Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sábado, 6 de outubro de 2012

O papa. Qual é a sua missão?



Para entendermos a estrutura da Igreja Católica, é necessário fazer uma curta explanação sobre o ofício do papa, que – na prática – é líder máximo dessa Igreja aqui na terra. Para muitas pessoas a Igreja Católica é uma instituição, como qualquer outra.  No entanto, é bom lembrar aqui o que a própria Igreja diz sobre si mesma.  Qual é a sua visão e a argumentação da sua estrutura, que ela hoje possui? Esta estrutura é necessária e indispensável para a Igreja Católica pudesse continuar no mundo a realização da missão recebida de Cristo?  As respostas para perguntas como essas  podem nos ajudar a sermos  mais exigentes e críticos, mas também mais responsáveis e autênticos em relação a Igreja, que  é a Igreja de Jesus Cristo.

O texto abaixo,  de autoria de Ferdinand Krenzer¹,  fala sobre a estrutura da  Igreja Católica, e sobre os ofícios  e cargos,  que ela julga necessários para poder continuar cumprindo a ordem de Cristo.  Não deixe de ler.
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Para poder acompanhar com facilidade a reflexão do autor e aproveitar ao máximo as explicações é aconselhável  ler desde o início todos os seus  textos sobre este assunto (começo no dia 03 de agosto de 2012  http://indagacoes-walenty.blogspot.com.br/2012/08/para-entender-o-cristianismo-qual-e-sua.html .)

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O papa  é  necessário?

Como vimos, São Pedro teve  um  certo primado. Depois, o lugar do colégio apostólico tornou-se colégio dos bispos. A Igreja Católica está convencida que conforme a vontade de Cristo também este colégio (dos  bispos) precisa ter alguém, para quem – como o  sucessor de São Pedro – caberá dirigir esse colégio e  a  Igreja toda. Também a procuração que  o Pedro recebeu não foi dada só para ele, mas ainda hoje é exercida pela Igreja. 

Quando no Evangelho  segundo Mateus (16, 18) Jesus chama o Pedro de “pedra” (kepha), sobre a qual quer construir a sua Igreja  para lhe garantir que existirá até o fim do mundo – certamente refere-se ao ofício de Pedro, e não ao homem fraco, que logo depois nega Jesus, e mais ainda, que não vai viver até o  fim do mundo.  O seu  ofício há de ser o fundamento que no futuro, graças a ajuda de Cristo, constituirá a garantia da unidade da Igreja e preservará a mesma doutrina. Como sabemos, os bispos de Roma consideram-se, justamente nesse sentido, os  sucessores de São Pedro.  Até hoje nenhum outro  bispo reivindicou o direito para exercer esse ofício de Pedro. Obviamente, no início da Igreja esse cargo não precisava ser tão visível como depois. A Igreja, naquele tempo, não  estava tão espalhada pelo mundo e a  necessidade de um poder para mantê-la unida não era  ainda tão grande. Mas, mesmo apesar disso, encontramos os  documentos  procedentes dos  tempos antigos, que confirmam a existência do  primado do bispo romano.

Aqui,  neste espaço, não é possível  mostrar os documentos dos tempos antigos, pelo menos os mais importantes que falam confirmando o primado do bispo de Roma. Pode servir de exemplo o testemunho de São Irineu de Lyon (130-203).  Na sua carta ele escreve entre outras coisas: “Por causa do evidente primado da Igreja romana, deve estar em harmonia com ela toda outra Igreja, porque nela sempre foi preservada a tradição apostólica”. Mencionemos ainda uma das grandes figuras do século III,  o bispo de Cartago,  são  Cipriano (200-258), que nem sempre e nem em tudo estava de  acordo com o bispo de  Roma. Cipriano confirma o primado do  bispo romano chamando-o de “regra de unidade e infalibilidade”. Foi ele que usou pela primeira vez o termo “primado”, o que significa “a tarefa de dirigir”, para descrever a missão  do bispado de Roma, e para argumentar a sua posição serviu-se de sucessão após o São Pedro.

Hoje ninguém mais duvida que a partir do  século IV o primado do bispo romano era reconhecido universalmente, até mesmo pelos adversários. A importância do papado crescia cada vez mais ao longo dos  séculos. Esse crescimento atingiu o seu ponto máximo no Concílio Vaticano I, do ano 1870, e nos grandes papas do período pós-concílio. Ao contrário a esse, o Concílio Vaticano II evidenciou mais o colégio episcopal , que reúne  todos os  bispos.
De acordo com a  opinião católica, foi o próprio Cristo que pensou  em deixar  “representante” aqui na terra,  o que não deve ser identificado com “sucessor”. Suceder pode-se somente alguém que já morreu. Mas Jesus Cristo continua vivo como cabeça da Igreja; também São Pedro não O sucedeu. Por isso é errado falar da “Igreja dos papas”. O papa é sucessor de São Pedro, mas é apenas vigário (representante) de Cristo, em latim vicarius Christii. Isso significa que  o papa representa Cristo. O vigário, dentro de alguma  área, substitui e ajuda alguém  outro, quem  está acima dele e que tem o poder legítimo,  devendo prestar a ele contas e relatórios.

O título “papa” significa simplesmente “pai”. Isso não provoca dissonância com o Evangelho que evita ou até rejeita esse termo [Mt 23, 9], quando é entendido no significado conferido-lhe por São Paulo. Na carta aos Efésios ele  escreve: “Por isso dobro os joelhos em presença do Pai, a quem toda a família no céu e na terra deve a existência, para que vos conceda, que sejais poderosamente robustecidos por seu Espírito” (3, 14-16).  Aqui, no sentido espiritual, o “pai” provém de Deus, que é Pai Celeste.   Dirigindo-se ao papa normalmente usa-se o termo “Santo Padre”, com o que pretendemos  expressar a santidade do seu ofício, e não da pessoa.  E o papa fala  de  si  que  é “o servo dos servos de Deus”, porque também o ofício do papa é simplesmente servir para o bem de toda Igreja. 

Esse servir tem como objetivo, sobretudo,  a manutenção da unidade da Igreja e deve assegurar a comunicação entre todas as suas partes, e  isso é que todos os fiéis devem esperar do papa. O papa Paulo VI disse uma vez que o primado do papa não deve ser a imposição de arrogância espiritual ou do poder humano, mas tem que ser o primado de servir, ajudar e amar.

  (KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, p. 152-153)²

Continua...
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¹  Krenzer Ferdinand (nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, 08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus) foi um teólogo católico alemão, sacerdote e escritor na aposentadoria.

² Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português), com uma pequena atualização dos dados, quando necessário.  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”. [N. Do T.]
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