“Ame ao Senhor seu Deus com todo o seu coração, com
toda a sua alma, e com todo o seu entendimento. Esse é o maior e o primeiro
mandamento. O segundo é semelhante a esse: Ame ao seu próximo como a si mesmo.
Toda a Lei e os Profetas dependem desses dois mandamentos.” (Mt 22,37-40)
Hoje, para quem estiver interessado em entender
melhor o texto bíblico Mt 22, 34-40 (Perguntaram a Jesus:”Mestre, qual é o grande mandamento na lei?”), trago para o blog Indagações-Zapytania duas reflexões.
A primeira é “Acreditar no amor”,
do padre e teólogo José Antonio Pagola, que já foi publicada também neste
espaço (em outubro de 2014) e pode ser lida acessando o link: Acreditar no amor.
E a outra, “Um único amor”, muito interessante, segue abaixo. É de autoria
de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado. O texto foi
publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos.
Vale a pena ler e refletir!
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IHU
- ADITAL
27
outubro 2017.
Leitura do Evangelho segundo Mateus 22, 34-40.
(Correspondente ao 30° Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano
Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti,
Missionária de Cristo Ressuscitado.
Um único amor
No evangelho deste dia Jesus continua
com os diferentes confrontos, como foi lido nos domingos anteriores, com
sacerdotes, mestres da Lei. Hoje se apresenta um enfrentamento com os fariseus.
Depois de saber que Jesus fez calar os saduceus, os fariseus se reúnem em grupo
para perguntar-lhe sobre o maior mandamento da Lei.
Será que eles têm verdadeiro interesse nisto? Ou
continuam com as indagações capciosas à procura de uma contradição contra a Lei
de Moisés? Questionamentos sedutores e maliciosos onde a intenção é outra. Este
trecho do Evangelho disse que o objetivo é tentá-lo.
Para melhor entender o texto é preciso nos
situarmos no contexto social, religioso, político da época de Jesus. A Lei
nasceu para contribuir na aliança entre Deus e o povo, para ajudar os
judeus nessa relação. Surgiu num momento fundamental, mas ao longo do tempo
tinha-se convertido numa carga muito pesada, impossível de cumprir.
Constava de 613 mandamentos, 365 formulados
negativamente: "não pode isso, não pode aquilo", e 248 formulados de
maneira positiva: "faça tal coisa... cumpra isso ou aquilo...".
Para o povo, uma exigência quase impossível de cumprir, sem possibilidade de
lembrar cada um dos mandamentos e seus requisitos.
Nessa época, como também acontece hoje em nível
mundial, muitas pessoas eram analfabetas. Daí que aprender de cor tudo isso não
era tão fácil. Em todo o mundo, são 100 milhões de analfabetos. O Brasil ainda tem 13 milhões de analfabetos e não consegue reduzir esse
número há três anos, segundo relatório da Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco)
divulgado no dia 24 de outubro de 2017.
Para ajudar nesta compreensão, os rabinos se
preocupavam por interpretar “o eixo da Lei”, mas entre eles havia diferentes
análises e significados. Qual é o mandamento mais importante? Era necessário
simplificar a Lei e procurar-lhe um princípio central, uma chave de
interpretação.
Na sua resposta, Jesus deixa claro que o mandamento mais
importante é o amor, mas não
é um amor a uma perfeição pessoal, ou um amor que, no fundo, traz uma
satisfação pessoal. É um amor desinteressado que não nos é dado por
antecipação.
Então, quem é meu próximo?
Jesus sinala-o
como aquele que se aproxima. Nesta nova compreensão do amor consiste sua
contínua proclamação da Boa Nova. É aquele/a que está ao nosso lado, mas que
não conhecemos, nunca estabelecemos diálogo. Não tínhamos previsto dentro do
nosso círculo de relações.
“O amor, lembra Enzo Bianchi, é um apelo constante a sair de si mesmo. E o mandamento adverte
que todo ser humano deve ser considerado como próximo pelo outro ser humano. O
ensinamento a amar o próximo como a ti mesmo, no Antigo
Testamento, aparece no livro do Levítico: ‘Não procures vingança nem guardes
rancor aos teus compatriotas. Amarás o
teu próximo como a ti mesmo’ (Levítico 19, 18). (Texto completo disponível em: ''Com o agape, o impossível é a medida do amor'').
