Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Jubileu do Concílio Vaticano II. Aconteceu uma grande renovação? E o “aggiornamento”?



No dia 11 de outubro de 1962 foi oficialmente inaugurado o Concílio Ecumênico Vaticano II pelo papa João XXIII. Foram realizadas 4 sessões durante os três anos subseqüentes. Nesse  mesmo tempo, após a morte do papa João XXIII,  foi eleito o novo papa – Paulo VI. Foi ele que presidiu o encerramento do Concílio Vaticano II no dia 08 de dezembro de 1965 e aplicou os seus documentos. 

Portanto, comemoramos agora, nestes dias,  justamente 50 anos da inauguração desse grande evento que nos últimos 50 anos marcou profundamente a Igreja Católica e teve – sem dúvida nenhuma - a grande importância também para o mundo todo. 

É uma data propícia para avaliações, análises e opiniões sobre esse tema. Oxalá que  toda a Igreja Católica aproveite esta oportunidade para fazer um profundo “exame de consciência”. Para quê? – Para  continuar, ainda com maior fervor, a realizar as boas obras – o fruto das reformas  assumidas no Concílio Vaticano II, e para reconhecer que também foram cometidos os erros  e as omissões, que  atrapalharam e ainda atrapalham esse “aggiornamento” da Igreja no mundo atual e moderno. 

Ao meu ver, com o Concílio Vaticano II as “portas” foram abertas e muitos, com entusiasmo e imensa alegria, passaram por elas. Porém, muitos não compreenderam a  necessidade de atravessá-las: teve gente que ficou com medo de avançar; teve gente que preferiu ficar atrás, agarrada à nostalgia e aparente “segurança” do passado, e teve também aqueles que não deixaram  outros passar adiante (e continuam, não deixando!). Resultado: triste constatação que a Igreja “perdeu ritmo” e está “ficando para trás” nesse caminho dos homens rumo ao Reino de Deus. Alguns apostam que basta aplicar as  “maquiagens”, imitar os outros e/ou voltar aos velhos métodos do passado, para a Igreja de novo “reaparecer” na frente. Mas, será que esta  seria a solução? Aliás, a realidade presente (e pesquisas!) demonstram que não.  Seriamente, o “aggiornamento” não é -   e não pode ser -  entendido desta forma.  Na certa, a própria  história julgará esses fatos.

Talvez hoje já seja necessário o “aggiornamento” atualizado e adaptado aos nossos tempos...  Diz o ditado que uma  das coisas que não se pode voltar atrás, é a oportunidade perdida. Portanto – creio eu - é urgente sentir o sopro do Espírito e  não perder mais tempo. Não  é verdade?

Para quem estiver interessado em conhecer um pouco mais sobre este assunto, sobretudo em relação à América Latina e Caribe,  trago para o blog Indagações, uma reflexão muito interessante que foi publicada recentemente no ADITAL¹.  É o artigo do Pedro A. Ribeiro de Oliveira. Recomendo.
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Comemorar os 50 anos do Concílio Ecumênico de 1962-65

Pedro A. Ribeiro de Oliveira²

ADITAL -  13.09.12 - Mundo

O verbo "comemorar” significa "juntar-se a outras pessoas para fazer a memória” e traz implícito o sentimento de alegria que perpassa esse encontro. E disso se trata: trazer para o tempo atual aquele grande evento de meio século atrás. Habitualmente se identificam os concílios pelo local – e não pela época – de sua realização. Mas no caso desta comemoração é muito mais importante datar o evento do que sua localização na cidade-estado do Vaticano. Neste breve artigo quero destacar seu caráter de mudança de época.
Os anos de 1945 a 1973 ficaram conhecidos como "anos dourados”, porque entre o término da guerra e a primeira crise do petróleo o desenvolvimento das forças produtivas provocou profundas transformações sociais, culturais e políticas em todas as partes do mundo. É nesse contexto que se inscreve a grande reunião do episcopado católico, a pedido dos Papas João XXIII e Paulo VI, para "colocar em dia” a Igreja Católica nesse mundo que iniciava seu processo de globalização. Por mais que a "tradição dos Pios”(1) ainda fosse hegemônica entre o clero encastelado nas cúrias eclesiásticas, já era evidente seu anacronismo diante do mundo moderno prestes a entrar na revolução cultural que eclode em 1968. As pesquisas sócio-religiosas apenas confirmavam o que qualquer pessoa atenta aos fatos podia observar: a crescente desafeição dos fiéis pelas normas e doutrinas em vigor na Igreja católica romana. Foi o abalo institucional provocado pelo caráter ecumênico do concílio que permitiu seu diálogo com a modernidade.

