"Quem ama seu pai ou
sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha
mais do que a mim não é digno de mim; e quem não toma a sua cruz e não me
segue, não é digno de mim.” (Mt 10, 37-38)
Abaixo, uma pequena, porém muito expressíva reflexão, concreta e atual,
que tem como pano de fundo o texto bíblico Mt 10, 37-42 (As exigências para quem quer seguir Jesus). É de autoria do padre e teólogo espanhol José
Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de ler!
WCejnóg
IHU – ADITAL
30 junho 2017.
A família não é intocável
A leitura que a Igreja propõe neste
domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus capítulo 10, 37-42 que
corresponde ao 13º Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo
espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o
texto
Com frequência, nós crentes temos
defendido a “família” no abstrato, sem pararmos para refletir
sobre o conteúdo concreto de um projeto familiar entendido e vivido desde o
Evangelho. E, no entanto, não basta defender o valor da família sem mais,
porque a família pode traduzir-se de formas muito diferentes na realidade.
Há famílias abertas ao serviço da
sociedade e famílias debruçadas sobre os seus próprios interesses. Famílias que
educam no egoísmo e famílias que ensinam solidariedade. Famílias libertadoras e
famílias opressoras.
Jesus defendeu com firmeza a
instituição familiar e a estabilidade do matrimônio. E criticou duramente os
filhos que se desentendem com os seus pais. Mas a família não é para
Jesus algo absoluto e intocável. Não é um ídolo. Há algo que está acima e é
anterior: o reino de Deus e a Sua justiça.
O decisivo não é a família de carne,
mas essa grande família que temos de construir entre todos os Seus filhos e
filhas, colaborando com Jesus em abrir caminhos ao reino do Pai. Por isso, se a
família se converte em obstáculo para seguir Jesus neste projeto, Jesus
exigirá a ruptura e o abandono dessa relação familiar: “O que ama o
seu pai ou a sua mãe mais do que a mim não é digno de mim. O que ama o seu
filho ou a sua filha mais do que a mim não é digno de mim”.
Quando a família impede a
solidariedade e a fraternidade com os outros e não deixa os seus membros
trabalharem pela justiça querida por Deus entre os homens, Jesus exige
uma liberdade crítica, mesmo que isso traga consigo conflitos e
tensões familiares.
São as nossas casas uma escola
de valores evangélicos como a fraternidade, a procura responsável de
uma sociedade mais justa, a austeridade, o serviço, a oração, o perdão? Ou são
precisamente lugar de “des-evangelização” e correia de transmissão dos
egoísmos, injustiças, convencionalismos, alienações e superficialidades da
nossa sociedade?
Que dizer da família onde se orienta
o filho para um status egoísta, uma vida instalada e segura, um ideal do máximo
lucro, esquecendo tudo mais? Se está educando o filho quando o estimulamos
apenas para a competição e a rivalidade, e não para o serviço e a solidariedade?
É esta a família que tem de defender
os católicos? É esta a família onde as novas
gerações podem escutar o Evangelho? Ou é esta a família que também hoje temos
de “abandonar”, de alguma forma, para sermos fiéis ao projeto de vida querido
por Jesus?
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