"Jesus percebeu a maldade deles, e disse:
“Hipócritas! Por que vocês me tentam? Mostrem-me a moeda do imposto.” Levaram
então a ele a moeda. E Jesus perguntou: “De” quem é a figura e inscrição nesta
moeda?” Eles responderam: “É de César.” Então Jesus disse: “Pois dêem a César o
que é de César, e a Deus o que é de Deus.” Ouvindo isso, eles ficaram
admirados. Deixaram Jesus, e foram embora.” (Mt 21,43)
Hoje, para quem estiver interessado em entender
melhor o texto bíblico Mateus 22,15-22 (Os fariseus perguntaram Jesus: “É
lícito ou não é, pagar imposto a César?”), trago para o blog Indagações-Zapytania
duas reflexões.
A primeira, Os pobres são de Deus, é do padre e
teólogo José Antonio Pagola, que já foi publicada neste espaço no ano 2014 e
pode ser acessada no link: Os pobres são de Deus.
E a
outra, muito interessante, segue agaixo. É o comentário de Ana Maria
Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado, publicado no site do
Instituto Humanitas Unisinos.
Vale a pena ler e refletir!
WCejnog
IHU-Adital
20 de outubro 2017.
Leitura do Evangelho segundo Mateus Mt
22,15-22. (Correspondente ao 29° Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano
Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária
de Cristo Ressuscitado.
A Deus o que é de Deus
Esta narrativa do Evangelho de Mateus situa-se nos
conflitos que Jesus tem com as autoridades judaicas. Neste
texto e os que seguem, Mateus apresenta a tentativa dos judeus de
pegar Jesus em alguma contradição o incoerência para ter como acusá-lo. Por
isso eles fizeram um plano para apanhar Jesus em alguma palavra.
É preciso lembrar a situação de escravidão que
sofriam os povos que pertenciam ao Império Romano. Eles tinham que
reconhecer o César como uma divindade e oferecer-lhe todas as
reverências próprias de um deus. Uma prática totalmente contrária a sua fé e a Lei
do Moisés que eles tentavam obedecer fielmente.
Além disso, os povos escravos, neste caso os
judeus, tinham que pagar um imposto para o rei Herodes, outro para o Templo de
Jerusalém e os sacerdotes junto com as alfândegas, pedágios que todos os judeus
tinham que pagar.
Por isso continuamente anelavam a libertação do
povo Romano e na sua fé sustentava-se na espera de um libertador que os levasse
a uma terra nova onde a escravidão não exista mais.
Os mais desfavorecidos eram os camponeses porque
isto acrescentava sua situação de pobreza. Os impostos recaiam fundamentalmente
sobre eles, que trabalhavam as terras.
Jesus incomodava o sistema socio-cultural
estabelecido, romanos e os herodianos e os saduceus que estavam comodamente
posicionados dentro do sistema. Os sacerdotes eram beneficiários dos tributos
que se deviam pagar!
Os discípulos dos fariseus e os partidários de
Herodes introduzem a pergunta com quatro capacidades e competências de Jesus, a
primeira vista, positivas: “tu és verdadeiro”, “ensinas de fato o
caminho de Deus”, “não dás preferência a ninguém”porque “não levas
em conta as aparências”.
E depois desta introdução aparece o verdadeiro
objetivo: Dize-nos, então, o que pensas: “É lícito ou não é,
pagar imposto a César?”
Jesus encontra-se numa encruzilhada. Se ele
responde afirmativamente, então confirma que é preciso obedecer ao Império
Romano, sem preocupar-se do povo, dos pobres, dos que sofrem a escravidão, mas
se responde negativamente ele é um revolucionário e seria denunciado ao
Imperador.
