Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sábado, 16 de junho de 2012

Por que a Missa é assim?


Continuamos falar sobre a Missa.  Qual é a sequência dos ritos durante a celebração da Missa? Que significação tem cada parte da Missa?  Sobre isto trata o texto abaixo, de autoria de Ferdinand Krenzer¹, trazendo mais reflexões e informações.  A leitura é fácil e agradável.
Não deixe de ler.
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[Para aproveitar melhor a abordagem deste tema,  é aconselhável  ler desde o início todas as postagens que se referem a este assunto (começo no dia 3 de junho de 2012: Corpus Christi. Algumas indagações)].

   

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A ordem (forma) da Santa Missa

Na Missa temos unidos dois tipos de ritos: a ceia Eucarística (Memorial do Senhor - o Banquete), que remete à Última Ceia, e a liturgia da palavra, onde ficou preservada a herança dos ritos judaicos. (...)  A distinção dessas duas  partes é visível: durante a ceia Eucarística o celebrante²  fica junto ao altar e isto é compreensível, porque para o banquete é necessária a mesa. Porém, durante as leituras e orações da liturgia da palavra, ele  fica assentado no lugar mais distante do altar, ou junto ao púlpito.

O Rito da Entrada

Acompanhados de canto da comunidade reunida, o celebrante, junto com os ministros, leitores e coroinhas, aproxima-se do altar. Aos pés do altar eles genuflectem, e  enquanto todos dirigem-se para os seus lugares, o celebrante dirige-se ao altar e o beija.

Em seguida, já no seu lugar, ele (o celebrante) começa os santos ritos com o sinal da cruz e cumprimenta os fieis, sendo correspondido por eles.

A primeira sensação do ser humano diante de Deus á a consciência da sua imperfeição. Por isso também a primeira oração comunitária é a oração penitencial, em que pedimos a Deus que Ele tenha piedade e misericórdia para conosco. O mesmo sentimento  expressamos com a fórmula Kyrie Eleison - “Senhor, tende piedade de nós”.

Por sua vez, o hino Glória – “Glória a Deus nas alturas...” é a louvação a Deus, apontando para a alegria da promessa de nascimento de Jesus. Após o convite “Oremos” e um curto momento de silêncio, o  celebrante reza a oração destinada para o determinado dia, e os fiéis reforçam essa  oração com o seu “Amém”.  Aqui terminam  os  ritos iniciais da Santa Missa.

A Liturgia da Palavra

O ponto central desta parte da Missa é a leitura de fragmentos do Antigo Testamento, das cartas do Novo Testamento e do Evangelho. Essas  leituras estão unidas com um Salmo Responsorial (de Meditação) recitado ou cantado. De modo geral, depois da  leitura do trecho do Evangelho vem a homilia, com a explicação dos textos bíblicos que acabamos de ouvir, e atualização dos mesmos para a vida do dia a dia. Nos domingos e dias solenes todos juntos recitam a Profissão de Fé (Credo). A Liturgia da Palavra termina com a Oração da Comunidade, na qual são incluídas as preces concretas e atuais.

[...] A fé nasce daquilo, o que se ouve [...] (Rm 10, 17). A escuta da palavra de Deus desperta e aprofunda a fé, sem a qual a ceia que vai acontecer em seguida, não teria fundamento.

Nas palavras da Bíblia o Cristo está presente; isto  prepara os fiéis para o encontro direto com Ele na ceia Eucarística. É por isso que para ouvir as palavras do Evangelho, todos se levantam e ficam em pé. Nas Missas festivas, para ainda mais expressar esse respeito à palavra do Evangelho, junto ao púlpito são levadas velas e o incenso. 

O banquete Eucarístico

Enquanto a  comunidade canta o canto de ofertório, os ministros ou coroinhas trazem ao altar o cálice e o Missal³. O celebrante (sacerdote) também se aproxima para receber o pão (hóstias) e o vinho,  que na maioria das vezes são trazidos ao altar pelos leigos,  representantes da comunidade reunida. Depois de colocar o vinho no cálice, ele abençoa o pão e o vinho, e, em  seguida, lava as mãos para demonstrar, simbolicamente, que para participar da refeição que o Cristo nos oferece, precisamos ter uma boa  pré-disposição e o coração limpo. Ao terminar a  preparação das oferendas o sacerdote conclama os fiéis para pedirem a Deus que aceite este sacrifício (a oferenda) compartilhado.  A primeira parte deste rito da Eucaristia termina com a Oração sobre as Oferendas.

Ao preparar as oferendas, faz se a  coleta entre os fiéis para os fins filantrópicos ou para as  necessidades da própria comunidade. Desta maneira fica  claro para toda a comunidade que o serviço a Deus não pode ser algo puramente íntimo e particular, mas que tem a ver com a vida cotidiana de todos os fieis, da comunidade e da paróquia.

Agora sucede a Oração Eucarística4. É precedida pelo prefácio – solene ação de graças e louvor, que varia dependendo do tempo litúrgico ou do dia em questão;  termina este prefácio com canto Santo, Santo, Santo...

[...] O conteúdo de todas Orações Eucarísticas constitui o pedido da Igreja e a Obra de vida de Jesus. O centro da Oração Eucarística sempre são as palavras pronunciadas por Jesus Cristo durante a Última Ceia (compare Lc 22, 7-23). Quando os fiéis, de acordo com a ordem de Jesus: “Fazei isto em  minha memória”, repetem, através do sacerdote, essa fórmula, então se realiza o mesmo que no Cenáculo: Cristo torna-se presente no pão e no vinho (transubstanciação)5. Agora o sacerdote levanta a hóstia e o cálice – para que todos possam ver e  adorar,  dizendo:  “Eis o mistério da fé!”, ao qual os fieis respondem com uma curta fórmula de fé (que é uma fórmula dos tempos dos primeiros cristãos). A finalização da Oração Eucarística (do Canon) constitui um solene louvor.

A terceira parte é a Santa Comunhão. Reza-se a oração Pai nosso, que é uma preparação para o recebimento da Comunhão, no mesmo sentido da oração antes de  comer.

O celebrante reza em silêncio pedindo pela paz, e , depois, expressa o desejo de paz: como e de que maneira os fiéis manifestam e trocam esse sinal da paz  - depende dos costumes da  região. Em seguida ele parte o pão, enquanto os fiéis recitam ou cantam “Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo – tende piedade de nós”.

O celebrante, agora, prepara-se para a Comunhão,  fazendo uma oração particular. Logo depois, voltando-se para todos presentes, levanta a hóstia bem alto e diz: “ Eis o Cordeiro de Deus...”, os fiéis agora respondem: “Senhor, eu não sou digno(a) de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo(a)” (compare Mt 8, 8).  A Sagrada Comunhão agora é distribuída aos fiéis. Após o sacerdote limpar o cálice, reza uma curta Oração final.

Envio

Neste momento é lugar para os avisos de interesse da comunidade. Quando terminam, o celebrante abençoa a comunidade reunida com a bênção em nome do Pai, Filho e do Espírito Santo, e pronuncia as palavras “Ide em paz, e o Senhor vos acompanhe!”

O rito litúrgico é finalizado com o canto ou música final. Os fieis voltam para a sua vida cotidiana.

 (KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, pp. 274-276)6
Continua...
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¹  Ferdinand Krenzer  é um teólogo católico alemão, pastor, aposentado e escritor.

² Na Igreja Católica, o celebrante ou presidente da Celebração Eucarística sempre é um sacerdote (padre ou bispo), que recebeu o sacramento da Ordem.

³ (Missal Romano é o livro usado na Missa de rito romano para as leituras próprias do celebrante (sacerdote).

4  São quatro as Orações Eucarísticas Universais:
Oração Eucarística I: Conhecida como Cânon Romano, a Oração Eucarística da Igreja de Roma. Ela a Oração Eucarística mais antiga. Já era usada na Igreja no século IV.
Oração Eucarística II: Conhecida como o Cânon de Santo Hipólito. O próprio Santo Hipólito a compôs por ocasião de sua ordenação episcopal. Sua composição foi feita por volta do século IV.
Oração Eucarística III: Esta oração foi composta por uma comissão de liturgistas que participaram do Concilio Vaticano II. Ela afirma que a Eucaristia é o sacrifício perfeito, pelo qual toda a humanidade presta um ato de louvor a Deus. A Igreja como principal responsável pela prolongação dos mistérios de Cristo, não se cansa de oferecer do nascer ao por do sol este sacrifício agradável ao Senhor.
Oração Eucarística IV: Também composta por ocasião do Concilio Vaticano II. Ela narra as maravilhas realizadas por Deus ao longo da História da Salvação.

No Brasil, por autorização da Santa Sé, existem outras fórmulas de Orações Eucarísticas:
Oração Eucarística V: Do Congresso Eucarístico de Manaus
Oração Eucarística para diversas circunstâncias VI A: – A Igreja a Caminho da Unidade
Oração Eucarística para diversas circunstâncias VI B: – Deus conduz sua Igreja pelo caminho da salvação.
Oração Eucarística para diversas circunstâncias: VI C: – Jesus caminho para o Pai
Oração Eucarística para diversas circunstâncias VI D: – Jesus que passa fazendo o bem
Oração Eucarística VII: Sobre Reconciliação I
Oração Eucarística VIII: Sobre Reconciliação II
Oração Eucarística IX: Para Missa com crianças I
Oração Eucarística X: Para Missa com crianças II
Oração Eucarística XI: Para Missa com crianças III
 5 Transubstanciação é a conjunção de duas palavras latinas: trans (além) e substantia (substância), e significa a mudança da substância do pão e do vinho na substância do Corpo e Sangue de Jesus Cristo no ato da consagração. Isto significa que esta doutrina defende e acredita na presença real de Cristo na Eucaristia. É adotada pela Igreja Católica.
A Igreja Ortodoxa, Igreja Anglicana, Igreja Luterana e Igrejas Calvinistas, crêem na presença real mas não na transubstanciação.
A crença da transubstanciação se opõe à da consubstanciação, que prega que o pão e o vinho se mantêm inalterados, ou seja, continuam sendo pão e vinho.

 6 Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português).  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.
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