Conhecer a Igreja
Católica um pouco mais profundamente do lado institucional, e não só
superficialmente, poderia ser útil para qualquer pessoa. Principalmente, talvez,
para todas aquelas que não ficam indiferentes diante dela. Para os católicos –
para puderem conhecer mais profundamente o sentido das coisas que fazem parte
da vida da sua Igreja, entender as razões da
existência delas, saber opinar, se posicionar frente às críticas, ter
também clara visão das coisas erradas e saber exigir o certo; enfim – para
poder realmente amar esta Igreja, cujo objetivo é nos levar ao encontro com
Jesus Cristo - o Caminho, a Verdade e a
Vida. Para os outros,
mesmo se não concordam com a doutrina católica e não comungam das suas opiniões
– para não faltarem com a verdade e a justiça.
O texto abaixo,
de autoria de Ferdinand Krenzer¹, fala sobre a estrutura da Igreja Católica e sobre os ofícios e cargos,
que ela julga necessários para poder continuar cumprindo a ordem de
Cristo.
Não deixe de ler.
WCejnog
Para poder
acompanhar com facilidade a reflexão do autor e aproveitar ao máximo as
explicações é aconselhável ler desde o
início todos os seus textos sobre este
assunto (começo no dia 03 de agosto de 2012
- http://indagacoes-walenty.blogspot.com.br/2012/08/para-entender-o-cristianismo-qual-e-sua.html ).
Até o fim do mundo
Os cargos mais antigos na Igreja,
isto é, o ofício dos doze Apóstolos e o
posto de São Pedro, foram - como foi demonstrado nos textos anteriores -
estabelecidos pelo próprio Jesus Cristo. Mas, como isso ficaria após a morte
dos Apóstolos? Ninguém afirma que todas as formas de cargos, que hoje existem
na Igreja, provêm diretamente de Jesus Cristo. Muita coisa Ele deixou ao
próprio desenvolvimento.
Os tempos apostólicos eram os
tempos iniciais, os tempos da revelação, quando ainda foram tomadas importantes
decisões. Por causa disso, inicialmente formaram-se várias estruturas de
comunidades cristãs, em parte baseadas
nas estruturas judaicas e gregas.
Porém, uma certa estrutura
permaneceu - como testemunha a Bíblia e a história – desde o início até os dias
de hoje: sempre existiam homens
exercendo o ofício que se baseava nos serviços de dirigir e coordenar, de
pregar e santificar, e consideravam-se autorizados para isso. Inicialmente eles
eram os próprios Apóstolos que, em seguida, entregaram a procuração aos outros homens através de
oração e da imposição das mãos (compare 2 Tm 1,6; 1 Tim 4, 14; 5,22; Tt 1,5). E
porque Jesus Cristo lhes prometeu a sua ajuda “até o fim do mundo”, eles estavam convencidos que, conforme a
vontade do Mestre, a função deles na Igreja deveria permanecer até
o fim do mundo.
Por outro lado, o oficio
apostólico é algo irrepetível. Os
Apóstolos, só eles, eram
testemunhas oculares da vida de Jesus. E
foram eles que alicerçaram e edificaram a Igreja. Nem uma coisa e nem a outra
eles puderam transmitir para os seus sucessores. Por isso depois, e até hoje, não se fala na Igreja de apóstolos,
mas de “sucessores”, já que a pregação
do Evangelho e a direção da comunidade dos fiéis deviam continuar até quando a Igreja existir.
Esses sucessores eram chamados de
“inspetores”, em grego epíscopos (επίσκοπος). Desse termo deriva a palavra
bispo. Já o apóstolo Paulo escreve para a Comunidade do Éfeso: “Olhai
por vós e por todo o rebanho, sobre o
qual o Espírito Santo vos constituiu epíscopos, para apascentardes
a Igreja de Deus, que ele adquiriu
com o seu sangue.”(At 20, 28). Do termo “ancião”, em grego
presbiteros (πρεσβυτερος), vem a palavra presbítero². No início, entre os bispos e os presbíteros
provavelmente não existia ainda diferença. Certamente, à frente da comunidade
cristã estavam alguns presbíteros ou epíscopos, que por sua vez tinham diáconos
para os ajudarem. Mas, mesmo quando os Apóstolos ainda estavam vivos, a
tendência era ter um bispo para dirigir uma comunidade cristã e presidir no
grupo de presbíteros. Os padres³ e
diáconos ajudavam-no na sua função. Essa hierarquia dos serviços ficou
preservada até os dias de hoje. No ano 100 após Cristo, a cidade de Antioquia
teve um bispo Inácio, que deixou várias cartas, e dessas cartas sabemos que
também nas outras cidades existiam já outros bispos.
