A Igreja é Santa, porque a sua
Cabeça - Jesus Cristo, o Filho de Deus
é Santo. Tem como mãe a Maria,
mãe de Jesus, que sempre estava e também
hoje está com todos aqueles que crêem no
seu Filho, amam-no e se reúnem em volta dele. Nela – na Igreja - age o Espírito de Deus. E a verdade é que nesta Igreja Santa também têm muitas
pessoas verdadeiramente “santas”, dedicadas, autênticas e maravilhosas em todos
os sentidos: ninguém pode negar isso!
Mas, ao mesmo tempo, a Igreja é
pecadora – porque fazem parte dela os homens fracos e frágeis, marcados pelo
pecado. À primeira vista pode parecer um absurdo, mas justamente esta é a
verdade. E, talvez, nos dias de
hoje, esta seja a questão mais
polêmica e “difícil” para muitas
pessoas, tanto para cristãos, quanto – e
mais ainda – para os que estão desorientados ou buscando a verdade; para os céticos; para os sem religião ou para os ateus. Aliás, para muitas dessas pessoas o fato
que a Igreja é dos pecadores constitui
uma “prova” fundamental de que
“tudo isso ai é somente a coisa do homem!”.
E não é para estranharmos que as pessoas
façam essas críticas, pois realmente
muita coisa errada acontece na vida e nas
práticas da Igreja: não são poucos os escândalos, existe falta de compromisso
profético, não faltam também os exemplos de hipocrisia e omissão, de covardia e egoísmo, de “carreirismo” e
“politicagem” da parte de vários
“membros” desta Igreja de Jesus Cristo, tanto leigos como ministros ordenados. Às
vezes, para quem não consegue enxergar além desse círculo, isto é suficiente para querer mudar de Igreja ou – o que é muito pior - para
perder a fé.
Surgem as
perguntas: Como entender essa
questão? Como olhar para esses problemas com devida
tranqüilidade e necessário discernimento? Por que a fé cristã, quando é
autêntica, não se abala com essa realidade? E quanto a nossa fé, de cada um de
nós, cristãos de hoje - como ela é?
As reflexões que apresento aqui,
no blog Indagações, refletem o pensamento cristão dentro da
corrente de auto-reflexão católica.
Certamente podem ser muito úteis para todos os membros da Igreja Católica, mas
também para as outras pessoas que procuram a verdade e querem esclarecer as suas
dúvidas que envolvem a religião, a Igreja e a própria fé.
Como continuação das reflexões anteriores, o texto
abaixo, de Ferdinand Krenzer¹, fala
com muita propriedade e – sobretudo -
com profunda sinceridade sobre a Igreja pecadora.
Para poder
acompanhar com facilidade a reflexão do autor e aproveitar ao máximo as
explicações é aconselhável ler desde o
início todos os seus textos sobre este
assunto. Começo no dia 03 de agosto de 2012
- http://indagacoes-walenty.blogspot.com.br/2012/08/para-entender-o-cristianismo-qual-e-sua.html
Não deixe de ler.
WCejnog
(6)
A Igreja dos pecadores
Quando analisamos a Igreja
à luz da fé e da Bíblia, chegamos a conclusão (o que já foi demonstrado
nos textos anteriores), que Jesus Cristo continua vivo na Igreja – nela age o
Espírito de Deus – e por isso a Igreja é Santa. É evidente que algumas pessoas possam entender essas
colocações como algo muito pretensioso da
parte da Igreja. E isso porque a
realidade mostra-se totalmente oposta: as coisas freqüentemente aparecem
“humanas” até demais! Será que se nega a ver que a Igreja é composta de seres humanos, que buscam, que
erram e pecam?
Apesar da verdade que Jesus
Cristo vive na sua Igreja, é óbvio que nem se pode cogitar colocar a Igreja
como equivalente ao Cristo, ao se tratar da santidade. No final das contas são os homens que formam a Igreja.
A essência da Igreja aparece
plenamente quando olhamos para Jesus Cristo. Ele era ao mesmo tempo Deus e
homem. Do mesmo jeito na Igreja, em que
Jesus Cristo continua vivo, o elemento Divino se mistura com o humano. O que,
no entanto, não podemos dizer do Cristo aplica-se à Igreja: com o elemento
humano nela estão arraigados a infidelidade e pecado. Por isso a Igreja nunca
será livre de fraqueza e pecado.
Em primeiro lugar isso se refere
a cada um dos seus membros. Todos eles são pecadores. Vejamos, Jesus Cristo
rezava pela santificação de homens, porém, sentia-se enviado “não para chamar os justos mas os pecadores”
(Mt 9, 13). Sabia, portanto, que justamente eles estarão na sua Igreja. Os
“justos” que lhe eram contemporâneos reclamavam
com Ele: “Este homem acolhe gente de má
fama e come com eles” (Lc 15, 2). A Igreja sabe do próprio Cristo que “Não são os sãos que necessitam de médico mas os doentes“ (Mc
2, 17). Por isso Jesus Cristo pacientemente suporta os membros fracos, mesmo
quando eles prejudicam a imagem e a autoridade da Igreja. É justamente para os
pecadores e fracos que Jesus instituiu o sacramento de misericórdia de Deus, a santa
Confissão. Quem de nós poderia fazer parte da Igreja se não tivesse nela lugar
para os pecadores? Será que os erros, que tanto nos escandalizam, não são os
nossos erros? Pois todos nós somos a Igreja, pelo menos pelo fato de sermos
batizados.
Já do Evangelho sabemos das
fraquezas dos Apóstolos, da negação do Pedro, da traição do Judas, das
discussões sobre quem é maior ou quem tem maior autoridade. Nas cartas
apostólicas lemos que já na Igreja Primitiva aconteciam abusos e escândalos. Os
membros da Igreja constantemente deformam a imagem externa da “Santa Igreja”.
Padres, bispos e papas assim como qualquer outro fiel, pertencem a essa Igreja
dos pecadores.
A fraqueza e maldade da Igreja
refere-se, no entanto, a ela como um todo. Ela é Santa, mas constantemente
precisa de penitência e renovação – declara o Sínodo Vaticano II. Assim como
pessoas escandalizam-se com a cruz de
Jesus Cristo, assim também serão para elas as fraquezas e escândalos da
Igreja. Não é nada fácil ver a realidade
de Cristo através da fachada da Igreja. Até mesmo em Jesus Cristo de Nazaré, em
quem não existia pecado, muitos não reconheciam nele Deus, nosso Senhor. É muito
mais difícil notar o Cristo Jesus numa Igreja maculada com os pecados. O último
Sínodo Vaticano II reconheceu isso com muita clareza. A Igreja deve
constantemente se perguntar se a sua missão corresponde ao desejo de Jesus
Cristo.
A crítica
da Igreja.
Já que existem nela os erros e
fraquezas, pode e até deve existir a crítica da Igreja. Não se trata aqui de
arrogância farisaica, onde alguém só quer mostrar que sabe mais e melhor que
os outros, nem de crítica destrutiva e implicante, que quer ferir (mas até com
ela, devemos perguntar sempre pelas causas e refletir se por acaso não somos
nós que as proporcionamos). Uma crítica concreta e objetiva pode ser, em todo
caso, tanto externamente como internamente, somente desejada. Não devemos
insistir para defender tudo na Igreja. Os erros não se elimina com
embelezamento, mas pela conversão e confissão. Isso, por sua vez, exige
atitudes baseadas na verdade e sinceridade.
A crítica dentro da Igreja é
justificada ainda por outro motivo: porque cada cristão tem a responsabilidade
pela Igreja toda, por isso não só pode, mas – em certas circunstâncias – tem
obrigação dizer o que, na sua opinião,
está errado. Uma crítica desse tipo carrega a preocupação e o amor pela Igreja
ou a dor da frustração e decepção, mas nunca
é uma ironia maliciosa e implicante. É uma crítica sincera e construtiva. Obviamente, toda a
crítica deve saber discernir os limites, onde as coisas foram decididamente
estabelecidas pelo próprio Jesus Cristo.
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 138-140)²
Continua...
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¹ Krenzer Ferdinand
(nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, †
08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus)
foi um teólogo católico alemão,
sacerdote e escritor na aposentadoria.
² Obs.: As reflexões
do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o
leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os
temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados
neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição
no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português). O título original: “Morgen wird man wieder
Glauben”.
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