Jesus entrou num povoado e foi
recebido na casa da Marta e Maria, que eram irmãs. A Marta, preocupada com a
visita e com os detalhes, chama a irmã para lhe ajudar. A Maria, no entanto,
sentada aos pés de Jesus, quer ouvir o que Jesus falava...
E Jesus, o que lhe disse? ...
Para refletir sobre este episódio do
Evangelho segundo Lucas (10, 38-42), trago para o blog Indagações o comentário de M. Asun Gutiérrez Cabriada.
É
uma reflexão muito boa. Não deixe de
ler.
WCejnog
[Os interessados pedem ler esse texto em
apresentação de PPS, acessando o site das Monjas Beneditinas de
Montesserrat: http://www.benedictinescat.com/montserrat/imatges/Dom16C13port.pps Trabalho muito bonito!]
Com uma sensibilidade nada habitual numa sociedade
patriarcal, Jesus tem o costume de falar explicitamente das mulheres tornando-as “visíveis” e colocando em relevo a sua atuação.
Na nova família de Jesus todos compartilham vida e amor
fraterno.
Os homens perdem poder, as mulheres ganham dignidade.
As mulheres escutavam a sua mensagem, aprendiam d’Ele e seguiam-n’O bem de perto, exatamente como os discípulos homens.
O fato é incontestável e, ao mesmo tempo, surpreendente, pois, nos anos trinta e ainda mais tarde, às mulheres não lhes era permitido estudar a lei com um rabi.
O fato é incontestável e, ao mesmo tempo, surpreendente, pois, nos anos trinta e ainda mais tarde, às mulheres não lhes era permitido estudar a lei com um rabi.
A grandeza e dignidade da mulher, a mesma que a do varão, vem da sua capacidade para escutar a mensagem do reino de Deus e entrar nele.
José Antonio Pagola.
Jesus: uma abordagem histórica.
O episódio de Marta e Maria
serviu, em muitas ocasiões, para contrapor oração e ação, vida contemplativa e
vida ativa. Dedicação às coisas espirituais e preocupação pelas coisas
materiais.
Chegou a afirmar-se que a oração,
a contemplação e as coisas espirituais são superiores: a melhor parte.
Essa interpretação é fazer uma má
leitura do texto.
A conclusão deste evangelho pode
ser: Há que ser contemplativos na ação e
ativos na contemplação.
Marta e Maria são dois modelos de
vida, para todos os cristãos, que é preciso coordenar e integrar: a escuta quieta e sossegada da palavra
e o pôr em prática mediante a
atitude de serviço aos outros.
“Felizes os que escutam a palavra
de Deus e a põem em prática” (Lc 11,18).
COMENTÁRIO (Lc 10,38-42)
Naquele
tempo,
Jesus
entrou em certa povoação
Lucas apresenta a vida como um
longo caminho, a busca constante de uma meta, a superação contínua em direção a
um objetivo.
Nesse caminho está Jesus fazendo o percurso da sua vida,
subindo ladeiras, atravessando vales, descendo montes, encontrando companheiros
de jornada e pessoas que vão em direções
distintas.
No seu caminho detêm-se um dia em casa dos seus amigas.
No seu caminho detêm-se um dia em casa dos seus amigas.
e uma
mulher chamada Marta
recebeu-O em sua casa.
No ambiente judáico não era bem
visto que uma mulher autônoma (Marta não aparece como filha ou esposa de alguém),
acolhesse um homem em sua casa.
A casa de Betânia passou à
história como símbolo da melhor hospitalidade.
Atitude humana e social que não é
só para atender necessidades materiais.
Como no caso de Jesus em Betânia,
é para se encontrar, conversar, dialogar, ajudar, trocar opiniões, estabelecer
laços de comunicação e de autêntica amizade.
Quando isto acontece, a
hospitalidade é também boa notícia, evangelho feito vida.
“Esforçai-vos em praticar a
hospitalidade; graças a ela, houve pessoas que, sem o saber, alojaram anjos em
sua casa” (Heb 13,2)
Ela
tinha uma irmã chamada Maria,
que,
sentada aos pés de Jesus,
ouvia a
sua palavra.
Interessar-se pelo que uma pessoa
tem para dizer também é uma maneira de a acolher.
A atitude de Maria supõe uma
grande novidade.
Sentar-se aos pés do mestre é a
postura própria do discípulo.
As mulheres não podiam aceder ao
estudo da lei, nem aprender diretamente de nenhum mestre.
Maria, com a aprovação de Jesus,
rompe essa norma.
Jesus concede às mulheres o lugar
de discípulas com pleno direito.
A imagem de Jesus invertendo os critérios e os valores habituais está presente em todo o Evangelho.
A imagem de Jesus invertendo os critérios e os valores habituais está presente em todo o Evangelho.
Entretanto,
Marta atarefava-se com muito serviço.
Interveio
então e disse: «Senhor,
não Te
importas que minha irmã
me deixe
sozinha a servir?
Diz-lhe
que venha ajudar-me».
Marta é uma pessoa atarefada que
tem sempre mil coisas para fazer.
Vive preocupada com a sua tarefa. Pensa que a sua forma de a atuar é a melhor e recorre a Jesus para que consiga que a sua irmã faça o que ela faz.
Vive preocupada com a sua tarefa. Pensa que a sua forma de a atuar é a melhor e recorre a Jesus para que consiga que a sua irmã faça o que ela faz.
Jesus faz-nos ver que os momentos
maiores da vida se vivem acima das preocupações e ansiedades, fruto das
obrigações que nos impomos a nós mesmos.
O Senhor
respondeu-lhe:
«Marta,
Marta, andas inquieta e preocupada
com
muitas coisas,
quando
uma só é necessária.
É importante receber Jesus, mas é
mais importante escutá-l’O.
Jesus repreende Marta com carinho; a repetição do seu nome prova-o.
(Escuto Jesus repetindo o meu nome e o que me quer dizer a seguir?).
Jesus repreende Marta com carinho; a repetição do seu nome prova-o.
(Escuto Jesus repetindo o meu nome e o que me quer dizer a seguir?).
Não censura o seu serviço, mas o seu ativismo, a sua ansiedade, a sua perturbação exterior, o seu nervosismo. Tem “muitas coisas” que a absorvem, a transtornam, a angustiam, a des-centram.
O múltiplo opõe-se ao único.
Escutar, acolher, ficar feliz com a novidade da mensagem libertadora de Jesus, para torná-la vida, é o único necessário, a melhor parte.
Maria
escolheu a melhor parte,
que não
lhe será tirada».
Jesus toma partido pela
mulher-pessoa livre que foi capaz de escolher, deixando-se transformar pela
palavra.
O texto supõe que a escolha de
Maria está ameaçada, que existe o risco de que lhe queiram tirar a sua liberdade de escolha, a sua
capacidade de escuta da palavra, a sua autonomia de pensamento e vida, a sua capacidade de decisão, a sua condição de
discípula.
Contamos com o aviso, a defesa e a ajuda de Jesus perante os que não respeitam as escolhas, os direitos e a liberdade dos outros.
Contamos com o aviso, a defesa e a ajuda de Jesus perante os que não respeitam as escolhas, os direitos e a liberdade dos outros.
Sem dúvida, ainda falta muito para
que no tema do reconhecimento dos direitos das mulheres se faça caso da recomendação, do desejo e da atitude de Jesus.
Todos somos, em diferentes ocasiões, Marta e Maria.
Todos nos sentimos com frequência
acabrunhados, dispersos e tentados a fazer da eficácia a nossa principal
preocupação. Mas temos feito também a experiência do sossego e da unificação
que nos dá ordenar as nossas prioridades e viver centrados no essencial.
Vou parar
Senhor,
ando inquieta e dispersa
ando inquieta e dispersa
conjugando mil
afazeres.
Vou parar,
a sentar-me a teus
pés,
a estar calada junto a ti
para encontrar o meu ser mais profundo
a estar calada junto a ti
para encontrar o meu ser mais profundo
à sombra da tua
presença.
Vou esperar
quietamente,
sossegadamente,
a que, no meio
deste silêncio,
nasça a tua
Palavra;
a que, na minha
terra ressequida
floresça a tua
Sabedoria.
Dolores Aleixandre
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