao Mistério último da vida com
esperança.
Fonte: IHU - Notícias
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