Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

domingo, 24 de junho de 2012

É preciso participar da Missa? Não basta servir ao próximo? Como é isso?


Agora a questão é a frequente dúvida dos homens e mulheres do nosso tempo, e principalmente dos adolescentes e jovens, se  realmente são necessários todos esses ritos litúrgicos que a Igreja realiza, convidando e chamando todos os fiéis para participarem ativamente. Para quê isso? – perguntam. Já que Jesus disse que o mais importante e decisivo é servirmos ao  próximo, principalmente na pessoa do pobre, faminto, doente, enfermo, e migrante - não seria suficiente, então, dedicarmo-nos só a isso? A participação das celebrações, Missas, Cultos – poderíamos dispensar. Precisamos realmente participar pessoalmente dessas celebrações litúrgicas? 

Sobre isso trata o texto abaixo, de autoria de Ferdinand Krenzer¹.  A leitura é fácil.
Não deixe de ler.
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[Para aproveitar melhor a abordagem deste tema,  é aconselhável  ler desde o início todas as postagens que se referem a este assunto (começo no dia 3 de junho de 2012: Corpus Christi. Algumas indagações)].

 

 

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Servir ao mundo ou servir a Deus

Voltamos para  falar do questionamento já mencionado anteriormente (no início das reflexões sobre os ritos litúrgicos católicos): Será que, em certas circunstâncias, não deveríamos desistir totalmente do serviço a Deus e apenas limitar-nos a servir às pessoas e ao mundo? Não se serve a Deus servindo às pessoas? Precisamos mesmo impor um caráter sacro ao nosso serviço aos nossos semelhantes?

Temos que tratar esta  colocação com muita seriedade. Já o São Paulo dizia: “Eu vos exorto, pois, irmãos, pela misericórdia de Deus, que vos ofereçais em vossos corpos, como hóstia viva, santa, agradável a Deus. Este é o vosso culto espiritual. Não vos conformeis com os esquemas deste mundo mas transformai-vos pela renovação do espírito, para que possais conhecer qual é a vontade de Deus, boa, agradável e perfeita.” (Rm 12, 1-;  e no outro lugar:  “Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus.” ( 1 Cor 10, 31)

Portanto, a própria vida humana é um louvor a Deus. Não há nenhuma separação entre o que é leigo e que é religioso; tudo é o “ambiente Divino” (Teilhard de Chardin). Sem esse serviço que visa o mundo toda oração e todo o  culto estaria sem base e sentido.

Entretanto, seria algo muito arbitrário considerar como dispensáveis os ritos litúrgicos que (como  tais) são  celebrados pela reunida comunidade  dos  fiéis. Se queremos tratar seriamente o mundo e as pessoas que vivem a nosso lado, precisamos ver tudo como “um todo”, e de modo especial em relação a Deus. Ser cristão não se esgota numa relação correta para com o próximo.

O cristão sabe que é criatura de Deus e que foi salvo (quer dizer que Deus o ama), e portanto ele  precisa expressar isso de alguma forma. Para o homem de fé a oração e a vida no mundo devem-se entrelaçar. Por exemplo, quando estamos no trabalho ou na escola - as nossas atitudes fundamentais devem permanecer fieis a Deus;  quando rezamos – devemos estar com os nossos  “pés no chão”.

O fato é  que nós, humanos, de modo geral, conseguimos agir e fazer as coisas somente numa sequência de tempo: uma coisa a cada vez. Até mesmo os nossos pensamentos não conseguem concentrar-se sempre no mesmo ponto. Por isso também temos a necessidade de  nos dirigirmos, pelo menos de vez enquanto, expressivamente e exclusivamente a Deus. Isso não nos prejudica em nada em nossa vida diária; ao contrário, nos mobiliza mais ainda para vivermos intensamente a nossa vida no mundo. Porque Deus e  o mundo são como os dois focos de uma mesma elipse, em volta  da qual circula a nossa devoção.

Seria, por exemplo, algo simplesmente desumano, se estivéssemos só trabalhando sem refletir sobre  o nosso trabalho e o seu sentido. Também, igualmente, seria desumano no casamento, se um cônjuge fosse fiel ao outro, mas sem a mútua simpatia e amor expressados em  palavras, presentes e carinho. A verdade é que o que não se faz conscientemente e o que não se exterioriza – é condenado a perder a vitalidade e se tornar distorcido.

É humano, portanto, proclamar conscientemente e com clareza o nosso amor a Deus, o nosso louvor e gratidão. Quando servimos a Deus com retidão – o nosso serviço ao mundo e aos irmãos não fica em nada diminuído. Ao contrário, o significado do mundo se torna claro para nós e  nos leva a louvar mais ainda a Deus; os ritos e celebrações litúrgicas, por sua vez, nos enviam para  servirmos a Deus no mundo. Não pode ter aqui nenhum “ou (a Deus) – ou (ao mundo)”, mas unicamente “tanto  (a Deus) – como (ao mundo)”.

Quando um cristão participa retamente das celebrações litúrgicas, ele não muda nem se transforma ao entrar pela porta da igreja. Nesse tempo ele não se afasta do mundo, mas  traz o mundo para a igreja. E durante os ritos litúrgicos as nossas atitudes e ações diárias ficam confrontadas com a Palavra de Deus e dela recebem estímulos. É claro que depende de cada um pessoalmente, de que jeito ele co-participa desses ritos e até que ponto consegue lançar a ponte entre eles e a vida  cotidiana.

Descrevendo a Última Ceia, São João informa que ela foi precedida por uma cerimônia muito expressiva: Jesus Cristo lavou os pés aos seus discípulos, quer dizer, se fez um servo para eles, e lhes ordenou: “Se eu, pois, Mestre e Senhor, vos lavei os pés, também vós deveis lavar-vos os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo para que, como vos fiz, assim também façais vós.”  (Jo 13, 14-15)

Isto é um exemplo para eles e para todos os cristãos, para que sirvam-se mutuamente. Essa foi uma das ordens dadas naquela hora. A outra, também dita nessa mesma hora, era: “Fazei isto (quer dizer a cerimônia da  Última Ceia) em memória de mim”. Deste jeito tanto uma como a  outra ordem de Jesus Cristo devem ser realizadas e “entrelaçar-se” – conforme a vontade de Cristo.

(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, p. 279-280)²
Continua...
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¹  Ferdinand Krenzer  é um teólogo católico alemão, pastor, aposentado e escritor.

²Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português).  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.

 
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