Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

7. Condenado para sempre – A questão de Inferno.


Prossegue a reflexão sobre o tema da morte e do destino final de cada ser humano. Na Bíblia, temos diversas passagens que falam claramente da possibilidade de ser humano, após a sua morte, ir “ao céu” ou “ao inferno”. Aliás, o conceito de inferno é um dos  mais conhecidos e muito enraizados na consciência e no pensamento humano. Uns acreditam, outros não, outros ainda não sabem o que responder... Para uma boa parte das pessoas que não acreditam hoje em nada – a palavra inferno é sinônimo de desgraça, miséria e castigo, que experimentamos já agora na nossa vida, e nada mais...!

Mas a Bíblia fala do inferno, e – por conseguinte – a doutrina cristã também. Portanto, procurar a entender melhor  esse assunto  é mais que necessário para um cristão consciente, que vive nos dias de hoje. Eis algumas perguntas:
O inferno existe mesmo? Como entender esse termo? Como interpretar as expressões bíblicas a este respeito?

O texto abaixo, de autoria de Ferdinand Krenzer¹, fala deste assunto  de maneira bem interessante.
Não deixe de ler.


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Obs.: Quem estiver interessado, para conseguir acompanhar com facilidade a reflexão de Ferdinand Krenzer e aproveitar ao máximo as explicações, poderia ler desde o início todos os seus textos sobre este assunto (é uma série de 11 textos). As quatro primeiras partes foram publicadas:

1.      Sobre a morte. O que sabemos? No que acreditamos?  - Postagem do dia 29 de janeiro de 2013.
2.      Passar pela morte é atravessar “o portão” da vida”. –Postagem do dia 31 de janeiro de 2013.
3.      A morte carimba para sempre o destino do homem. – Postagem do dia 04 de fevereiro de 2013.
4.      Todos devemos passar pela morte. A questão do julgamento. – Postagem do dia 06 de fevereiro de 2013.

Continuação das publicações:

5.      Existe Purgatório? ... – Postagem do dia 03 de novembro de 2014.
6.      Deus – o futuro  do ser humano. Como entender “o céu”? – Postagem do dia 04 de novembro de 2014.



(7)
Condenado para sempre

Perguntaram aos alunos  como imaginam que seria o inferno. Uns responderam: “É uma grande, escura caverna subterrânea, cheia de fumaça. Ali os demônios submetem os homens às terríveis torturas e sofrimentos. Em todo lugar tem fogo”... Outros alunos diziam que as almas perambulam por ali como fantasmas e nunca mais conseguem encontrar a paz.

Vivemos numa sociedade que, sobretudo, importa-se com produção, eficácia e o sucesso. O que conta mesmo - é o sucesso!  É preciso alcançar  as  metas determinadas. Será que cada um de nós, pelo menos uma vez não experimentou o medo de não alcançar o sucesso? É tão freqüente as pessoas sentirem-se culpadas, elas próprias, por desperdiçar e perder a sua vida, e  que terão de arcar com as dolorosas conseqüências.

Muito pior, porém, seria uma catástrofe total: a  perda do objetivo final da vida e, ligado a isso, desespero. Justamente isso significa o “inferno”. Jesus Cristo com freqüência enumera duas formas de vida após a morte: a alegria e a realização, ou o vazio e o desespero. No Evangelho segundo Mateus, Jesus diz: “Não deveis ter medo dos que matam o corpo mas não podem matar a alma. Deveis ter medo daquele que  pode precipitar alma e corpo no  inferno” (Mt 11, 28). (Leia também Mt 5,29; 13,42; 25, 4-46).

Todavia, não existe nada que poderia jogar o ser humano nessa situação, a não ser ele próprio. Isso acontece quando o homem, fechado no seu  egoísmo míope, totalmente fecha-se em si mesmo, e tenta do seu jeito ser “bem-aventurado”. Não deseja nada mais a não ser ele próprio – e ode permanecer assim para sempre, só consigo mesmo – e isso será o seu inferno.

