Para entendermos
bem
o tema da Igreja, é fundamental termos
muito claro na nossa mente as respostas para as seguintes perguntas: Como surgiu a Igreja? Qual é
realmente o seu papel neste mundo? Qual é a diferença entre Igreja e o reino de
Deus?
A nossa reflexão
continua. O texto embaixo, de autoria de Ferdinand Krenzer¹, fala agora da Igreja que é o povo de Deus e, também,
esclarece a diferença que existe entre Igreja e o reino de Deus.
Não deixe
de ler.
WCejnog
Para acompanhar
com facilidade a reflexão do autor e aproveitar ao máximo as explicações é
aconselhável ler desde o início todos os
seus textos sobre este assunto (começo
no dia 31 de agosto de 2012 - http://indagacoes-walenty.blogspot.com.br/2012/08/a-questao-da-igreja-por-que-as-criticas.html ).
(2)
O Povo de Deus – Igreja
Já antes de Cristo existia o povo
de Deus do Antigo Testamento que era o povo de Israel. Esse povo era a
preparação para aquilo que Jesus Cristo
queria trazer. Com ele deu-se o início
do reinado (domínio) de Deus sobre a terra. Certa vez perguntaram a Jesus quando virá o
reino de Deus, e Ele respondeu: “(...) O reino de Deus está no meio de vós” (Lc
17, 21). Estava presente nele mesmo. Ele
representava a causa de Deus neste mundo. Portanto, o reinado de Deus começou a
se realizar entre os homens. Todos os
que se abrirem à mensagem de Jesus
Cristo e à sua missão, no futuro
estarão pertencendo a esse Reino.
Para tornar essa mensagem e revelação de Cristo sempre viva e vibrante, e
para ser ouvida e vista entre todos os povos de todos os tempos, Jesus Cristo
reúne novamente o povo, desta vez não só de uma raça, como aconteceu no Antigo
Testamento, mas de todas as raças – o
povo que é a sua Igreja. E mesmo que não exista nenhum ato, em que Jesus
Cristo proclamasse solenemente a Igreja,
a sua doutrina inteira e toda a sua atuação encaminham para a criação da
comunidade: reúne discípulos em volta de si, confere a alguns deles uma tarefa
particular de pregar a sua doutrina e de coordenar a sua comunidade: “Como o
Pai me enviou, assim também eu vos envio”
(Jo 20, 21). “Quem vos ouve, a mim ouve, e quem vos rejeita, a mim rejeita, e
quem me rejeita, também rejeita aquele que me enviou” (Lc 10, 16). O ponto de
partida quando se trata de Igreja não são as pessoas concretas que tendem
naturalmente construir uma comunidade religiosa, mas o próprio Cristo, que visa
o bem de toda a humanidade.
Após a morte de Jesus Cristo, a
sua obra continua sendo realizada pelos seus discípulos, que fazem isso com o
poder e a autoridade dele. A partir
daquele momento surgem constantemente novas comunidades locais, e a Igreja vive
e cresce.
Para não haver mal entendido: “O
reino de Deus que Jesus Cristo anuncia e proclama não é idêntico com a Igreja. A Igreja é apenas
embrião do Reino, o seu modesto início no mundo. O seu caráter é temporário e não definitivo,
porque ainda existe nela o pecado: o joio e o trigo crescem um ao lado do outro
(a parábola do joio – Mt 13, - 24-30). A Igreja está a serviço e existe em
função do reinado (domínio) de Deus; é a ferramenta desse reinado e justamente
por isso não pode visar a si própria. Somente no fim dos tempos o reinado de Deus se concretizará plenamente, virando a realidade
– e a Igreja, então, não vai ser mais necessária.
O reino de Deus abrange muito mais que a Igreja. A Igreja,
sim, faz parte do reino de Deus, mas não
é o mesmo que ele: o Reino de
Deus é muito maior e não cabe nela.
Todos os batizados pertencem à Igreja, mas nem todos os batizados estão prontos
para se sujeitar à vontade de Deus. Eles pertencem à Igreja externamente, mas
internamente não estão ligados ao reino de Deus. Por outro lado, existem muitas
pessoas que não por sua culpa não pertencem à Igreja – pessoas de fé, honestas
e piedosas – que procuram a vontade de
Deus. Será que alguém poderia negar que
elas, seguindo as suas profundas
convicções, pertencem ao reino de Deus? Por isso já o Santo Agostinho
disse: “Muitos que estão dentro – na
realidade estão fora, e muitos que estão
fora – estão dentro”.
(...) No Novo Testamento para descrever a Igreja foi usada a palavra grega ekklésia (ἐκκλησία)
que significa – “assembléia” ou “comunidade reunida”, e literalmente: “procissão dos convocados”.
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara,
Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 134-135)²
Continua...
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¹
Krenzer Ferdinand (nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg,
Hesse, † 08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus) foi um teólogo católico alemão,
sacerdote e escritor na aposentadoria.
² Obs.: As reflexões do Ferdinand
Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor,
ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais
difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são
tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma
polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português). O título original: “Morgen wird man wieder
Glauben”.
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