Considero bem interessante a reportagem Edith Stein, a santa judaica que morreu no campo de concentração,
de Andrea Tornielli. Para uns pode servir para relembrar, para os outros – para
conhecer um pouco da história da vida e da personalidade da Edith Stein. Sem
dúvida, a história dessa mulher comove muito e fascina a quem se interessa em
saber mais sobre a sua vida.
O texto foi publicado no site Vatican Insider
em Agosto de 2012, mas continua muito interessante e importante para os dias de
hoje.
Não
deixe de ler!
WCejnóg
REVISTA IHU ON-LINE
09 Agosto 2012
Edith Stein, a santa
judaica que morreu no campo de concentração
No dia 9 de agosto, há 70 anos, Edith Stein, a judia que havia se tornado irmã carmelita, era
morta em Auschwitz. Em 1933, ela escreveu ao papa sobre as
perseguições contra os judeus.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 03-08-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 03-08-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
REPORTAGEM
Há 70 anos, morria em Auschwitz a Irmã Teresa Benedita da Cruz, ou Edith Stein, filósofa. Ela nascera em uma família judaica, havia se batizado e, depois, entrara no mosteiro das Carmelitas de Colônia, na Alemanha. Em 1939, encontrava-se no Carmelo de Echt, na Holanda, e foi capturada em julho de 1942, durante as blitz nazistas que se seguiram à carta de denúncia das deportações, assinada pelos bispos católicos dos Países Baixos e lida em todas as igrejas. Até aquele momento, os nazistas haviam poupado os judeus batizados: foram capturados cerca de 300 religiosos de origem judaica.
Cristiana Dobner, em um artigo publicado pela agência SIR, lembra que o jornalista Van Kempen conseguiu contatá-la no campo de triagem e se encontrou diante de "uma mulher espiritualmente grande e forte". Ela não quis fugir nem receber um tratamento diferente dos outros judeus. "Ela me disse: 'Eu jamais poderia acreditar que os homens pudessem ser assim e que os meus irmãos tivessem que sofrer tanto!'. Quando não havia mais dúvidas de que ela seria transportada para outro lugar, eu lhe perguntei se eu poderia ajudá-la (tentar libertá-la); novamente, ela me sorriu suplicando-me que não. Por que abrir uma exceção para ela e para o seu grupo? Não seria justiça tirar vantagem do fato de ser batizada! Se não pudesse participar do destino dos outros, a sua vida estaria arruinada: 'Não, não, isso não!'".
Edith Stein repetia que não havia traído o seu povo ao reconhecer Jesus como Messias. Ela seria proclamada bem-aventurada por João Paulo II em 1987 e santa em 1998. No ano seguinte, também copadroeira da Europa. No dia 12 de abril de 1933, Stein escreveu uma carta ao Vaticano, dirigida ao Papa Pio XI. Ela a enviou através do arquiabade beneditino de Beuron, Raphael Walzer, ao cardeal secretário de Estado, Eugenio Pacelli.
"Padre Santo! Como filha do povo judeu, que pela graça de Deus é há 11 anos filha da Igreja Católica, me atrevo a expressar ao pai da cristandade o que preocupa milhões de alemães. Há semanas, somos espectadores, na Alemanha, de acontecimentos que envolvem um total desrespeito da justiça e da humanidade, sem falar do amor ao próximo. Durante anos, os líderes do nacional-socialismo pregaram o ódio contra os judeus. Agora que conquistaram poder e armaram os seus seguidores – entre os quais há conhecidos elementos criminosos – recolhem o fruto do ódio semeado".
Depois de falar dos muitos casos de suicídio de judeus submetidos a vexações pelos nazistas, Edith Stein acrescentava: "Pode-se considerar que os infelizes não tivessem suficiente força moral para suportar o seu destino. Mas se a responsabilidade em grande parte recai sobre aqueles que os levou a tal gesto, ela também recai sobre aqueles que se calam".
"Tudo o que aconteceu e o que acontece cotidianamente vem de um governo que se diz 'cristão'. Não só os judeus, mas também milhares de fiéis católicos da Alemanha e, creio, de todo o mundo esperam e confiam há semanas que a Igreja de Cristo faça ouvir a sua voz contra tal abuso do nome de Cristo. A idolatria da raça e do poder do Estado, com a qual a rádio martela cotidianamente as massas, não é uma aberta heresia? Essa guerra de extermínio contra o sangue judeu não é uma ultrajem à santíssima humanidade do nosso Salvador, da Santíssima Virgem e dos Apóstolos? Não está em absoluto contraste com o comportamento de nosso Senhor e Redentor, que, mesmo na cruz, rezava pelos seus perseguidores?".
