O cristianismo mostra para
o ser humano que, conforme a vontade de Deus, o seu destino definitivo é a vida
eterna. A morte, pela qual todos devemos passar, é o “portão” para a
eternidade, no sentido figurado, obviamente. O termo eternidade, por sua vez,
para a maioria de nós é sinônimo da vida que nunca acaba, ou da vida “no
coração” de Deus, que é, Ele mesmo, o Amor eterno e comunhão.
Jesus Cristo disse: “Eu
sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e
todo aquele que vive e crê em mim, nunca morrerá. Crês isto?" (Jo 11,
25-26)... Ele padeceu, foi crucificado, morto na cruz e sepultado, mas
ressuscitou da morte, e continua vivo! É o Filho de Deus – o Redentor dos
homens. Junto com Pai e Espírito Santo - Deus Santíssima Trindade – Deus Amor –
Deus Vida. Esta é a fé cristã. “Creio
na vida eterna – Amém” – professamos como cristãos.
Na prática, porém,
tentamos imaginar todas essas coisas que estão por vir, por exemplo o juízo
final, a vida eterna, o purgatório, o céu, a “recompensa eterna” ou a
condenação, o inferno - de acordo com os nossos esquemas antropológicos e
culturais, porque – no final das contas – é a única maneira que temos para
lidar com o MISTÉRIO.
Muitas
ideias formadas ainda na infância (e por isso “infantís”) em relação
a esse grande mistério, que é o desfecho da nossa vida humana,
preservamos na nossa mente e no coração durante toda a vida, sem nos darmos
conta da necessidade de madurecer também na nossa fé cristã.
Pode ser que muitas
pessoas conseguem ser mais “felizes” construindo a sua vida sobre uma fé
“simples e forte”, como costuma-se dizer. Pode ser. Mas, não é bom quando isso
serve de exemplo para afastar outras pessoas do cristianismo. Certamente, não é
bom quando outros passam a considerar uma religiosidade deste tipo como ingênua
ou, o que é pior, como uma fé idiota e absurda, degradando assim a mensagem
extraordinária do cristianismo.
A doutrina cristã fala do
“céu”, como destino dos justos, isto é, das pessoas que, após a morte, passam a
‘morar’ na “casa do Pai. São Paulo escreve: “Olho nenhum viu, ouvido nenhum
ouviu, mente nenhuma imaginou o que Deus preparou para aqueles que o amam" (1Cor 2,9). - Como entender esse
termo? Como interpretar as expressões bíblicas que falam da vida eterna com
Deus? Até que ponto podemos realmente saber sobre essas coisas?
O texto abaixo, de autoria
de Ferdinand Krenzer¹, fala sobre este assunto e pode nos ajudar a corrigir
algumas imagens que, talvez cultivamos desde os tempos da nossa infância.
Vale a pena ler.
WCejnog
Observaçao: Quem
estivesse interessado em acompanhar por completo as reflexões de Ferdinand
Krenzer, poderia seguir desde o início todos os seus textos sobre este assunto,
localizando-os no blog pela data de publicação (é uma série de 11 textos). Os
quatro primeiros textos foram publicados:
1. Sobre a morte. O que
sabemos? No que acreditamos? - Postagem
do dia 29 de janeiro de 2013.
2. Passar pela morte é
atravessar “o portão” da vida”. –Postagem do dia 31 de janeiro de 2013.
3. A morte carimba para
sempre o destino do homem. – Postagem do dia 04 de fevereiro de 2013.
4. Todos devemos passar
pela morte. A questão do julgamento. – Postagem do dia 06 de fevereiro de 2013.
Continuação das
publicações:
5. Existe Purgatório?
... – Postagem do dia 03 de novembro de
2014.
(6)
Deus
– o futuro do homem
Perguntem agora: Onde, então, continuam vivendo os nossos
falecidos e como vivem? - Não sabemos
quase nada sobre isso. “[...] Olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu,
mente nenhuma imaginou o que Deus preparou para aqueles que o amam" (1
Cor 2,9).
A Bíblia diz apenas que vamos viver : “Ora, se pregamos que Cristo ressuscitou dentre os
mortos, como dizem alguns entre vós que não há ressurreição de mortos? Mas se
não há ressurreição de mortos, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo
não ressuscitou, logo é vã a nossa
pregação, e também é vã a vossa fé. Seremos também falsas testemunhas de Deus,
porque contra Deus afirmamos que ele ressuscitou Cristo dos mortos, a quem não
teria ressuscitado, visto que os mortos não ressuscitam. Pois,
se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E se Cristo não
ressuscitou, vã é vossa fé, e ainda estais em pecado. E até os que em Cristo
morreram, pereceram. Se
só temos esperança em Cristo para esta vida, somos os mais miseráveis de
todos os homens. Mas na verdade Cristo ressuscitou dos mortos como primícias
dos que morrem. Com efeito, assim como por um homem veio a morte, assim também
por um homem vem a ressurreição dos mortos.” (1Cor,
15, 12-21); que Deus nos chama a si, e
que estaremos vivendo com Ele: “Estamos, repito, cheios de confiança, preferindo ausentar-nos do corpo
para morar junto do Senhor” (2Cor 5,8).
