“Novamente Jesus disse: ‘A paz esteja com vocês! Assim como o Pai
me enviou, eu os envio’. E com isso, soprou sobre eles e disse: ‘Recebam o
Espírito Santo’.” (Mc
20, 21-22)
PENTECOSTES
Abaixo,
uma reflexão muito concreta, atual e importante, que tem como pano de fundo o
texto bíblico Jo 20,19-23 (Jesus
envia os seus discípulos, comunicando-lhes o Espírito Sento).
É de
autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O
texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a
pena ler e refletir!
WCejnóg
IHU – Adital
02 junho 2017.
Viver Deus para dentro
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o
Evangelho segundo João capítulo 20, 19-23 que corresponde ao Domingo da
Pentecostes, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta
o texto.
Eis o texto
Há alguns anos, o grande teólogo alemão Karl
Rahner atrevia-se a afirmar que o principal e mais urgente problema da
Igreja do nosso tempo era a sua «mediocridade espiritual». Estas eram as suas
palavras: o verdadeiro problema da Igreja é «continuar com uma resignação e um
tédio cada vez maior pelos caminhos habituais de uma mediocridade espiritual».
O problema tem-se agravado nestas últimas décadas.
De pouco serviram as tentativas de reforçar as instituições, salvaguardar a
liturgia ou vigiar a ortodoxia. No coração de muitos cristãos, está-se
a apagar a experiência interior de Deus.
A sociedade moderna apostou no «exterior». Tudo nos
convida a viver desde fora. Tudo nos pressiona para nos movermos depressa, sem
pararmos em nada nem em ninguém. A paz já não encontra resquícios para penetrar
até ao nosso coração. Vivemos quase sempre na crosta exterior da vida.
Estamos a esquecer o que é saborear a vida a partir de dentro. Para
ser humano, à nossa vida falta-lhe hoje uma dimensão essencial: a
interioridade.
É triste observar que tampouco nas comunidades
cristãs sabemos cuidar e promover a vida interior. Muitos não sabem
o que é o silêncio do coração, não se ensina a viver a fé desde dentro. Privados
de experiência interior, sobrevivemos esquecendo a nossa alma: escutando
palavras com os ouvidos e pronunciando orações com os lábios enquanto o nosso
coração está ausente.
Na Igreja, fala-se muito de Deus, mas, onde e
quando escutamos, os crentes, a presença silenciosa de Deus no mais fundo do
coração? Onde e quando acolhemos o Espírito do Ressuscitado no nosso interior? Quando
vivemos em comunhão com o Mistério de Deus desde dentro?
Acolher a Deus no nosso interior quer dizer pelo
menos duas coisas. A primeira: não colocar Deus sempre longe e fora de nós,
quer dizer, aprender a escutá-lo no silêncio do coração. A segunda:
descer Deus da nossa cabeça até ao profundo do nosso ser, quer dizer, deixar de
pensar em Deus só com a mente e aprender a percebê-Lo no mais íntimo de nós.
Esta experiência interior de Deus, real e concreta,
pode transformar a nossa fé. Surpreendemo-nos de como temos podido viver sem
descobri-la antes. É possível encontrar Deus dentro de nós no meio de
uma cultura secularizada. É possível também hoje conhecer uma alegria
interior nova e diferente. Mas parece-me muito difícil manter por muito tempo a
fé em Deus no meio da agitação e frivolidade da vida moderna sem conhecer,
mesmo que seja de forma humilde e simples, alguma experiência interior do
Mistério de Deus.
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