Para
entender melhor as origens, o significado e a importância das celebrações e
ritos litúrgicos existentes no catolicismo (que é o propósito desta série de
reflexões), e com isso poder dissipar muitas dúvidas e dificuldades a este
respeito, considero de muita importância trazer primeiramente aqui (nesta
postagem), um texto, de autoria do Prof. Felipe Aquino¹, sobre o relativismo
religioso. Na minha opinião o autor
analisa o tema com muita competência e acerta com maestria a maioria das suas
colocações.
É
indispensável termos uma consciência mais apurada da existência da corrente de
pensamento chamada relativismo, que abrange vários aspectos da vida humana, no
seio da nossa sociedade e das suas possíveis consequências devastadoras na vida
de cada indivíduo, quando este se deixa dominar por ele.
Uma
leitura atenciosa desse texto nos ajudará a percebermos como é forte e perigosa
a influência do relativismo, e, sobretudo, relativismo religioso, em nossa
vida. Sabemos que este assunto é
bastante polêmico nos dias de hoje, mas não se pode fugir dele, mesmo se esta polêmica
estiver provocando e desafiando a nossa consciência e a consciência de qualquer
outra pessoa.
De
imediato, neste contexto, surgem as perguntas: Será que não é ele que afasta as pessoas da fé em Deus? Será que a falta de interesse das
pessoas pela participação nas atividades e celebrações litúrgicas da sua
Igreja, também não tem a ver com isso? Será que não é este o maior perigo que
ameaça as gerações mais novas da nossa sociedade, crianças, adolescentes e
jovens?
Não tem
como fugir dessas indagações. Não deixe de ler.
WCejnog
[A partir
da próxima postagem virá uma série de reflexões sobre o tema dos rituais e
celebrações litúrgicas católicos, cujo centro é a Eucaristia.]
O relativismo no ambiente da fé²
Por Felipe
Aquino
O relativismo é uma linha de pensamento que nega que possa haver uma verdade absoluta e permanente, ficando por conta de cada um definir a “sua” verdade e aquilo que lhe parece ser o seu bem. Nessa ótica tudo é relativo ao local, à época ou a outras circunstâncias. É o engano do historicismo. Para seus adeptos, “a pessoa se torna a medida de todas as coisas”, como dizia o filósofo grego Protágoras.
O relativismo é uma linha de pensamento que nega que possa haver uma verdade absoluta e permanente, ficando por conta de cada um definir a “sua” verdade e aquilo que lhe parece ser o seu bem. Nessa ótica tudo é relativo ao local, à época ou a outras circunstâncias. É o engano do historicismo. Para seus adeptos, “a pessoa se torna a medida de todas as coisas”, como dizia o filósofo grego Protágoras.
Evidentemente, a Igreja rejeita o relativismo
porque há verdades que são permanentes. As verdades da fé e da moral cristã
são perenes porque foram dadas por Deus. Cristo afirmou solenemente: “Eu sou a
Verdade” (Jo 14,6); “a verdade vos libertará” (Jo 8,32); e disse a Pilatos
que veio ao mundo exatamente “para dar testemunho da verdade” (Jo 18,37). São
Paulo relatou que “Deus quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da
verdade” (1Tm 2,4) e que “ a Igreja é a coluna e o fundamento da verdade” (1Tm
3, 15).
Ora, se negarmos que existe a verdade objetiva e
perene, o Cristianismo fica destruído desde a sua raiz. O Evangelho é o
dicionário da Verdade.
Segundo o relativismo, no campo moral não existe
“o bem a fazer e o mal a evitar”, pois o bem e o mal são relativos. Isso destrói
completamente a moral católica, a qual moldou o Ocidente, e a nossa
civilização. Contudo, esse relativismo hoje está penetrando cada vez mais
nas universidades, na imprensa e até na Igreja. Ele ignora a lei natural,
que é a lei de Deus colocada na consciência de todo ser humano – desde que este
dispõe do uso da razão.
Por causa do relativismo moral os governantes
propõem leis contra a Lei Natural que Deus colocou no coração de todos os
homens. Dessa forma, a palavra do legislador humano vai superando a do
Legislador Divino, a qual é a mesma para todos os homens.
