A Igreja Católica está convicta que conseguiu, desde o início até os tempos atuais, preservar e guardar o “depósito da fé”, que o próprio Jesus Cristo lhe confiou. Fala-se em
infalibilidade da Igreja e do papa, fala-se também do Magistério da Igreja – o que suscitava
sempre, e ainda gera, muitos comentários e críticas negativas, sobretudo da
parte dos seus adversários. É óbvio que este assunto é um “prato cheio” para
quem não comunga as mesmas idéias e se coloca do lado oposto.
Mas, mesmo nós - católicos - será que entendemos bem essas
questões? É bom termos clareza como realmente a doutrina católica entende a
questão da sua tarefa de proteger “o tesouro da fé”.
O texto abaixo,
de autoria de Ferdinand Krenzer¹, fala sobre a infalibilidade da Igreja
e analisa o papel do Magistério da Igreja Católica nessa tarefa. Não deixe de ler.
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Para poder
acompanhar com facilidade a reflexão do autor e aproveitar ao máximo as
explicações é aconselhável ler desde o
início todos os seus textos sobre este
assunto (começo no dia 03 de agosto de 2012
- http://indagacoes-walenty.blogspot.com.br/2012/08/para-entender-o-cristianismo-qual-e-sua.html ).
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O Magistério da Igreja
Quem poderia me garantir que na
doutrina cristã eu realmente encontro-me com a mensagem de Cristo?
Sempre existirão dúvidas perante
a pergunta: Como deve-se entender a palavra de Jesus
Cristo? Até as questões principais têm interpretações, às vezes, completamente
diferentes pelas diversas vertentes
cristãs. Por esta razão a palavra da Bíblia exige explicação. Ela é a palavra humana, que somente de uma
maneira muito imperfeita consegue expressar os conteúdos revelados. Portanto,
deve existir alguma autoridade que aponte como devem ser entendidas as palavras
contidas nas Sagradas Escrituras. Caso contrário, os homens não saberiam em que confiar e o que seguir. Jesus Cristo conferiu aos homens uma obrigação séria para
acreditarem, e a isso, então, acompanharia uma incerteza geral aonde pudesse
ser encontrada a verdade. O número de
seitas confirma que só o fato da revelação Divina ainda não basta para que o
depósito da fé permaneça inabalado.
Torna-se necessário ter um ofício especial de ensinar isso, quer dizer,
necessário é o Magistério.
Já a Igreja primitiva teve a
consciência da ajuda Divina, que recebia
nas decisões acerca dos problemas da fé. No capítulo 15 dos Atos dos Apóstolos lemos como os Apóstolos e os
anciões reúnem-se para importantes debates; eles sabem que o Espírito Santo
está com eles. Por isso lhes é permitido
a anunciar a conclusão final dessa
reunião com as palavras: “Decidimos pois,
o Espírito Santo, e nós [...]”.
Este exemplo demonstra ao mesmo
tempo quem é sujeito e o guardião dessa
infalibilidade. Com certeza não o é um
fiel e nem algum bispo concreto; um e outro podem errar nas questões da fé, mas
a Igreja tomada como um todo não pode cair no erro em relação às questões da
fé, porque o próprio Jesus Cristo a protege
contra essa eventualidade. Essa comunicação coletiva, que é o objeto da
fé da Igreja, concretiza-se na reunião de todos os bispos da Igreja de Cristo.
São eles que constituem o Magistério da
Igreja. Daqui, segundo a doutrina católica, os
bispos que têm a sucessão apostólica, quando se manifestam juntos, são
infalíveis quando apresentam o seu ensinamento sobre as questões da fé e da
moralidade, como sendo doutrina definitiva e obrigatória.
A infalibilidade pode-se
manifestar ainda de outra forma. Como
proceder, por exemplo - e isso já aconteceu várias vezes na história
da Igreja – quando algumas grandes partes dela polemizavam sobre o problema
essencial da fé? Quando até os bispos
possam ter as dúvidas onde fica a
verdade?
Nesses casos, conforme a tradição
histórica, quem decidia a questão era o bispo romano. Ele é o guardião da
unidade e da verdade no colégio dos bispos. Nos primeiros séculos do
cristianismo, todos os hereges tentavam
conseguir o apoio do bispo de Roma para
as suas convicções. Ele, como a última instância em questões da fé e da moral (mas
somente nelas), é infalível, quando, usando da sua máxima autoridade de
pregação, anuncia para toda a Igreja, alguma verdade de modo
definitivo (quando fala “ex cathedra”). A ele
referem-se, neste caso, as
palavras de Jesus Cristo, que foram dirigidas ao São Pedro: “..., mas eu roguei por ti, para tua fé não desfalecer; e tu, uma vez convertido,
confirma os irmãos” (Lc 22, 32). Um
caso assim acontece, sem dúvida, muito raramente. Na prática, o bispo romano
nunca emite uma decisão definitiva e solene deste tipo sem antes ter a certeza da opinião do
colégio dos bispos. Ademais, mesmo
porque o papa só poderia apresentar como obrigatório à fé unicamente o que
constitui o depósito da fé de toda a Igreja Católica (universal). Pois, ele
também é um fiel, que recebeu a sua fé – como todos os outros fiéis – da
Igreja. O Magistério da Igreja nunca
pode estar acima da palavra de
Deus, mas somente existe para servi-la.
Ao longo dos últimos séculos
são conhecidos apenas duas decisões papais
desse tipo: no ano 1854 – sobre a Imaculada Concepção de Maria, e em 1954 –
sobre a Assunção de Maria. Mas, até mesmo nestes dois casos não se trata de
questões que o papa decidiu por sua
conta, mas ao contrário, todos os bispos foram consultados nessa matéria, do
jeito que mais certo seria dizer, que
aquelas foram as decisões infalíveis de todo o Magistério da Igreja, do
qual fazem parte todos os bispos.
No Magistério da Igreja
dificilmente pode-se observar a
pretensão e arrogância, diante das quais deveríamos ficar calados. Não, porque
também nisso a Igreja serve ao homem.
Como o ser humano quando se encontra
numa escuridão gostaria de se segurar em alguma coisa, assim também nos
problemas da fé. E graças a isso, o homem pode dizer: “Sei em quem eu pus minha confiança e estou certo de que é bastante
poderoso para guardar meu depósito até aquele dia” (2Tm 1, 12).
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions
Du Dialogue, 1981, p. 157-158)³
Continua...
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¹ Krenzer Ferdinand
(nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, †
08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus)
foi um teólogo católico alemão,
sacerdote e escritor na aposentadoria.
² Obs.: As reflexões
do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o
leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os
temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados
neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição
no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português), com uma
pequena atualização dos dados, quando necessário. O título original: “Morgen wird man wieder
Glauben”. [N. Do T.]
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