Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

quarta-feira, 10 de julho de 2013

«O bom Samaritano» - Comentário de M. Asun Gutiérrez. Um convite para fazer uma boa reflexão.



É muito conhecida a parábola do bom Samaritano, narrada no Evangelho segundo Lucas (10, 25-37). Durante a conversa com um doutor da lei, Jesus usa essa parábola para  tornar clara e completa  a resposta  para a pergunta: “quem  é o meu próximo?”

Parece que já ouvimos todos os comentários possíveis sobre esse episódio, já sabemos “todas as respostas” e não há “nada de novo”, que aqui se possa  acrescentar... 

Mas, será que é assim mesmo?  Ou, talvez, nos comportamos como esses “falsos próximos” (paradoxalmente, esses sim, “sabem” muito bem, na teoria, do mandamento de  amor e do amar exigênte em relação ao próximo!) do homem ferido, largado na margem do caminho, que vendo-o, passam adiante... Mais ainda, será que nós somos capazes de enxergar  o próprio Jesus... na pessoa desses feridos, assaltados e humilhados  nos  dias de hoje pela exclusão  social, pelo sistema econômico cruel e pelas estruturas opressoras impostas ao ser humano para fazê-lo escravo e sujeito sem nome...?  Será que vendo-o, “não passamos adiante”?


Para refletir sobre esta parábola do bom Samaritano,  trago para o blog Indagações o comentário de M. Asun Gutiérrez Cabriada.  

Não  deixe de ler.

WCejnog



[Os interessados pedem ler esse texto em apresentação de PPS, acessando o site das Monjas Beneditinas de Montesserrat: http://www.benedictinescat.com/montserrat/imatges/Dom15C13port.pps Trabalho muito bonito!]



Eu sinto que o mais supremo do humano é o verdadeiro amor.”
“O cristianismo histórico é o contrário do que foi Jesus.”
“Reafirmo que a minha fé na ressurreição se refere
com toda rotundidade e com íntima felicidade a Jesus.
Refere-se também com força aos pobres e marginalizados 
e injustamente oprimidos.”

José María Díez-Ale


Comentário
Naquele tempo, levantou-se um doutor da lei
e perguntou a Jesus para O experimentar:
«Mestre,  que hei-de fazer para receber
como herança a vida eterna?».
Jesus disse-lhe:
«Que está escrito na Lei? Como lês tu?»

Jesus remete-o para a Escritura,
indicando-lhe onde pode buscar a resposta.

Ele respondeu: «Amarás o Senhor teu Deus
com todo o teu coração e com toda a tua alma,
com todas as tuas forças
e com todo o teu entendimento;
e ao próximo como a ti mesmo».
Disse-lhe Jesus:  Respondeste bem.
Faz isso e viverás
.

Jesus quer tirá-lo da teoria para o levar à prática.
A teoria não serve de nada se o amor a Deus e aos outros não determina a forma de actuar. Jesus diz-lhe o mesmo que a nós: vive e ama e realizarás o mandamento.

Mas ele, querendo justificar-se,
perguntou a Jesus:
«E quem é o meu próximo?».

O mestre da lei espera e deseja uma definição de próximo que justifique  a sua conduta habitual.
Como faz com frequência, Jesus não contesta o que lhe preguntam, mas a o que deveriam ter-lhe perguntado.
Para quem sou próximo? Quem espera a minha ajuda? Quem vê em mim o próximo?
Sou capaz de me fazer próximo, de me aproximar de quem me necessita?

Jesus, tomando a palavra, disse:
«Um homem descia de Jerusalém para Jericó…

A parábola, exclusiva de Lucas, está perfeitamente ambientada.
O caminho que descia de Jerusalém a Jericó era muito inseguro, cheio de ladrões, salteadores de caminhos que roubavam e até matavam os viajantes.

... e caiu nas mãos dos salteadores.
 Roubaram-lhe tudo o que levava,
espancaram-no e foram-se embora,
deixando-o meio-morto.
Por coincidência, descia pelo mesmo caminho
um sacerdote; viu-o e passou adiante.
Do mesmo modo, um levita
que vinha por aquele lugar,
 viu-o e passou também adiante.

O sacerdote e o levita, pertencem ao mundo oficial e respeitado do culto, cumprem a lei, mas não praticam a misericórdia.
O estar no templo e supostamente nas coisas de Deus não os ajuda a aproximar-se dos que os necessitam.
Não olham o ferido, afastam-se dele. Para eles é um obstáculo a evitar. Nesta noutras ocasiões, Jesus denuncia a pouca coerência na vida dos “oficialmente bons”.
De quê, de quem passo ao largo na vida? Perante quê, perante quem dou uma volta? Há certas situações, certas pessoas que não quero ver?

Mas um samaritano, que ia de viagem,
 passou junto dele e, ao vê-lo,
encheu-se de compaixão.
 Aproximou-se, ligou-lhe as feridas
deitando azeite e vinho,
colocou-o sobre a sua própria montada,
 levou-o para uma estalagem e cuidou dele.
No dia seguinte, tirou duas moedas,
deu-as ao estalajadeiro e disse:
‘Trata bem dele; e o que gastares a mais
 eu to pagarei quando voltar’.

Um samaritano, toda uma provocação. Nenhum judeu o teria considerado como seu próximo. É estrangeiro, herege, desprezado, cismático. Pertence a um povo com uma história obscura. Mesmo não tendo um catecismo como o do sacerdote e do levita, a primeira coisa que faz é deter-se e aproximar-se. Dispensa com solicitude grande quantidade de ações concretas a favor do necessitado, olha-o, aproxima-se, comove-se, assume o encontro, deixa-se interpelar pela necessidade do outro, cura-o. Tudo faz movido por um coração tocado pela compaixão.
Para Jesus é modelo de como ser próximo.

Qual destes três te parece ter sido o próximo
 daquele homem que caiu nas mãos
dos salteadores?».
O doutor da lei respondeu:
«O que teve compaixão dele».

Jesus pergunta-nos se o nosso coração é compassivo. se ao ver um irmão em necessidade “se nos comovem as entranhas” e atuamos em consequência.
Jesus antepõe a compaixão a qualquer tipo de exigência ritual ou legal.
O amor ao próximo, inseparável do amor a Deus e resumo de toda a vida cristã, realiza-se na prática servindo-o nas pessoas necessitadas que encontramos no caminho da vida.
É a experiência pessoal de Jesus, o Bom Samaritano por excelência, que frequentemente recordou: “Quero misericórdia e não sacrifícios” (Mt 9,13;12,7)

Disse-lhe Jesus:
- Então vai e faz o mesmo.

A dúvida sobre quem é meu próximo, para quem sou próximo, resolve-se quando “vou  e faço o mesmo”. Quando não passo ao largo perante os problemas sociais: o desemprego, a imigração, os despejos, o assédio, a exploração, a violência, a falta de solidariedade...
O próximo não aparece no momento e na hora que eu tenho programada. Surge de repente, fazendo-me encurtar distâncias, suprimir barreiras, mudar os meus planos, modificar o meu itinerário, quando me estão esperando um montão de coisas e de deveres “importantes”. Jesus convida-me a atuar perante as surpresas de cada dia.
A Palavra está dita; é a nossa vez, a cada um de nós cabe responder.


SEGUIR-TE HOJE

Seguir-Te hoje é fazer-se um com os pobres,
sujar as mãos trabalhando com eles
e apostar pela sua dignidade.
Ser um deles.
Seguir-Te a Ti, é ter-Te descoberto
nos rostos necessitados,
nos que choram de medo.
É fazer-se solidário do seu destino incerto.
   

  Juanjo Elezkano

 



Nenhum comentário:

Postar um comentário