Talvez seja importante olharmos
um texto original daquela época. O bispo Inácio de Antioquia
escreve à comunidade de Smyrna: “Todos
sejam obedientes ao bispo, como Cristo
era obediente ao seu Pai, e aos sacerdotes – como aos apóstolos. Respeitai os
diáconos [...]. Em lugar de Deus, eles
lideram o rebanho, do qual são “pastores”.
O bispo Clemente de Roma escreve
no ano 96 à comunidade cristã do Corinto: “O Cristo é de Deus, os apóstolos são
de Cristo, e os bispos são dos apóstolos e por isso não podem ser afastados” (I.
42).
Essa sucessão, quer dizer essa
origem dos Apóstolos, era para os primeiros cristãos também a garantia de
preservar intacta a doutrina, conforme os ensinamentos dos Apóstolos.
Por exemplo, em volta do ano 200 Santo Irineu, bispo de Lugdulum (hoje
Lyon), escreve: “Graças à sucessão apostólica chegou a Nós a verdade, a
tradição apostólica tornou-se conhecida no mundo inteiro. Basta estar com eles
(bispos) no mundo todo, para ver a verdade” (Ad haer. III, 3,1). Em seguida, ele cita a lista dos bispos, com a qual quer mostrar como, começando pelos Apóstolos,
até o seu tempo, um bispo sucedia ao
outro. Sobretudo sublinha bem
fortemente a sucessão do bispo romano, pois na sua opinião – o sucessor do bispo de Roma representa a garantia de
sucessão apostólica no mundo todo.
A Igreja Católica vê, portanto, no ofício do bispo uma
instituição não somente humana. O
Concílio Vaticano II também sublinha claramente que os bispos, pela
determinação Divina entravam no lugar
dos Apóstolos (Constituição dogmática sobre a Igreja).
É por isso, conforme a opinião católica, a autoridade de dirigir, pregar e
santificar, apesar de que também todo
fiel é chamado para exercer essas funções – está ligada à sucessão, começando pelos Apóstolos. Na Igreja, quem transmite a Palavra e
Sacramentos são sobretudo aqueles que
assumiram nela as determinadas tarefas,
funções e serviços. Para eles é confiada a tarefa de celebrar a maioria dos
Sacramentos. Num sacramento separado, de Ordem ⁴ , que tem três degraus: ordem episcopal, sacerdotal e diaconal, alguns
homens do povo de Deus, conforme a Bíblia e a Tradição, recebem pela
graça do Espírito Santo a autorização e são
capacitados para exercer o serviço para o bem de toda a comunidade (Hbr
5,1). Por isso, na Igreja Católica, existe ao lado do sacerdócio comum dos
fiéis, também o sacerdócio oficial.
Como nos tempos dos Apóstolos
também e hoje, através de um sinal visível, isto é, sacramento - e falando mais concretamente
através da oração e imposição das mãos dos bispos (quando é sagrado um bispo – pelos três bispos
simultaneamente) - a autoridade recebida dos
Apóstolos é transmitida adiante. Já
o São Paulo escreve ao seu discípulo e o seu sucessor, bispo Timóteo: “Por este
motivo eu te exorto a reavivar a chama
do dom de Deus que recebeste pela
imposição das minhas mãos“(2Tim 1,6). Isto é algo mais que solene entrega do
cargo: chamamos isso de “ordenação”, que quer dizer que uma pessoa concreta
está sendo colocada no serviço a Deus, e não pertence mais só a ela mesma. A
partir desse momento, através dela, o próprio Cristo deseja agir.
