Para entender bem a Igreja Católica nada melhor do
que conhecer um pouco mais o que ela
própria diz sobre si mesma, quais são os seus argumentos, qual é a sua leitura
dos textos bíblicos que servem como alicerce
para o seu discurso, e, enfim, conhecer o seu ponto de vista e o modo de
argumentação em relação a tudo o que ela é e o que ela faz. Conhecer também a
sua história, sem deformações. Inclusive - acredito - isso é a condição para
qualquer pessoa de boa fé poder opinar
sobre a Igreja Católica e assumir essa
ou aquela posição em relação a ela. Caso
contrário, as opiniões e críticas podem estar equivocadas, ou faltar com a justiça.
Vale lembrar também que a Palavra de Deus, contida
na Bíblia, não deve ser objeto de manipulação e nem de dúvidas da parte do ser
humano. A Palavra de Deus é a mensagem teológica dirigida ao homem, a qual
ressoa nas páginas da Bíblia. Cabe a nós procurá-la, e, encontrando-a –
aceitá-la. O problema está na interpretação dessa Palavra pelo ser humano. Não
é raro ouvir as interpretações muito tendenciosas, às vezes feitas ao pé
da letra dos textos, que os homens fazem para justificar os seus próprios projetos e esquemas. A pergunta principal que sempre deveria
acompanhar as nossas humanas
investigações é esta: será que estamos realmente procurando a vontade de
Deus e a sua mensagem (que certamente é uma só!) ao ler e interpretar os textos bíblicos, ou estamos querendo “moldar” do nosso jeito e para nosso agrado a Palavra
de Deus?
O texto abaixo, de autoria de Ferdinand Krenzer¹, fala sobre a
Igreja Católica com muita objetividade.
Não deixe de ler.
WCejnog
Para poder
acompanhar com facilidade a reflexão do autor e aproveitar ao máximo as
explicações é aconselhável ler desde o
início todos os seus textos sobre este
assunto (começo no dia 03 de agosto de 2012
- http://indagacoes-walenty.blogspot.com.br/2012/08/para-entender-o-cristianismo-qual-e-sua.html ).
(9)
Igreja: uma sociedade – muitas
tarefas
Todos compreendemos perfeitamente
que é normal que várias pessoas
desempenhem num país, ou numa sociedade,
várias funções visando o bem da
coletividade. Também a Igreja não é simplesmente um agrupamento de indivíduos,
mas é uma sociedade arrumada (por favor, ler
sobre isso 1 Cor 12, 12ss).
Sabemos que diante de Deus todos
os homens são iguais e também por esta razão na Igreja não se admite que
existam diferenças por causa da riqueza
ou pobreza, idade, sexo, raça ou descendência; também, semelhantemente, nenhum
cargo, mesmo se fosse bem alto, não eleva um ser humano acima dos outros. É inadmissível uma divisão da Igreja em mandantes
e ouvintes, em clero e leigos, as
pessoas de poder e os simples mortais. Começando
pela funcionária, que acredita em Jesus Cristo, até o papa – todos da mesma
maneira são chamados à fé e à obediência. Mais importante do que qualquer divisão em
hierarquia, com os cargos e funções, e o
povo simples dos fiéis, é o caráter
comunitário da Igreja. Todos, e não
somente a hierarquia que dirige a Igreja, constituem a Igreja; todos são
“leigos” (do grego “Laos”), o que conforme a
etimologia dessa palavra significa “pertencente ao povo”. Cada pessoa tem a participação da missão da
Igreja, cada um é chamado ao apostolado e deveria anunciar o Cristo. Por isso
também um não pode querer ser maior que
os outros. O Único, como Cabeça, está acima de todos e Ele é Jesus Cristo.
Mas, mesmo assim, existem na
Igreja vários ministérios, funções e
serviços: já no Novo Testamento estão Apóstolos,
profetas, professores; no outro lugar
também há os diáconos, os anciões, e
também os “dons específicos” como o
poder da cura, de interpretação das
Sagradas Escrituras, de fazer milagres...
Quando, porém, a Bíblia fala
sobre algum cargo ou função, não faz
isso para indicar que um é mais importante que outros, pois cada função ou
ministério, ou melhor dizendo – o poder de administrar – é um serviço para o
bem do ser humano e da Igreja.
Quando é concedido algum poder ou tarefa
a alguém, como vemos no NT, isso não pode ser interpretado no espírito das leis
humanas ou as leis civis. De modo particular na Igreja de Cristo, caso os
homens que estavam nos cargos cheguem a cometer abusos de poder para seus
próprios interesses, eles, obviamente, desviam-se da ordem que receberam do
Cristo.
Entre os cargos destaca-se o cargo dos Apóstolos.
Jesus escolhe os Doze entre os seus discípulos que reuniu em sua volta, os
instrui de modo especial e os chama de
Apóstolos, o que na linguagem hebraica
significa enviados ou procuradores (Lc 6, 12; Mc 3, 13-19).
