Jesus cura o Bartimeu, o homem que era cego e mendigava por esmola. O grito desse homem pelo socorro
fez Deus operar milagre. Jesus devolve-lhe
a visão. - É o episódio muito conhecido,
narrado pelo evangelista Marcos.
Provavelmente, já tivemos a
oportunidade de refletir muito sobre esse quadro, ou ler os comentários. Acredito, no
entanto, que a riqueza da Palavra de
Deus é inesgotável: cada vez que nos
dispomos a “parar” para meditá-la, ela
se apresenta de forma nova e mais
forte diante de nós. E isso é fascinante!
Trago aqui, no blog
Indagações, o comentário de Asun Gutiérrez
Cabriada, que é uma reflexão maravilhosa sobre esse episódio.
Não
deixe de ler.
[Os interessados
pedem ler esse texto em apresentação de PPS, acessando o site das Monjas
Beneditinas de Montesserrat: http://www.benedictinescat.com/montserrat/imatges/Dom30B12port.pps .
Trabalho
muito bonito!]
WCejnóg
Contra todo o
paternalismo milagreiro,
isto é o mais característico
dos milagres de Jesus
e a suprema discrição
de Deus: curar,
fazendo que os
seres humanos se curem a si mesmos.
Jon Sobrino
Jon Sobrino
Evangelho
segundo Marcos 10, 46b-52
Naquele tempo, ao sair de
Jericó com os discípulos e numerosa multidão, um cego sentava-se à beira
do caminho pedindo esmolas. Era o filho
de Timeu, Bartimeu. E, ouvindo que era
Jesus de Nazaré que passava, começou a gritar as palavras:
– Jesus, filho de David, tem
piedade de mim!
Muitos repreendiam-no para que
se calasse. Mas ele gritava cada vez mais:
– Jesus, filho de Davi, tem compaixão
de mim!
Muitos o repreendiam para que
se calasse mas ele gritava ainda mais alto: “Jesus, filho de Davi, tem
compaixão de mim!
Jesus parou e disse:
– Chamai-o.
Chamaram então o cego e disseram-lhe:
Coragem! Levanta-te, que Ele
está a chamar-te!
Jogando para o lado o
manto, levantou-se de um pulo e foi ter
com Jesus.
Jesus perguntou-lhe:
– Que queres que te faça?
O cego respondeu-lhe:
–“Meu mestre”, respondeu o cego,
“que eu torne a ver!”.
Jesus disse-lhe:
-“Vai, a tua fé te salvou!”.
E no mesmo instante ele
recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho.
“Filho de Davi, tem piedade de mim!” – gritava o cego
Bartimeu.
Qual é o meu/seu
grito perante Jesus?
Comentário
Nesta época, as pessoas cegas
eram a viva estampa da miséria, do desamparo e da desesperança. Não é estranho
que o homem dos olhos mais amáveis, puros
e profundos, sentisse especial simpatia por eles.
Não nos incomodam os “gritos”
dos que encontramos no caminho? Não nos são incômodas as pessoas que fazem perguntas?
Impedimos outras pessoas que possam sentir, escutar e
ver Jesus?
Ou, pelo contrário, nos
aproximamos, animamos, facilitamos e clarificamos o caminho até Ele? Qual é o meu grito perante Jesus?
Para seguir Jesus há que ver.
O reconhecimento de Jesus vem
dos últimos da sociedade, das pessoas “mal vistas”, dos que estão à beira do
caminho, daqueles a quem alguns pretendem fazer calar.
Um personagem marginal e
secundário encarna atitudes e respostas que os que estão próximos de Jesus não
são capazes de oferecer. Jesus entra
sempre em relação com quem está à beira do caminho. Detém-se, preocupa-se em ver e convida a pôr-se de pé.
Tem sempre tempo para quem necessita buscar, receber, levantar-se, retomar o
caminho, ver...
O encargo vai também para nós: Animai! Chamai! Não deixeis ninguém caído na valeta. Anunciai que estou a passar.
Coragem! Levanta-te!
Sabes, Senhor? Pergunto-me si
te agrada, se estás de acordo com que nos ponhamos de joelhos, mesmo que seja
diante do sacrário, ou diante da cruz na Sexta-feira Santa...
