Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sexta-feira, 28 de março de 2014

“Mais de quinhentos anos de golpes.” – Artigo de José Lisboa Moreira de Oliveira. Muito bom!


O artigo que hoje trago para o blog Indagações-Zapytania é muito oportuno para ser lido neste momento, quando se fala  dos 50 anos que se passaram, lembrando  do golpe militar de 1964 no Brasil.  Penso que esta é uma boa oportunidade para  “refrescar” a nossa memória a respeito do passado, a fim de podermos  corrigir as opiniões equivocadas ou falsas. 

 

O artigo abaixo, de José Lisboa Moreira de Oliveira, foi publicado recentemente pelo autor no seu blog O Chamado. A abordagem é muito atual, oportuna e sobretudo – competente.

Não deixe de ler!

WCejnog



O Chamado

Sábado, 22 de março de 2014-03-28

Conjuntura brasileira

Mais de quinhentos anos de golpes

José Lisboa Moreira de Oliveira
Filósofo, teólogo, escritor, conferencista e professor universitário

Estamos refletindo nestes dias sobre os cinquenta anos do golpe violento praticado em 1964 pelas elites de nosso país contra o povo brasileiro, usando como escudo de proteção as Forças Armadas da nação. A reflexão é de fundamental importância, pois, lamentavelmente, somos tentados a esquecer nosso passado, e a repetir no presente certas barbáries praticadas outrora. Dizem que o brasileiro “tem memória curta”. Isso, até certo ponto, continua sendo verdade.

Mas aquele de 1964 não foi o único golpe aplicado pelos ricos e opulentos contra a sociedade brasileira. Tudo já começa em 1500 quando a Coroa Portuguesa desembarca nas costas da Bahia e invade de forma violenta e truculenta esta terra que já era habitada há milhares de anos por numerosos povos e etnias. O rei de Portugal chega por meio de suas caravelas e vai se apoderando de tudo. Não quer saber quem habita estas terras. E para se apoderar das riquezas determina a escravização e o extermínio de todos aqueles povos que mostrassem resistência. Muitas vezes a extinção não era praticada através de armas de fogo, mas por meio de métodos sofisticados e baratos como, por exemplo, a introdução nas aldeias indígenas de objetos contaminados por doenças dos brancos (gripe, varíola etc.), capazes de dizimar populações inteiras. Esse golpe violento, que exterminou milhões de pessoas, continua acontecendo até hoje. Em nossos dias latifundiários, mineradoras, o agronegócio e grandes empresas multinacionais continuam desejando avaramente e compulsivamente as terras indígenas. E, quando eles resistem, não hesitam em matar, estuprar, destruir e espalhar terror, como fizeram recentemente com indígenas do sul da Bahia e do Mato Grosso do Sul. Tudo sob o olhar complacente dos governantes, dos legisladores e do poder judiciário. Este último sempre conivente e sempre a favor dos poderosos e exterminadores.

Em seguida, a Coroa Portuguesa vai aplicando sucessivos golpes contra o povo pobre das terras “abaixo do Equador”. Basta pensar, por exemplo, nas capitanias hereditárias, verdadeiro exemplo de violência contra os primeiros habitantes das regiões que hoje chamamos de Brasil, contra os portugueses pobres e contra os seus filhos aqui nascidos. Pense-se também no lucrativo comércio de escravos africanos, um duro golpe contra povos da África e contra os seres humanos trazidos como verdadeiras mercadorias a serem vendidas nas feiras e nos mercados de algumas cidades brasileiras. Lembremo-nos dos pesados fardos e impostos aplicados pela Coroa contra os que aqui se encontravam, motivando a revolta que ficou conhecida como Inconfidência Mineira. Por fim, para não mencionar outros tantos, o último golpe, aplicado por Dom Pedro I, filho de Dom João VI, imperador de Portugal, proclamando uma independência que na verdade nunca existiu, pois, na prática, o Brasil continuou subjugado aos ditames e interesses dos poderosos da Europa.  

Em razão disso, o império brasileiro não passou de sucessivos golpes da burguesia que tudo controlava. Seria suficiente recordar o conturbado período vivido entre a renúncia de Dom Pedro I e o início do reinado de Dom Pedro II. Quem conhece a verdadeira história do Brasil sabe como esse período foi recheado de verdadeiros golpes, através dos quais se salvaguardava sempre os interesses das elites. O império, na verdade, continuou com práticas golpistas como, por exemplo, o modo de distribuição das terras e a permanência da escravidão. E quando decretou a extinção da escravatura foi por oportunismo financeiro e não por uma visão humanitária. Tanto que os escravos tiveram que, na prática, permanecer escravos, uma vez que não tiveram direito a nada. E nessa situação só lhes restava ficar subjugados de maneira ainda mais brutal e cruel aos seus antigos patrões.

Quanto à República brasileira, a história é bem conhecida. Nasceu de um golpe e se manteve através de sucessivos golpes, todos eles sempre a favor das elites, da burguesia e contra os pobres. Todas as vezes que o povo ensaiava um movimento de verdadeira libertação, as elites reprimiam esses movimentos com golpes cruéis. Logo no início da República tivemos a brutal repressão do movimento de Canudos (Bahia) e, um pouco mais tarde, o massacre do Contestado, na divisa do Paraná com Santa Catarina. E aí vieram os sucessivos golpes, passando por Getúlio Vargas e chegando àquele de 1964. Convém salientar que todos esses golpes não foram somente militares. Todos eles foram civis, ou seja, golpes das elites brasileiras, que usaram como aparelho de repressão as Forças Armadas. Na verdade, as elites brasileiras usaram os militares para reprimir os anseios e as lutas do povo pobre brasileiro.

No que diz respeito ao golpe de 1964, foi, na verdade, uma sucessão de golpes dentro do golpe. Isso se deu em primeiro lugar através dos malditos “atos institucionais”, pelos quais as Juntas Militares no poder, a serviço da burguesia, destruíram por completo a democracia. Ao determinarem, arrogantemente, a cassação de políticos, o fechamento do Congresso, a censura à imprensa, a cessação das liberdades democráticas, os golpistas se autoproclamaram os donos do poder, ou seja, afirmaram que o poder não emana do povo, pelo povo e para o povo, mas que o poder emana do poder. Além disso, se utilizaram da tortura e mataram muitas pessoas, violando princípios elementares de convenções internacionais, começando pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. Por fim, notando o próprio fracasso, introduziram uma aparente abertura e proclamaram uma falsa anistia que perdoava também os golpistas, os torturadores e os assassinos do regime. Com mais esse golpe dissolveram os dois partidos existentes, e, assim, continuaram controlando tudo. Os políticos de esquerda, na época, não perceberam que se tratava de mais um golpe dentro do golpe e realizaram, de bom grado, a sua própriapulverização. O resultado foi a continuação da ditadura até pelos menos 1985.

Porém, é preciso não esquecer que os golpes continuaram após a chamada “redemocratização”, mesmo que não se apresentassem mais com a crueldade daquele de 1964. O primeiro deles aconteceu em 1989, na primeira eleição para presidente da República, após a ditadura. As elites, percebendo que o povo poderia realmente tomar as rédeas do destino da nação, com a ajuda da mídia que continuava golpista, fabricaram um “caçador de marajás”, lá da “República das Alagoas”, e o apresentaram como o salvador da Pátria. O “caçador de marajás”, após tomar posse, mostrou a sua verdadeira face, seqüestrou, com a ajuda de sua parenta, o dinheiro dos pobres, quebrou pequenas empresas e pequenos negócios, levou muita gente à miséria e até ao suicídio. Não contente disso, resolveu “reformar a casa da Dinda”, ou seja, como se dizia na época, encontrou formas de lavar legalmente o dinheiro roubado anteriormente das poupanças dos pobres. E como, talvez, tenha se recusado a repartir o bolo com outros políticos corruptos, foi forçado a renunciar.

Logo em seguida acontece outro golpe: parte de uma falsa esquerda, representada pelo PSDB e seus “nanicos satélites”, se junta ao PFL, neto da ARENA, aquele partido que tinha abrigado os políticos da elite golpista de 1964, e coloca no poder um presidente, cuja marca principal foi leiloar e vender a preço de banana um imenso patrimônio do povo brasileiro. Os detalhes, bem documentados, desse golpe estão amplamente difundidos em dois livros que a mídia golpista atual não ousa comentar: A privataria tucana do jornalista Amaury Ribeiro Júnior e O príncipe da privataria de outro jornalista, Palmério Dória.

