Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

A Deus o que é de Deus. – Comentário de Ana Maria Casarotti. Muito bom!



"Jesus percebeu a maldade deles, e disse: “Hipócritas! Por que vocês me tentam? Mostrem-me a moeda do imposto.” Levaram então a ele a moeda. E Jesus perguntou: “De” quem é a figura e inscrição nesta moeda?” Eles responderam: “É de César.” Então Jesus disse: “Pois dêem a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.” Ouvindo isso, eles ficaram admirados. Deixaram Jesus, e foram embora.” (Mt 21,43)

Hoje, para quem estiver interessado em entender melhor o texto bíblico Mateus 22,15-22 (Os fariseus perguntaram Jesus: “É lícito ou não é, pagar imposto a César?”),  trago para o blog Indagações-Zapytania duas reflexões.

A primeira, Os pobres são de Deus, é do padre e teólogo José Antonio Pagola, que já foi publicada neste espaço no ano 2014 e pode ser acessada no link: Os pobres são de Deus.

E a outra, muito interessante, segue agaixo. É o comentário de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado, publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos.

Vale a pena ler e refletir!
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IHU-Adital
20 de outubro 2017.

Leitura do Evangelho segundo Mateus Mt 22,15-22. (Correspondente ao 29° Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.

A Deus o que é de Deus

Esta narrativa do Evangelho de Mateus situa-se nos conflitos que Jesus tem com as autoridades judaicas. Neste texto e os que seguem, Mateus apresenta a tentativa dos judeus de pegar Jesus em alguma contradição o incoerência para ter como acusá-lo. Por isso eles fizeram um plano para apanhar Jesus em alguma palavra.

É preciso lembrar a situação de escravidão que sofriam os povos que pertenciam ao Império Romano. Eles tinham que reconhecer o César como uma divindade e oferecer-lhe todas as reverências próprias de um deus. Uma prática totalmente contrária a sua fé e a Lei do Moisés que eles tentavam obedecer fielmente.

Além disso, os povos escravos, neste caso os judeus, tinham que pagar um imposto para o rei Herodes, outro para o Templo de Jerusalém e os sacerdotes junto com as alfândegas, pedágios que todos os judeus tinham que pagar.

Por isso continuamente anelavam a libertação do povo Romano e na sua fé sustentava-se na espera de um libertador que os levasse a uma terra nova onde a escravidão não exista mais.

Os mais desfavorecidos eram os camponeses porque isto acrescentava sua situação de pobreza. Os impostos recaiam fundamentalmente sobre eles, que trabalhavam as terras.

Jesus incomodava o sistema socio-cultural estabelecido, romanos e os herodianos e os saduceus que estavam comodamente posicionados dentro do sistema. Os sacerdotes eram beneficiários dos tributos que se deviam pagar!

Os discípulos dos fariseus e os partidários de Herodes introduzem a pergunta com quatro capacidades e competências de Jesus, a primeira vista, positivas: “tu és verdadeiro”, “ensinas de fato o caminho de Deus”, “não dás preferência a ninguém”porque “não levas em conta as aparências”.

E depois desta introdução aparece o verdadeiro objetivo: Dize-nos, então, o que pensas: “É lícito ou não é, pagar imposto a César?”
Jesus encontra-se numa encruzilhada. Se ele responde afirmativamente, então confirma que é preciso obedecer ao Império Romano, sem preocupar-se do povo, dos pobres, dos que sofrem a escravidão, mas se responde negativamente ele é um revolucionário e seria denunciado ao Imperador.

Como disse Raymond Gravel, “A pergunta é realmente uma armadilha: quer Jesus responda sim ou não, ele se enrosca de uma ou de outra maneira. A fórmula: "É permitido...’, é a fórmula clássica para a observância da Lei de Moisés. Se Jesus responde que sim, isso significa que ele está em conluio com os romanos, que idolatram o imperador; mas se ele responde que não, isso significa que ele convida à desobediência e incentiva movimentos extremistas como os zelotes à revolta contra a ocupação romana. (Texto completo em: Nos somos imagens de Deus)

Podemos imaginar os sentimentos de Jesus diante deste grupo de pessoas que vai à sua busca procurando sua própria contradição. Na sua resposta percebemos a capacidade de discernimento, sua serenidade interior apesar do incômodo da situação.


Como Jesus escuta as lisonjas e adulações que introduzem a pergunta? Ele não fica com as palavras separadas das pessoas que as formulam. Percebe o interesse de quem as pronuncia. As palavras que saem dessa boca são falsas! Imaginemos Jesus que escuta, mas não ouve atentamente. Ele percebe o fingimento e a falsidade da pergunta. Por isso reage com acusando-lhes de hipócritas. Nem as adulações nem a pergunta contêm sinceridade. Ele sabe distinguir que todo é usado para seduzi-lo. A intenção é outra.

Quantas vezes nos deixamos enganar por frases lisonjeadoras que nos levam para um caminho errado! Expressões bajuladoras que compensam sentimento de soledade ou necessidade de reconhecimento, que geram orgulho interior, mas como consequências levam-nos por caminhos errados.

Ele pede a moeda do imposto e com a moeda em suas mãos pergunta de quem é a figura e inscrição que há nela. Era a figura do César e a Lei mosaica proibia o uso de imagens porque o considerava idolatria.

Jesus responde devolvendo-lhes sua própria pergunta. Na sua pergunta sobre a imagem, coloca-os na sua encruzilhada: se a imagem é do Cesar eles não deveriam usá-la e não pertence a Deus. Por isso a resposta de Jesus é muito inteligente: “Pois dêem a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.”

Esta resposta que foi interpretada erroneamente em várias oportunidades. Jesus não separa a preocupação das coisas deste mundo e as coisas de Deus porque isso trouxe consequências totalmente negativas. Muitas vezes se tentou que Deus fique no céu sem nenhuma incidência na vida dos seres humanos. Um Deus que gera uma fé desencarnada e menos comprometida. Pelo contrário. Jesus está ensinando que nós somos imagem de Deus e aqui radica a origem da nossa vida como criaturas amadas por Deus.

Cabe-nos perguntar: Acredito que Deus age na vida e na história da humanidade? Minha fé leva-me a um compromisso com o tempo histórico que estou vivendo?

“Dar a Deus o que é de Deus”, é responder a seu infinito Amor que tudo nos deu, e essa resposta passa pelo amor a nosso próximo e também na luta por eliminar tudo aquilo que signifique diminuição da vida para nossos irmãos, especialmente os mais pobres, e na luta em defesa da natureza.

Paremos para reconhecer tudo o que de Deus recebemos, e podemo-nos perguntar a que ou a quem estou doando minha vida, minhas capacidades? Em favor do César do momento ou em favor do Reino de Deus?

Oração

Tomai, Senhor e recebei
toda a minha liberdade,
minha memória e entendimento
e toda a minha vontade.
Tudo o que tenho ou possuo.
Vós me destes.
A vós, Senhor o restituo.
Tudo é vosso.
Disponde segundo a vossa vontade.
Dai-me o vosso amor e vossa graça,
pois ela me basta.


(Oração de Santo Inácio de Loyola).




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