Para entendermos a estrutura da Igreja Católica, é
necessário fazer uma curta explanação sobre o ofício do papa, que – na prática
– é líder máximo dessa Igreja aqui na terra. Para muitas pessoas a Igreja
Católica é uma instituição, como qualquer outra. No entanto, é bom lembrar aqui o que a própria
Igreja diz sobre si mesma. Qual é a sua
visão e a argumentação da sua estrutura, que ela hoje possui? Esta estrutura é
necessária e indispensável para a Igreja Católica pudesse continuar no mundo a
realização da missão recebida de Cristo?
As respostas para perguntas como essas
podem nos ajudar a sermos mais
exigentes e críticos, mas também mais responsáveis e autênticos em relação a
Igreja, que é a Igreja de Jesus Cristo.
O texto abaixo,
de autoria de Ferdinand Krenzer¹,
fala sobre a estrutura da Igreja
Católica, e sobre os ofícios e
cargos, que ela julga necessários para
poder continuar cumprindo a ordem de Cristo. Não deixe de ler.
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Para poder
acompanhar com facilidade a reflexão do autor e aproveitar ao máximo as
explicações é aconselhável ler desde o
início todos os seus textos sobre este
assunto (começo no dia 03 de agosto de 2012
- http://indagacoes-walenty.blogspot.com.br/2012/08/para-entender-o-cristianismo-qual-e-sua.html .)
(12)
O papa é necessário?
Como vimos, São Pedro teve um certo
primado. Depois, o lugar do colégio apostólico tornou-se colégio dos bispos. A
Igreja Católica está convencida que conforme a vontade de Cristo também este
colégio (dos bispos) precisa ter alguém,
para quem – como o sucessor de São Pedro
– caberá dirigir esse colégio e a Igreja toda. Também a procuração que o Pedro recebeu não foi dada só para ele, mas
ainda hoje é exercida pela Igreja.
Quando no Evangelho segundo Mateus (16, 18) Jesus chama o Pedro
de “pedra” (kepha), sobre a qual quer construir a sua Igreja para lhe garantir que existirá até o fim do
mundo – certamente refere-se ao ofício de Pedro, e não ao homem fraco, que logo
depois nega Jesus, e mais ainda, que não vai viver até o fim do mundo. O seu
ofício há de ser o fundamento que no futuro, graças a ajuda de Cristo,
constituirá a garantia da unidade da Igreja e preservará a mesma doutrina. Como
sabemos, os bispos de Roma consideram-se, justamente nesse sentido, os sucessores de São Pedro. Até hoje nenhum outro bispo reivindicou o direito para exercer esse
ofício de Pedro. Obviamente, no início da Igreja esse cargo não precisava ser
tão visível como depois. A Igreja, naquele tempo, não estava tão espalhada pelo mundo e a necessidade de um poder para mantê-la unida
não era ainda tão grande. Mas, mesmo
apesar disso, encontramos os documentos
procedentes dos tempos antigos,
que confirmam a existência do primado do
bispo romano.
Aqui, neste espaço, não é possível mostrar os documentos dos tempos antigos, pelo
menos os mais importantes que falam confirmando o primado do bispo de Roma. Pode
servir de exemplo o testemunho de São Irineu de Lyon (130-203). Na sua carta ele escreve entre outras coisas:
“Por causa do evidente primado da Igreja romana, deve estar em harmonia com ela
toda outra Igreja, porque nela sempre foi preservada a tradição apostólica”. Mencionemos ainda uma das grandes figuras do
século III, o bispo de Cartago, são Cipriano (200-258), que nem sempre e nem em
tudo estava de acordo com o bispo
de Roma. Cipriano confirma o primado
do bispo romano chamando-o de “regra de
unidade e infalibilidade”. Foi ele que usou pela primeira vez o termo
“primado”, o que significa “a tarefa de dirigir”, para descrever a missão do bispado de Roma, e para argumentar a sua
posição serviu-se de sucessão após o São Pedro.
Hoje ninguém mais duvida que a
partir do século IV o primado do bispo
romano era reconhecido universalmente, até mesmo pelos adversários. A
importância do papado crescia cada vez mais ao longo dos séculos. Esse crescimento atingiu o seu ponto
máximo no Concílio Vaticano I, do ano 1870, e nos grandes papas do período
pós-concílio. Ao contrário a esse, o Concílio Vaticano II evidenciou mais o
colégio episcopal , que reúne todos
os bispos.
De acordo com a opinião católica, foi o próprio Cristo que
pensou em deixar “representante” aqui na terra, o que não deve ser identificado com
“sucessor”. Suceder pode-se somente alguém que já morreu. Mas Jesus Cristo
continua vivo como cabeça da Igreja; também São Pedro não O sucedeu. Por isso é
errado falar da “Igreja dos papas”. O papa é sucessor de São Pedro, mas é
apenas vigário (representante) de Cristo, em latim vicarius Christii. Isso significa que o papa representa Cristo. O vigário, dentro
de alguma área, substitui e ajuda
alguém outro, quem está acima dele e que tem o poder legítimo, devendo prestar a ele contas e relatórios.
O título “papa” significa
simplesmente “pai”. Isso não provoca dissonância com o Evangelho que evita ou
até rejeita esse termo [Mt 23, 9], quando é entendido no significado conferido-lhe
por São Paulo. Na carta aos Efésios ele escreve: “Por isso dobro os joelhos em
presença do Pai, a quem toda a família no céu e na terra deve a existência,
para que vos conceda, que sejais poderosamente robustecidos por seu Espírito” (3,
14-16). Aqui, no sentido espiritual, o
“pai” provém de Deus, que é Pai Celeste. Dirigindo-se ao papa normalmente usa-se o
termo “Santo Padre”, com o que pretendemos expressar a santidade do seu ofício, e não da
pessoa. E o papa fala de si que é
“o servo dos servos de Deus”, porque também o ofício do papa é simplesmente
servir para o bem de toda Igreja.
Esse servir tem como objetivo, sobretudo, a manutenção da unidade da Igreja e deve
assegurar a comunicação entre todas as suas partes, e isso é que todos os fiéis devem esperar do
papa. O papa Paulo VI disse uma vez que o primado do papa não deve ser a
imposição de arrogância espiritual ou do poder humano, mas tem que ser o
primado de servir, ajudar e amar.
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara,
Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 152-153)²
Continua...
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¹ Krenzer Ferdinand
(nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, †
08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus)
foi um teólogo católico alemão,
sacerdote e escritor na aposentadoria.
² Obs.: As reflexões
do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o
leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os
temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados
neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição
no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português), com uma
pequena atualização dos dados, quando necessário. O título original: “Morgen wird man wieder
Glauben”. [N. Do T.]
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