Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Sobre os ritos litúrgicos católicos. Eles existem para quê?


O propósito deste bloco de  reflexões é abordar o tema das celebrações e dos ritos católicos. Não tenho dúvidas  de que as  informações e explicações que apresentarei agora, em INDAGAÇÕES, de autoria de Ferdinand Krenzer¹, serão muito úteis para todas as pessoas interessadas neste assunto. Sobretudo, gostaria muito que esse material pudesse chamar atenção dos adolescentes e jovens, ajudando-os a crescer  sem medo e com menos dúvidas na sua fé cristã. Ou, talvez, poderia servir de ajuda para as aulas de Catequese.

O texto, abaixo, convida o leitor para uma conversa leve e descontraída sobre o que pode estar acontecendo com ele mesmo ou com a sua comunidade eclesial, no sentido de participar ou não das celebrações da Igreja. Oferece explicações e argumentações que podem ajudar muito a quem está procurando a entender o “Por quê?” e “Para quê?” das celebrações, da Missa, da Comunidade...  Excelente!
Não deixe de ler.
WCejnog

[Para aproveitar melhor a abordagem deste tema,  é aconselhável  ler desde o início todas as postagens que se referem a este assunto (começo no dia 3 de junho de 2012: Corpus Christi. Algumas indagações)].

 

 

(1)

Ritos litúrgicos católicos.

(... )  Para que celebrações e ritos?

A Santa Missa constitui o centro da liturgia católica. Nas últimas décadas foram  introduzidas  algumas mudanças nos ritos litúrgicos e por isso a Missa hoje é celebrada de modo diferente do que antigamente; porém,  foi preservado o seu caráter essencial. O fato é que ao lado de latim como língua da Igreja inteira, hoje, a liturgia é realizada nos  idiomas locais. E, ultimamente, procura-se ainda mais “as novas e atualizadas formas para os ritos litúrgicos”, por exemplo, usando várias formas modernas de música no lugar dos antigos cantos eclesiais. Tudo isso visa facilitar ao homem de hoje a participação da Santa Missa.

As reflexões, porém, vão ainda mais longe: as pessoas – sobretudo os jovens – cada vez mais frequentemente perguntam se a oração realmente ainda tem sentido e se por causa da participação das celebrações litúrgicas realmente possa mudar alguma coisa na vida cotidiana. Para esses jovens parece ser mais importante, por exemplo, um protesto contra  a violência,  uma luta para acabar com a fome no mundo ou o empenho para garantir a paz, do que sermões e homilias  piedosas. Eles não querem mais se sentir  recolhidos atrás das barricadas, sem fazer nada, atrás dos muros da igreja. Muitos deles, mesmo considerando-se plenamente cristãos, abandonaram todas as formas de celebrações e  ritos, sem substituí-los com outro conteúdo equivalente: deixam esse espaço vazio. Será que esta  é a crise das celebrações litúrgicas na Igreja? Na verdade, é muito bom que isso esteja acontecendo. Provavelmente, para um número realmente grande de cristãos esses ritos tornaram-se mais a questão de rotina do que a expressão da sua viva fé. Para muitas pessoas os ritos litúrgicos permanecem totalmente isolados da sua vida cotidiana.

É necessário refletir sobre tudo isso. Antes, porém, falarei sobre as celebrações e ritos litúrgicos católicos,  para mostrar o seu significado real. 

Sozinho(a) consigo rezar melhor...

Todas as celebrações da Igreja, que têm caráter ritual, chamamos de “liturgia” (do grego  λειτουργία  = serviço ou trabalho público). Trata-se aqui da comunitária e oficial adoração a Deus, feita pelo seu povo. A liturgia, portanto, não é somente a tarefa do sacerdote ou do ministro, para ele ser acompanhado atentamente pelos fiéis ou  apenas assistido passivamente, mas é uma celebração de toda a Igreja. O ser humano sempre se direciona à comunidade com  todo o seu ser. Por exemplo,  seria possível ter uma vida saudável e feliz numa família, sem as refeições em comum, sem conversar, sem passeios e outras  coisas em comum? Tudo isso também acontece com a Igreja: necessita ela ações  em comum, sobretudo louvar a Deus comunitariamente.

Um ato religioso, por exemplo, num ambiente especial, no colo da natureza, sem dúvida é bom e bonito, mas não pode  substituir a  oração comunitária. Cristo prometeu que quando os fiéis se reúnem – aí estão particularmente perto dele (Mt 18, 20).  Por isso o cristianismo sempre deixava muito  claro, que a dimensão comunitária é muito importante. Na verdade, justamente em relação à esfera religiosa existe o perigo que o homem queira andar somente em volta de si mesmo e  procurar somente a própria salvação.  Muitas pessoas ficam verdadeiramente indignadas por causa desse “egoísmo em busca da salvação”. Porém, participando das cerimônias litúrgicas comunitárias, o fiel fica conhecendo os  problemas da Igreja,  familiariza-se com as  necessidades urgentes da sua comunidade, percebe os desafios da sua época. Passa, então, a enxergar não somente as próprias alegrias e  preocupações, mas também as outras coisas.

Pode ser visto aqui também a união entre os fiéis e a unidade da Igreja: o operário e o diretor-chefe, o agricultor e morador da cidade,  o pobre e o rico, o negro e o branco – todos participam, rezam, louvam, tendo os mesmos direitos e as mesmas necessidades. Desta maneira as  celebrações litúrgicas tornam-se sinal da nova sociedade, em que vive-se como irmão(ã) no meio dos irmãos e  irmãs, sem olhar para  classe e raça; sem visar o prestígio. Aqui não é somente a questão de cada um fazer  apenas o bem para si, mas que todas as pessoas possam crescer  e se desenvolver juntas, formando uma verdadeira comunidade.

Por outro lado, a experiência e a  consciência de que estamos fazendo algo em conjunto com as pessoas que  pensam como nós, intensificam em nós a alegria da fé e aumentam a força dessa fé em cada indivíduo. Todos necessitamos de um ambiente bom e favorável para nos sentirmos felizes. A experiência ensina que a maioria das pessoas, que não estão vinculadas a alguma comunidade religiosa concreta, facilmente perdem o contato com Deus. Lembremos aqui, por exemplo, dos jovens que após terminar estudos nas escolas, ingressando aos locais de trabalho onde  existe indiferença ou hostilidade à fé  religiosa, abandonam a fé. Sozinho é mais difícil crer.

Todas essas reflexões não eram estranhas para Jesus Cristo, pois Ele conhecia muito bem as pessoas e as considerava do jeito que eram. Foi Ele que criou a comunidade e como sinal dela instituiu a ceia partilhada. Exatamente essa “última ceia” constitui o centro dos ritos litúrgicos católicos. (...)

(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, p. 269-270)²
Continua...
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¹  Ferdinand Krenzer  é um teólogo católico alemão, pastor, aposentado e escritor.
²Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português).  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.

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