Para viver bem precisamos de estímulos de fora, precisamos ter contato com as coisas, intercâmbio com as outras pessoas, realização em Deus.  Quem negligencia tudo isso ou abusa disso, esse vai construindo o seu futuro de forma errada.
Todavia, o homem não se orienta exclusivamente para o mundo que o cerca, mas – sobretudo – também para Deus. O ser humano que vive exclusivamente para o mundo (o mundo que é passageiro), acaba descrevendo o seu destino como vazio, sem sentido, incompleto, destruído.

São Paulo diz que homem assim já agora está  mais morto que vivo: “Não sabem que, quando vocês se oferecem a alguém para lhe obedecer como escravos, tornam-se escravos daquele a quem obedecem: escravos do pecado que leva à morte, ou da obediência que leva à justiça? Mas, graças a Deus, porque, embora vocês tenham sido escravos do pecado, passaram a obedecer de coração à forma de ensino que lhes foi transmitida. Vocês foram libertados do pecado e tornaram-se escravos da justiça.  Falo isso em termos humanos, por causa das suas limitações humanas. Assim como vocês ofereceram os membros do seu corpo em escravidão à impureza e à maldade que leva à maldade, ofereçam-nos agora em escravidão à justiça que leva à santidade.” (Rom 6, 16-23);

e ainda:

Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz. Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus. Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele. E, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça. E, se o Espírito daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dentre os mortos ressuscitou a Cristo também vivificará os vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita. De maneira que, irmãos, somos devedores, não à carne para viver segundo a carne. Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis.” (Rom 8, 6-13).

O próprio homem entrega-se para a sua perdição: O destino deles é a perdição, o seu deus é o estômago, e eles têm orgulho do que é vergonhoso; só pensam nas coisas terrenas.” (Flp 3, 19).

Portanto, o homem que vive somente ‘segundo a carne”- está morrendo, e morre duplamente, tanto para carne, como para o espírito. Por isso a Bíblia chama esse estado após a morte de “segunda morte”: “A morte e o inferno foram jogados no tanque de fogo. Esta é a segunda morte, o tanque de fogo. Todo aquele  que não foi encontrado  escrito no livro da vida, foi lançado no tanque de fogo” (Ap 20,14). Também nós, quando vemos alguma vida totalmente falha, fracassada ou destruída – dizemos “isso não é mais vida!”. O “fogo” ardente no  inferno  é exatamente esse desespero frente a um absurdo total, frente ao vazio e à solidão.

Isso também pode estar ligado com a  dor física, porque uma ruptura deste tamanho atinge também a relação do homem com o mundo em que vive. Onde o ser humano não se relaciona corretamente com as  coisas deste mundo, ali tem que se ferir pelas barreiras que ele próprio constrói. Se o homem estiver decidido manter essa postura também na sua morte, ele próprio se excluirá do mundo “libertado”.

Portanto, o inferno em si não  é nada mais que exatamente a conseqüência de rejeição a Deus. Esse “afastamento de Deus” a Bíblia descreve também como “fuga de casa do Pai” (compare Lc 15, 11-32), ou compara como “viver nas trevas”.   Irineu (um dos Padres da Igreja) diz: “Quem foge da luz vai morar na escuridão”. Aqui também vemos claramente que não é Deus que castiga o homem, mas o homem condena-se a si próprio.

Se existem pessoas que, deste jeito, desencontraram-se totalmente com o  objetivo da sua vida, e quantas são – a Bíblia não fornece em relação a isso nenhuma estatística. Em todo caso, ninguém foi criado para ser destinado ao inferno. Também, por outro lado, a existência do inferno não contradiz o amor de Deus, porque o inferno é justamente a rejeição desse amor. O amor fica impotente, quando não  é aceito. A possível felicidade pode tornar-se eterna agonia, quando alguém percebe que levianamente destruiu a si próprio.

Bem, até agora analisamos o destino do homem concreto, do indivíduo. No entanto, o ser humano não está sozinho no palco da vida, ele faz parte do mundo. O seu destino se entrelaça com o destino de toda a humanidade e faz parte do destino da criação toda. Para onde caminha esse todo desenvolvimento do mundo? Qual será o seu fim?

(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 352-353)²

Continua...
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¹ Krenzer Ferdinand (nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, 08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus) foi um teólogo católico alemão, sacerdote e escritor na aposentadoria. [N. Do T.]



² Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português), com uma pequena atualização dos dados, quando necessário.  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”. [N. Do T.]


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