No momento atual o golpe em ação atende pelo nome de “mensalão do PT”. A burguesia, como sempre, percebendo o crescente avanço da insatisfação popular, decide desviar a atenção da sociedade brasileira insistindo pesadamente num suposto crime do Partido dos Trabalhadores. Não duvido que tenha havido esse “mensalão”, embora ilustres figuras do mundo jurídico e acadêmico coloquem em dúvida muita coisa. E tenho bons motivos para acreditar que o “mensalão do PT” seja mais uma armação para desviar a atenção dos brasileiros de mais um golpe contra o povo. Neste caso o PT é apenas o “bode expiatório” sobre o qual concentrar a raiva e a ira das multidões, como aconteceu em 1964, quando se acusava os “comunistas”, de serem “antropofagistas”, ou seja, “devoradores de crianças”. E, enquanto o povo tem a sua atenção desviada para o “mensalinho” do PT, as elites tratam de esconder as roubalheiras praticadas pela privataria e por outros estrondosos “mensalões” que passam pelos “buracos” do metrô de São Paulo, pela venda das teles e da Vale, pelas “caixas de Pandora” de Brasília e pelos paraísos fiscais do mar do Caribe e da Suíça.

A atual elite usa a mídia golpista para insuflar multidões e encontrar “culpados”. Como em 1989 gera novos “caçadores”. E o pior de tudo é que esses novos caçadores estão abrigados sob as togas da Justiça, a qual, por natureza, deveria ser totalmenteimparcial na defesa da verdade e do bem-comum. A estes novos “caçadores” são dedicados elogios, reportagens, capas de revistas, programas, entrevistas etc. Ora, como nos mostra a experiência, a grande mídia, verdadeiro oligopólio concentrado nas mãos de poucas famílias opulentas, está a serviço dos poderosos, dos ricos e dos inimigos do povo. Por isso, tudo o que sai dela é, pelo menos, duvidoso. Quando ela faz elogios a determinados personagens do Judiciário é porque estes personagens estão a serviço das elites que elas representam e não a serviço do povão dos pobres. Aliás, como disse o desembargador Paulo Rangel, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, em programa exibido pela TV Brasil em 19 de março de 2014, o sistema judiciário brasileiro é racista. Só prende, condena e pune o pobre que, normalmente, é também negro. Os bandidos engravatados, ricos e brancos, os verdadeiros “mensaleiros”, continuam soltos.

Por esse motivo os membros do Judiciário, que são muitos e defendem realmente o povo, não fazem parte das pautas de reportagens e dos noticiários na grande mídia. É o caso, por exemplo, do juiz Márlon Reis, do Maranhão, um dos idealizadores da Lei da Ficha Limpa. Os promotores e juízes que estão denunciando os grandes mensalões e outras tantas falcatruas da direitona nunca aparecem na grande mídia, a não ser de “raspão”, quando não dá mais para ocultá-los sem colocar em risco o índice de audiência. E como cerca de 70% da população brasileira são de analfabetos funcionais e, pior ainda, de analfabetos políticos, consegue-se facilmente cativar a simpatia do povo e elevar à condição de heróis certas figuras do alto escalão do Poder Judiciário, as quais nunca se importaram com os pobres e os oprimidos desse nosso país. Se não fosse assim, “grandes assaltantes” do dinheiro público como aqueles da “Caixa de Pandora” aqui do Distrito Federal e da “privataria tucana”, do Banco Opportunity, o chefe da máfia da jogatina, Carlinhos Cachoeira, e seu “representante” no Senado, não continuariam soltos. Só para citar alguns exemplos.


Neste momento da história somos convidados a agir mais racionalmente e mais criticamente. Não podemos ceder a mais um golpe. Precisamos usar de esperteza. Sem abrir mão da apuração e da punição de toda e qualquer forma de corrupção, não podemos esquecer que a elite brasileira sempre usou um fato menor de corrupção para esconder a corrupção maior e mais estrondosa. E se alguém ainda dúvida dessa real possibilidade, que volte a fazer memória do famoso “caçador de marajás” da “República das Alagoas”. Ninguém tem a menor dúvida de que em Alagoas e em todo o Nordeste existiam e continuam existindo “marajás”. Mas eles foram utilizados como verdadeiros “bodes expiatórios” para esconder o projeto de leiloar o Brasil. Os brasileiros e as brasileiras não foram espertos, caíram na arapuca e entregaram o patrimônio do nosso povo à privataria, uma vez que a venda do nosso país, realizada pelos tucanos e seus aliados, começa com o seqüestro das poupanças feitas pelo ilustre “príncipe caçador de marajás”. O sucessor desse príncipe, o homem do topete, foi quem armou todo o esquema para que a partir de 1995 o Brasil começasse a ser vendido a preço de banana. Só espero que em outubro o povo brasileiro esteja mais esperto e não volte a cair de novo na arapuca de mais um golpe bem bolado.



Um comentário:

  1. Espero que realmente em outubro, nos lembremos de tudo isso e votemos com confiança.

    ResponderExcluir