Com isso, torna-se visível que
entregar a alguém uma autorização
para exercer essa determinada função não é feita de baixo (então, nem pela comunidade
dos fieis, e nem está ligada ao merecimento ou capacidade
do homem), mas de cima, na última
instância, do próprio Cristo. Por outro lado, o sacerdote não recebe o poder
para si, mas o recebe como membro do povo de Deus e em nome
desse povo. Ele é homem como todos outros; exige-se dele que tenha a mesma fé, como se
exige de cada cristão. Porém, no momento quando ele celebra os santos
sacramentos e prega a palavra de Deus, torna-se o instrumento de Cristo. É o
próprio Cristo que, passa a agir através do sacerdote. Já o São Paulo disse: “Portanto, desempenhamos o encargo de
embaixadores em nome de Cristo e é Deus mesmo quem exorta por nosso intermédio (...)”(2 Cor 5,20).
Até mesmo um sacerdote indigno, ou que
foi afastado (ou que se afastou ele
mesmo) preserva os poderes que são
indestrutíveis, recebidos no ato da
ordenação, e esses poderes – precisa aqui acentuar isso mais uma vez –
deveriam ser exclusivamente o serviço.
Justamente no fato que o padre deveria servir plenamente à comunidade dos fiéis, entregando-se totalmente à Deus, e que
isso absorve-o totalmente e se torna um
grande compromisso de vida – baseia-se a lei do celibato⁵ na Igreja Católica. A
própria Bíblia aconselha, em alguns lugares, o celibato “em função do reino do Céu” (Mt 19, 10-12 e outros). A forte ligação entre sacerdócio e o
celibato, que – temos que dizer aqui que não é obrigatório em toda a Igreja
Católica no mundo, mas apenas na Igreja
Católica Romana – vigora, obviamente, por determinação eclesial e por essa razão também pode ser anulado.
A sucessão no
ofício e a conformidade com o
ensinamento dos Apóstolos são as marcas importantes para a Igreja ser
apostólica. Já o I Concílio de Constantinopla,
no ano 381, quando resumia a doutrina
cristã no credo, reconheceu que a Igreja necessariamente deve ser
apostólica: “ [...] Creio na Igreja una,
santa, católica e apostólica”.
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara,
Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 149-152)⁶
Continua..
________________________________
¹ Krenzer Ferdinand
(nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, †
08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus)
foi um teólogo católico alemão,
sacerdote e escritor na aposentadoria.[N.
Do T.]
² O termo presbítero vem do grego,
πρεσβυτερος, presbyteros, pessoa de idade, ancião. Daí deriva-se outros
títulos como preste, em alemão –
priester.[N.do T.]
³ Padre, significando pai, é uma forma de
tratamento que recebe o presbítero na Igreja Católica, Igreja Ortodoxa e
algumas correntes protestantes, como no anglocatolicismo ou nas antigas
congregações de língua portuguesa da Igreja Reformada Holandesa. [N.
Do T.] (Fonte:
www.wikipedia.org/wiki/Presb)
⁴ O sacramento da Ordem consta de três graus subordinados um ao outro. O episcopado e
o presbiterado são diversas formas de participação ministerial no sacerdócio de
Cristo; o diaconato, está destinado a ajudar e a servir as outras ordens. Por
isso, o termo sacerdote designa os bispos e os presbíteros, mas não os
diáconos. Os três graus são conferidos pelo sacramento da Ordem. Normalmente,
quando se fala de sacerdotes se entende que se fala dos bispos e presbíteros. [N.
Do T.] ( Fonte:
www.wikipedia.org/wiki/Ordem )
⁵ Os padres
católicos, especialmente os de rito ocidental, ao serem ordenados
(consagrados), adotam um estilo de vida
celibatário, que compreende a proibição do casamento e portanto de uma
esposa (para que se dediquem inteiramente à Igreja), já que concubinas não são
permitidas. O celibato no rito ocidental é imposto como condição ao assumir o
cargo pretendido.
Na Igreja Católica
de rito oriental a opção dos padres pelo celibato é voluntária, podendo estes
se casar, se assim o desejarem. A Igreja Católica reconhece tanto os padres
celibatários como os casados. O celibato já existia como opção na Igreja
Católica desde o ano 300 d.C, porém só se tornou obrigatório durante o Concílio
de Trento, realizado entre 1545-1563. [N. Do T.] (Fonte: www.wikipedia.org/wiki/Padre)
⁶ Obs.: As reflexões
do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o
leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os
temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados
neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição
no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português), com uma
pequena atualização dos dados, quando necessário. O título original: “Morgen wird man wieder
Glauben”. [N. Do T.]
******************
Nenhum comentário:
Postar um comentário