O
artigo que trago hoje para o blog Indagações aponta para todos os católicos,
sem exceções, para a necessidade de
refletirmos, com toda seriedade, sobre o que devemos fazer para que a Igreja
realmente seja de Jesus Cristo, e não fique desfragmentada e descaracterizada,
“dividida” em muitos modelos, seguindo várias vertentes que,
ás vezes, chegam a ser até
opostas ou contraditórias entre si. E sabemos que assim não deveria ser, que alguma
coisa está errada! Mas, o que fazer? Uma dica sempre atual, indicaria, com
certeza, a direção certa: “Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça”.
Será que entendemos o que isso significa?
E
o momento atual, em que se encontra a Igreja Católica, talvez seja uma boa
ocasião para todos procurarmos respostas justas e certas para essas indagações.
O
artigo, mecionado acima, é de José Maria Castillo, e foi publicado no site do
Instituto Humanitas Unisinos, na semana passada. É uma leitura muito
interessante.
Não
deixe de ler.
WCejnog
Notícias
Quinta, 04 de
abril de 2013
A renovação na Igreja é tarefa de todos
“Ninguém coloca em dúvida que esta
possível (inclusive provável) renovação da Igreja é uma excelente esperança,
que se deve fomentar em tudo quanto esteja ao nosso alcance. Mas, atenção! Esta
esperança de renovação está eivada de ameaças e perigos, que não são nenhuma
besteira. Nem são, desde logo, problemas imaginários”, escreve o teólogo
espanhol José Maria Castillo, em seu blog Teología sin Censura, 30-03-2013. A
tradução é do Cepat.
Eis o artigo.
O Papa Francisco, pelas coisas que
disse desde o dia em que foi eleito e, mais ainda, por sua chamativa forma
humilde e simples de se apresentar em público (já desde que era arcebispo de
Buenos Aires), despertou tais expectativas de renovação na Igreja, que, com
razão, viu-se nele uma evocação de João
XXIII. O recente livro de José Manuel Vidal e Jesús Bastante deixa
claro este aspecto do novo Papa. Para não falar dos intermináveis comentários,
no mesmo sentido, que a mídia divulga diariamente e que, em quantidades
assombrosas, circulam pela internet. É evidente que são muitos os católicos que
veem a renovação da Igreja não apenas como uma possibilidade, mas inclusive
como uma probabilidade próxima.
Ninguém coloca em dúvida que esta
possível (inclusive provável) renovação da Igreja é uma excelente esperança,
que se deve fomentar em tudo quanto esteja ao nosso alcance. Mas, atenção! Esta
esperança de renovação está eivada de ameaças e perigos, que não são nenhuma
besteira. Nem são, desde logo, problemas imaginários.
Para começar, o mais importante de tudo é que a renovação da Igreja não depende apenas do Papa. Por mais genial que seja este homem, por mais evangelicamente que viva e por mais original e firme que seja na tomada de suas decisões, a Igreja é tão grande, tão complexa e, em não poucos e importantes assuntos, uma instituição tão complicada, que um único homem não pode (nem poderá) renovar a Igreja, como ela necessita ser renovada neste momento e como estão as coisas.
Para começar, o mais importante de tudo é que a renovação da Igreja não depende apenas do Papa. Por mais genial que seja este homem, por mais evangelicamente que viva e por mais original e firme que seja na tomada de suas decisões, a Igreja é tão grande, tão complexa e, em não poucos e importantes assuntos, uma instituição tão complicada, que um único homem não pode (nem poderá) renovar a Igreja, como ela necessita ser renovada neste momento e como estão as coisas.
Não nos façamos, pois, falsas
ilusões. A renovação da Igreja depende, evidentemente e em medida destacada, do
que diga e faça o Papa. Como depende também logicamente da Cúria Vaticana. Mas,
se falamos seriamente de renovação da Igreja, não esqueçamos nunca que a Igreja
somos todos. E, portanto, depende de todos a tão esperada e desejada renovação.
Ao dizer isto, não sou tão ingênuo
para imaginar que os mais de um bilhão de crentes, que fazem parte da Igreja,
vão mudar da noite para o dia. E assim “teremos servida” a desejada renovação.
É verdade que, se o Papa muda – em seu estilo de vida e em seus ensinamentos –,
a Igreja muda e se renova. Mas, tão certo como isso é o fato de que, se o que
os católicos esperam do Papa que diga e faça o que convém ou interessa a cada,
nesse caso o poder renovador do Papa ficará limitado em não poucos assuntos. E
em coisas muito importantes nós seremos os primeiros a anular as melhores
tentativas do novo Papa.
Sejamos claros. Se, por exemplo, os
teólogos que foram censurados ou inclusive afastados de sua tarefa de ensinar
em seminários ou centros superiores de estudos eclesiásticos, esperam e querem
que o novo Papa os restitua, na “dignidade perdida!”, farão um desserviço à
Igreja.