"Todos nós – concluía a filósofa – que olhamos para a atual situação alemã como filhos fiéis da Igreja tememos o pior para a imagem mundial da própria Igreja, se o silêncio se prolongar ainda mais. Estamos convencidos de que esse silêncio não pode a longo prazo obter a paz do atual governo alemão. A guerra contra o Catolicismo ocorre em silêncio e com sistemas menos brutais do que contra o Judaísmo, mas não menos sistematicamente".
Irmã Teresa Benedita da Cruz - Edith
Stein
(1891-1942)
Como se pode ver, uma denúncia específica e clarividente, acompanhada pelo
pedido de um posicionamento por parte da Santa Sé contra o
nazismo. A Santa Sé respondeu à carta de Stein. O cardeal Pacelli,
escrevendo em alemão, respondeu ao arquiabade beneditino Walker ainda
no dia 20 de abril de 1933, informando que a carta "foi devidamente
apresentada à Sua Santidade".
Em 1937, Pio XI publicaria a encíclica Mit Brennender Sorge, na qual a ideologia nacional-socialita é condenada como pagã e anticristã.
Em 1937, Pio XI publicaria a encíclica Mit Brennender Sorge, na qual a ideologia nacional-socialita é condenada como pagã e anticristã.
Fonte da reportagem: IHU - Revista On-Line
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¹ EDITH STEIN - Nascida em Vrastilávia a 12 de Outubro de 1891, os seus genitores
eram de nacionalidade alemã e de religião hebraica. Foi educada na fé dos pais,
mas no decurso dos anos tornou-se praticamente ateia, conservando muito
elevados os valores éticos, mantendo uma conduta moralmente irrepreensível. De
maneira brilhante obteve o doutoramento em filosofia e tornou-se assistente
universitária do seu mestre, Edmund Husserl. Incansável e perspicaz
investigadora da verdade, através do estudo e da frequência dos fermentos
cristãos e, por fim, através da leitura da autobiografia de Santa Teresa de
Ávila, encontrou Jesus Cristo que resplandecia no mistério da cruz e, com
jubilosa resolução, aderiu ao Evangelho.
Em 1922, recebeu o batismo na Igreja católica com o nome de
Teresa: a sua vida mudou de modo radical. Os anos sucessivos foram despendidos
no aprofundamento da doutrina cristã, no ensinamento, apostolado e publicação
de estudos científicos, e numa intensa vida interior nutrida pela palavra de
Deus e a oração.
Em 1933, coroou o desejo de se consagrar a Deus e entrou na
Congregação das Carmelitas Descalças, tomando o nome de Teresa Benedita da
Cruz, exprimindo assim, também com este nome, o ardente amor a Jesus
crucificado e especial devoção a Santa Teresa de Ávila. Emitiu regularmente o
voto de pobreza, obediência e castidade e, para realizar a sua consagração,
caminhou com Deus na via da santidade.
Quando na Alemanha o nacional-socialismo exacerbou a louca
perseguição contra os judeus, os superiores da Beata enviaram-na, por precaução,
para o carmelo de Echt, na Holanda. Impelida pela compaixão para com os seus
irmãos judeus, não hesitou em oferecer-se a Deus como vítima, para suplicar a
paz e a salvação para o seu povo, para a Igreja e para o mundo. A ocupação
nazista da Holanda comportou o início do extermínio também para os judeus
daquela nação. Os Bispos holandeses protestaram energicamente com uma Carta
pastoral, e as autoridades, por vingança, incluíram no programa de extermínio
também os judeus de fé católica.
A 2 de Agosto de 1942, a Santa foi aprisionada e internada no
campo de concentração de Auschwitz, e juntamente com a irmã foi morta na câmara
de gaz no dia 9 de Agosto de 1942. Assim morreu como filha do seu povo
martirizado e como filha da Igreja católica. «Judia, filósofa, religiosa,
mártir — como foi afirmado por João Paulo II no
dia da Beatificação, a 1 de Maio de 1987, em Colónia — a Santa Edith Stein representa
a síntese dramática das feridas do nosso século. E, ao mesmo tempo, proclama a esperança de que é a cruz de Jesus
Salvador que ilumina a história».
(Edith Stein foi proclamada bem-aventurada por João Paulo II em 1987 e santa em 1998).
(Edith Stein foi proclamada bem-aventurada por João Paulo II em 1987 e santa em 1998).
(Fonte: www.vatican.va ; Foto: Wikipedia)