Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sábado, 29 de setembro de 2012

A figura e o papel de São Pedro na Igreja. O primado, por quê?



Continuando o tema sobre a Igreja Católica, agora  vem uma reflexão sobre o papel e o primado do apóstolo Pedro, tanto dentro do grupo dos Apóstolos  e discípulos de Jesus Cristo, como no início da jovem Igreja, após o Pentecostes. Entender isso é importante  para  compreendermos a posição que desde o início e durante todos esses séculos de história tinha, e também ainda hoje tem,  a figura do papa na Igreja Católica.  

Com isso, talvez seja  mais fácil  para muitos de nós percebermos  que alguns atributos que o papa tem, vêm realmente do próprio Cristo e estão  expressos nas páginas do Novo Testamento, e alguns outros carecem dessa prova, sendo eles mais o fruto do condicionamento histórico e  das interpretações que mais serviam,  no passado e talvez ainda hoje,  para justificar o poder político, real  e temporal do papa como chefe da Igreja Instituição ou Igreja – Estado. Em todo caso, é bom procurarmos lembrar qual é a visão da Igreja Católica sobre o papel do Santo  Padre, para termos uma compreensão maior das discussões e polêmicas  que hoje envolvem esse assunto.

O texto abaixo, de autoria de Ferdinand Krenzer¹, fala sobre esse tema. 
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Para poder acompanhar com facilidade a reflexão do autor e aproveitar ao máximo as explicações é aconselhável  ler desde o início todos os seus  textos sobre este assunto (começo no dia 03 de agosto de 2012  -


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E quanto ao Pedro?

Entre os Apóstolos um visivelmente sobressai à frente, é um tal de Simão, que depois recebeu de Jesus Cristo o  apelido kepha (kepha= pedra, em latim: Petrus). Esse primado não  é  questionado pelos demais Apóstolos, e isso apesar de o Pedro não ser nem o mais velho, nem o primeiro que foi chamado, e nem o mais querido e estimado por Jesus. Em nenhum lugar também lemos que ele  tivesse algum talento particular ou virtudes, ao contrário. Mas, apesar disso, o São Pedro é 114 vezes mencionado nos Evangelhos, e isso, do jeito especial, na frente dos outros Apóstolos. Ele está no primeiro lugar em todas as  listas dos Apóstolos. Por que será que, por exemplo, algumas vezes lemos: “Pedro e aqueles que estavam com ele”? Quase sempre ele  é o porta-voz do colégio apostólico. O primado torna-se muito evidente após a  ascensão de Jesus Cristo. Os  Atos dos Apóstolos mostram que São Pedro age como chefe da  jovem comunidade dos fiéis, e eles o assim  consideram.

O texto  decisivo que ao mesmo tempo é a argumentação desse  primado do Pedro encontra-se no Evangelho  segundo Mateus (16, 16). Jesus Cristo dirige aos discípulos a pergunta: “E vós quem dizeis que eu sou?”  Novamente o Pedro responde em nome de todos: “Tu  és o Cristo, o Filho de Deus vivo”.  Jesus confirma a verdade dessa resposta e, em seguida, dirige-se a Simão, dizendo quem ele é, ou quem deve ser.  Na língua aramaica original tem aqui um  jogo de palavras: “(...) E eu te digo: tu  és Pedro [kepha, isto é , pedra], e sobre esta pedra construirei a minha Igreja e as portas do inferno nunca levarão vantagem sobre ela. Eu te darei as chaves do reino dos céus, e tudo que ligares na terra será ligado  nos céus, e tudo que desligares na terra será desligado nos céus”. (Mt 16, 18-19).

A edificação que Jesus Cristo pretende levantar da sua sociedade (Igreja) precisa encontrar no Pedro o fundamento sólido, que lhe garantirá a solidez. Naturalmente, a pedra e o fundamento principal  continua o próprio Cristo: “(...) e a rocha era Cristo”   (1Cor 10, 4). Mas, Ele queria dar a Igreja também um fundamento terrestre para o tempo após a sua ascensão. Por isso, e com razão, São Paulo diz que a Igreja foi construída sobre o fundamento dos Apóstolos e profetas: “ (...) edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, tendo por pedra principal o próprio Cristo Jesus” (Ef 2, 20).  No entanto, aqui, em Mt 16,19,  o Pedro foi chamado de fundamento da Igreja sendo tratado como uma pessoa  concreta.

Ainda mais claramente vemos isso nas palavras “Eu te darei as chaves do reino dos céus, e tudo que ligares na terra será ligado  nos céus, e tudo que desligares na terra será desligado nos céus”. (Mt 16, 19).  O poder de “ligar e desligar” que Cristo aqui transmite ao Apóstolo, é prometido somente ao Pedro.
Por causa das palavras “chaves do reino dos céus”, freqüentemente ainda até hoje apresenta-se o Pedro com a chave, mas na verdade isso nos  leva ao erro. Porque, neste caso, precisamos saber o que  essa forma de expressão queria, na realidade, dizer naquela  época.  Confiar as chaves a alguém (a autoridade das chaves) significava muito mais do que a função de porteiro ou funcionário de recepção. Por exemplo, no livro de Isaías a autoridade das chaves é equivalente a um poder real de alguém que  está substituindo o rei: “Naquele dia chamarei o meu servo Eliacim filho de Helcias. (...) Colocarei a chave da casa de Davi sobre seus ombros: Ele abrirá e  ninguém fechará, ele fechará e ninguém abrirá” (Is 22, 20 e 22).

A função de ser guia, que Jesus Cristo confiou ao Pedro, foi expressa ainda no outro lugar, quando foi outorgada ao  Pedro a função de pastor do rebanho de Cristo.  Jesus Cristo, que se  considera o pastor  do seu rebanho [“Eu sou o bom pastor” (Jo 10, 10ss)],  disse ao  Pedro: “Apascenta meus cordeiros, minhas ovelhas” (Jo 21, 15ss). Ser pastor significa aqui exercer o poder de dirigir e  coordenar. Na Bíblia os reis são chamados “pastores das  nações”. Assim, aqui, Jesus Cristo transfere a Pedro o seu poder. Portanto, esse poder que Pedro recebeu,  precisa ser reconhecido também em relação aos outros Apóstolos. 

Resumindo: o colégio apostólico recebeu  o poder de dirigir a  Igreja no mundo (universal = católica). No entanto ele teve uma “cabeça” visível na pessoa de São Pedro. Com a sua atuação ele tem que fortalecer na fé e  na unidade todos os irmãos – toda a comunidade.

  (KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, p. 148-149)²



Continua...

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¹  Krenzer Ferdinand (nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, 08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus) foi um teólogo católico alemão, sacerdote e escritor na aposentadoria.

² Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português).  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.

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