Como disse Raymond Gravel, “A
pergunta é realmente uma armadilha: quer Jesus responda sim ou não, ele se
enrosca de uma ou de outra maneira. A fórmula: "É permitido...’, é a
fórmula clássica para a observância da Lei de Moisés. Se Jesus responde que
sim, isso significa que ele está em conluio com os romanos, que idolatram o
imperador; mas se ele responde que não, isso significa que ele convida à
desobediência e incentiva movimentos extremistas como os zelotes à revolta
contra a ocupação romana. (Texto completo em: Nos somos imagens de Deus)
Podemos imaginar os sentimentos de Jesus diante deste grupo de pessoas que vai à sua busca procurando sua própria contradição. Na sua resposta percebemos a capacidade de discernimento, sua serenidade interior apesar do incômodo da situação.
Como Jesus escuta as lisonjas e adulações que
introduzem a pergunta? Ele não fica com as palavras separadas das pessoas que
as formulam. Percebe o interesse de quem as pronuncia. As palavras que saem
dessa boca são falsas! Imaginemos Jesus que escuta, mas não ouve atentamente.
Ele percebe o fingimento e a falsidade da pergunta. Por isso reage com
acusando-lhes de hipócritas. Nem as adulações nem a pergunta contêm
sinceridade. Ele sabe distinguir que todo é usado para seduzi-lo. A intenção é
outra.
Quantas vezes nos deixamos enganar por frases
lisonjeadoras que nos levam para um caminho errado! Expressões bajuladoras que
compensam sentimento de soledade ou necessidade de reconhecimento, que geram
orgulho interior, mas como consequências levam-nos por caminhos errados.
Ele pede a moeda do imposto e com a moeda em suas
mãos pergunta de quem é a figura e inscrição que há nela. Era a figura do César
e a Lei mosaica proibia o uso de imagens porque o considerava idolatria.
Jesus responde devolvendo-lhes sua própria
pergunta. Na sua pergunta sobre a imagem, coloca-os na sua encruzilhada: se a
imagem é do Cesar eles não deveriam usá-la e não pertence a Deus. Por isso a
resposta de Jesus é muito inteligente: “Pois dêem a César o que é de
César, e a Deus o que é de Deus.”
Esta resposta que foi interpretada erroneamente em
várias oportunidades. Jesus não separa a preocupação das coisas deste mundo e
as coisas de Deus porque isso trouxe consequências totalmente negativas. Muitas
vezes se tentou que Deus fique no céu sem nenhuma incidência na vida dos seres
humanos. Um Deus que gera uma fé desencarnada e menos comprometida. Pelo
contrário. Jesus está ensinando que nós somos imagem de Deus e aqui
radica a origem da nossa vida como criaturas amadas por Deus.
Cabe-nos perguntar: Acredito que Deus age na vida e
na história da humanidade? Minha fé leva-me a um compromisso com o tempo
histórico que estou vivendo?
“Dar a Deus o que é de Deus”, é responder a seu infinito Amor que tudo nos deu, e essa resposta
passa pelo amor a nosso próximo e também na luta por eliminar tudo aquilo que
signifique diminuição da vida para nossos irmãos, especialmente os mais pobres,
e na luta em defesa da natureza.
Paremos para reconhecer tudo o que de Deus
recebemos, e podemo-nos perguntar a que ou a quem estou doando minha vida,
minhas capacidades? Em favor do César do momento ou em favor do Reino de Deus?
Oração
Tomai,
Senhor e recebei
toda a minha liberdade,
minha memória e entendimento
e toda a minha vontade.
Tudo o que tenho ou possuo.
Vós me destes.
A vós, Senhor o restituo.
Tudo é vosso.
Disponde segundo a vossa vontade.
Dai-me o vosso amor e vossa graça,
pois ela me basta.
toda a minha liberdade,
minha memória e entendimento
e toda a minha vontade.
Tudo o que tenho ou possuo.
Vós me destes.
A vós, Senhor o restituo.
Tudo é vosso.
Disponde segundo a vossa vontade.
Dai-me o vosso amor e vossa graça,
pois ela me basta.
(Oração de Santo Inácio de Loyola).
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