Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sábado, 27 de outubro de 2012

A força da fé. O que significa?



Jesus cura o Bartimeu,  o homem que era  cego e mendigava  por esmola. O grito desse homem pelo socorro fez Deus operar milagre. Jesus devolve-lhe  a visão.  - É o episódio muito conhecido, narrado pelo evangelista Marcos.

Provavelmente, já tivemos a oportunidade de refletir muito sobre esse quadro,  ou ler os comentários. Acredito, no entanto,  que a riqueza da Palavra de Deus é inesgotável:  cada vez que nos dispomos a “parar” para meditá-la, ela  se apresenta de forma nova e  mais forte diante de nós. E isso é fascinante!

Trago aqui, no blog Indagações,  o comentário de  Asun Gutiérrez Cabriada, que é uma reflexão maravilhosa sobre esse episódio.
Não deixe de ler.

[Os interessados pedem ler esse texto em apresentação de PPS, acessando o site das Monjas Beneditinas de Montesserrat:   http://www.benedictinescat.com/montserrat/imatges/Dom30B12port.pps .
Trabalho muito bonito!]
WCejnóg 



Contra todo o paternalismo milagreiro,
isto é o mais característico dos milagres de Jesus
e a suprema discrição de Deus: curar,
fazendo que os seres humanos se curem a si mesmos.

 Jon Sobrino

Evangelho segundo Marcos 10, 46b-52

Naquele tempo, ao sair de Jericó com os discípulos e numerosa multidão, um cego sentava-se à beira do  caminho pedindo esmolas. Era o filho de Timeu, Bartimeu.  E, ouvindo que era Jesus de Nazaré que passava, começou a gritar as palavras:
– Jesus, filho de David, tem piedade de mim!
Muitos repreendiam-no para que se calasse. Mas ele gritava cada vez mais:
– Jesus, filho de Davi, tem compaixão de mim!
Muitos o repreendiam para que se calasse mas ele gritava ainda mais alto: “Jesus, filho de Davi, tem compaixão de mim!
Jesus parou e disse:
– Chamai-o.
Chamaram então o cego e disseram-lhe:
Coragem! Levanta-te, que Ele está a chamar-te!
Jogando para o lado o manto,  levantou-se de um pulo e foi ter com Jesus.
Jesus perguntou-lhe:
– Que queres que  te faça?
O cego respondeu-lhe:
–“Meu mestre”, respondeu o cego, “que eu torne a ver!”.
Jesus disse-lhe:
-“Vai, a tua fé te salvou!”.
E no mesmo instante ele recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho.


“Filho de Davi, tem piedade de mim!” – gritava o cego Bartimeu.
Qual é o meu/seu  grito perante Jesus?

Comentário

Nesta época, as pessoas cegas eram a viva estampa da miséria, do desamparo e da desesperança. Não é estranho que o homem dos olhos mais amáveis, puros  e profundos, sentisse especial simpatia por eles.
Não nos incomodam os “gritos” dos que encontramos no caminho? Não nos são incômodas as pessoas que  fazem perguntas?
Impedimos  outras pessoas que possam sentir, escutar e ver Jesus?
Ou, pelo contrário, nos aproximamos, animamos, facilitamos e clarificamos o caminho até Ele?  Qual é o meu grito perante Jesus?

Para seguir Jesus há que ver. 
O reconhecimento de Jesus vem dos últimos da sociedade, das pessoas “mal vistas”, dos que estão à beira do caminho, daqueles a quem alguns pretendem fazer calar.
Um personagem marginal e secundário encarna atitudes e respostas que os que estão próximos de Jesus não são capazes de oferecer. Jesus  entra sempre em relação com quem está à beira do caminho. Detém-se,  preocupa-se em ver e convida a pôr-se de pé. Tem sempre tempo para quem necessita buscar, receber, levantar-se, retomar o caminho, ver...

O encargo vai também para nós: Animai! Chamai! Não deixeis ninguém caído na valeta. Anunciai que estou a passar.


Coragem! Levanta-te!

Sabes, Senhor? Pergunto-me si te agrada, se estás de acordo com que nos ponhamos de joelhos, mesmo que seja diante do sacrário, ou diante da cruz na Sexta-feira Santa...

