Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

quinta-feira, 18 de julho de 2013

“Marta, Marta, andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas, entretanto uma só coisa é necessária.” – Comentário de Asun Gutiérrez. Vale a pena conferir!



Jesus entrou num povoado e foi recebido na casa da Marta e Maria, que eram irmãs. A Marta, preocupada com a visita e com os detalhes, chama a irmã para lhe ajudar. A Maria, no entanto, sentada aos pés de Jesus, quer ouvir o que Jesus falava...
E Jesus, o que lhe disse? ...

Para refletir sobre este episódio do Evangelho segundo Lucas (10, 38-42),   trago para o blog Indagações o comentário de M. Asun Gutiérrez Cabriada. 
É uma reflexão muito boa. Não  deixe de ler.
WCejnog

[Os interessados pedem ler esse texto em apresentação de PPS, acessando o site das Monjas Beneditinas de Montesserrat: http://www.benedictinescat.com/montserrat/imatges/Dom16C13port.pps Trabalho muito bonito!]
 


Com uma sensibilidade nada habitual numa sociedade patriarcal, Jesus tem o costume de falar explicitamente das mulheres tornando-as “visíveis” e colocando em relevo a sua atuação.
Na nova família de Jesus todos compartilham vida e amor fraterno.
Os homens perdem poder, as mulheres ganham dignidade.
As mulheres escutavam a sua mensagem, aprendiam d’Ele e seguiam-n’O bem de perto, exatamente como os discípulos homens.
O fato é incontestável e, ao mesmo tempo, surpreendente, pois, nos anos trinta e ainda mais tarde, às mulheres não lhes era permitido estudar a lei com um rabi.
A grandeza e dignidade da mulher, a mesma que a do varão, vem da sua capacidade para escutar a mensagem do reino de Deus e entrar nele.

José Antonio Pagola.

Jesus: uma abordagem histórica.



O episódio de Marta e Maria serviu, em muitas ocasiões, para contrapor oração e ação, vida contemplativa e vida ativa. Dedicação às coisas espirituais e preocupação pelas coisas materiais.
Chegou a afirmar-se que a oração, a contemplação e as coisas espirituais são superiores: a melhor parte.
Essa interpretação é fazer uma má leitura do texto.
A conclusão deste evangelho pode ser: Há que ser contemplativos na ação e ativos na contemplação.
Marta e Maria são dois modelos de vida, para todos os cristãos, que é preciso coordenar e integrar: a escuta quieta e sossegada da palavra e o pôr em prática mediante a atitude de serviço aos outros.
“Felizes os que escutam a palavra de Deus e a põem em prática”    (Lc 11,18).



COMENTÁRIO  (Lc 10,38-42)
Naquele tempo,
Jesus entrou em certa povoação

Lucas apresenta a vida como um longo caminho, a busca constante de uma meta, a superação contínua em direção a um objetivo.
Nesse caminho está Jesus fazendo o percurso da sua vida, subindo ladeiras, atravessando vales, descendo montes, encontrando companheiros de jornada  e pessoas que vão em direções distintas.
No seu caminho detêm-se um dia em casa dos seus amigas.

e uma mulher chamada Marta
 recebeu-O em sua casa.

No ambiente judáico não era bem visto que uma mulher autônoma (Marta não aparece como filha ou esposa de alguém), acolhesse  um homem em sua casa.
A casa de Betânia passou à história como símbolo da melhor hospitalidade.
Atitude humana e social que não é só para atender necessidades materiais.
Como no caso de Jesus em Betânia, é para se encontrar, conversar, dialogar, ajudar, trocar opiniões, estabelecer laços de comunicação e de autêntica amizade.
Quando isto acontece, a hospitalidade é também boa notícia, evangelho feito vida.
“Esforçai-vos em praticar a hospitalidade; graças a ela, houve pessoas que, sem o saber, alojaram anjos em sua casa” (Heb 13,2)

Ela tinha uma irmã chamada Maria,
que, sentada aos pés de Jesus,
ouvia a sua palavra.

Interessar-se pelo que uma pessoa tem para dizer também é uma maneira de a acolher.
A atitude de Maria supõe uma grande novidade.
Sentar-se aos pés do mestre é a postura própria do discípulo.
As mulheres não podiam aceder ao estudo da lei, nem aprender diretamente de nenhum mestre.
Maria, com a aprovação de Jesus, rompe essa norma.
Jesus concede às mulheres o lugar de discípulas com pleno direito.
A imagem de Jesus invertendo os critérios  e os valores habituais está presente em todo o Evangelho.

Entretanto, Marta atarefava-se com muito serviço.
Interveio então e disse: «Senhor,
não Te importas  que minha irmã
me deixe sozinha a servir?
Diz-lhe que venha ajudar-me».

Marta é uma pessoa atarefada que tem sempre mil coisas para fazer.
Vive preocupada com a sua tarefa. Pensa que a sua forma de a atuar é a melhor e recorre a Jesus para que consiga que a sua irmã faça o que ela faz.
Jesus faz-nos ver que os momentos maiores da vida se vivem acima das preocupações e ansiedades, fruto das obrigações que nos impomos a nós mesmos.

O Senhor respondeu-lhe:
«Marta, Marta, andas inquieta e preocupada
com muitas coisas,
quando uma só é necessária.

É importante receber Jesus, mas é mais importante escutá-l’O.
Jesus repreende Marta com carinho; a repetição do seu nome prova-o.
(Escuto Jesus repetindo o meu nome e o que me quer dizer a seguir?).

Não censura o seu serviço, mas o seu ativismo, a sua ansiedade, a sua perturbação exterior, o seu nervosismo. Tem “muitas coisas” que a absorvem, a transtornam, a angustiam, a des-centram.
O múltiplo opõe-se ao único.

Escutar, acolher, ficar feliz com a novidade da mensagem libertadora de Jesus, para torná-la vida, é o único necessário, a melhor parte.

Maria escolheu a melhor parte,
que não lhe será tirada».

Jesus toma partido pela mulher-pessoa livre que foi capaz de escolher, deixando-se transformar pela palavra.
O texto supõe que a escolha de Maria está ameaçada, que existe o risco de que lhe queiram tirar a sua liberdade de escolha, a sua capacidade de escuta da palavra, a sua autonomia de pensamento e vida,  a sua capacidade de decisão, a sua condição de discípula.
Contamos com o aviso, a defesa e a ajuda de Jesus perante os que não respeitam as escolhas, os direitos e a liberdade dos outros.
Sem dúvida, ainda falta muito para que no tema do reconhecimento dos direitos das mulheres se faça caso da recomendação, do desejo e da atitude de Jesus.

Todos somos, em diferentes ocasiões, Marta e Maria.

Todos nos sentimos com frequência acabrunhados, dispersos e tentados a fazer da eficácia a nossa principal preocupação. Mas temos feito também a experiência do sossego e da unificação que nos dá ordenar as nossas prioridades e viver centrados no essencial.

E uma vez mais somos convidados a saborear a Palavra que, no mais fundo de nós mesmos, se converte numa fonte de assombro e de alegria e nos reenvia a um serviço mais generoso, mais alegre e mais livre.


Vou parar

Senhor,
ando inquieta e dispersa
conjugando mil afazeres.
Vou parar,
a sentar-me a teus pés,
a estar calada junto a ti
para encontrar o meu ser mais profundo
à sombra da tua presença.
Vou esperar quietamente,
sossegadamente,
a que, no meio deste silêncio,
nasça a tua Palavra;
a que, na minha terra ressequida
floresça a tua Sabedoria.

Dolores Aleixandre

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