O concílio foi ecumênico não só por reunir bispos de todo o mundo –inclusive estadunidenses incapazes de se expressarem em latim– quanto por seu espírito de abertura a outras Igrejas cristãs. A velha cúria romana, que se via e era vista como indispensável ao Papado – e, por conseguinte, à unidade da Igreja universal – de repente se vê ultrapassada pela colegialidade episcopal.

A aliança estratégica formada pelos "padres conciliares” em sintonia com o papa derruba a fortaleza da cúria romana e faz avanços notáveis no campo teológico, bíblico, litúrgico e sociopolítico. Foi como um arado que desmancha os restos da antiga plantação ao preparar o terreno para nova semeadura. E assim, passados apenas três anos, novos campos estavam semeados e já começavam a frutificar.

As Igrejas da América Latina e Caribe receberam os frutos do Concílio ecumênico não somente para saboreá-los, mas também para deles tirarem novas sementes a serem plantadas em seus campos. Eram tempos difíceis, marcados por ditaduras militares, violações de direitos humanos, resistência armada e, principalmente, o esmagamento dos direitos dos pobres. A assembléia episcopal de Medellín, em 1968, traça as diretrizes pastorais que adaptarão aquelas sementes aos solos de Nossa América. Em pouco tempo elas desabrocham num novo modo de ser Igreja(2) que engloba as Comunidades Eclesiais de Base, as Pastorais sociais e as Conferências episcopais; a teologia que lhe serve de fundamento será conhecida por sua proposta de Libertação face às estruturas opressoras em vigor em nossas sociedades; enfim, a explicitação da opção preferencial pelo pobres –presente já na própria convocação do Concílio – vem completar o quadro estrutural desse catolicismo recomposto desde suas fontes neotestamentárias rejuvenescidas pelo Concílio de 1962-65.

Quando tudo indicava que a Igreja católica, renovada desde dentro, partiria em missão no mundo conturbado pela "guerra fria” para proclamar a boa nova da Paz com Justiça, ocorre o inesperado retorno da antiga aliança entre o Papa e a Cúria Romana, enfraquecendo-se a colegialidade episcopal universal e o ecumenismo. Com efeito, apesar de afirmarem sua adesão à teologia consagrada pelo Concílio, os dois últimos papas governaram a Igreja como se lhes bastasse o apoio das congregações romanas. Nesse contexto, as Igrejas particulares que seguem levando em frente às propostas do Concílio se vêem marginalizadas por Roma, como se não fossem, também elas, concretizações legítimas da mesma Igreja católica.

É, portanto, muito oportuno – e muito bom! – promover encontros e reuniões onde se torne presente, ao fazer-se a memória, o evento do Concílio Ecumênico de 1962-65.


Notas:
(1)   Uso a expressão de J. B. Libanio para referir-se ao catolicismo em vigor desde Pio VI até Pio XII (1775-1958).
(2) Essa expressão foi usada no documento nº 25 da CNBB sobre as CEBs (1982, 5). Sua recepção nas próprias comunidades foi tão boa que se tornou como que o seu lema até os dias de hoje.
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² Pedro Ribeiro de Oliveira é doutor em Sociologia pela Universite Catholique de Louvain, na Bélgica. Atualmente, é professor da PUC Minas. Dentre suas obras, destacamos Fé e Política: fundamentos (Aparecida: Idéias & Letras, 2004), Reforçando a rede de uma Igreja missionária (São Paulo: Paulinas, 1997) e Religião e dominação de classe (Petrópolis:Vozes, 1985).
 
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