Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A Igreja é santa e pecadora. Dá para entender?


A Igreja é Santa, porque a sua Cabeça - Jesus Cristo, o Filho de Deus  é  Santo.  Tem como mãe  a Maria, mãe de Jesus, que sempre estava  e também hoje está  com todos aqueles que crêem no seu Filho, amam-no e se reúnem em volta dele. Nela – na Igreja -  age o Espírito de Deus. E a verdade é que nesta Igreja Santa também têm muitas pessoas verdadeiramente “santas”, dedicadas, autênticas e maravilhosas em todos os  sentidos: ninguém pode negar isso!

Mas, ao mesmo tempo, a Igreja é pecadora – porque fazem parte dela os homens fracos e frágeis, marcados pelo pecado. À primeira vista pode parecer um absurdo, mas justamente esta é a verdade.  E, talvez, nos dias de hoje,  esta seja a questão mais polêmica  e “difícil” para muitas pessoas, tanto para  cristãos, quanto – e mais ainda – para os que estão desorientados ou buscando a  verdade;  para os céticos;  para os sem religião ou para os ateus.  Aliás, para muitas dessas pessoas  o fato  que a Igreja é dos pecadores constitui  uma “prova” fundamental  de que “tudo isso ai é somente a coisa do homem!”. 

E não é para estranharmos que as pessoas façam essas críticas,  pois realmente muita coisa  errada acontece na vida e nas práticas da Igreja: não são poucos os escândalos, existe falta de compromisso profético,  não faltam  também os exemplos de hipocrisia e omissão,  de covardia e egoísmo, de “carreirismo” e “politicagem”  da parte de vários “membros” desta Igreja de Jesus Cristo, tanto leigos como ministros ordenados. Às vezes, para quem não consegue enxergar além desse círculo,  isto é suficiente para querer  mudar de Igreja ou – o que é muito pior - para perder a fé.  

Surgem  as  perguntas:  Como entender essa questão?  Como  olhar para esses problemas com devida tranqüilidade e necessário discernimento? Por que a fé cristã, quando é autêntica, não se abala com essa realidade? E quanto a nossa fé, de cada um de nós, cristãos de hoje - como  ela é?
As reflexões que apresento aqui, no  blog Indagações,  refletem o pensamento cristão dentro da corrente  de auto-reflexão católica. Certamente podem ser muito úteis para todos os membros da Igreja Católica, mas também para  as outras pessoas que  procuram a verdade e querem esclarecer as suas dúvidas que envolvem a religião, a Igreja e a própria  fé.  

Como continuação das reflexões anteriores, o texto abaixo, de Ferdinand Krenzer¹,  fala com muita propriedade e – sobretudo -  com profunda sinceridade sobre a Igreja pecadora.
Não deixe de ler.   
WCejnog

Para poder acompanhar com facilidade a reflexão do autor e aproveitar ao máximo as
explicações é aconselhável  ler desde o início todos os seus  textos sobre este assunto. Começo no dia 03 de agosto de 2012  - http://indagacoes-walenty.blogspot.com.br/2012/08/para-entender-o-cristianismo-qual-e-sua.html

(6)
A Igreja dos  pecadores

Quando analisamos  a Igreja  à luz da fé e da Bíblia, chegamos a conclusão (o que já foi demonstrado nos textos anteriores), que Jesus Cristo continua vivo na Igreja – nela age o Espírito de Deus – e por isso a Igreja é Santa. É evidente que  algumas pessoas possam entender essas colocações como algo muito pretensioso da  parte da Igreja. E isso porque  a realidade mostra-se totalmente oposta: as coisas freqüentemente aparecem “humanas”  até demais!  Será que se nega a ver que a Igreja é  composta de seres humanos, que buscam, que erram e pecam?

Apesar da verdade que Jesus Cristo vive na sua Igreja, é óbvio que nem se pode cogitar colocar a Igreja como equivalente ao Cristo, ao se tratar da santidade. No final das  contas são os homens que formam a Igreja.