Pergunto-me se não nos olhas com mais satisfação, quando nos vês de pé; se não é melhor uma postura de adoração estar de pé, não por um orgulho desafiante de quem não se dobra,
nem baixa a cabeça nem sequer perante Ti, mas porque é a postura à qual nos chama o Abbá: a postura que Tu pediste para toda a pessoa... e por isso Te mataram.

Pergunto-me, Senhor, se essa postura tão reverente de nos pormos de joelhos com a cabeça inclinada, não está refletindo uma postura de estar curvados sobre nós mesmos; de poder dizer a Deus, olha, estou assim por Ti  (uma forma de passar faturas).

É certo que, a partir do nosso amor próprio, nos é muito mais fácil ajoelhar-nos e baixar o olhar, que permanecer em pé e olhar uns olhos que nos olham com uma misericórdia e amor infinitos.

Eu creio que, se voltarmos o olhar para Ti, Jesus, que jogaste a vida para  pôr toda a pessoa em pé (especialmente os que estavam humilhados), para nos dizeres o quê e como é isso de ser filhos e filhas; se voltarmos o olhar para o Abbá, que nos chama a ser filhas e filhos, a postura correta, a verdadeira postura de adoração e reconhecimento para Ti, a que Tu esperas, é ver-nos de pé.

Marta Zubía


O cego tirou fora a capa, deu um salto e foi ter com Jesus.

O manto representa a pessoa. O cego deixa a sua vida passada, aproxima-se da luz e segue Jesus. Jesus faz a Bartimeu a mesma pergunta que aos Zebedeus. A resposta é diferente. 
 
A disposição do coração de Bartimeu, contrasta com a dos Zebedeus. Eles queriam sentar-se à direita no Reino. Bartimeu quer deixar de estar sentado, quer levantar-se para seguir Jesus.

– Que queres que Eu te faça?

Jesus não dá por certo o que as pessoas querem. Pergunta e escuta.
Para se informar do que as pessoas necessitam, é necessário aprender a receber e escutar as perguntas que fazem. Se não, corremos o risco de responder a perguntas que ninguém faz ou dar respostas que não interessam a ninguém.

Para poder servir e saber o que os outros necessitam, há que fazer a pergunta correta: que queres que faça por ti? E esperar, respeitar e escutar aquilo que responderem.
Como faz Jesus.
– Mestre, que eu veja.

O mendigo cego pede orientação e luz.
Começa a ver com claridade, a perceber as coisas como são, quando dialoga com Jesus e responde à sua Palavra.

Descubro perante Jesus as minhas cegueiras.  As que me impedem ver e desfrutar, as que me levam a confundir a realidade,  as que não me deixam perceber  os sinais dos tempos  e o verdadeiro sentido da vida, as que me paralisam à beira do caminho...

Olhando para Jesus aprendo a abrir os olhos e a ajudar outras pessoas a que abram os seus, a sair das suas cegueiras.
- Vai: a tua fé te salvou.

Jesus diz que é a fé, a plena confiança n’Ele, que dá a vida, que salva.  O cego não acreditou por ter sido curado; foi curado por ter acreditado. Este curar não é só cura física, mas profunda transformação dos olhos e do coração para uma nova caminhada.

Bartimeu é modelo de autêntico discípulo: testemunha e proclama a sua fé, tradu-la em oração perseverante e confiante, liberta-se de tudo o que impede um encontro pessoal com Jesus e, com a sua luz, segue-O com decisão e alegria no seu caminho.


A beira do caminho

Aqui  estou, Senhor,
como o cego à beira do caminho
- cansado, suado, empoeirado;
mendigo por necessidade e ofício.

Mas ao sentir os teus passos,
ao ouvir a tua voz inconfundível,
todo o meu ser estremece
como se um manancial brotasse
dentro de mim.

Ah, que pergunta a tua!
Que deseja um cego se não ver?
Que eu veja, Senhor!
Que veja, Senhor, os teus caminhos.
Que veja, Senhor, os caminhos da vida.
Que veja, Senhor, acima de tudo,
o teu rosto, os teus olhos,
o teu coração.
Ulibarri, Fl.



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