As formas vigentes de decidir sobre vários assuntos
na Igreja Católica, a existência de autoritarismo nas estruturas eclesiais, as
determinações tomadas “de cima” e impostas aos demais sem sequer
consultá-los ou ouvir as suas
argumentações – freqüentemente causam críticas e questionamentos. E isso
abrange todos os níveis da vida eclesial. Na realidade, esses problemas não existem
apenas na Igreja Católica, mas em muitas outras também.
Hoje, não são poucas as perguntas sobre esse tema e
nós, católicos, muitas vezes não sabemos o que dizer, ou, talvez,
simplesmente aceitamos as coisas sem questionar. Mas, será que a atitude de “fazer vistas grossas”
e de ficar conformado(a) com tudo seria
a mais correta?
O texto
abaixo, de autoria de Ferdinand
Krenzer¹, fala sobre esse tema.
Não deixe de ler.
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Para poder
acompanhar com facilidade a reflexão do autor e aproveitar ao máximo as
explicações é aconselhável ler desde o
início todos os seus textos sobre este
assunto (começo no dia 03 de agosto de 2012
- http://indagacoes-walenty.blogspot.com.br/2012/08/para-entender-o-cristianismo-qual-e-sua.html).
(14)
O direito de decidir
Hoje perguntamos se os cargos e
ofícios na Igreja não poderiam seguir o
esquema democrático. Será que a Igreja, que insiste em interpretar a
governabilidade no molde monárquico - o que antigamente era, talvez, facilmente
entendido - hoje, numa sociedade contemporânea, não parece muito estranho? O processo de democratização, que está acontecendo no mundo atual com a intensidade cada vez maior, não deveria
incluir também a Igreja?
Na verdade, devemos também pensar
na seguinte pergunta: Se a Igreja realmente adotasse as normas democráticas, o seu trabalho e a sua missão seriam de acordo com a
ordem primária recebida de Jesus Cristo? , ou será que, talvez, iriam apenas seguir as tendências traçadas pelo
nosso tempo?
Já dissemos que Jesus Cristo
deixou muitas coisas por conta do próprio processo do desenvolvimento. Ele fundou a Igreja viva, e
essa deveria continuar se desenvolvendo.
Não
necessariamente, então, tudo deve
permanecer assim como era no início, ou como se formara durante os séculos.
Por outro lado, não podemos
comparar a estrutura da Igreja com as estruturas dos países ou dos parlamentos
que existem no mundo. As concepções como democracia, absolutismo ou monarquia –
não são adequadas. Até no termo “democracia” existe palavrinha
“cracia”, que quer dizer, dominação, o poder. E nenhum gênero do poder humano
ou de governo não deveria ter lugar justamente na Igreja.
Surgem aqui duas perguntas que
precisamos abordar separadamente.
Primeira: De onde vem a autoridade na Igreja?, e depois: Como ela é
exercida?
Todos concordam que exercício do poder na Igreja
pode realizar-se somente no espírito de fraternidade e de colegialidade. O
estilo de governar, neste caso, não
pode ser semelhante ao estilo monárquico, tanto mais nos tempos
atuais. Como membros da Igreja, todos co-participamos nas suas tarefas, e elas têm o caráter de
serviço.
Concretamente, olhando para o
passado, vemos que a participação dos
fiéis da vida da Igreja não era sempre uniforme; dependia do tempo e do
lugar. Os Atos dos Apóstolos (NT), por
exemplo, dizem que as comunidades cristãs participavam na escolha do candidato
para um cargo eclesial (At 6, 1-6; 15, 22; 16, 1 ss). Também na Tradição da
Igreja encontramos testemunhos desse
tipo, que confirmam o direito à participação nas decisões da Igreja. O papa
Celestino I ( 422-432) escreve, por
exemplo: “Não deve-se nomear nenhum bispo contra a vontade do povo”. Do mesmo
jeito escreve o papa Leão Magno ( 440-461): “Esse que vai governar para todos,
deveria também ser eleito por todos”.
Ainda hoje, durante a ordenação sacerdotal dirige-se uma pergunta
ao povo, se este não tem alguma coisa
contra o candidato. Os conselhos paroquiais, cujos membros, na maioria dos
casos são eleitos pela comunidade
paroquial, têm como tarefa ajudar e
apoiar em todas as questões da vida da Igreja, aquele que dirige essa paróquia. Deveria
existir um interesse cada vez maior para que todos se sentissem responsáveis
pela Igreja e para que todos realmente tivessem a possibilidade de participar
das decisões.
No mundo está mudando a
mentalidade e - obviamente - também o esquema do poder das decisões na Igreja necessariamente
precisará ser modificado. Não poderá continuar como antigamente. Basicamente, também as estruturas eclesiais
podem ser mudadas. Apenas uma coisa
devemos ter claramente em nossas mentes:
o poder na Igreja deriva de Jesus Cristo e não
é dado pela comunidade dos fiéis. Do mesmo jeito como ninguém pode se
tornar cristão apenas pela vontade da comunidade dos fiéis, mas pela fé e pelo
batismo, assim também ninguém se torna sacerdote (padre) ou bispo pela força
da decisão do povo, mas graças à missão
de Cristo. O dono da Igreja é Cristo e
não a assembléia dos fiéis. Os fiéis não
podem nem transferir e nem limitar o poder espiritual. Podem,
no entanto, escolher os candidatos. A autoridade que os escolhidos
recebem vem do Cristo e é conferida através da ordem adequada.
Também nem se cogita a possibilidade de submeter as principais verdades da fé à votação ou à aprovação pela maioria dos
votos. Somos nós que dependemos da palavra de Deus. A fé nos é dada de cima, ela é a graça,
é o dom de Deus oferecido aos
homens, e esses não podem livremente dispor dela, conforme as suas próprias
determinações.
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions
Du Dialogue, 1981, p. 154-156)²
Continua
_________________________
¹
Krenzer Ferdinand (nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg,
Hesse, † 08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus) foi um teólogo católico alemão,
sacerdote e escritor na aposentadoria. [N. Do T.]
² Obs.: As reflexões do Ferdinand
Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor,
ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais
difíceis desta doutrina.
Os textos publicados
neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição
no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português), com uma
pequena atualização dos dados, quando necessário. O título original: “Morgen wird man wieder
Glauben”. [N. Do T.]
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