«E, respondendo ele
(João Batista), disse-lhes: Quem tiver duas túnicas, reparta com o que não tem,
e quem tiver alimentos, faça da mesma maneira.» (Lc 3, 11)
Abaixo, uma bonita reflexão,
muito concreta e atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Lc 3, 10-18 (João Batista instrui a
multidão). É de autoria do padre e teólogo
espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site
do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
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IHU -
Notícias
Sexta, 11 de dezembro de
2015
Repartir com os que não têm
A leitura que a Igreja
propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus segundo Lucas 3,10-18 que
corresponde ao Terceiro Domingo do Tempo Advento, ciclo C do Ano Litúrgico. O
teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
A palavra do Batista a
partir do deserto tocou o coração das pessoas. A
sua chamada à conversão e ao início de uma vida mais fiel a Deus despertou em
muitos deles uma pergunta concreta: Que devemos fazer? É a pergunta que brota
sempre em nós quando escutamos uma chamada radical e não sabemos como
concretizar a nossa resposta.
O Batista não lhes
propõe ritos religiosos nem tampouco normas nem preceitos. Não se
trata propriamente de fazer coisas nem de assumir deveres, mas de ser de outra
maneira, viver de forma mais humana, desenvolver algo que está já no nosso
coração: o desejo de uma vida mais justa, digna e fraterna.
O mais decisivo e realista
é abrir o nosso coração a Deus olhando atentamente as necessidades dos que
sofrem. O Batista sabe resumir-lhes a sua resposta
com uma fórmula genial pela sua simplicidade e verdade: «O que tenha duas
túnicas, que as reparta com o que não tem; e o que tenha comida faça o mesmo».
Assim simples e claro.
Que podemos dizer ante
estas palavras, quem vive num mundo onde mais de um terço da humanidade vive na
miséria lutando cada dia por sobreviver, enquanto nós continuamos a encher os
nossos armários com todo o tipo de túnicas e temos as nossas geladeiras repletas
de comida?
E que podemos dizer os
cristãos, ante esta chamada tão simples e tão humana? Não
teremos de começar a abrir os olhos do nosso coração para ter uma consciência
mais viva dessa insensibilidade e escravidão que nos mantêm, submetidos a um
bem-estar que nos impede ser mais humanos?
Enquanto nós continuamos
preocupados, e com razão, com muitos aspetos do momento atual do cristianismo,
não nos damos conta de que vivemos «cativos de uma religião burguesa».
O cristianismo, tal como nós o vivemos, não parece ter força para transformar a
sociedade do bem-estar. Pelo contrário, é ele que está a desvirtuar o melhor da
religião de Jesus, esvaziando nossa capacidade de seguir a Cristo em valores
tão genuínos como solidariedade, defesa dos pobres, compaixão e justiça.
Por isso, temos que
valorizar e agradecer muito mais o esforço de tantas pessoas que se revoltam
contra este «cativeiro», comprometendo-se em gestos concretos de
solidariedade e cultivando um estilo de vida mais simples, austero e
humano.
Fonte: IHU - Notícias
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