Jesus resume a Lei e os Profetas respondendo: "Ame
ao Senhor seu Deus com todo o seu coração, com toda a sua alma, e com todo o
seu entendimento. Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é
semelhante a esse: Ame ao seu próximo como a si mesmo". Ele oferece, como chave de interpretação da
Lei, o amor a Deus e ao próximo,
dando uma reviravolta na mentalidade da maioria dos judeus. Não somente lembra
o maior e primeiro mandamento, mas coloca o segundo como semelhante a ele: o
amor ao próximo!
Sua nova interpretação da Lei está
fundamentada no amor. “O décimo mandamento se torna o ponto de vista através
do qual deve-se ler a Bíblia, um fogo que ilumina "toda a Lei e os
Profetas", um exemplo encarnado por Jesus, que faz da sua vida uma
obra-prima do amor”.
O amor que traz Jesus é um novo amor: o
ágape. Um amor que consiste em dar a própria vida para que outros vivam, e
assim, aliás, é que nos tornamos verdadeiramente vivos. "Porque
esta é a mensagem que vocês ouviram desde o princípio: que nos amemos uns aos
outros". (1Jo 3,11)
Jesus unifica o amor de Deus e o amor ao próximo. Não podem estar
separados. O amor é um: o amor de Deus unido no amor ao próximo, gratuitamente,
sem condições.
Nestes últimos anos, vários testemunhos de mulheres
são um verdadeiro exemplo deste amor que não tem fronteiras nem aparentes
considerações pessoais. Amor que ultrapassa limites e estabelece pontes que
fazem “próxima” a pessoa que está ao lado.
“Mulheres viveram radicalmente o ágape, com a preocupação pelo outro, um "pelo outro" radical, que é
o cerne da imitatio Dei: Teresa de Lisieux, em
angústia pela salvação de Pranzini; Simone
Weil, que compartilha a condição operária; Etty Hillesume e Edith Stein, que se empenham incansavelmente para ajudar e consolar na porta das
câmaras de gás; Madre Teresa, nas favelas de Calcutá e Marie
Noel, que lança um olhar de terna compaixão sobre o humilde cotidiano de
seus semelhantes.”
Estes são alguns nomes entre muitos que fazem o Reino
de Deus crescer nesta terra, porque o eixo do reino de Deus é o amor
filial a Deus e a solidariedade e justiça entre os homens e mulheres.
Assim como a vida de Jesus, a vida daqueles/as que
vivem como ele é um convite a sacudir nossa passividade, a recuperar a
indignação ética diante da situação injusta deste mundo chamado moderno e
civilizado, e a voltar ao essencial da proposta de Jesus, do evangelho, do
mandamento ao Amor.
Somos capazes de avistar no rosto de cada irmão o
rosto de Deus?
Oração
[...] Por amor a outra pessoa, sacrificamos com gosto
tempo, força e dinheiro.
A cruz se chama solidariedade com o outro
que sinto de algum modo parte de mim mesmo.
tempo, força e dinheiro.
A cruz se chama solidariedade com o outro
que sinto de algum modo parte de mim mesmo.
Um golpe
repentino, pode fulminar-nos em um instante,
e nossa existência fica ferida sem remédio.
Perde-se a saúde, um ser querido, ou a estima pública.
Arranca-se um galho verde, uma parte viva do eu.
Quando esta mutilação econtra seu repouso,
a cruz se chama aceitação
e nossa existência fica ferida sem remédio.
Perde-se a saúde, um ser querido, ou a estima pública.
Arranca-se um galho verde, uma parte viva do eu.
Quando esta mutilação econtra seu repouso,
a cruz se chama aceitação
Existe a
cruz livre a que escolho
aquela
da qual não fujo.
Mas uma vez nela pregado já não posso descer
quando quero.
Entregam-se os projetos aos cravos
a fantasia aos espinhos o nome aos rumores
os lábios ao vinagre e os bens à partilha.
Aqui a cruz se chama fidelidade ao amor no amor,
que é canto e fortaleza ressuscitando pela ferida.
Mas uma vez nela pregado já não posso descer
quando quero.
Entregam-se os projetos aos cravos
a fantasia aos espinhos o nome aos rumores
os lábios ao vinagre e os bens à partilha.
Aqui a cruz se chama fidelidade ao amor no amor,
que é canto e fortaleza ressuscitando pela ferida.
(Benjamin
González Buelta)
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