Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

domingo, 10 de junho de 2012

Por que a Missa é centro de celebrações católicas?

Como continuação da última postagem (do dia 7 de junho de 2012: Sobre os ritos litúrgicos católicos. Eles existem para quê?) temos  agora algumas reflexões sobre a Santa Missa.  Dizemos que a Missa, ou Celebração Eucarística,  é um ato solene com que os católicos celebram o  sacrifício  de Jesus Cristo na cruz, recordando a Última Ceia e cumprindo o que o próprio Jesus, antes da sua paixão e morte, ordenou.  Por isso, também, acreditamos ser ela a forma mais perfeita de nos encontrarmos com Deus e conversarmos com Ele... 

Mas as perguntas são muitas: O que, na verdade,  significa a MISSA?  Desde quando  celebra-se esse mistério da  fé?  Será que todos os católicos  entendem mesmo o que é a Missa e  o que significam pelo menos os mais importantes ritos e fórmulas usados durante a celebração?
Por que a Santa Missa é considerada  o centro das celebrações  litúrgicas católicas? Será que é possível  valorizar e amar alguma coisa sem conhecê-la...? 

O  texto abaixo, de autoria de Ferdinand Krenzer¹, traz algumas informações sobre essas questões. Uma reflexão tranquila, feita com interesse, certamente pode trazer para cada um de nós, e para as pessoas interessadas no assunto,  algumas redescobertas, ou, então,  dissipar incertezas e  dúvidas existentes...  A leitura é fácil e muito interessante.
 Não deixe de ler.
WCejnog

[Para aproveitar melhor a abordagem deste tema,  é aconselhável  ler desde o início todas as postagens que se referem a este assunto (começo no dia 3 de junho de 2012: Corpus Christi. Algumas indagações)].

 

  

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Santa Missa

O nome “ceia” nós usamos  menos – certamente porque esta  celebração não se limita apenas ao horário do  fim do  dia. Já São Paulo fala da “mesa do Senhor” (1 Cor 10, 21), e nos Atos usa de bom grado a expressão “ partilha do pão”. Nós, então, hoje gostamos de falar sobre “banquete da Eucaristia”, o que significa ação de graças. O nome popularmente aceito é: “Santa Missa”. Vem provavelmente da antiga fórmula final em latim: “Ite Missa est.”, o que significa: Ide, o sacrifício foi realizado.” (...)
A missa, porém, não  é só ceia – ela é mais complexa. Vou tentar explicar aqui as coisas mais importantes.

A Missa como Memória

Na noite que antecedeu a paixão, Jesus encontrou-se com os seus discípulos para comer com eles a páscoa (Pessach - do hebraico פסח, ou seja, passagem), que era uma tradicional festa judaica. Realizando tudo de acordo com esse ritual, Jesus depois de dar graças, tomou o pão, deu graças, e o partiu e deu a seus discípulos, dizendo: “TOMAI, TODOS, E COMEI: ISTO É O MEU CORPO QUE SERÁ ENTREGUE POR VÓS.” Usando palavras parecidas, ao fim da ceia, ele tomou o cálice em suas mãos, deu graças novamente, e o deu a seus discípulos, dizendo: “TOMAI, TODOS, E BEBEI: ESTE É O CÁLICE DO MEU  SANGUE, O SANGUE DA NOVA E ETERNA ALIANÇA, QUE SERÁ DERRAMADO PÓR VÓS E POR TODOS, PARA REMISSÃO DOS PECADOS. FAZEI ISTO EM MEMÓRIA DE MIM.” (Lc 22, 19; Mt 26, 26-28; Mc14, 22-24).

Portanto, foi o próprio Jesus que ordenou aos discípulos que fizessem aquilo o que  ele fez; e eles faziam isto em memória dele. Nesta repetição não se trata, no entanto,  de lembrar somente das coisas passadas, mas se trata de tornar presente o próprio Jesus Cristo em nosso tempo. 

