Como continuação da última postagem (do dia 7 de junho de 2012: Sobre os ritos litúrgicos católicos. Eles existem para quê?) temos agora algumas reflexões sobre a Santa Missa. Dizemos que a Missa, ou Celebração
Eucarística, é um ato solene com que os
católicos celebram o sacrifício de Jesus Cristo na cruz, recordando a Última
Ceia e cumprindo o que o próprio Jesus, antes da sua paixão e morte, ordenou. Por isso, também, acreditamos ser ela a forma
mais perfeita de nos encontrarmos com Deus e conversarmos com Ele...
Mas as perguntas são muitas: O que, na verdade, significa a MISSA? Desde quando celebra-se esse mistério da fé? Será
que todos os católicos entendem mesmo o
que é a Missa e o que significam pelo
menos os mais importantes ritos e fórmulas usados durante a celebração?
Por que a Santa Missa é considerada o centro das celebrações litúrgicas católicas? Será que é possível valorizar e amar alguma coisa sem conhecê-la...?
O texto abaixo, de autoria de
Ferdinand Krenzer¹, traz algumas informações sobre essas questões. Uma reflexão
tranquila, feita com interesse, certamente pode trazer para cada um de nós, e
para as pessoas interessadas no assunto, algumas redescobertas, ou, então, dissipar incertezas e dúvidas existentes... A leitura é fácil e muito interessante.
Não deixe de ler.
WCejnog
[Para aproveitar melhor a abordagem deste tema, é aconselhável ler desde o início todas as postagens que se referem a este assunto (começo no dia 3 de junho de 2012: Corpus Christi. Algumas indagações)].
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Santa Missa
Santa Missa
O nome “ceia” nós
usamos menos – certamente porque
esta celebração não se limita apenas ao
horário do fim do dia. Já São Paulo fala da “mesa do Senhor” (1
Cor 10, 21), e nos Atos usa de bom grado a expressão “ partilha do pão”. Nós,
então, hoje gostamos de falar sobre “banquete da Eucaristia”, o que significa
ação de graças. O nome popularmente aceito é: “Santa Missa”. Vem provavelmente
da antiga fórmula final em latim: “Ite Missa est.”, o que significa: Ide, o
sacrifício foi realizado.” (...)
A missa, porém, não é só ceia – ela é mais complexa. Vou tentar
explicar aqui as coisas mais importantes.
A Missa como Memória
Na noite que antecedeu a
paixão, Jesus encontrou-se com os seus discípulos para comer com eles a páscoa
(Pessach - do hebraico
פסח, ou seja, passagem), que era uma tradicional festa judaica. Realizando
tudo de acordo com esse ritual, Jesus depois de dar graças, tomou o pão, deu
graças, e o partiu e deu a seus discípulos, dizendo: “TOMAI, TODOS, E COMEI:
ISTO É O MEU CORPO QUE SERÁ ENTREGUE POR VÓS.” Usando palavras parecidas, ao
fim da ceia, ele tomou o cálice em suas mãos, deu graças novamente, e o deu a
seus discípulos, dizendo: “TOMAI, TODOS, E BEBEI: ESTE É O CÁLICE DO MEU SANGUE, O SANGUE DA NOVA E ETERNA ALIANÇA,
QUE SERÁ DERRAMADO PÓR VÓS E POR TODOS, PARA REMISSÃO DOS PECADOS. FAZEI ISTO EM MEMÓRIA DE MIM.” (Lc 22, 19;
Mt 26, 26-28; Mc14, 22-24).
Portanto, foi o próprio
Jesus que ordenou aos discípulos que fizessem aquilo o que ele fez; e eles faziam isto em memória dele.
Nesta repetição não se trata, no entanto, de lembrar somente das coisas passadas, mas se
trata de tornar presente o próprio Jesus Cristo em nosso tempo.
Isto significa
que a Missa não é apenas um símbolo vazio e nem um ato nosso, mas nela age o próprio Cristo. Torna-se presente
nela, de modo particular, a morte e a ressurreição de Cristo (compare 1 Cor 11,
26). Com outras palavras: Também no século XXI Cristo está presente no meio de
nós, como naquele tempo na Palestina, embora não mais na forma humana.
