Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Papa, bispos, padres, diáconos; a lei do celibato.... Qual a sua função na Igreja?



Conhecer a Igreja Católica um pouco mais profundamente do lado institucional, e não só superficialmente, poderia ser útil para qualquer pessoa. Principalmente, talvez, para todas aquelas que não ficam indiferentes diante dela. Para os católicos – para puderem conhecer mais profundamente o sentido das coisas que fazem parte da vida da sua Igreja, entender as razões da  existência delas, saber opinar, se posicionar frente às críticas, ter também clara visão das coisas erradas e saber exigir o certo; enfim – para poder realmente amar esta Igreja, cujo objetivo é nos levar ao encontro com Jesus Cristo - o Caminho, a  Verdade e a Vida. Para os outros, mesmo se não concordam com a doutrina católica e não comungam das suas opiniões – para não faltarem com a verdade e a justiça.

O texto abaixo,  de autoria de Ferdinand Krenzer¹,  fala sobre a estrutura da  Igreja Católica e sobre os ofícios  e cargos,  que ela julga necessários para poder continuar cumprindo a ordem de Cristo.
Não deixe de ler.
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Para poder acompanhar com facilidade a reflexão do autor e aproveitar ao máximo as explicações é aconselhável  ler desde o início todos os seus  textos sobre este assunto (começo no dia 03 de agosto de 2012  http://indagacoes-walenty.blogspot.com.br/2012/08/para-entender-o-cristianismo-qual-e-sua.html ).

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Até o fim do mundo

Os cargos mais antigos na Igreja, isto é, o  ofício dos doze Apóstolos e o posto de São Pedro, foram - como foi demonstrado nos textos anteriores - estabelecidos pelo próprio Jesus Cristo. Mas, como isso ficaria após a morte dos Apóstolos? Ninguém afirma que todas as formas de cargos, que hoje existem na Igreja, provêm diretamente de Jesus Cristo. Muita coisa Ele deixou ao próprio desenvolvimento.

Os tempos apostólicos eram os tempos iniciais, os tempos da revelação, quando ainda foram tomadas importantes decisões. Por causa disso, inicialmente formaram-se várias estruturas de comunidades cristãs, em parte baseadas  nas estruturas judaicas e gregas.

Porém, uma certa estrutura permaneceu - como testemunha a Bíblia e a história – desde o início até os dias de  hoje: sempre existiam homens exercendo o ofício que se baseava nos serviços de dirigir e coordenar, de pregar e santificar, e consideravam-se autorizados para isso. Inicialmente eles eram os próprios Apóstolos que, em seguida, entregaram  a procuração aos outros homens através de oração e da imposição das mãos (compare 2 Tm 1,6; 1 Tim 4, 14; 5,22; Tt 1,5). E porque Jesus Cristo lhes prometeu a sua ajuda “até o fim do mundo”,  eles estavam convencidos que, conforme a vontade do Mestre, a função deles na Igreja deveria  permanecer até  o fim do mundo.

Por outro lado, o oficio apostólico é algo irrepetível.  Os Apóstolos, só eles,  eram testemunhas  oculares da vida de Jesus. E foram eles que alicerçaram e edificaram a Igreja. Nem uma coisa e nem  a outra  eles puderam transmitir para os seus sucessores.  Por isso depois, e  até hoje, não se fala na Igreja de apóstolos, mas de “sucessores”, já que  a pregação do Evangelho e a direção da comunidade dos fiéis deviam  continuar até quando a Igreja existir.

Esses sucessores eram chamados de “inspetores”, em grego epíscopos (επίσκοπος). Desse termo deriva a palavra bispo.  Já o apóstolo  Paulo escreve para a Comunidade do Éfeso:  “Olhai por vós e por  todo o rebanho, sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu epíscopos, para  apascentardes  a Igreja de Deus, que ele adquiriu  com o seu sangue.”(At 20, 28). Do termo “ancião”, em grego presbiteros (πρεσβυτερος), vem a palavra presbítero².  No início, entre os bispos e os presbíteros provavelmente não existia ainda diferença. Certamente, à frente da comunidade cristã estavam alguns presbíteros ou epíscopos, que por sua vez tinham diáconos para os ajudarem. Mas, mesmo quando os Apóstolos ainda estavam vivos, a tendência era ter um bispo para dirigir uma comunidade cristã e presidir no grupo de presbíteros.  Os padres³ e diáconos ajudavam-no na sua função. Essa hierarquia dos serviços ficou preservada até os dias de hoje. No ano 100 após Cristo, a cidade de Antioquia teve um bispo Inácio, que deixou várias cartas, e dessas cartas sabemos que também nas outras cidades existiam já outros bispos.

