Durante a visita do Papa
Francisco ao Brasil, na JMJ Rio 2013, os Jovens indígenas do Tocantins
entregaram ao Papa uma carta pedindo a sua ajuda para defender a causa das
tribos indígenas no Brasil, hoje seriamente ameaçadas pelos “projetos genocidas”
se esses forem aprovados na forma de lei.
A matéria foi publicada
recentemente no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU), e agora trago-a para o blog Indagações para ajudar na
sua divulgação. Acho muito importante toda a sociedade brasileira (e não só ela!)
ter consciência do que está acontecendo hoje no Brasil em relação aos povos
indígenas e aos seus direitos, os quais nem a Carta Magna está conseguindo lhes
garantir. Quanto mais pessoas souberem do assunto, melhor.
Não deixe de ler!
Notícias
Segunda, 29 de julho de 2013
Jovens indígenas do Tocantins entregam carta ao Papa Francisco
“Os
nossos territórios estão constantemente ameaçados pelos grandes projetos, como
estradas, hidrelétricas, hidrovias, ferrovias e o agronegócio. Estes projetos
são projetos de morte para nossa Mãe Terra e para nós povos indígenas. Por isto
viemos pedir ao senhor, o amigo e defensor dos pobres, que peça ao governo
brasileiro que pare com todos os esses projetos genocidas”. O texto integra a
carta de jovens indígenas entregue ao papa
Francisco.
A
íntegra da carta é publicada pelo portal do Cimi, 28-07-2013.
Eis
a carta.
À
Vossa Santidade o Papa Francisco
Nós lideranças indígenas do estado do Tocantins, estamos muito felizes que o senhor esteja aqui no Brasil na JMJ. Confiamos que sua visita será para o Brasil luz e esperança nesta atual conjuntura.
Em
nome de todos os 305 povos indígenas do Brasil reconhecidos oficialmente, mas
também, dos povos livres que ainda se encontram nas florestas, nós jovens
indígenas do Tocantins que viemos a JMJ
o cumprimentamos com respeito, admiração e carinho.
Sabemos
que o senhor é a liderança maior da Igreja Católica, soubemos de todo o
processo de sua eleição e acreditamos que Deus o chamou para uma importante
tarefa, de forma especial com os pobres e excluídos. Não é a toa que o senhor
escolheu para chamar-se “Francisco”, o irmão dos pobres e da natureza.
Motivados
e animados por esta simplicidade e seu compromisso com os pobres e excluídos,
viemos até o senhor, para pedir-lhe que interceda pelos povos indígenas ante o
governo brasileiro. Sua Santidade deve já conhecer a situação que se vive no
Brasil, principalmente pelos últimos acontecimentos destes dois últimos meses,
tudo como consequência das políticas governamentais que só servem ao grande
capital e as grandes empresas e esquece o essencial: a vida, a justiça e a
dignidade da população.
Nós
pedimos a sua Santidade, como liderança maior que peça ao governo brasileiro
que pare todos os ataques e violências que vem fazendo contra nosso povo
indígena. Nós povos indígenas só existimos com a Terra que é nossa Mãe, com o
rio que é nosso Pai, sempre vivemos em harmonia com a natureza, sem terra somos
como uma árvore sem raiz. Por isto, viemos pedir que peça urgentemente ao
governo da presidente Dilma Rousseff, que pare com o massacre contra nossos
parentes, principalmente com o povo indígena Guarani-Kaiowá do Mato Grosso do
Sul, que sofre por ter sido expulsado de sua terra que atualmente está em mãos
dos fazendeiros. Eles matam, criminalizam e acusam de bandidos e invasores aos
povos indígenas. Tal é o caso do povo Terena no estado do Mato Groso do Sul e
do povo Munduruku no estado do Pará, assim como, em outros povos, que por
defender sua terra lideranças tem sido assassinadas covardemente.
