È muito
cohecida a cena do Evangelho segundo Marcos (capítulo 10, 17-30), que mostra um homem
rico conversando com Jesus. Jesus estava passando por ali, quando o homem
chegou “correndo” para poder encontrar Jesus e lhe fazer algumas perguntas que,
certamente, norteavam o seu coração. Tudo estava certo, correto... mas, faltava
alguma coisa. O quê...?
Quando o
homem retirou-se, Jesus falou sobre o
perigo das riquezas. As suas palavras “Como
é difícil o rico entrar no reino de Deus!” - ainda hoje causam muitas
controvérsias.
Como
entender essas palavras? Como interpretá-las para saber o que Jesus realmente disse?
Trago
aqui, no blog Indagações, o comentário
de Asun Gutiérrez Cabriada, que analisa esse episódio
de forma maravilhosa.
Não deixe de ler.
WCejnog
[Os interessados pedem ler esse texto em apresentação de PPS, acessando o
site das Monjas Beneditinas de Montesserrat: http://www.benedictinescat.com/montserrat/imatges/Dom28B12port.pps Trabalho
muito bonito!]
Há algo muito
claro no evangelho de Jesus.
A vida não nos foi dada para fazer dinheiro, para ter êxito
ou para conseguir um bem-estar pessoal, mas para nos tornarmos irmãos.
A vida não nos foi dada para fazer dinheiro, para ter êxito
ou para conseguir um bem-estar pessoal, mas para nos tornarmos irmãos.
Se pudéssemos ver o projeto de Deus com a transparência
com que o vê Jesus e compreender com um só olhar
o sentido último da existência,
dar-nos-íamos conta de que o único importante é criar fraternidade.
O amor fraterno que nos leva a partilhar o que temos com os necessitados
é “a única força de crescimento”, o único que faz avançar
decisivamente a humanidade para a sua salvação.
José Antonio
Pagola.
Evangelho segundo Marcos 10, 17-30.
Naquele tempo, ia Jesus pôr-se
a caminho, quando um homem se aproximou correndo, ajoelhou diante d’Ele e lhe
perguntou:
– Bom Mestre, que hei-de fazer para alcançar a vida eterna?
– Bom Mestre, que hei-de fazer para alcançar a vida eterna?
Jesus respondeu:
– Porque me chamas bom? Ninguém é bom senão Deus. Tu sabes os mandamentos: ‘Não mates; não cometas adultério; não roubes; não levantes falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e mãe’.
– Porque me chamas bom? Ninguém é bom senão Deus. Tu sabes os mandamentos: ‘Não mates; não cometas adultério; não roubes; não levantes falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e mãe’.
O homem disse a Jesus:
– Mestre, tudo isso tenho eu cumprido desde a juventude.
– Mestre, tudo isso tenho eu cumprido desde a juventude.
Jesus olhou para ele com
simpatia e respondeu:
– Falta-te uma coisa: vai vender o que tens, dá o dinheiro aos pobres, e terás um tesouro no céu.
– Falta-te uma coisa: vai vender o que tens, dá o dinheiro aos pobres, e terás um tesouro no céu.
Depois,
vem e segue-Me.
Ouvindo estas palavras,
anuviou-se-lhe o semblante e retirou-se pesaroso, porque era muito rico.
Então Jesus, olhando à
volta, disse aos discípulos:
– Como é difícil para os que têm riquezas entrar no reino de Deus!
Os discípulos ficaram admirados com estas palavras. Mas Jesus afirmou-lhes de novo:
– Meus filhos, como é difícil o rico entrar no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus.
– Como é difícil para os que têm riquezas entrar no reino de Deus!
Os discípulos ficaram admirados com estas palavras. Mas Jesus afirmou-lhes de novo:
– Meus filhos, como é difícil o rico entrar no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus.
Eles admiraram-se ainda mais
e diziam uns aos outros:
– Quem pode então salvar-se?
Fitando neles os olhos,
Jesus respondeu:
– Aos homens é impossível, mas não a Deus, porque a Deus tudo é possível
– Aos homens é impossível, mas não a Deus, porque a Deus tudo é possível
Pedro começou a dizer-lhe:
– Vê como nós deixámos tudo para te seguir.
– Vê como nós deixámos tudo para te seguir.
Jesus respondeu:
– Em verdade vos digo: todo aquele que tenha deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou terras, por minha causa e por causa do Evangelho, receberá cem vezes mais, já neste mundo, em casas, irmãos, irmãs, mães, pais filhos e terras, juntamente com perseguições, e, no mundo futuro, a vida eterna.
– Em verdade vos digo: todo aquele que tenha deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou terras, por minha causa e por causa do Evangelho, receberá cem vezes mais, já neste mundo, em casas, irmãos, irmãs, mães, pais filhos e terras, juntamente com perseguições, e, no mundo futuro, a vida eterna.
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COMENTÁRIO
O caminho aberto
por Jesus
Um homem
aproxima-se de Jesus a correr, mostrando
necessidade de busca e inquietação interior. Não pergunta em geral; quer saber
o que é que tem que fazer pessoalmente.
No texto aparece um breve relato de vocação: o Reino como busca e convite ao seguimento.Jesus começa a falar da bondade de Deus. A seguir recorda os mandamentos. Não menciona os primeiros, os que se referem aos deveres religiosos e aos deveres para Deus. Como sempre, Jesus remete para os irmãos e irmãs, para as relações humanas.
