Continuamos o tema sobre a Missa. O
texto abaixo, de autoria de Ferdinand Krenzer¹, traz mais
reflexões. A leitura é fácil e
agradável. Não deixe de ler.
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[Para aproveitar melhor a abordagem deste tema, é aconselhável ler desde o início todas as postagens que se referem a este assunto (começo no dia 3 de junho de 2012: Corpus Christi. Algumas indagações)].
(3)
Missa como sacrifício
A história da religião ensina que o
ser humano sempre expressava a sua relação com Deus, sobretudo, através das
oferendas. Entregar algo da sua propriedade significava que a sua existência e
tudo o que possuía devia a Deus. No
ritual do sacrifício, onde o homem oferece algo, por exemplo através da queima
no fogo, acontece a conscientização de que ele – homem – é finito e mortal. Deste
jeito o oferecimento de sacrifício tornou-se sinal de entrega a Deus e de
reconciliação com Ele.
Quando os católicos chamam a Missa
de “Sacrifício”, aí precisamos lembrar que, neste caso, isso tem outro
significado. Em primeiro lugar, os ritos
litúrgicos cristãos não devem ser entendidos como atos puramente humanos, mas
como a atuação de Deus. Não somos nós que fazemos sacrifício na Santa Missa,
mas é o Cristo que intercede por nós. O sinal da entrega a Deus e a fonte de
reconciliação com Ele não é nosso
sacrifício, mas é o sacrifício de vida
de Jesus Cristo. Desta maneira, Jesus terminou com as formas anteriores de oferecer sacrifícios,
que sempre eram insuficientes (compare Hb 9, 13. 28; 10, 12; 1 Jo 3,16).
A Missa, então, não é somente a
repetição da Última Ceia, mas nela torna-se presente, de verdade, a morte de
Jesus na cruz. São Paulo escreve: “Pois todas as vezes que comerdes este pão e
beberdes este cálice, anunciareis a morte do Senhor, até que ele venha.” (1Cor
11, 26)
O próprio Jesus estabeleceu a união
entre a ceia e os acontecimentos na cruz dizendo: ... o meu corpo entregue por
vós ... . O meu sangue derramado por todos. Não se pode, no entanto, entender o
sacrifício de sua morte como se Deus fosse aplacado com o sacrifício de sangue.
O ato de Jesus tem o duplo objetivo: Deus e o homem. Ele mesmo assemelhou-se ao
homem e tomou sobre si todo o mal humano, todo pecado. Em seguida ele tinha que
experimentar a derrota, porque o pecado sempre age destrutivamente. Porém,
mantendo-se nisso tudo fiel a Deus, Cristo corrigiu o mal, venceu o pecado.
Graças a isso ocorreu a unificação daquilo que estava separado – o homem e Deus
(compare Rom 3,25; 8,3 Hbr 2,17). O ser humano quando se relaciona com Jesus
– participa nesse ato e não será mais derrotado.
Uma participação verdadeira e
autêntica dos ritos da Santa Missa consiste em nós nos juntarmos ao sacrifício
de Cristo. Estamos aos pés da cruz e ali não podemos ficar passivos: precisamos
assumir a postura do discípulo e estarmos prontos a viver a nossa vida para
Deus e para os homens, nossos irmãos. É neste sentido o sacrifício de Cristo
torna-se também a nossa oferenda.
Vemos aqui como os ritos litúrgicos
cristãos estão ligados com a vida diária do ser humano. Onde essa ligação foi
rompida, onde não se concretiza “o existir para o outro”, os ritos litúrgicos
tornam-se infrutíferos. Neste caso, nós não agimos como discípulos e amigos de
Cristo.
Missa – o Mistério da fé.
Aqui entra novamente em ação a
nossa razão crítica: Será que realmente tudo isso tem que estar oculto sob um simples símbolo da Santa Missa?
Deus teria que estar tão perto do nós? Permitiria se tocar sob espécie de pão e
de vinho? Será que ali nós podemos realmente encontrá-lo pessoalmente?
São João disso que os Judeus
polemizavam sobre este tema. Quando Jesus falou desse mistério, murmuravam até
os seus discípulos e muitos chegaram a abandoná-l’O. Ele, porém, exige deles
uma decisão clara. Insistia que precisassem entender a sua palavra na sua forma concreta (Jo 6,48–69).
Trata-se,
aqui, então, não dos símbolos e nem de sinais devotos, mas da presença real de
Deus entre os homens. Quem não experimenta o próprio Deus em Jesus, esse não
compreende a Santa Missa. (...)
(KRENZER, F. Taka
jest nasza wiara, Paris, Éditions Du
Dialogue, 1981, p. 272-274)²
Contiuna...
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¹
Ferdinand Krenzer é um teólogo católico alemão, pastor, aposentado
e escritor.
² Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer
fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a
entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis
desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são
tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma
polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português). O título original: “Morgen wird man wieder
Glauben”.
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