Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

“Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado”. – Comentário de Assun Gutiérrez. Muito bom!


No episódio narrado no Evangelho segundo Lucas (Lc 14, 1.7-14)  Jesus encontra-se como convidado na casa de um fariseu, para tomar uma refeição. Observando o comportamento das pessoas que escolhiam os primeiros lugares, Jesus nos dá uma grande lição de humildade!

È  lógico, nós já sabemos qual é essa lição. Mas, será que já conseguimos realmente aprender o que Jesus nos ensina e colocar esses princípios em prática?  Olhando hoje, com atenção, a vida no mundo atual e o "estilo" da nossa  sociedade - com o seu modelo econômico, político e social, como também vendo a nossa “cultura” como tal, constatamos que os ensinamentos de Jesus não valem muita coisa para os homens e mulheres de hoje... 

O que se vê - e o que realmente predomina - é uma cultura de briga pelos privilégios, de disputa pelo poder e domínio sobre os outros; é busca de meios para TER mais e mais... Enfim, para ocupar os “primeiros lugares”...

Para refletir sobre esse texto trago para o blog Indagações o cometário de Asun Gutiérrez Cabriada.   
Não  deixe de ler.

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[Os interessados pedem ler esse texto em apresentação de PPS, acessando o site das Monjas Beneditinas de Montesserrat:  http://www.benedictinescat.com/montserrat/imatges/Dom22C13port.pps 
Trabalho muito bonito!]


No mundo novo, todos serão iguais
na mesma mesa,
e todos os comensais possuirão
a classe do grande Anfitrião.
Na mesa do Reino de Deus
não haverá rivalidade  e concorrência  
por honrarias, nem haverá divisão.
 E, em vez de desejo de honrarias,
será o desejo de servir
o fundamento da nova sociedade:
 “O que quiser ser maior entre vós
será o vosso servo.
E o que quiser ser primeiro
será escravo de todos(Mc 10, 43-44).

José Arregi


Comentário
 Naquele tempo, Jesus entrou, num sábado,
em casa de um dos principais fariseus
para tomar refeição.
Eles o observavam.

É um texto exclusivo de Lucas. No contexto de um convite-armadilha,
Jesus aproveita a ocasião para ensinar o que significa a vaidade, a humildade e a gratuidade.
Jesus não foi uma pessoa cômoda para os importantes do seu tempo.
Tão pouco o é para os de agora. Nem Ele nem os que atuam como Ele.

Observando como os convidados
escolhiam para si os primeiros lugares,
Jesus propôs uma parábola, dizendo-lhes:
– Quando fores convidado
por alguém para uma festa de casamento,
não te sentes no primeiro lugar,
para  não  suceder que chegue, também convidado,
outro mais importante que tu, e
aproximando-se aquele que convidou a ti e a ele,
te diga: ‘Cede para este teu lugar”,
e tu, então,  cheio de vergonha,
vás ocupar o último lugar .

Jesus observa o que acontece à sua volta. As honras tinham uma enorme importância na sociedade daquele tempo. A mesa era o lugar por excelência onde se revelava o lugar social e a honra dos comensais. Jesus propõe uma atuação impensável. As palavras e a atitude de Jesus, nesta e em muitas ocasiões, supõem uma profunda inversão na hierarquia de valores.
Jesus aproveita a ocasião para dar uma lição de simplicidade e de humildade. A pessoa simples e humilde tem maior auto-estima e autêntica paz e harmonia interior.
 Por isso, quando fores convidado,
vai sentar-te no último lugar,
para que, quando chegar quem te convidou,
te diga: ‘Amigo, sobe mais para cima’.
Então  terás grande honra na presença
de todos os convidados.
Porque  todo aquele que se exaltar
será humilhado
e quem se humilhar
será exaltado.

Jesus rompe radicalmente com o modelo social e religioso baseado em honras e na hierarquia. A atitude nada evangélica de partilhar mesa e honrarias com os “grandes” deste mundo é uma tentação na qual a maioria, em maior ou menor grau, caímos.
Não é fácil harmonizar estes comportamentos com a mensagem de Jesus.
A crítica de Jesus aos dirigentes religiosos, e aos que atuam como eles, continua vigente. “Gostam dos lugares de honra nos banquetes e dos primeiros lugares nas sinagogas, gostam de ser cumprimentados nas praças públicas e que as pessoas lhes chamem mestre” - “Não seja assim entre vós”. (Mt 23, 1-12).