Tudo o que a Bíblia diz “como” é isso o que também
chamamos de Céu, é apenas a descrição desse “estar com Deus”. Ela fala
da “vida eterna”, e do “descanso”; usa também os termos imaginários, como: “a
comunhão de mesa com Deus”, “a morada de Deus”, “eterna ceia nupcial”, “água
viva”, etc. Essas são as tentativas de dizer algo, sobre o que não podemos
dizer nada.
Anteriormente
já descrevemos o ser humano como um ser aberto, que continuamente sente-se impulsionado
para “sair” para fora de si mesmo, pelo desejo de vida plena. A explicação
cristã desse fato é a seguinte: a esperança não é nenhuma ilusão. Para o ser humano existe uma
riqueza inimaginável e uma realização plena; ele tem um destino real e
definitivo. No entanto, somente pode alcançar tudo isso quando se realizarem todas
as expectativas e quando desaparecer tudo o que é parcial e limitado - quando
chegarmos ao último sentido da nossa vida. Isso acontece quando o ser humano e
Deus se encontram e mutuamente se comunicam. Exatamente isso é “o Céu”. Onde o
homem direto “vê Deus”, ali também ele plenamente alcança a si próprio, conhecendo claramente o
que significa ser uma pessoa: “Felizes os
puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5,8).
Todo
ser humano, na sua vida, tem momentos de felicidade interior: a experiência de
harmonia e segurança, de liberdade e conhecimento, de certeza e de força, de paz e de profunda alegria, de amor e de ser amado. Isso pode
dar um pouco a noção de como entender “estar no Céu”: clareiam as sombras da
vida e sentimos algo desse mistério, ao encontro do qual nós nos dirigimos.
A
pergunta “onde está o Céu” – não tem muito sentido. O céu é um estado e não um
lugar, ele é um novo e perfeito modo de viver. Além do nosso mundo
não existe nenhum determinado outro espaço ou área, que poderia ser chamado de
“Céu”. Acima das nuvens ou no espaço do mundo cósmico, dentro ou fora das
galáxias, não existe lugar que seria o “Céu”. O céu é um mundo perfeito e libertado.
Quando a Bíblia usa expressões de espaço, dizendo
que Deus está “em cima”, ou “no Céu”, isso quer explicitar que Deus é sublime e
diferente de maneira excepcional.
Às
vezes podemos ouvir um questionamento: os cristãos esperam por um paraíso além
do mundo real e temporário, porque desistem e fogem das dificuldades do nosso
mundo concreto. Talvez isso seja verdade em relação a este ou aquele fiel.
Porém, uma postura como esta, não seria de fato cristã. Pois, São Paulo diz: “O que planta e o que rega têm um só
propósito, e cada um será recompensado de acordo com o seu próprio trabalho.”
(1 Cor 3,8). Isto quer dizer que o nosso
destino está sendo decidido já agora, dependendo do que fazemos, dia após dia,
com a nossa vida. Todo o bem passa a ter valor e começa a fazer parte do “Céu”.
Assim,
toda a nossa vida e as nossas atitudes, opções e ações, não são apenas o
“passado”. O “céu” já começou. A Bíblia freqüentemente sublinha que em Jesus
Cristo vemos a Deus: “E
quem me vê a mim, vê aquele que me enviou.” (Jo 12, 45) e que através dele fomos chamados e ressuscitados para uma nova vida e
destinados para o Céu : “Mas Deus, que é
rico em misericórdia, por causa do grande amor ele tinham para nós, mesmo
quando estávamos mortos em nossas transgressões, nos trouxe à vida com Cristo
(pela graça sois salvos), levantou-nos com ele e sentou-nos com ele nos céus em
Cristo Jesus, que nos séculos vindouros mostrar as imensuráveis riquezas da sua
graça em sua bondade para conosco em Cristo Jesus.” ( Ef 2, 4-7). Isso o que
é decisivo, portanto, já
aconteceu. O céu, a vida com Deus, já
aconteceu, só que nós apenas não conseguimos dar nos conta disso e nem
ainda vivê-lo plenamente.
Precisamos
ainda amadurecer e tornar-nos realmente prontos: tudo, portanto permanece
“aberto” até a nossa morte. Até lá, a nossa vida é uma constante caminhada na
direção de Deus.
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions
Du Dialogue, 1981, p. 350-351) ²
Continua...
______________
¹ Krenzer Ferdinand
(nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, †
08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus)
foi um teólogo católico alemão,
sacerdote e escritor na aposentadoria.
[N. Do T.]
² Obs.: As reflexões
do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o
leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os
temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados
neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição
no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português), com uma
pequena atualização dos dados, quando necessário. O título original: “Morgen wird man wieder
Glauben”. [N. Do T.]
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