Uma
curta, mas muito concreta reflexão sobre a parábola do rico insensato (Lc 12, 13-21), é de autoria do padre e
teólogo espanhol José Antônio Pagola.
Foi
publicada no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU). Muito interessante!
Não
deixe de ler.
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Evangelho Lc 12, 13-21
Disse-lhe então alguém da multidão: Mestre, dize ao meu irmão que reparta comigo a herança. Jesus lhe respondeu: Moço, quem me constituiu juiz ou árbitro entre vós?
Disse-lhe então alguém da multidão: Mestre, dize ao meu irmão que reparta comigo a herança. Jesus lhe respondeu: Moço, quem me constituiu juiz ou árbitro entre vós?
E lhes disse:
Cuidai de guardar-vos de toda cobiça, porque mesmo que se tenha muito, a vida
de um homem não está na abundância dos bens que ele possui.
Então lhes
propôs uma parábola: “Havia um homem rico, cujas terras lhe deram grande
colheita. E pensava consigo mesmo: O que vou fazer? não tenho onde guardar a
colheita!”Disse então: “Já sei o que fazer; vou derrubar os celeiros para
fazê-los maiores e guardar ali todo trigo e os meus bens. E direi à minha
vida: tens muitos bens armazenados para muitos anos. Descansa, come, bebe
e regala-te”.
Deus, porém, lhe
disse: “Insensato! Ainda nesta noite tirarão a tua vida, e para quem ficará
tudo que acumulaste?”
É o que
acontecerá com quem guarda tesouros para si e não é rico diante de Deus”.
IHU – NOTÍCIAS
Quinta, 01 de agosto de 2013-08-02
Contra a insensatez
A leitura que a Igreja propõe neste
domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas (12, 13-21) que corresponde
ao 18º Domingo do Tempo Ordinário, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol
José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Cada
vez sabemos mais da situação social e
econômica que Jesus conheceu na
Galileia dos anos trinta. Enquanto nas cidades de Séforis e Tiberíades crescia
a riqueza, nas aldeias aumentava a fome e a miséria. Os camponeses ficavam sem
terras e os proprietários canstruíam silos e armazéns cada vez maiores.
Num pequeno relato, conservado por
Lucas, Jesus revela o que pensa daquela situação tão contrária ao projeto
querido por Deus, de um mundo mais humano para todos. Não narra esta parábola
para denunciar os abusos e os atropelos que cometem os proprietários, mas para desmascarar a insensatez em que vivem
instalados.
Um rico proprietário
vê-se surpreendido por uma grande colheita. Não sabe como gerir tanta
abundância. “Que farei?”. O seu monólogo mostra-nos a lógica insensata dos poderosos que só vivem para acumular riqueza
e bem-estar, excluindo do seu horizonte os necessitados.
O rico da parábola planeja a sua vida e toma decisões. Destruirá os
velhos armazéns e construirá outros maiores. Armazenará ali toda a sua
colheita. Pode acumular bens para muitos anos. De futuro, só viverá para desfrutar: “deita-te, come, bebe e leva
uma boa vida”. De forma inesperada, Deus interrompe os seus projetos: “Imbecil,
esta mesma noite, vão exigir-te a tua vida. O que acumulaste, de quem será?”
Este homem reduz a
sua existência a desfrutar da abundância dos seus bens. No centro da sua vida
está apenas ele e o seu bem-estar. Deus está ausente. Os empregados que
trabalham as suas terras não existem. As famílias das aldeias que lutam contra
a fome não contam. O juízo de Deus é
determinante: esta vida só é estupidez e insensatez.
Nestes momentos, praticamente em todo o mundo
está a aumentar de forma alarmante a desigualdade. Este é o fato mais sombrio e desumano: “os
ricos, tendem a se tornar ainda mais ricos enquanto os pobres afundam na miséria” (Zygmunt Bauman).
Este fato não é algo
normal. É, simplesmente, a última
consequência da insensatez mais grave que nós, os humanos, estamos a cometer: substituir
a cooperação amistosa, a solidariedade e
a busca do bem comum da Humanidade pela competição, a rivalidade e o acúmulo de
bens em mãos dos mais poderosos do Planeta.
Desde a Igreja de Jesus, presente em toda a Terra, deveria escutar-se o clamor dos
seus seguidores contra tanta insensatez, e a reação contra o modelo que
guia hoje a história humana.
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