Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

domingo, 14 de outubro de 2012

“Como é difícil o rico entrar no reino de Deus!” – Por quê?



È muito cohecida a cena do Evangelho segundo Marcos (capítulo 10, 17-30), que mostra um homem rico conversando com Jesus. Jesus estava passando por ali, quando o homem chegou “correndo” para poder encontrar Jesus e lhe fazer algumas perguntas que, certamente, norteavam o seu coração. Tudo estava certo, correto... mas, faltava alguma coisa. O quê...?

Quando o homem retirou-se,  Jesus falou sobre o perigo das riquezas. As suas palavras  “Como é difícil o rico entrar no reino de Deus!” - ainda hoje causam muitas controvérsias.

Como entender essas palavras? Como interpretá-las  para saber o que Jesus realmente disse?

Trago aqui, no blog Indagações,  o comentário de  Asun Gutiérrez Cabriada, que analisa esse episódio de forma maravilhosa.
Não deixe de ler.
WCejnog

[Os interessados pedem ler esse texto em apresentação de PPS, acessando o site das Monjas Beneditinas de Montesserrat:  http://www.benedictinescat.com/montserrat/imatges/Dom28B12port.pps    Trabalho muito bonito!]


Há algo muito claro no evangelho de Jesus.
A vida não nos foi dada para fazer dinheiro, para ter êxito
ou para conseguir um bem-estar pessoal, mas para nos tornarmos irmãos.

Se pudéssemos ver o projeto de Deus com a transparência
com que o vê Jesus e compreender com  um só olhar
o sentido último da existência,
dar-nos-íamos conta de que o único importante é criar fraternidade.

O amor fraterno que nos leva a partilhar o que temos com os necessitados
é “a única força de crescimento”, o único que faz avançar
decisivamente a humanidade para a sua salvação.

José Antonio Pagola.


Evangelho segundo Marcos 10, 17-30.

Naquele tempo, ia Jesus pôr-se a caminho, quando um homem se aproximou correndo, ajoelhou diante d’Ele e lhe perguntou:
– Bom Mestre, que hei-de fazer para alcançar a vida eterna?
Jesus respondeu:
– Porque me chamas bom? Ninguém é bom senão Deus. Tu sabes os mandamentos: ‘Não mates; não cometas adultério; não roubes; não levantes falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e mãe’.
O homem disse a Jesus:
– Mestre, tudo isso tenho eu cumprido desde a juventude.
Jesus olhou para ele com simpatia e respondeu:
– Falta-te uma coisa: vai vender o que tens, dá o dinheiro aos pobres, e terás um tesouro no céu.
Depois, vem e segue-Me.
Ouvindo estas palavras, anuviou-se-lhe o semblante e retirou-se pesaroso, porque era muito rico.
Então Jesus, olhando à volta, disse aos discípulos:
– Como é difícil para os que têm riquezas entrar no reino de Deus!
Os discípulos ficaram admirados com estas palavras. Mas Jesus afirmou-lhes de novo:
– Meus filhos, como é difícil o rico entrar no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus.
Eles admiraram-se ainda mais e diziam uns aos outros:
– Quem pode então salvar-se?
Fitando neles os olhos, Jesus respondeu:
– Aos homens é impossível, mas não a Deus, porque a Deus tudo é possível
Pedro começou a dizer-lhe:
– Vê como nós deixámos tudo para te seguir.
Jesus respondeu:
– Em verdade vos digo: todo aquele que tenha deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou terras, por minha causa e por causa do Evangelho, receberá cem vezes mais, já neste mundo, em casas, irmãos, irmãs, mães, pais filhos e terras, juntamente com perseguições, e, no mundo futuro, a vida eterna.
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COMENTÁRIO

O caminho aberto por Jesus

Um homem aproxima-se de Jesus  a correr, mostrando necessidade de busca e inquietação interior. Não pergunta em geral; quer saber o que é que tem que fazer pessoalmente.

No texto aparece um breve relato de vocação: o Reino como busca e convite ao seguimento.Jesus começa a falar da bondade de Deus. A seguir recorda os mandamentos. Não menciona os primeiros, os que se referem aos deveres religiosos e aos deveres para Deus. Como sempre, Jesus remete para os irmãos e irmãs, para as relações humanas.

Este homem construiu um sistema religioso moral que,  dando-lhe segurança, lhe permite ordenar a sua vida. Tudo está no seu lugar. Não arrisca a vida nem conhece a liberdade interior porque está sujeito à lei. É o protótipo de quem se limita a cumprir.
Essa atitude não é fonte de alegria. O seguimento de Jesus não se pode colocar em termos de “cumprimento de mínimos” ou de ‘”obediência moral”. Não basta ser bons; trata-se de fazer o bem.