O Papa Bento XVI tem falado insistentemente do
perigo da “ditadura do relativismo”, que vai oprimindo quem não a aceita. Quem
não estiver dentro do “politicamente correto” é anulado, desprezado, zombado
com cinismo. Sobre essa mesma ditadura o Sumo Pontífice falou em 18 de abril de
2005 na homilia da Santa Missa preparatória do conclave que o elegeu: “Não vos
deixeis sacudir por qualquer vento de doutrina” (Ef 4, 14). “Quantos ventos de
doutrina viemos a conhecer nestes últimos decênios, quantas correntes
ideológicas, quantas modalidades de pensamento...! O pequeno barco do
pensamento de não poucos cristãos foi freqüentemente agitado por essas ondas,
lançado de um extremo para o outro: do marxismo ao liberalismo ou mesmo
libertinismo; do coletivismo ao individualismo radical; do ateísmo a um vago
misticismo religioso; do agnosticismo ao sincretismo... Todos os dias nascem
novas seitas e se realiza o que diz São Paulo sobre a falsidade dos homens,
sobre a astúcia que tende a atrair para o erro (cf. Ef 4, 14). O ter uma fé
clara, segundo o Credo da Igreja, é, muitas vezes, rotulado como
fundamentalismo. Entrementes, o relativismo ou o deixar-se levar para cá e para
lá por qualquer vento de doutrina aparece como orientação única à altura dos
tempos atuais. Constitui-se assim uma ditadura do relativismo, que nada
reconhece de definitivo e deixa como último critério o próprio eu e suas
veleidades”.
O relativismo derruba as normas morais válidas
para todos os homens; ele é ateu; vê na religião e na moral católicas um
obstáculo e um adversário, pois Deus é visto como um escravizador do homem e a
moral católica destinada a tornar o homem infeliz.
O relativismo atual coloca a ciência como uma
deusa que vai resolver todos os problemas do homem; a qual está acima da moral
e da religião. Mas se esquece de dizer que o homem nunca foi tão infeliz
como hoje; nunca houve tantos suicídios, nunca se usou tanto antidepressivo
e remédios para os nervos; nunca se viu tanta decadência moral (aborto,
prostituição, pornografia, prática homossexual...), destruição da família e da
sociedade.
O relativismo é embalado também pelo ceticismo e
pelo utilitarismo, os quais só aceitam o que pode ajudar a viver num bem-estar
hedonista, aqui e agora. Há uma verdadeira aversão ao sacrifício e à renúncia.
Infelizmente, esse perigoso relativismo
religioso, que tudo destrói, penetrou sorrateiramente também na Igreja,
especialmente nos seminários e na teologia. Isso levou o Papa João Paulo II a
alertar aos bispos na Encíclica “Veritatis Spendor”, de 1992, sobre o perigo
desse relativismo que anula a moral católica. No centro da “crise”, o saudoso
Pontífice viu uma grave "contestação ao patrimônio moral da Igreja".
Ele diz: “Não se trata de contestações parciais e ocasionais, mas de uma
discussão global e sistemática do patrimônio moral... Rejeita-se, assim, a
doutrina tradicional sobre a lei natural, sobre a universalidade e a permanente
validade dos seus preceitos; consideram-se simplesmente inaceitáveis alguns
ensinamentos morais da Igreja...” (n. 4). E chama a atenção para o fato grave
de que “a discordância entre a resposta tradicional da Igreja e algumas
posições teológicas está acontecendo mesmo nos Seminários e Faculdades eclesiásticas"
(idem).
No centro da “crise moral”, enfatizada por João
Paulo II, ele revela qual é a sua causa – o homem quer ocupar o lugar de Deus:
“A Revelação ensina que não pertence ao homem o poder de decidir o bem e o mal,
mas somente a Deus” (cf. Gen 2,16-17). Não é lícito que cada cristão queira
fazer a fé e a moral segundo o “seu” próprio juízo do bem e do mal. (...)
_______________________________
¹ Prof. Felipe
Aquino, casado, 5 filhos, doutor em Física pela UNESP. É membro do Conselho
Diretor da Fundação João Paulo II. Participa de aprofundamentos no país e no
exterior, escreveu mais de 60 livros e apresenta dois programas semanais na TV
Canção Nova: "Escola da Fé" e "Trocando Idéias". Saiba mais
em Blog do
Professor Felipe.
² Fonte: Canção Nova
Nenhum comentário:
Postar um comentário