Este
homem construiu um sistema religioso moral que, dando-lhe segurança, lhe permite ordenar a
sua vida. Tudo está no seu lugar. Não arrisca a vida nem conhece a liberdade
interior porque está sujeito à lei. É o protótipo de quem se limita a cumprir.
Essa
atitude não é fonte de alegria. O seguimento de Jesus não se pode colocar em
termos de “cumprimento de mínimos” ou de ‘”obediência moral”. Não basta ser
bons; trata-se de fazer o bem.
“Jesus
olhou para ele com simpatia :...”
Neste
texto vemos Jesús a falar com especial força e intensidade. Três vezes se fala
do seu olhar.
Olha com
carinho o homem na hora de lhe pedir o que lhe faltava (v. 21).
Olha com
profundidade à sua volta ao pronunciar a severa sentença sobre os ricos (v.
23).
Olha com
benevolência os discípulos para lhes infundir tranquilidade, e lhes diz que
nada é impossível para Deus (v.27).
São três
olhares carregados de bondade, força profética e alento amistoso.
São três
olhares que assinalam o caminho para a liberdade e a Vida.
Frente à
preocupação pelo “mais além”, Jesus
acentua o “mais aquém”.
O convite de
Jesus não supõe renúncia nem sacrifício, mas a imensa alegria de ter encontrado o maior
tesouro.
A lógica do Reino não é açambarcar e possuir, mas partilhar.
A lógica do Reino não é açambarcar e possuir, mas partilhar.
Jesus olha-me com carinho, ajuda-me a descobrir o que é que me falta. Sair da mediocridade e da rotina? Libertar-me do consumismo?
Libertar-me
da lei? Familiarizar-me com o seu estilo
de vida?
Viver de
maneira mais decidida, mais intensa, mais apaixonada?
Descobrir
a Deus como riqueza? ... Já. Depois de ter vendido e partilhado,
Jesus dá mais um passo: Segue-Me, percorre comigo o caminho.
O chamamento de Jesus não faz de nós só
discípulos, mas seguidores.
Seguir é identificar-se com Jesus e ter
uma relação estreita com Ele. É fazer da sua fé a nossa fé e fazer da sua
esperança a nossa esperança. Adaptar o nosso tempo os seus critérios, as suas atitudes, a sua vida.
O
convite é para todos e repete-se cada dia. A resposta também se tem de renovar
todos os dias.
Jesus
sabia muito bem que todo o tipo de riquezas tiram asas e capacidade de voo à
liberdade e dificultam o caminho para a Vida.
Encontramo-nos,
a nível pessoal e comunitário, como o jovem rico que se afastou triste, porque
possuía muitos bens, quando Jesus o chamou para que fosse seu discípulo?
Algo
falha na nossa vida cristã quando somos capazes de viver desfrutando e possuindo coisas supérfluas, sem nos
sentirmos interpelados pela mensagem de Jesus e pelas necessidades das pessoas
que não têm nem o necessário.
Uma grande fortuna é uma grande escravidão
(Séneca).
Jesus é
severo com as riquezas, efeito e causa do empobrecimento de muitas pessoas.Trata-se
de pôr a confiança em Deus e não no dinheiro e no poder. Começar pelo desprendimento, por nos libertarmos das
necessidades que nos criam e nos criamos, por deixar de nos apropriarmos e de
açambarcar o que corresponde aos que não têm o necessário para uma vida digna.
Cada um
de nós, na nossa situação concreta, teremos que deixar tudo, atender às
necessidades dos outros e caminhar cada dia
atrás de Jesus.
Jesus é
sempre Boa Notícia. Anuncia-nos que Ele nos salva, nos liberta do apego às
riquezas, de tudo o que nos aprisiona e nos impede caminhar e nos tornarmos pessoas solidárias,
austeras, generosas e ser assim mais
livres e mais felizes.
Com Ele tudo é possível. Ele é a nossa
alegria, a nossa força e nosso guia.
Parece que os discípulos de Jesus esperam uma recompensa, que continuam sem entender
que o Reino não é conquista humana, mas dom gratuito. “De graça o recebestes;
dai-o de graça" (Mateus 10, 8 ).
O convite a “deixar tudo” e ser pobres, é
para todas as pessoas crentes. Não é exclusivo para os que decidem viver
celibatários e em comunidade.
A promessa de Jesus não é carência, mas
plenitude.
Jesus
menciona o pai entre as coisas que se deixam, mas não entre as que se
recuperam. A comunidade que Jesus quer é
fraternal, as relações internas horizontais, é uma família onde ninguém tem
poder absoluto. Um só é o Pai, Ele é o
fundamento da fraternidade.
O olhar de Jesus
Contempla o olhar de Jesus.
Deixa-te olhar por uns olhos que vêem muito mais adentro
do que vêem os outros e do que tu vês de ti mesmo.
Deixa-te olhar por uns olhos que vêem muito mais adentro
do que vêem os outros e do que tu vês de ti mesmo.
Fia-te mais nos seus olhos que dos teus;
crê que o seu olhar pode fazer de ti um discípulo, uma discípula.
Pede-lhe que te ensine a olhar assim os outros,
que te faça como Ele, incapaz de sentenciar ninguém, de condenar ninguém, de pensar de alguém que não é capaz de mudar...
que te faça como Ele, incapaz de sentenciar ninguém, de condenar ninguém, de pensar de alguém que não é capaz de mudar...
Dolores
Aleixandre
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