Uma entrevista interessante sobre a
encíclica “Lumen Fidei” com padre jesuita Christoph Theobald¹, publicada recentemente no site do Instituto
Humanitas Unisinos (IHU). Trago ela para o blog Indagações com o proposito de contribuir pelo menos um pouco
na divulgação da mesma.
Não deixe de ler.
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IHU Notícias
Sábado, 13 de julho de 2013
Lumen Fidei. “Uma fé mais itinerante que doutrinal”. Entrevista com Christoph Théobald
De
acordo com o jesuíta Christoph Theobald, do Papa Francisco destaca a força
transformadora da fé em Cristo.
A
entrevista é de Claire
Lesegretain e publicada no sítio do jornal francês La Croix,
07-07-2013. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
Como
se poderia resumir esta encíclica Lumen Fidei?
Poderíamos
falar de um humanismo evangélico, proposto aqui com um grande cuidado de
equilíbrio entre a escuta da Palavra e a visão da luz de Cristo. Na realidade,
é como se falássemos das “Luzes cristãs” em contraste com o “século das Luzes”.
Uma
fé que não é obscurantismo, nem idolatria. Uma fé que não é mais intransigente:
é a primeira vez que um papa fala isso. E isso contradiz de modo especial a
tese de Émile Poulat, que diz que o catolicismo não pode se separar da
intransigência.
Está
dito claramente que o católico não pode ser arrogante, que ele deve, ao
contrário, ser humilde, porque se refere a uma verdade que não lhe pertence.
Por outro lado, não vejo nenhum elemento que se possa prestar a polêmicas, como
foi o caso nas duas encíclicas anteriores. Sem dúvida, é preciso atribuir esta
expressão cheia de paz, de sabedoria e de bondade ao Papa Francisco.
A
introdução foi escrita por ele?
Não,
ela tem claramente o estilo ratzingeriano: a citação de Nietzsche é um pouco
sua assinatura, porque ele já a citou outra vez, em sua encíclica sobre o amor!
Francisco,
sem dúvida, acrescentou algumas frases, mas percebe-se que a relação entre os
dois papas é muito fraterna, especialmente na maneira como Francisco diz que
ele “assume seu precioso trabalho” (n. 7). Ele realiza assim o que disse sobre
“o saber compartilhado que é próprio do amor”: nesse sentido, esta encíclica
escrita a quatro mãos é particularmente bela. Nesse mesmo capítulo, de
passagem, Francisco
definiu a tarefa do sucessor de Pedro que “sempre está chamado a confirmar os
irmãos na fé”.
O
primeiro capítulo faz um percurso da história da fé desde Abraão: é inovador?
Na
verdade, não. Mas o que é novo é a maneira de dizer que a fé se configura a um
caminho, que a fé é itinerante e que ela se descobre caminhando. A encíclica
destaca a força transformadora da fé (n. 40), que renova o “sentido sacramental
da vida humana”. Um pouco mais adiante, recorda-se, de uma maneira nova, que
“quanto mais o cristão penetrar no círculo aberto pela luz de Cristo, tanto
mais será capaz de compreender e acompanhar o caminho de cada homem para Deus”
(n. 35). Estamos bem longe, portanto, de uma fé definida prioritariamente pela
doutrina. Por outro lado, na terceira parte, situa-se o Catecismo da Igreja Católica
entre os elementos que estruturam a catequese (n. 46); o que é uma maneira
elegante de dizer que não podemos idolatrar o Catecismo. Este é integrado a um
poderoso movimento experimental que une fé, experiência e caridade.
O
que significa a expressão “a fé vista do ponto de vista de Jesus”?
Esta
bela expressão também é nova. Ela significa que o cristão que adota o olhar de
Cristo coloca sobre a realidade um olhar que sempre está associado ao amor:
“nele nós aprendemos a ver a realidade com os olhos do outro” (n. 46). É
evidentemente uma grande exigência e não podemos, por outro lado, dizer que
esta encíclica é mais exigente que aquela sobre o amor e a esperança. Contudo,
o que me incomoda é que o registro é aqui sobretudo joânico (Evangelho de João)
e paulino, sem referência aos três Evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e
Lucas), que são mais concretos e poderiam ter indicado um percurso de
iniciação.
A
encíclica fala muito do “Deus luminoso”: o que isso significa para a fé?
O
Papa faz uma comparação entre a luz do sol, que não clareia tudo, e aquela de
Cristo, que clareia tudo e que jamais perde a sua força. Em seguida, oferece
uma visão da verdade de Cristo como totalidade (n. 33) sublimando as antigas
polêmicas em torno do relativismo que temiam que a fé pudesse tornar-se uma luz
a mais no meio de outras tantas luzes. Entretanto, a luz da fé não pode ser
desqualificada como sendo totalitária quando ela tem o amor como corretivo.
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¹ Pe.
Christoph Théobald é teólogo e escritor jesuíta, professor no Centre Sèvres, Paris;
autor da obra, em dois volumes, Le christianisme comme style (O Cristianismo
como estilo), Paris: Cerf, 2007;
redator-chefe da revista Recherches de science
religieuse e colaborador na revista Études. (Fonte: internet)
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