Todos
os conflitos se dão pelo direito a terra. E esse conflito o tem provocado e
fomentado o governo brasileiro com sua política indigenista que prioriza a
exploração e roubo de nossos territórios, transformando-o em mercadoria. Por
isto, nossas terras são cobiçadas por grandes empresas que querem explorar sem
piedade as riquezas de nossas matas. Nossa Terra é sagrada, é dom de Deus que
deu aos nossos antepassados e nós não vamos deixar que nenhum governo, nem
empresa tire de nós o que é nosso: a Terra.
Os
nossos territórios estão constantemente ameaçados pelos grandes projetos, como
estradas, hidrelétricas, hidrovias, ferrovias e o agronegócio. Estes projetos
são projetos de morte para nossa Mãe Terra e para nós povos indígenas. Por isto
viemos pedir ao senhor, o amigo e defensor dos pobres, que peça ao governo
brasileiro que pare com todos os esses projetos genocidas, como são a Portaria 303
da AGU, as Propostas de Emenda á Constituição (PEC) 038, 215 e 237, assim como também o Projeto de Lei (PL) 1610 sobre a mineração.
Todos eles são propostas para reduzir, manipular e acabar com os direitos indígenas garantidos na Constituição Federal de 1988. Estas propostas colocam as terras indígenas a mercê da exploração desenfreada, que só quer destruir e matar, sem respeitar a nossa cultura, tradição e espiritualidade.
Todos eles são propostas para reduzir, manipular e acabar com os direitos indígenas garantidos na Constituição Federal de 1988. Estas propostas colocam as terras indígenas a mercê da exploração desenfreada, que só quer destruir e matar, sem respeitar a nossa cultura, tradição e espiritualidade.
Peça
ao governo brasileiro também que cuide com carinho e atenção dos povos
indígenas, principalmente no tocante a saúde, pois muitas de nossas criancinhas,
jovens e anciões tem morrido por falta de atendimento básico. Pedimos que
interceda por nós para que o governo escute o clamor dos povos indígenas,
dialogue com respeito e respeite as nossas decisões, no tocante a nossos
territórios. Que respeite a Convenção 169 da OIT, e aceite a consulta, livre,
previa e informada.
Nós só queremos nossa terra, viver em paz e criar nossos filhos e netos na terra que Deus nos deu. Queremos fazer nossas roças, pescar, cantar e dançar, fazer nossos rituais e viver tranquilos, é só isso que queremos, ou seja, queremos nosso Bem Viver, que significa viver bem com a natureza e com as pessoas. Não queremos que nossos jovens continuem suicidando-se por falta de seu território e por não ter o que oferecer aos seus filhos.
Nós só queremos nossa terra, viver em paz e criar nossos filhos e netos na terra que Deus nos deu. Queremos fazer nossas roças, pescar, cantar e dançar, fazer nossos rituais e viver tranquilos, é só isso que queremos, ou seja, queremos nosso Bem Viver, que significa viver bem com a natureza e com as pessoas. Não queremos que nossos jovens continuem suicidando-se por falta de seu território e por não ter o que oferecer aos seus filhos.
Queremos
dizer ao senhor que agradecemos a solidariedade da Igreja Católica do Brasil à
nossa luta e defesa de nossos direitos e o compromisso à causa indígena.
Papa
Francisco,
agradecemos que você não desistiu de vir ao Brasil neste momento difícil, que
não tem medo de ficar com os pobres, que significa para nós ficar ao lado dos
povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas, camponeses e excluídos da sociedade
e defende-los dos grandes e poderosos.
Já
por último, queremos convidá-lo para que visite um dia nossa aldeia e veja a
riqueza de nossa cultura e a força de nossa espiritualidade e contemple a
beleza de nossa Mãe Terra.
Que
Deus o ajude a defender a vida dos mais pequenos e que nos ajude a todos a
construir a Terra sem Males.
Atenciosamente,
Jovens indígenas do Tocantins – Brasil
Jovens indígenas do Tocantins – Brasil
Fonte: