"Portanto,
não tenham medo deles. Não há nada escondido que não venha a ser revelado, nem
oculto que não venha a se tornar conhecido. O que eu digo a vocês na escuridão,
falem à luz do dia; o que é sussurrado em seus ouvidos, proclamem dos telhados.
Não tenham medo dos que matam o corpo, mas não podem matar a
alma. Antes, tenham medo daquele que pode destruir tanto a alma como o corpo no
inferno.” (Mt 10, 26-28)
Abaixo, uma pequena reflexão, muito concreta e atual, que tem como pano
de fundo o texto bíblico Mt 10, 26-33 (Sermão
missionário de Jesus). É de
autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de ler!
WCejnóg
IHU – Adital
23 junho 2017.
Os nossos medos
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o
Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus capitulo 10,26-33 que
corresponde ao 12º Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo
espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Quando o nosso coração não está habitado por um
amor forte ou uma fé firme, facilmente a nossa vida fica à mercê dos nossos
medos. Às vezes é o medo de perder prestígio, segurança, conforto ou bem-estar
o que nos trava de tomar as decisões. Não nos atrevemos a arriscar a nossa
posição social, o nosso dinheiro ou a nossa pequena felicidade.
Outras vezes paralisa-nos o medo de não sermos
acolhidos. Atemoriza-nos a possibilidade de ficarmos sós, sem a amizade ou o
amor das pessoas. Ter de enfrentarmos a vida diária sem a companhia próxima de
ninguém.
Com frequência vivemos preocupados apenas em ficar
bem. Nos dá medo fazer o ridículo, confessar as nossas verdadeiras convicções,
dar testemunho da nossa fé. Tememos as críticas, os comentários e a rejeição
dos outros. Não queremos ser classificados. Outras vezes invade-nos o temor do
futuro. Não vemos claro o nosso caminho. Não temos segurança em nada. Talvez
não confiemos em ninguém. Nos dá medo enfrentar o amanhã.
Sempre foi tentador para os crentes procurar na religião
um refúgio seguro que nos liberte dos nossos medos, incertezas e temores. Mas
seria um erro ver na fé o refúgio fácil dos pusilânimes, dos covardes e
ariscos.
A fé confiada em Deus, quando é bem entendida, não
conduz o crente a eludir a sua própria responsabilidade ante os problemas. Não
o leva a fugir dos conflitos para encerrar-se comodamente no isolamento. Pelo
contrário, é a fé em Deus a que enche o seu coração de força para viver com
mais generosidade e de forma mais arriscada. É a confiança viva no Pai que
ajuda a superar covardias e medos para defender com mais audácia e liberdade o
reino de Deus e a sua justiça.
A fé não cria homens covardes, mas pessoas
resolutas e audazes. Não fecha os crentes em si mesmos, mas abre-os mais à vida
problemática e conflitiva de cada dia. Não os envolve na preguiça e na
comodidade, mas anima-os para o compromisso.
Quando um crente escuta verdadeiramente no seu
coração as palavras de Jesus: “Não tenham medo”, não se sente convidado a fugir
de seus compromissos, mas alentado pela força de Deus a enfrentá-los.
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