Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

domingo, 14 de outubro de 2012

Magistério de Igreja. Qual é a sua importância?



A Igreja Católica está convicta  que conseguiu, desde o início até os  tempos atuais, preservar e guardar  o “depósito da fé”,  que o próprio  Jesus Cristo lhe confiou. Fala-se em infalibilidade da Igreja e do papa, fala-se também  do Magistério da Igreja – o que suscitava sempre, e ainda gera, muitos comentários e críticas negativas, sobretudo da parte dos seus adversários. É óbvio que este assunto é um “prato cheio” para quem não comunga as mesmas idéias e se coloca do lado oposto.

Mas, mesmo nós -  católicos - será que entendemos bem essas questões? É bom termos clareza como realmente a doutrina católica entende a questão da sua tarefa de proteger “o tesouro da fé”.

O texto abaixo,  de autoria de Ferdinand Krenzer¹, fala sobre a infalibilidade da Igreja e analisa o papel do  Magistério da  Igreja Católica nessa tarefa.  Não deixe de ler.
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Para poder acompanhar com facilidade a reflexão do autor e aproveitar ao máximo as explicações é aconselhável  ler desde o início todos os seus  textos sobre este assunto (começo no dia 03 de agosto de 2012  - http://indagacoes-walenty.blogspot.com.br/2012/08/para-entender-o-cristianismo-qual-e-sua.html  ).

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O Magistério da Igreja

Quem poderia me garantir que na doutrina cristã eu realmente encontro-me com a mensagem de Cristo?
Sempre existirão dúvidas perante a  pergunta:  Como deve-se entender a palavra de Jesus Cristo? Até as questões principais têm interpretações, às vezes, completamente diferentes  pelas diversas vertentes cristãs. Por esta razão a palavra da Bíblia exige explicação. Ela  é a palavra humana, que somente de uma maneira muito imperfeita consegue expressar os conteúdos revelados. Portanto, deve existir alguma autoridade que aponte como devem ser entendidas as palavras contidas nas Sagradas Escrituras. Caso contrário, os  homens não saberiam em que confiar  e o que seguir. Jesus Cristo  conferiu aos homens uma obrigação séria para acreditarem,  e a isso, então,  acompanharia uma incerteza geral aonde pudesse  ser encontrada a verdade. O número de seitas confirma que só o fato da revelação Divina ainda não basta para que o depósito da fé permaneça  inabalado. Torna-se necessário ter um ofício especial de ensinar isso, quer dizer, necessário é o Magistério.

Já a Igreja primitiva teve a consciência da ajuda Divina, que  recebia nas decisões acerca dos problemas da fé. No capítulo 15 dos Atos  dos Apóstolos lemos como os Apóstolos e os anciões reúnem-se para importantes debates; eles sabem que o Espírito Santo está com eles. Por isso lhes  é permitido a anunciar a conclusão final  dessa reunião com as palavras: “Decidimos pois, o Espírito Santo, e nós [...]”.

Este exemplo demonstra ao mesmo tempo quem  é sujeito e o guardião dessa infalibilidade. Com certeza não o é um fiel e nem algum bispo concreto; um e outro podem errar nas questões da fé, mas a Igreja tomada como um todo não pode cair no erro em relação às questões da fé, porque o próprio Jesus Cristo a protege  contra essa eventualidade. Essa comunicação coletiva, que é o objeto da fé da Igreja, concretiza-se na reunião de todos os bispos da Igreja de Cristo. São eles que  constituem o Magistério da Igreja. Daqui, segundo a doutrina católica, os  bispos que têm a sucessão apostólica, quando se manifestam juntos, são infalíveis quando apresentam o seu ensinamento sobre as questões da fé e da moralidade, como sendo doutrina definitiva e obrigatória.

A infalibilidade pode-se manifestar ainda  de outra forma. Como proceder,  por exemplo -  e isso já aconteceu várias vezes na história da Igreja – quando algumas grandes partes dela polemizavam sobre o problema essencial da fé?  Quando até os bispos possam ter as dúvidas onde  fica a verdade?

Nesses casos, conforme a tradição histórica, quem decidia a questão era o bispo romano. Ele é o guardião da unidade e da verdade no colégio dos bispos. Nos primeiros séculos do cristianismo, todos os hereges  tentavam conseguir o  apoio do bispo de Roma para as  suas convicções.  Ele, como a última  instância em questões da fé e da moral (mas somente nelas),  é infalível,  quando, usando da sua máxima autoridade de pregação,  anuncia  para toda a Igreja, alguma verdade de modo definitivo (quando fala “ex cathedra”). A ele  referem-se,  neste caso, as palavras de Jesus Cristo, que foram dirigidas ao São Pedro: “..., mas eu roguei por ti, para tua fé  não desfalecer; e tu, uma vez convertido, confirma os  irmãos” (Lc 22, 32). Um caso assim acontece, sem dúvida, muito raramente. Na prática, o bispo romano nunca emite uma decisão definitiva e solene deste  tipo sem antes ter a certeza da opinião do colégio dos  bispos. Ademais, mesmo porque o papa só poderia apresentar como obrigatório à fé unicamente o que constitui o depósito da fé de toda a Igreja Católica (universal). Pois, ele também é um fiel, que recebeu a sua fé – como todos os outros fiéis – da Igreja. O Magistério da Igreja nunca  pode estar  acima da palavra de Deus, mas somente existe para servi-la.

Ao longo dos últimos séculos são  conhecidos apenas duas decisões papais desse tipo: no ano 1854 – sobre a Imaculada Concepção de Maria, e em 1954 – sobre a Assunção de Maria. Mas, até mesmo nestes dois casos não se trata de questões que o papa decidiu  por sua conta, mas ao contrário, todos os bispos foram consultados nessa matéria, do jeito que mais certo seria dizer, que  aquelas foram as decisões infalíveis de todo o Magistério da Igreja, do qual  fazem parte todos os bispos.

No Magistério da Igreja dificilmente pode-se observar  a pretensão e arrogância, diante das quais deveríamos ficar calados. Não, porque também  nisso a Igreja serve ao homem. Como o ser humano quando  se encontra numa escuridão gostaria de se segurar em alguma coisa, assim também nos problemas da fé. E graças a isso, o homem  pode dizer: “Sei em quem eu pus minha confiança e estou certo de que é bastante poderoso para guardar meu depósito até aquele dia” (2Tm 1, 12).

(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 157-158)³
Continua...
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¹  Krenzer Ferdinand (nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, 08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus) foi um teólogo católico alemão, sacerdote e escritor na aposentadoria.

² Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português), com uma pequena atualização dos dados, quando necessário.  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”. [N. Do T.]

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