Talvez seja importante olharmos um  texto original daquela  época.  O bispo Inácio de  Antioquia  escreve à comunidade de Smyrna:  “Todos sejam  obedientes ao bispo, como Cristo era obediente ao seu Pai, e aos sacerdotes – como aos apóstolos. Respeitai os diáconos [...]. Em lugar de Deus, eles  lideram o rebanho, do qual são “pastores”.

O bispo Clemente de Roma escreve no ano 96 à comunidade cristã do Corinto: “O Cristo é de Deus, os apóstolos são de Cristo, e os bispos são dos apóstolos e por isso não podem ser afastados” (I. 42).
Essa sucessão, quer dizer essa origem dos Apóstolos, era para os primeiros cristãos também a garantia de preservar intacta a doutrina, conforme os ensinamentos dos Apóstolos.

Por exemplo, em volta do  ano 200 Santo Irineu, bispo de Lugdulum (hoje Lyon), escreve: “Graças à sucessão apostólica chegou a Nós a verdade, a tradição apostólica tornou-se conhecida no mundo inteiro. Basta estar com eles (bispos) no mundo todo, para ver a verdade” (Ad haer. III, 3,1).  Em seguida, ele  cita a lista dos bispos, com  a qual  quer mostrar como, começando pelos Apóstolos, até o seu tempo, um bispo sucedia ao  outro. Sobretudo sublinha bem  fortemente a sucessão do bispo romano, pois na sua  opinião – o sucessor do  bispo de Roma representa a garantia de sucessão apostólica no mundo todo.

A Igreja  Católica vê, portanto, no ofício do bispo uma instituição não somente humana. O  Concílio Vaticano II também sublinha claramente que os bispos, pela determinação Divina  entravam  no lugar  dos Apóstolos (Constituição dogmática sobre a Igreja).

É por  isso, conforme a opinião católica, a  autoridade de dirigir, pregar e santificar,  apesar de que também todo fiel é chamado para exercer essas funções – está ligada à sucessão,  começando pelos Apóstolos.  Na Igreja, quem transmite a Palavra e Sacramentos são  sobretudo aqueles que assumiram nela as  determinadas tarefas, funções e serviços. Para eles é confiada a tarefa de celebrar a maioria dos Sacramentos. Num sacramento separado, de Ordem ⁴ , que tem três degraus:  ordem episcopal, sacerdotal e diaconal,  alguns  homens do povo de Deus, conforme a Bíblia e a Tradição, recebem pela graça do Espírito Santo a autorização e são  capacitados para exercer o serviço para o bem de toda a comunidade (Hbr 5,1). Por isso, na Igreja Católica, existe ao lado do sacerdócio comum dos fiéis, também o sacerdócio oficial.

Como nos tempos dos Apóstolos também e hoje, através de um sinal visível, isto é,  sacramento - e falando mais concretamente através da  oração e  imposição das mãos dos  bispos (quando  é sagrado um bispo – pelos três bispos simultaneamente) - a autoridade recebida dos  Apóstolos é transmitida adiante.  Já o São Paulo escreve ao seu discípulo e o seu sucessor, bispo Timóteo: “Por este motivo  eu te exorto a reavivar a chama do  dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos“(2Tim 1,6). Isto é algo mais que solene entrega do cargo: chamamos isso de “ordenação”, que quer dizer que uma pessoa concreta está sendo colocada no serviço a Deus, e não pertence mais só a ela mesma. A partir desse momento, através dela, o próprio Cristo deseja agir.

Com isso, torna-se visível  que  entregar a alguém  uma autorização para exercer essa determinada função não é feita de baixo (então, nem pela comunidade dos  fieis, e  nem está ligada ao merecimento ou capacidade do homem), mas de cima, na  última instância, do próprio Cristo. Por outro lado, o sacerdote não recebe o poder para si,  mas o  recebe como membro do povo de Deus e em nome desse povo. Ele é homem como todos outros;  exige-se dele que tenha a mesma fé, como se exige de cada cristão. Porém, no momento quando ele celebra os santos sacramentos e prega a palavra de Deus, torna-se o instrumento de Cristo. É o próprio Cristo que, passa a agir através do sacerdote. Já o São Paulo disse: “Portanto, desempenhamos o encargo de embaixadores  em nome de Cristo  e é Deus mesmo quem exorta  por nosso intermédio (...)”(2 Cor 5,20). Até mesmo um sacerdote indigno,  ou que foi afastado  (ou que se afastou ele mesmo)  preserva os poderes que são indestrutíveis, recebidos no ato da  ordenação, e esses poderes – precisa aqui acentuar isso mais uma vez – deveriam ser exclusivamente o serviço.

Justamente no fato que o  padre deveria servir plenamente à comunidade dos  fiéis, entregando-se totalmente à Deus, e que isso absorve-o  totalmente e se torna um grande compromisso de vida – baseia-se a lei do celibato⁵ na Igreja Católica. A própria Bíblia aconselha, em alguns lugares, o celibato “em função do reino do Céu” (Mt 19, 10-12 e outros).  A forte ligação entre sacerdócio e o celibato, que – temos que dizer aqui que não é obrigatório em toda a Igreja Católica no mundo, mas apenas na  Igreja Católica Romana – vigora, obviamente, por determinação eclesial  e por essa razão também pode ser anulado.
 A sucessão no  ofício e  a conformidade com o ensinamento dos Apóstolos são as marcas importantes para a Igreja ser apostólica.  Já o I Concílio de Constantinopla, no ano 381, quando resumia a doutrina  cristã no credo, reconheceu que a Igreja necessariamente deve ser apostólica:  “ [...] Creio na Igreja una, santa, católica e apostólica”.

 (KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, p. 149-152)

Continua..
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¹  Krenzer Ferdinand (nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, 08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus) foi um teólogo católico alemão, sacerdote e escritor na aposentadoria.[N. Do T.]

² O termo presbítero vem do grego, πρεσβυτερος, presbyteros, pessoa de idade, ancião. Daí deriva-se outros títulos como preste, em alemão –  priester.[N.do T.]

³ Padre, significando pai, é uma forma de tratamento que recebe o presbítero na Igreja Católica, Igreja Ortodoxa e algumas correntes protestantes, como no anglocatolicismo ou nas antigas congregações de língua portuguesa da Igreja Reformada Holandesa. [N. Do T.]  (Fonte: www.wikipedia.org/wiki/Presb)
 
⁴  O sacramento da Ordem consta de três graus subordinados um ao outro. O episcopado e o presbiterado são diversas formas de participação ministerial no sacerdócio de Cristo; o diaconato, está destinado a ajudar e a servir as outras ordens. Por isso, o termo sacerdote designa os bispos e os presbíteros, mas não os diáconos. Os três graus são conferidos pelo sacramento da Ordem. Normalmente, quando se fala de sacerdotes se entende que se fala dos bispos e presbíteros. [N. Do T.]    ( Fonte: www.wikipedia.org/wiki/Ordem )

⁵ Os padres católicos, especialmente os de rito ocidental, ao serem ordenados (consagrados), adotam um estilo de vida celibatário, que compreende a proibição do casamento e portanto de uma esposa (para que se dediquem inteiramente à Igreja), já que concubinas não são permitidas. O celibato no rito ocidental é imposto como condição ao assumir o cargo pretendido.
Na Igreja Católica de rito oriental a opção dos padres pelo celibato é voluntária, podendo estes se casar, se assim o desejarem. A Igreja Católica reconhece tanto os padres celibatários como os casados. O celibato já existia como opção na Igreja Católica desde o ano 300 d.C, porém só se tornou obrigatório durante o Concílio de Trento, realizado entre 1545-1563. [N. Do T.]  (Fonte: www.wikipedia.org/wiki/Padre)  

⁶ Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português), com uma pequena atualização dos dados, quando necessário.  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”. [N. Do T.]

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