“Jesus olhou para ele com simpatia :...”

Neste texto vemos Jesús a falar com especial força e intensidade. Três vezes se fala do seu olhar.

Olha com carinho o homem na hora de lhe pedir o que lhe faltava (v. 21).
Olha com profundidade à sua volta ao pronunciar a severa sentença sobre os ricos (v. 23).
Olha com benevolência os discípulos para lhes infundir tranquilidade, e lhes diz que nada é impossível para Deus (v.27).

São três olhares carregados de bondade, força profética e alento amistoso.
São três olhares que assinalam o caminho para a liberdade e a Vida.
Frente à preocupação pelo “mais além”,  Jesus acentua o “mais aquém”.

O convite de Jesus não supõe renúncia nem sacrifício,  mas a imensa alegria de ter encontrado o maior tesouro.
A lógica do Reino não é açambarcar e possuir, mas partilhar.

Jesus olha-me com carinho, ajuda-me a descobrir o que é que me falta. Sair da mediocridade e da rotina? Libertar-me do consumismo?
Libertar-me da lei?  Familiarizar-me com o seu estilo de vida?
Viver de maneira mais decidida, mais intensa, mais apaixonada?
Descobrir a Deus como riqueza? ... Já. Depois de ter vendido e partilhado,

Jesus dá mais um passo: Segue-Me, percorre comigo o caminho

O chamamento de Jesus não faz de nós só discípulos, mas seguidores.
Seguir é identificar-se com Jesus e ter uma relação estreita com Ele. É fazer da sua fé a nossa fé e fazer da sua esperança a nossa esperança. Adaptar o nosso tempo os seus critérios, as suas atitudes, a sua vida.
O convite é para todos e repete-se cada dia. A resposta também se tem de renovar todos os dias.

Jesus sabia muito bem que todo o tipo de riquezas tiram asas e capacidade de voo à liberdade e dificultam o caminho para a Vida.

Encontramo-nos, a nível pessoal e comunitário, como o jovem rico que se afastou triste, porque possuía muitos bens, quando Jesus o chamou para que fosse seu discípulo? 

Algo falha na nossa vida cristã quando somos capazes de viver desfrutando e  possuindo coisas supérfluas, sem nos sentirmos interpelados pela mensagem de Jesus e pelas necessidades das pessoas que não têm nem o necessário.

Uma grande fortuna é uma grande escravidão (Séneca).

Jesus é severo com as riquezas, efeito e causa do empobrecimento de muitas pessoas.Trata-se de pôr a confiança em Deus e não no dinheiro e no poder. Começar  pelo desprendimento, por nos libertarmos das necessidades que nos criam e nos criamos, por deixar de nos apropriarmos e de açambarcar o que corresponde aos que não têm o necessário para uma vida digna.

Cada um de nós, na nossa situação concreta, teremos que deixar tudo, atender às necessidades dos outros e caminhar cada dia  atrás de Jesus.

Jesus é sempre Boa Notícia. Anuncia-nos que Ele nos salva, nos liberta do apego às riquezas, de tudo o que nos aprisiona e nos impede caminhar  e nos tornarmos pessoas solidárias, austeras,  generosas e ser assim mais livres e mais felizes.

Com Ele tudo é possível. Ele é a nossa alegria, a nossa força e nosso guia.

Parece que os discípulos de Jesus esperam uma recompensa, que continuam sem entender que o Reino não é conquista humana, mas dom gratuito. “De graça o recebestes; dai-o de graça" (Mateus 10, 8 ).

O convite a “deixar tudo” e ser pobres, é para todas as pessoas crentes. Não é exclusivo para os que decidem viver celibatários e em comunidade.
A promessa de Jesus não é carência, mas plenitude.

Jesus menciona o pai entre as coisas que se deixam, mas não entre as que se recuperam.  A comunidade que Jesus quer é fraternal, as relações internas horizontais, é uma família onde ninguém tem poder absoluto. Um só é o Pai, Ele é o fundamento da fraternidade.

O olhar de Jesus

Contempla o olhar de Jesus.
Deixa-te olhar por uns olhos que vêem muito mais adentro
do que vêem os outros e do que tu vês de ti mesmo.

Fia-te mais nos seus olhos que dos teus;
crê que o seu olhar pode fazer de ti um discípulo, uma discípula.

Pede-lhe que te ensine a olhar assim os outros,
que te faça como Ele, incapaz de sentenciar ninguém, de condenar ninguém,  de pensar de alguém que não é capaz de mudar...

Dolores Aleixandre
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