Isto significa que a Missa não é apenas um símbolo vazio e nem um ato nosso, mas  nela age o próprio Cristo. Torna-se presente nela, de modo particular, a morte e a ressurreição de Cristo (compare 1 Cor 11, 26). Com outras palavras: Também no século XXI Cristo está presente no meio de nós, como naquele tempo na Palestina, embora não mais na forma humana.

Missa como  a ceia

Inicialmente a “partilha do pão”, “Missa” realizava-se dentro de uma refeição concreta, chamada ágape. O grupo de participantes não era numeroso – as  comunidades eram  pequenas – sentava-se em volta da mesa. No início, ou, então, no final realizavam a ordem de Jesus Cristo:  “fazei isto em memória de mim”; portanto, realizavam solenemente a ceia do Senhor.  

Hoje, nas grandes  igrejas não é fácil  identificar essa forma mais  antiga da ceia, que é realizada no meio das orações solenes e ritos. Porém, o que é essencial permanece até hoje, em Santa Missa, do mesmo jeito que naquela ‘Última Ceia” do Senhor, no Cenáculo. No meio, encontra-se a mesa coberta com a toalha (hoje, frequentemente, a toalha é ricamente ornamentada; nos tempos da Idade Média, as paredes em volta da mesa eram pintadas com afrescos ou quadros). Exatamente do mesmo jeito como durante a Última Ceia, pronuncia-se sobre o pão e o vinho as palavras, que foram usadas por Jesus Cristo; reparte-se esse pão e vinho, come-se e bebe.

No rito romano, de modo geral, não se dá o cálice a toda a comunidade. Essa limitação existe pelo motivo puramente prático. Não se negligencia com isto a  ordem de Cristo para comer e beber. Afinal, Cristo é sempre vivo e inteiro, recebido tanto sob espécie de pão como sob espécie de vinho. Por isso já na Igreja primitiva nas diversas ocasiões, por exemplo, aos enfermos, administrava-se a comunhão apenas sob espécie de vinho. As Igrejas católicas orientais, ligadas a Roma, durante todo o tempo preservaram a Comunhão distribuída do cálice.

Por que Jesus Cristo escolheu justamente a refeição como sinal da sua presença? – Temos que responder aqui com a pergunta: O que acontece durante a refeição? Bem, é na refeição que ganhamos  novas forças e vivenciamos uma autêntica vida em comunidade.

O pão e  o vinho é o alimento do ser humano, e  como tal é  necessário para a  vida. Na Eucaristia não se alimenta o nosso corpo, mas  ela  é o alimento para a vida eterna: “Quem come minha carne e bebe  meu sangue, tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia.” (Jo 6, 54). Cristo quer com isso dizer: Você precisa de mim tão necessariamente, como do pão cotidiano!  A refeição, porém,  é também sinal de “pertença mútua”. Sabemos por experiência como fortemente pode unir as pessoas entre si uma refeição em comum no serviço, ou uma mesa de casamento. Aqui, quem nos convida à refeição é Jesus Cristo. Por isso nós nos tornamos unidos com Ele – assim como nunca teria possível entre as pessoas: “Quem come minha carne e bebe meu sangue, permanece em mim e eu nele.” (Jo 6, 56) Os seus pensamentos, o seu espírito, a sua força, o seu amor penetram em nós – quando participamos desta celebração adequadamente.

Através do Cristo nos unimos com Deus e com as pessoas. Não é sem motivo que Ele diz que graças a esta ceia realiza-se “uma Nova Aliança” com Deus. Essa  aliança também uni mais intensamente as pessoas entre si. Os fieis que comem o mesmo pão, também unem-se entre si numa comunidade; tornam-se “um  corpo” (compare 1 Cor 10, 16-17). Isso tem certas consequências, porque se refere também ao vizinho,  que pode não ser simpático. (...)

(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, p. 270-272)²

Continua...
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¹  Ferdinand Krenzer  é um teólogo católico alemão, pastor, aposentado e escritor.

²Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português).  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.

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