Com isso, recebem eles uma
procuração especial, do modo que realmente em seu nome, isto é, como Ele,
eles podem falar às pessoas: “Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio” (Jo 20, 21). Promete para eles também a sua ajuda até o fim do mundo (Mt 28,
19) e lhes envia o seu Espírito Santo (At 1,8).
Desta maneira confere-lhes a
autoridade: “Quem vos ouve, a mim ouve e quem vos rejeita, a mim
rejeita, e quem me rejeita, também rejeita aquele que me
enviou” (Lc 10, 16). Após a ressurreição Jesus Cristo confirma essa
autoridade dos seus Apóstolos: “ Todo o
poder me foi dado no céu e na terra; ide pois, fazei discípulos meus todos os
povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo” (Mt. 28, 18).
Mas, com isso aconteceu algo
decisivo. Jesus Cristo destinou alguns dos seus
discípulos de modo especial para o serviço, conferindo-lhes ao mesmo
tempo uma tarefa adequada a esse
serviço. Essa tarefa (missão) será confirmada para eles no dia do Pentecostes (compare
At 2, 1-26). Depois da morte Jesus ressuscitado aparece aos Apóstolos e antes de desaparecer diante dos seus olhos,
lhes disse: “Descerá sobre vós o Espírito Santo e vos
dará a força e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e
Samaria, até os confins da terra” (At 1,8). E eles
se tornaram suas testemunhas, levando a Boa Notícia ao mundo inteiro.
Desses Apóstolos
procede na Igreja Católica isso,
o que depois foi chamado de ofício. Tanto nos Atos dos Apóstolos, como
nas Cartas apostólicas fica muito claro que já na Igreja primitiva estavam
surgindo as estruturas, dentro das quais alguns membros da comunidade cristã, como sucessores
dos Apóstolos, exercem esse ofício juntamente com os seus mais variados serviços.
Destacam-se as três tarefas/serviços
que são vinculadas ao ofício apostólico
e elas deveriam ser realizadas por aqueles que participam desse ofício.
A tarefa de anunciar. Na verdade, Jesus Cristo continua para sempre
o autêntico Mestre da sua Igreja. Porém, ao
mesmo tempo Ele engaja as pessoas para essa tarefa: “E lhes
disse: Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,
15). A palavra anunciada constitui, de fato, a base da fé, e - com isso – a base de todo o povo de Deus. Todos
os cristãos têm a obrigação de
participar dessa tarefa de anunciar a Boa Nova, que a Igreja recebeu de Jesus
Cristo; cada um continuamente é chamado por Deus, mesmo não tendo nenhuma ordem
expressa oficial para isso, para dar testemunho da sua fé. No entanto, as pessoas que claramente foram
autorizados para desempenhar essa tarefa, pela ordem recebida e pela autoridade
lhes conferida – anunciam a Boa Nova, e
, ao mesmo tempo, garantem a unidade da Igreja.
A tarefa de governar. Jesus Cristo permanece sempre como Aquele,
quem governa a sua Igreja, mas Ele novamente engaja nisso também os homens. “ Em verdade eu vos digo: tudo que ligares na terra, será ligado no céu; e
tudo que desligares na terra, será desligado no céu” (Mt 18,18). Na época
de Jesus essas palavras significavam claramente: ter o poder de conferir e/ou anular as tarefas ou
obrigações; receber ou excluir da comunidade, em suma – regulamentar tudo o que compreende a ordem e as regras na vida do
povo de Deus, para dessa forma garantir
a unidade à Igreja de Cristo.
A tarefa de santificação (ofício sacerdotal). Toda a santificação
procede, obviamente, de Jesus Cristo. Ele é o único e verdadeiro sacerdote da
Igreja, mas também todo o povo de Deus participa do seu sacerdócio pelo Batismo
e pela Crisma: “Àquele que nos ama e que
os salvou de nossos pecados por virtude
do seu sangue e nos fez um reino, sacerdotes de Deus seu Pai, a ele a glória e o reino pelos séculos dos séculos.
Amém“ (At 1,6). Falamos assim do “sacerdócio de todos os fiéis” (compare 1
P 2, 9 e15). A participação desse sacerdócio torna-se real, por exemplo, pela participação da santa
Missa, através das orações, do exemplo
da vida cristã. Todo trabalho e todo esforço – quando são assumidos no espírito
de Cristo – para o cristão é o meio de contribuir para a santificação do mundo.
No entanto, Jesus Cristo confiou a
tarefa de santificar o mundo de modo
especial aos Apóstolos e discípulos. São
eles que realizam os Santos Sacramentos: o batismo (Mt 28, 19); a absolvição dos pecados (Jo 20, 23); Eucaristia (Lc 22, 19).
É assim também entendia isso a Igreja primitiva, que pela ordenação sacerdotal
e imposição das mãos continuamente
destinava as pessoas concretas para
realizarem essa tarefa (2 Tm 1,6).
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara,
Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 145-147)²
Continua ...
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¹
Krenzer Ferdinand (nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg,
Hesse, † 08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus) foi um teólogo católico alemão,
sacerdote e escritor na aposentadoria.
² Obs.: As reflexões do Ferdinand
Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor,
ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais
difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são
tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma
polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português). O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.
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