Pergunto-me se não nos olhas
com mais satisfação, quando nos vês de pé; se não é melhor uma postura de
adoração estar de pé, não por um orgulho desafiante de quem não se dobra,
nem baixa a cabeça nem sequer
perante Ti, mas porque é a postura à qual nos chama o Abbá: a postura que Tu pediste para
toda a pessoa... e por isso Te mataram.
Pergunto-me, Senhor, se essa postura tão reverente de nos pormos de joelhos com a cabeça inclinada, não está refletindo uma postura de estar curvados sobre nós mesmos; de poder dizer a Deus, olha, estou assim por Ti (uma forma de passar faturas).
É certo que, a partir do nosso amor próprio, nos é muito mais fácil ajoelhar-nos e baixar o olhar, que permanecer em pé e olhar uns olhos que nos olham com uma misericórdia e amor infinitos.
Eu creio que, se voltarmos o
olhar para Ti, Jesus, que jogaste a vida para pôr toda a pessoa em pé (especialmente os que
estavam humilhados), para nos dizeres o quê e como é isso de ser filhos e
filhas; se voltarmos o olhar para o Abbá, que nos chama a ser filhas e filhos,
a postura correta, a verdadeira postura de adoração e reconhecimento para Ti, a
que Tu esperas, é ver-nos de pé.
Marta Zubía
Marta Zubía
O cego tirou fora a capa, deu um salto e foi ter com
Jesus.
O manto representa a pessoa. O
cego deixa a sua vida passada, aproxima-se da luz e segue Jesus. Jesus faz a
Bartimeu a mesma pergunta que aos Zebedeus. A resposta é diferente.
A disposição do coração de Bartimeu, contrasta com a dos Zebedeus. Eles queriam sentar-se à direita no Reino. Bartimeu quer deixar de estar sentado, quer levantar-se para seguir Jesus.
A disposição do coração de Bartimeu, contrasta com a dos Zebedeus. Eles queriam sentar-se à direita no Reino. Bartimeu quer deixar de estar sentado, quer levantar-se para seguir Jesus.
– Que queres que Eu te faça?
Jesus não dá por certo o que as
pessoas querem. Pergunta e escuta.
Para se informar do que as
pessoas necessitam, é necessário aprender a receber e escutar as perguntas que
fazem. Se não, corremos o risco de responder
a perguntas que ninguém faz ou dar respostas que não interessam a ninguém.
Para poder servir e saber o que os outros necessitam, há que fazer a pergunta correta: que queres que faça por ti? E esperar, respeitar e escutar aquilo que responderem.
Como faz Jesus.
– Mestre, que eu veja.
O mendigo cego pede orientação
e luz.
Começa a ver com claridade, a
perceber as coisas como são, quando dialoga com Jesus e responde à sua Palavra.
Descubro perante Jesus as
minhas cegueiras. As que me impedem ver
e desfrutar, as que me levam a confundir a realidade, as que não me deixam perceber os sinais dos tempos e o verdadeiro sentido da vida, as que me
paralisam à beira do caminho...
Olhando para Jesus aprendo a abrir os olhos e a ajudar outras pessoas a que abram os seus, a sair das suas cegueiras.
- Vai: a
tua fé te salvou.
Jesus diz que é a fé, a plena
confiança n’Ele, que dá a vida, que salva.
O cego não acreditou por ter sido curado; foi curado por ter acreditado.
Este curar não é só cura física, mas profunda transformação dos olhos e do
coração para uma nova caminhada.
Bartimeu é modelo de autêntico
discípulo: testemunha e proclama a sua fé, tradu-la em oração perseverante e
confiante, liberta-se de tudo o que impede um encontro pessoal com Jesus e, com
a sua luz, segue-O com decisão e alegria no seu caminho.
A beira do
caminho
Aqui estou, Senhor,
como o cego à beira
do caminho
- cansado, suado,
empoeirado;
mendigo por
necessidade e ofício.
Mas ao sentir os
teus passos,
ao ouvir a tua voz
inconfundível,
todo o meu ser
estremece
como se um
manancial brotasse
dentro de mim.
Ah, que pergunta a
tua!
Que deseja um cego
se não ver?
Que eu veja,
Senhor!
Que veja, Senhor,
os teus caminhos.
Que veja, Senhor,
os caminhos da vida.
Que veja, Senhor,
acima de tudo,
o teu rosto, os
teus olhos,
o teu coração.
Ulibarri, Fl.
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