A essência da Igreja aparece plenamente quando olhamos para Jesus Cristo. Ele era ao mesmo tempo Deus e homem. Do mesmo jeito na Igreja, em  que Jesus Cristo continua vivo, o elemento Divino se mistura com o humano. O que, no entanto, não podemos dizer do Cristo aplica-se à Igreja: com o elemento humano nela estão arraigados a infidelidade e pecado. Por isso a Igreja nunca será livre de fraqueza e pecado.

Em primeiro lugar isso se refere a cada um dos seus membros. Todos eles são pecadores. Vejamos, Jesus Cristo rezava pela santificação de homens, porém, sentia-se enviado “não para chamar os justos mas os pecadores” (Mt 9, 13). Sabia, portanto, que justamente eles estarão na sua Igreja. Os “justos” que lhe eram contemporâneos reclamavam com Ele: “Este homem acolhe gente de má fama e come com eles” (Lc 15, 2). A Igreja sabe do próprio Cristo que “Não são os sãos  que necessitam de médico mas os doentes“ (Mc 2, 17). Por isso Jesus Cristo pacientemente suporta os membros fracos, mesmo quando eles prejudicam a imagem e a autoridade da Igreja. É justamente para os pecadores e fracos que Jesus instituiu o sacramento de misericórdia de Deus, a santa Confissão. Quem de nós poderia fazer parte da Igreja se não tivesse nela lugar para os pecadores? Será que os erros, que tanto nos escandalizam, não são os nossos erros? Pois todos nós somos a Igreja, pelo menos pelo fato de sermos batizados.

Já do Evangelho sabemos das fraquezas dos Apóstolos, da negação do Pedro, da traição do Judas, das discussões sobre quem é maior ou quem tem maior autoridade. Nas cartas apostólicas lemos que já na Igreja Primitiva aconteciam abusos e escândalos. Os membros da Igreja constantemente deformam a imagem externa da “Santa Igreja”. Padres, bispos e papas assim como qualquer outro fiel, pertencem a essa Igreja dos pecadores.

A fraqueza e maldade da Igreja refere-se, no entanto, a ela como um todo. Ela é Santa, mas constantemente precisa de penitência e renovação – declara o Sínodo Vaticano II. Assim como pessoas escandalizam-se com  a cruz de Jesus Cristo, assim também serão para elas as fraquezas e escândalos da Igreja.  Não é nada fácil ver a realidade de Cristo através da fachada da Igreja. Até mesmo em Jesus Cristo de Nazaré, em quem não existia pecado, muitos não reconheciam nele Deus, nosso Senhor. É muito mais difícil notar o Cristo Jesus numa Igreja maculada com os pecados. O último Sínodo Vaticano II reconheceu isso com muita clareza. A Igreja deve constantemente se perguntar se a sua missão corresponde ao desejo de Jesus Cristo.

A crítica da Igreja.

Já que existem nela os erros e fraquezas, pode e até deve existir a crítica da Igreja. Não se trata aqui de arrogância farisaica, onde alguém só quer mostrar que sabe mais e melhor que os outros, nem de crítica destrutiva e implicante, que quer ferir (mas até com ela, devemos perguntar sempre pelas causas e refletir se por acaso não somos nós que as proporcionamos). Uma crítica concreta e objetiva pode ser, em todo caso, tanto externamente como internamente, somente desejada. Não devemos insistir para defender tudo na Igreja. Os erros não se elimina com embelezamento, mas pela conversão e confissão. Isso, por sua vez, exige atitudes baseadas na verdade e sinceridade.

A crítica dentro da Igreja é justificada ainda por outro motivo: porque cada cristão tem a responsabilidade pela Igreja toda, por isso não só pode, mas – em certas circunstâncias – tem obrigação dizer o que, na sua  opinião, está errado. Uma crítica desse tipo carrega a preocupação e o amor pela Igreja ou a  dor da frustração e decepção, mas nunca é uma ironia maliciosa e implicante. É uma crítica  sincera e construtiva. Obviamente, toda a crítica deve saber discernir os limites, onde as coisas foram decididamente estabelecidas pelo próprio Jesus Cristo.
  (KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, p. 138-140)²


Continua...

__________________________________

¹  Krenzer Ferdinand (nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, 08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus) foi um teólogo católico alemão, sacerdote e escritor na aposentadoria.



² Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.

Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português).  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.

 ******************

Nenhum comentário:

Postar um comentário