Saber mais sobre a vida e a obra de Pierre
Teilhard de Chardin* certamente pode ser de interesse para muitas pessoas. Por
este motivo, e para contribuir um pouco na divulgação dessas informações, trago
mais um artigo que fala sobre este tema para o blog Indagações – Zapytania. (Uma outra postagem sobre Pierre Teilhard de
Chardin, neste blog, é do dia 23/07/2014 – para visualizar, clique aqui ).
É uma analise muito interessante da obra Fenômeno
Humano desse padre jesuíta, teólogo, filósofo e paleontólogo francês.
Mesmo com o passar do tempo (a
tradução desse livro para português foi publicada em 1986) a obra provoca
admiração de muitos leitores, que a confrontam com as conquistas e teorias
científicas posteriores.
A matéria foi publicada
no início do mês de novembro de 2014 no site do Instituto Humanitas Unisinos
(IHU).
Vale a pena ler!
WCejnog
IHU – Noticias
Terça, 04 de novembro de
2014.
Teilhard de Chardin e o
''Fenômeno humano'' hoje
Os conhecimentos
científicos posteriores aos anos 1940 confirmaram e aumentaram o valor da
obra O fenômeno humano, do Pe. Pierre
Teilhard de Chardin, SJ, particularmente em relação
às temáticas fundamentais da "complexidade" e da
"noosfera".
A análise é de Fabio
Mantovani, autor do Dizionario delle opere di Teilhard de Chardin,
em artigo publicado no blog Teologi@Internet, da Editora
Queriniana, 24-10-2014. A tradução é de Moisés
Sbardelotto.
Eis o
texto.
Está agora nas
livrarias, em uma veste gráfica renovado, a sexta edição do livro do Pe.
Pierre Teilhard de Chardin, SJ, O
fenômeno humano, publicado pela Queriniana em 1995. Por
isso, novos leitores se aproximarão dessa célebre, mas desafiadora, obra, sobre
alguns aspectos da qual gostaríamos de chamar a atenção com as considerações
que se seguem.
O
fenômeno humano não é um tratado científico, como a primeira e inexata edição inglesa
deu a entender, infelizmente, nem um ensaio teológico, mas é uma representação
dos fenômenos evolutivos interpretados em um quadro unitário dotado de sentido,
é uma grande síntese do devir universal.
Os conhecimentos
científicos posteriores aos anos 1940 confirmaram e aumentaram o seu valor, que
parece ser muito atual, particularmente em relação às temáticas fundamentais da
"complexidade" e da "noosfera".
A
"complexidade", ao menos até os anos 1980, era normalmente entendida
como uma característica de todas as estruturas complicadas, enquanto Teilhard
a utiliza com um significado muito particular [1].
Portanto, é oportuno que os leitores se detenham na sua definição (nota 1 na p.
56), para entender corretamente o importante fenômeno de complexificação da
matéria.
Em suma, são
definidas como complexas aquelas estruturas (mônadas ou centros de consciência)
que contêm em si mesmas um número fixo de elementos, "n", ligados por
incessantes interações, como no átomo e na célula viva.
De cada
estrutura complexa, surgem propriedades que os componentes individuais, por si
só, não têm, como na molécula de água, em que o hidrogênio e o oxigênio são
individualmente apenas gases.
Para
"ver" como Teilhard se esforça para nos fazer
ver (p. 27), basta voltar e manter o olhar no mesmo sentido em que a matéria se
complexifica, a partir das estruturações dos átomos e das moléculas até as
organizações de bilhões de células nos sistemas vivos.
Como essa
tendência da matéria a se complexificar é contínua, apesar de ser combatida
pelo aumento da entropia no universo, Teilhard de Chardin considera que,
desde as origens do mundo, opera um Atrator (o "Ponto
Ômega") "já sumamente presente" (p. 251-252) e
capaz de fazer com que as coisas se façam.
Há quem tenha
captado na ação extratemporal do "Ponto Ômega" uma prova
da existência de Deus [2], da qual, porém, Teilhard
de Chardin não se valeu. Ao contrário, é nos escritos de
caráter teológico que ele, baseando-se na Sagrada Escritura, proclama a
coincidência do "Ponto Ômega" com o Cristo da Parusia [3].
A sua descoberta
de uma ininterrupta corrente de complexificação, do Big Bang em diante, mostra que a evolução está orientada em sentido construtivo,
apesar de uma série de passagens altamente problemáticas [4].
A
complexificação é muito evidente e reconhecida no âmbito da matéria orgânica,
mas a sua continuidade com a gênese anterior da matéria inorgânica ainda é
pouco percebida. Além disso, ninguém põe em dúvida que "combinando as
evoluções nuclear, química e biológica, hoje podemos reconstruir a odisseia do
universo" [5].
E os mais
atentos continuam espantados ao tomar consciência das relações existentes entre
a molécula do DNA, na sua completude, e os átomos individuais que dela fazem
parte – hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, carbono e fósforo –, cujas
propriedades de se unificar, para finalidades coletivas mais elevadas, já
deviam estar presentes no coração das estrelas!
Em relação às
teorias sobre a evolução, Teilhard de Chardin admite a função
do "caso" ("É o lugar de Deus no governo do mundo") [6],
a emergência do mais apto e a seleção natural ("Contanto que não seja
considerada como conclusão ideal ou como explicação última") [7],
mas também considera que o processo de avanço evolutivo se desenvolve através
de uma "busca às apalpadelas" em que a casualidade e o jogo dos
grandes números geram uma orientação canalizada para objetivos não previsíveis
a priori.