Na Igreja, as últimas décadas foram de difícil convivência. Nos dividimos, brigamos, causamos danos uns aos outros. Com frequência, os que tiveram algum poder (embora tenha sido pouco, como creio que é o meu caso), seguramente, dissemos ou fizemos coisas que causaram sofrimento e humilharam outras pessoas. Se agora eu espero uma renovação da Igreja, que consistiria em que o Papa me desse razão e excluísse os que não pensam como eu, com semelhante esperança não procuro a renovação da Igreja. O que estaria buscando, neste caso, seria a minha própria promoção, meu triunfo sobre os outros. Agindo assim, faria o mais repugnante serviço que se pode prestar à causa de Jesus e seu Evangelho. E esse seria o pior serviço que se pode fazer à Igreja.
Na Igreja, as últimas décadas foram de difícil convivência. Nos dividimos, brigamos, causamos danos uns aos outros. Com frequência, os que tiveram algum poder (embora tenha sido pouco, como creio que é o meu caso), seguramente, dissemos ou fizemos coisas que causaram sofrimento e humilharam outras pessoas. Se agora eu espero uma renovação da Igreja, que consistiria em que o Papa me desse razão e excluísse os que não pensam como eu, com semelhante esperança não procuro a renovação da Igreja. O que estaria buscando, neste caso, seria a minha própria promoção, meu triunfo sobre os outros. Agindo assim, faria o mais repugnante serviço que se pode prestar à causa de Jesus e seu Evangelho. E esse seria o pior serviço que se pode fazer à Igreja.
Como é lógico, o que estou dizendo
deveria ser aplicado, com liberdade, audácia e transparência, do mesmo modo aos
grupos progressistas e conservadores. Do mesmo modo aos que querem mais
“observância” e aos que lutam para que na Igreja haja mais “liberdade”. Em uns
e outros, creio, são o respeito, a tolerância e a bondade os comportamentos que
tornarão possível uma Igreja que vá se capacitando para baixar, para descer,
para se aproximar dos milhões de criaturas que não pretendem estar acima de
ninguém, mas simplesmente viver em paz, com honradez, com abertura mental diante
das ideias ou projetos dos outros e, sobretudo, uma Igreja próxima dos últimos,
identificada com os que menos têm, acolhedora sempre e com todos,
independentemente das ideias e das crenças que cada um pôde assumir na sua
vida.
A cada dia que passa vejo isto mais
claramente. Todos sabem que, nos dois últimos pontificados anteriores a Francisco, os grupos
mais conservadores, precisamente porque a maioria dos bispos contava de maneira
incondicional com esses grupos, estes gozaram da proximidade de Roma, de muitos
e importantes cargos na Cúria e, evidentemente, do favor de todos e tantos
bispos. Ao mesmo tempo em que outros grupos – penso nas comunidades e teólogos
afins à Teologia da
Libertação – se sentiram esquecidos ou, ao menos,
marginalizados. Pois bem, se agora esperamos que em alguns casos os privilégios
se mantenham, ou que, em outros, haja revanches, mais ou menos dissimulados,
nos dedicaremos à indesejável tarefa de colocar mais lenha na fogueira desta
Igreja que dizemos amar, mas que na realidade amamos enquanto ela nos manteve
na boca do povo.
O fundo do problema está em que a “lógica da renovação” da Igreja não é a “lógica da razão”, mas a “lógica do Evangelho”, que é paradoxalmente a “lógica do caos”; a “desordem” que Jesus provocou com sua conduta, com seus conflitos no Templo e com os dirigentes religiosos de seu tempo. A conduta evangélica que se traduziu no “medo da bondade” e no “medo da ternura”, que o Papa Francisco pediu aos Chefes de Estado (na missa de sua nomeação oficial) que tinha que ser superado.
O fundo do problema está em que a “lógica da renovação” da Igreja não é a “lógica da razão”, mas a “lógica do Evangelho”, que é paradoxalmente a “lógica do caos”; a “desordem” que Jesus provocou com sua conduta, com seus conflitos no Templo e com os dirigentes religiosos de seu tempo. A conduta evangélica que se traduziu no “medo da bondade” e no “medo da ternura”, que o Papa Francisco pediu aos Chefes de Estado (na missa de sua nomeação oficial) que tinha que ser superado.
Evidentemente, só com bondade não se
governa nem se ajeitam as coisas. Às vezes, é preciso tomar decisões dolorosas.
Mas que sejam tomadas por quem as deve tomar. Se cada um pretende “fazer
justiça com as próprias mãos” e que o Papa dê razão a ele, às suas ideias e aos
seus interesses, faremos fracassar conjuntamente este Papa e todos os
“franciscos” que se interpuseram no torpe e desorientado caminho dos nossos
fanatismos. O caminho que muitos trilhamos, inclusive com estúpido orgulho, até
este momento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário