Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A questão de decisões na Igreja Católica. Como deveria ser?



As formas vigentes de decidir sobre vários assuntos na Igreja Católica, a existência de autoritarismo nas estruturas eclesiais, as determinações tomadas “de cima” e impostas aos demais  sem sequer  consultá-los  ou ouvir as suas argumentações – freqüentemente causam críticas e questionamentos.  E isso  abrange todos os níveis da vida eclesial.  Na realidade, esses problemas não existem apenas na Igreja Católica, mas  em  muitas outras também.

Hoje, não são poucas as perguntas sobre esse tema e nós, católicos, muitas vezes não sabemos o que dizer, ou, talvez, simplesmente  aceitamos as  coisas sem questionar. Mas, será  que a atitude de “fazer vistas grossas” e  de ficar conformado(a) com  tudo  seria a mais correta?

O  texto abaixo,  de autoria de Ferdinand Krenzer¹,  fala sobre esse tema. 
Não deixe de ler.
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Para poder acompanhar com facilidade a reflexão do autor e aproveitar ao máximo as explicações é aconselhável  ler desde o início todos os seus  textos sobre este assunto (começo no dia 03 de agosto de 2012  - http://indagacoes-walenty.blogspot.com.br/2012/08/para-entender-o-cristianismo-qual-e-sua.html).


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O direito de decidir  

Hoje perguntamos se os cargos e ofícios na Igreja não poderiam seguir o  esquema democrático. Será que a Igreja, que insiste em interpretar a governabilidade no molde monárquico - o que antigamente era, talvez, facilmente entendido - hoje, numa sociedade contemporânea, não parece muito estranho?  O processo de democratização,  que está acontecendo no mundo atual  com  a  intensidade cada vez maior, não deveria incluir também a Igreja?  

Na verdade, devemos também pensar na seguinte pergunta: Se a Igreja realmente adotasse  as normas democráticas,  o seu trabalho e a sua missão seriam de  acordo com a  ordem primária recebida de Jesus Cristo? , ou será que, talvez, iriam  apenas seguir as tendências traçadas pelo nosso tempo?

Já dissemos que Jesus Cristo deixou muitas coisas por conta do próprio processo do  desenvolvimento. Ele fundou a Igreja viva, e essa  deveria continuar se desenvolvendo.  Não  necessariamente,  então,  tudo deve  permanecer assim como era no início, ou como se formara  durante os séculos.

Por outro lado, não podemos comparar a estrutura da Igreja com as estruturas dos países ou dos parlamentos que existem no mundo. As concepções como democracia, absolutismo ou monarquia – não são adequadas. Até  no  termo “democracia” existe palavrinha “cracia”, que quer dizer, dominação, o poder. E nenhum gênero do poder humano ou de governo não deveria ter lugar justamente na Igreja.

Surgem aqui duas perguntas que precisamos abordar separadamente.  Primeira: De onde vem a autoridade na Igreja?, e depois: Como ela é exercida?

Todos  concordam que exercício do poder na Igreja pode realizar-se somente no espírito de fraternidade e de colegialidade. O estilo de governar, neste caso,  não pode  ser semelhante ao  estilo monárquico, tanto mais nos tempos atuais. Como membros da Igreja, todos co-participamos  nas suas tarefas, e elas têm o caráter de serviço.

Concretamente, olhando para o passado, vemos que a  participação dos fiéis da vida  da Igreja não era  sempre uniforme; dependia do tempo e do lugar. Os  Atos dos Apóstolos (NT), por exemplo, dizem que as comunidades cristãs participavam na escolha do candidato para um cargo eclesial (At 6, 1-6; 15, 22; 16, 1 ss). Também na Tradição da Igreja encontramos testemunhos  desse tipo, que confirmam o direito à participação nas decisões da Igreja. O papa Celestino I (  422-432) escreve, por exemplo: “Não deve-se nomear nenhum bispo contra a vontade do povo”. Do mesmo jeito escreve o papa Leão Magno ( 440-461): “Esse que vai governar para todos, deveria também ser eleito por todos”.
Ainda hoje, durante a  ordenação sacerdotal dirige-se uma pergunta ao povo,  se este não tem alguma coisa contra o candidato. Os conselhos paroquiais, cujos membros, na maioria dos casos são eleitos pela  comunidade paroquial, têm como tarefa ajudar e  apoiar em todas as questões da vida da Igreja,  aquele que dirige essa paróquia. Deveria existir um interesse cada vez maior para que todos se sentissem responsáveis pela Igreja e para que todos realmente tivessem a possibilidade de participar das decisões.

No mundo está mudando a mentalidade  e - obviamente -  também o esquema do poder  das decisões na Igreja necessariamente precisará ser modificado. Não poderá continuar como antigamente.  Basicamente, também as estruturas eclesiais podem ser mudadas.  Apenas uma coisa devemos ter  claramente em nossas mentes: o poder na Igreja deriva de Jesus Cristo e não  é dado pela comunidade dos fiéis. Do mesmo jeito como ninguém pode se tornar cristão apenas pela vontade da comunidade dos fiéis, mas pela fé e pelo batismo, assim também ninguém se torna sacerdote (padre) ou bispo pela força da  decisão do povo, mas graças à missão de Cristo. O  dono da Igreja é Cristo e não a assembléia dos fiéis.  Os fiéis não podem nem transferir e nem limitar o poder espiritual.  Podem,  no entanto,  escolher os  candidatos. A autoridade que os escolhidos recebem  vem do Cristo e é  conferida através da ordem adequada.

Também nem se cogita  a possibilidade de submeter  as principais verdades da fé  à votação ou à aprovação pela maioria dos votos. Somos nós que dependemos da palavra de Deus.  A fé nos é dada de cima, ela  é a graça,  é o  dom de Deus oferecido aos homens, e esses não podem livremente dispor dela, conforme as suas próprias determinações.

(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 154-156)²

Continua
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¹  Krenzer Ferdinand (nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, 08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus) foi um teólogo católico alemão, sacerdote e escritor na aposentadoria. [N. Do T.]

²  Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português), com uma pequena atualização dos dados, quando necessário.  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”. [N. Do T.]

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