Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

domingo, 14 de julho de 2013

Encíclica Lumen Fidei – alguns destaques.


São muitas as publicações a respeito da encíclica “Lumen Fidei”, que recentemente foi apresentada  pelo papa Francisco no Vaticano. 

A maioria são opiniões e análises  positivas,  reconhecendo a  oportuna abordagem do tema da fé cristã e a necessidade de se ter uma ferramenta deste tipo nos tempos de hoje, marcados pelas incertezas e crises da fé.

É óbvio, na minha opinião, que algumas publicações expressam também as insafisfações e críticas, de vários tipos, em relação ao conteúdo dessa encíclica, o que seria difícil não acontecer no mundo pluralista e que se torna cada vez mais relativista, como o nosso...  Tanto mais, que – falando de modo figurativo - o apetite do “Adão” de hoje em querer ocupar o lugar do seu Criador, e querer ditar “as suas regras” é tão grande, que  ultrapassa até os limites do bom senso, e tudo em  nome de “autonomia” e “liberdade”!  A mensagem do Livro de Gênesis (Gn 2,15-17 e 3,1-24), quando lida focada o mundo de hoje, é como se narrasse as atitudes do homem contestador contemporâneo, cheio de orgulho e arrogância.

Pra mim, o documento traz um farto material para uma boa reflexão sobre a fé. E precisamos fazê-la com serenidade, abertura, e também com o necessário olhar crítico, sobretudo nos pontos que ficaram ainda para serem investigados, ou onde ainda existem lacunas para as quais não há respostas prontas.

Por exemplo, Leonardo Boff escreve no seu blog: “Mas, se constata na Encíclica uma dolorosa lacuna que lhe subtrai grande parte da relevância: não aborda as crises da fé do homem de hoje, suas dúvidas, suas perguntas que nem a fé pode responder: Onde estava Deus no tsunami que dizimou milhares de vida ou em Fukushima? Como crer depois dos massacres de milhares de indígenas feitos por cristãos ao longo de nossa história, dos milhares de torturados e assassinados pelas ditaduras militares dos anos 70-80? Como ainda ter fé depois dos milhões de mortos nos campos nazistas de extermínio? A encíclica não oferece nenhum elemento para respondermos a estas angústias.  Crer é sempre crer apesar de… A fé não elimina as dúvidas e as angústias de um Jesus que grita na cruz: "Pai, por que me abandonaste?”.  A fé tem que passar por este inferno e transformar-se em esperança de que para tudo existe um sentido, mas escondido em Deus.  Quando se revelará?”


Concordo que essas são as  dificuldades concretas que podem perturbar muitas pessoas, a ponto de poder levá-las  à descrença e à dúvida, quando se trata da fé em Deus - Pai e Criador de tudo e de todos. Penso que este tema se relaciona   diretamente com a questão da ideia de Deus que essas pessoas possuem ou cultivam. Aliás, sobre este assunto foi postada no blog Indagações a postagem “Como o homem imagina Deus”, do dia 19 de janeiro de  2012, que pode ser encontrada no link:

 
Acredito que a encíclica Lumen Fidei não necessariamente  deveria abordar essa questão, porque correria o risco de alargar demasiadamente o foco do tema proposto.

Mesmo assim, apesar das questões expostas acima, considero este documento papal de muita importância e valor  para todas as  pessoas que buscam refletir mais sobre  sua fé, ansiosas em  encontrar “toques” e “trilhas”, que possam levá-las a confirmar em sua vida essa necessária “certeza da fé”. 



Destaco aqui dois parágrafos (53 e 55) da encíclica “Lumen Fidei”,  que neste momento mais me chamam  a atenção:

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Parágrafo 53

Em família, a fé acompanha todas as idades da vida, a começar pela infância: as crianças aprendem a confiar no amor de seus pais. Por isso, é importante que os pais cultivem práticas de fé comuns na família, que acompanhem o amadurecimento da fé dos filhos.

Sobretudo os jovens, que atravessam uma idade da vida tão complexa, rica e importante para a fé, devem sentir a proximidade e a atenção da família e da comunidade eclesial no seu caminho de crescimento da fé. Todos vimos como, nas Jornadas Mundiais da Juventude, os jovens mostram a alegria da fé, o compromisso de viver uma fé cada vez mais sólida e generosa. Os jovens têm o desejo de uma vida grande; o encontro com Cristo, o deixar-se conquistar e guiar pelo seu amor alarga o horizonte da existência, dá-lhe uma esperança firme que não desilude.

A fé não é um refúgio para gente sem coragem, mas a dilatação da vida: faz descobrir uma grande chamada — a vocação ao amor — e assegura que este amor é fiável, que vale a pena entregar-se a ele, porque o seu fundamento se encontra na fidelidade de Deus, que é mais forte do que toda a nossa fragilidade.


Parágrafo 55

Além disso a fé, ao revelar-nos o amor de Deus Criador, faz-nos olhar com maior respeito para a natureza, fazendo-nos reconhecer nela uma gramática escrita por Ele e uma habitação que nos foi confiada para ser cultivada e guardada; ajuda-nos a encontrar modelos de progresso, que não se baseiem apenas na utilidade e no lucro mas considerem a criação como dom, de que todos somos devedores; ensina-nos a individuar formas justas de governo, reconhecendo que a autoridade vem de Deus para estar ao serviço do bem comum.

A fé afirma também a possibilidade do perdão, que muitas vezes requer tempo, canseira, paciência e empenho; um perdão possível quando se descobre que o bem é sempre mais originário e mais forte que o mal, que a palavra com que Deus afirma a nossa vida é mais profunda do que todas as nossas negações. Aliás, mesmo dum ponto de vista simplesmente antropológico, a unidade é superior ao conflito; devemos preocupar-nos também com o conflito, mas vivendo-o de tal modo que nos leve a resolvê-lo, a superá-lo, como elo duma cadeia, num avanço para a unidade.

Quando a fé esmorece, há o risco de esmorecerem também os fundamentos do viver, como advertia o poeta Thomas Sterls Eliot: « Precisais porventura que se vos diga que até aqueles modestos sucessos / que vos permitem ser orgulhosos de uma sociedade educada / dificilmente sobreviveriam à fé, a que devem o seu significado? »[48]

Se tiramos a fé em Deus das nossas cidades, enfraquecer-se-á a confiança entre nós, apenas o medo nos manterá unidos, e a estabilidade ficará ameaçada. Afirma a Carta aos Hebreus: « Deus não Se envergonha de ser chamado o "seu Deus", porque preparou para eles uma cidade » (Heb 11, 16).

A expressão « não se envergonha » tem conotado um reconhecimento público: pretende-se afirmar que Deus, com o seu agir concreto, confessa publicamente a sua presença entre nós, o seu desejo de tornar firmes as relações entre os homens. Porventura vamos ser nós a envergonhar-nos de chamar a Deus « o nosso Deus »?  Seremos por acaso nós a recusar-nos a confessá-Lo como tal na nossa vida pública, a propor a grandeza da vida comum que Ele torna possível? A fé ilumina a vida social: possui uma luz criadora para cada momento novo da história, porque coloca todos os acontecimentos em relação com a origem e o destino de tudo no Pai que nos ama.

Não deixe de  ler a encíclica “Lumen Fidei” na íntegra: clique AQUI
ou acesse o link abaixo: 




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