Jesus disse ainda a quem o tinha convidado:
– Quando ofereceres um almoço ou um jantar,
não convides os teus amigos
nem os teus irmãos, nem os teus parentes
nem os teus vizinhos ricos,
para não suceder que por sua vez
eles te convidem e assim
 já tenhas a recompensa.

Agora Jesus dirige-se ao anfitrião e a cada um de nós. Os costumes familiares e sociais  deixam lugar à generosidade gratuita e desinteressada.
A vida de Jesus foi próxima de todas as pessoas marginalizadas da sociedade e Ele partilhou mesa com elas. Atitude que supunha um tremendo escândalo.

Jesus infringe as normas estabelecidas, desmantela a escala de valores da sociedade: denuncia o que a sociedade aprecia, honra o que a sociedade desonra. 
Aspira a uma sociedade radicalmente diferente. Uma sociedade que comece a construir-se a partir de baixo, a partir dos que respondem colocando-se nos lugares de serviço.

Mas quando ofereceres um banquete,
convida os pobres, os aleijados,
os coxos e os cegos;

Para Jesus, e para os que realmente O seguem, as pessoas excluídas
da vida social e religiosa passam a ser as convidadas de honra.
A sua mensagem é de plena atualidade. Segui-l’O implica atuar e viver como Ele atuou e viveu.

As minhas opções, atitudes e preferências coincidem com as de Jesus
ou, pelo contrário, valorizo as pessoas pelo seu suposto “êxito” social
e profissional? 

Valorizo o que a sociedade valoriza: riqueza, ostentação, aparência externa.., vivendo uma atitude incompatível com a recomendação de Jesus?

Quem são as pessoas pobres, aleijadas, cegas... a quem me custa sentar à mesa da minha vida?

E serás lembrado, pois estes
não têm com que pagar.
Receberás a recompensa
na ressurreição dos justos”. 

Jesus oferece-nos outra bem-aventurança, como todas, fonte de felicidade, alegria e paz. A sua vida foi gratuidade em estado puro.
Entregou tudo o que tinha: a sua palavra, a sua missão e a sua vida. Vida oferecida e partilhada, por todos.

Viver como Ele viveu é garantia de vida plena, ditosa e feliz. Todos sabemos que os momentos mais intensos e importantes da nossa vida são os que vivemos na gratuidade. Nesses momentos Jesus nos diz: Ditoso, feliz, se não podem pagar-te! Ditoso, feliz, porque não podem pagar-te! Ditoso, feliz, porque não necessitas que te paguem!


Meu irmão, minha irmã

Meu irmão, que estás aqui ao lado,
Minha irmã com quem partilho,
estou certo, a terra que pisamos.
Respeitado seja teu nome;
em todas as línguas do mundo.

Façamos juntos uma terra
que não explore a ninguém;
que a  ninguém relegue para as margens.
Uma terra na qual
tudo aquilo que é uma dádiva:
a água, o alimento, o vento, o solo...
esteja nas mãos de todos;
e desta forma o Reino d’Aquele
a quem chamamos Pai
venha vindo à terra, ao mar,
a cada canto onde um irmão
se sinta amado e disposto a amar.

Que o nosso pão, irmão, seja o de hoje
e se hoje algum de dois não tem pão,
chame à porta do outro;
talvez fiquemos com o estômago meio vazio,
mas nunca com o coração ressequido;
porque a minha mesa é a tua mesa;
E a minha casa, não é minha casa,
é casa de todos.

E perdoai-me se em algum momento
tudo isto esqueço;
e de repente creio que o nosso Pai
não é tão nosso e é mais meu.
Perdoai-me e ajudai-me.

Recorda-me então que a dor do mundo
é também minha
e que se eu vou dizendo que meu Pai é nosso,
não posso voltar os meus olhos
nem parar as minhas mãos.

Desta forma poderemos construir de novo;
que a forma de livrar do mal a nossa terra
é sentindo os seus males
e a partir da vida partilhada com o irmão....
Construir, caminhar, amar....

Assim seja. Irmão. Irmã.    
    
(Roberto Borda)



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