Missa como a
ceia
Inicialmente a “partilha do
pão”, “Missa” realizava-se dentro de uma refeição concreta, chamada ágape.
O grupo de participantes não era numeroso – as
comunidades eram pequenas –
sentava-se em volta da mesa. No início, ou, então, no final realizavam a ordem
de Jesus Cristo: “fazei isto em memória
de mim”; portanto, realizavam solenemente a ceia do Senhor.
Hoje, nas grandes igrejas não é fácil identificar essa forma mais antiga da ceia, que é realizada no meio das
orações solenes e ritos. Porém, o que é essencial permanece até hoje, em Santa
Missa, do mesmo jeito que naquela ‘Última Ceia” do Senhor, no Cenáculo. No
meio, encontra-se a mesa coberta com a toalha (hoje, frequentemente, a toalha é
ricamente ornamentada; nos tempos da Idade Média, as paredes em volta da mesa
eram pintadas com afrescos ou quadros). Exatamente do mesmo jeito como durante
a Última Ceia, pronuncia-se sobre o pão e o vinho as palavras, que foram usadas
por Jesus Cristo; reparte-se esse pão e vinho, come-se e bebe.
No rito romano, de modo
geral, não se dá o cálice a toda a comunidade. Essa limitação existe pelo
motivo puramente prático. Não se negligencia com isto a ordem de Cristo para comer e beber. Afinal,
Cristo é sempre vivo e inteiro, recebido tanto sob espécie de pão como sob
espécie de vinho. Por isso já na Igreja primitiva nas diversas ocasiões, por
exemplo, aos enfermos, administrava-se a comunhão apenas sob espécie de vinho.
As Igrejas católicas orientais, ligadas a Roma, durante todo o tempo preservaram
a Comunhão distribuída do cálice.
Por que Jesus Cristo
escolheu justamente a refeição como sinal da sua presença? – Temos que
responder aqui com a pergunta: O que acontece durante a refeição? Bem, é na
refeição que ganhamos novas forças e
vivenciamos uma autêntica vida em comunidade.
O pão e o vinho é o alimento do ser humano, e como tal é
necessário para a vida. Na
Eucaristia não se alimenta o nosso corpo, mas
ela é o alimento para a vida
eterna: “Quem come minha carne e bebe
meu sangue, tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia.” (Jo
6, 54). Cristo quer com isso dizer: Você precisa de mim tão necessariamente,
como do pão cotidiano! A refeição,
porém, é também sinal de “pertença mútua”.
Sabemos por experiência como fortemente pode unir as pessoas entre si uma
refeição em comum no serviço, ou uma mesa de casamento. Aqui, quem nos convida
à refeição é Jesus Cristo. Por isso nós nos tornamos unidos com Ele – assim
como nunca teria possível entre as pessoas: “Quem come minha carne e bebe meu
sangue, permanece em mim e eu nele.” (Jo 6, 56) Os seus pensamentos, o seu
espírito, a sua força, o seu amor penetram em nós – quando participamos desta
celebração adequadamente.
Através do Cristo nos unimos
com Deus e com as pessoas. Não é sem motivo que Ele diz que graças a esta ceia
realiza-se “uma Nova Aliança” com Deus. Essa
aliança também uni mais intensamente as pessoas entre si. Os fieis que
comem o mesmo pão, também unem-se entre si numa comunidade; tornam-se “um corpo” (compare 1 Cor 10, 16-17). Isso tem
certas consequências, porque se refere também ao vizinho, que pode não ser simpático. (...)
(KRENZER, F. Taka
jest nasza wiara, Paris, Éditions Du
Dialogue, 1981, p. 270-272)²
Continua...
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¹
Ferdinand Krenzer é um teólogo católico alemão, pastor, aposentado
e escritor.
²Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer
fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a
entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis
desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são
tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma
polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português). O título original: “Morgen wird man wieder
Glauben”.
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