A sua abordagem
aos mecanismos evolutivo, holístico e sistêmico, portanto, é bem diferente
tanto do rigidamente determinista, quanto do baseado inteiramente na
casualidade. A sua amplitude de visão levou-o a criar, nos anos 1940, em Pequim,
o Instituto de Geobiologia, a fim de estudar os mecanismos
evolutivos no contexto da Biosfera, mais precisamente no
âmbito continental. Foi uma iniciativa clarividente, que abriu "novas
perspectivas para a teoria da evolução" [8].
Um segundo
aspecto, que permaneceu na sombra ou foi colocado em uma dimensão de futuro,
diz respeito à Noosfera. É preciso se perguntar,
de fato, até que ponto, há 70 anos, podiam parecer realistas estas frases:
"... cada indivíduo já se encontra (ativa e passivamente) presente ao
mesmo tempo em todos os mares e os continentes – coextensivo à Terra... Um
grande corpo está nascendo – com os seus membros, o seu sistema nervoso, os
seus centros de percepção, a sua memória..." (p. 224 e 229).
A ideia de que a
complexificação das relações sociais geraria uma espécie de cérebro coletivo
tinha até brilhado na sua mente nas trincheiras em 1917, imaginando à noite a
Lua cheia simbolizava a futura humanidade, unida e coesa, como uma grande
mônada complexificada [9].
O neologismo Noosfera,
que depois teve tanta, apareceu pela primeira vez em um texto seu de 1925, mas
foi somente com o advento da internet que um desenvolvimento de bilhões de
interconexões "cerebrais" foi se formando visivelmente diante dos
nossos olhos ao redor do globo terrestre.
A futuro
convergência da Noosfera no Ponto
Ômega, porém, depende da qualidade das relações, da
difusão do amor, da cristificação da sociedade humana. É preciso "... que
o próprio mundo se torne hóstia viva, se torne liturgia. É a grande visão que,
depois, Teilhard de Chardin também teve: no fim, teremos uma
verdadeira liturgia cósmica", disse Bento XVI na homilia do dia 24 de
julho de 2009 [10].
Se Cristo
ocupa o centro de um Mundo que se unifica (p. 276), "então a Cristogênese
de São Paulo e de São João é exatamente o
prolongamento, ao mesmo tempo esperado e inesperado, da Noogênese...
O Cristo se envolve organicamente da própria majestade da Sua criação".
Essas afirmações
encontram-se no Epílogo da obra, poucas páginas dedicadas ao Fenômeno
cristão, que Teilhard de Chardin oferece à
atenção de todos "não crente como convicto", mas "como
naturalista que pede para ser ouvido" (p. 272), já que pretende permanecer
no plano da análise objetiva, rigorosamente respeitado em toda a abordagem
anterior.
Assim, podem-se
expressar duas avaliações principais sobre O
fenômeno humano:
1) ele é destinado a pessoas de todas as fés, mas também ateias e
agnósticas;
2) ele revela apenas uma parte da visão de Teilhard, a
científico-filosófica.
A primeira
avaliação encontra a sua confirmação no fato de que O
fenômeno humano foi traduzido e publicado na União
Soviética em 1965, com a única censura e supressão justamente
das páginas relativas ao Fenômeno cristão [11].
A segunda
avaliação justifica o convite aos novos leitores a conhecerem, possivelmente,
também os escritos espirituais e teológicos do Pe. Pierre Teilhard de
Chardin [12].
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Notas:
1.
Teilhard de Chardin antecipou em algumas
décadas o conceito essencial de "complexidade", já que a
"ciência da complexidade" nasceu por volta dos anos 1980 (cf. Morris
Mitchell Waldrop, Complessità. Torino: INSTAR
libri, 1995/1996, p. 134).
2. Bruno de Solages, in AA.VV., L’uomo davanti a Dio, Paoline,
Cinisello Balsamo 1998, pp. 742-743. Battista Mondin, La prova dell’esistenza
di Dio in Teilhard de Chardin, in Rivista di Filosofia neoscolastica,
1965.
3. Pierre Teilhard de Chardin. Science et Christ. Paris: Éd.
du Seuil, 1965, p. 82.
4. John D. Barrow, Frank J. Tipler, Il Principio Antropico, Adelphi,
Milano 2002.
5. Hubert Reeves. L’evoluzione cosmica. Milano: BUR,
1997, p. 12.
6. Pierre Teilhard de Chardin. «La fede che opera». In: La Vita
cosmica. Milano: il Saggiatore, 1970, p. 413.
7. Pierre Teilhard de Chardin. Il fenomeno umano. Brescia:
Queriniana, 1995, 6ª, p. 103.
8. Ludovico Galleni. Darwin, Teilhard de Chardin e gli altri...
Pisa: Felici Editore, 2010, p. 146.
9. Pierre Teilhard de Chardin. “La Grande monade”. In: Écrits du
temps de la guerre. Paris: Éd. du Seuil, 1976.
12. Ao menos em L’ambiente divino (Queriniana,
1994) e La mia fede. Scritti teologici (Queriniana,
1993).
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* Pierre Teilhard de Chardin nasceu em Orcines, na
França, em 1º de maio de 1881 e faleceu em Nova Iorque, aos 10 de abril de
1955. Padre jesuíta, teólogo, filósofo e paleontólogo francês, Chardin é
conhecido por construir uma visão integradora entre ciência e teologia. [In: IHU On - line ]