Prossegue
a reflexão sobre o tema da morte e do destino final de cada ser humano. Na
Bíblia, temos diversas passagens que falam claramente da possibilidade de ser
humano, após a sua morte, ir “ao céu” ou “ao inferno”. Aliás, o conceito de
inferno é um dos mais conhecidos e muito
enraizados na consciência e no pensamento humano. Uns acreditam, outros não,
outros ainda não sabem o que responder... Para uma boa parte das pessoas que
não acreditam hoje em nada – a palavra inferno é sinônimo de desgraça, miséria
e castigo, que experimentamos já agora na nossa vida, e nada mais...!
Mas
a Bíblia fala do inferno, e – por conseguinte – a doutrina cristã também.
Portanto, procurar a entender melhor
esse assunto é mais que
necessário para um cristão consciente, que vive nos dias de hoje. Eis algumas
perguntas:
O
inferno existe mesmo? Como entender esse termo? Como interpretar as expressões
bíblicas a este respeito?
O
texto abaixo, de autoria de Ferdinand Krenzer¹, fala deste assunto de maneira bem interessante.
Não
deixe de ler.
WCejnog
Obs.: Quem estiver
interessado, para conseguir acompanhar com facilidade a reflexão de Ferdinand
Krenzer e aproveitar ao máximo as explicações, poderia ler desde o início todos
os seus textos sobre este assunto (é uma série de 11 textos). As quatro
primeiras partes foram publicadas:
1.
Sobre a morte. O que
sabemos? No que acreditamos? - Postagem
do dia 29 de janeiro de 2013.
2.
Passar pela morte é
atravessar “o portão” da vida”. –Postagem do dia 31 de janeiro de 2013.
3.
A morte carimba para
sempre o destino do homem. – Postagem do dia 04 de fevereiro de 2013.
4.
Todos devemos passar
pela morte. A questão do julgamento. – Postagem do dia 06 de fevereiro de 2013.
Continuação das publicações:
5.
Existe Purgatório?
... – Postagem do dia 03 de novembro de
2014.
6.
Deus – o futuro do ser humano. Como entender “o céu”? –
Postagem do dia 04 de novembro de 2014.
(7)
Condenado para sempre
Perguntaram
aos alunos como imaginam que seria o
inferno. Uns responderam: “É uma grande, escura caverna subterrânea, cheia de
fumaça. Ali os demônios submetem os homens às terríveis torturas e sofrimentos.
Em todo lugar tem fogo”... Outros alunos diziam que as almas perambulam por ali
como fantasmas e nunca mais conseguem encontrar a paz.
Vivemos
numa sociedade que, sobretudo, importa-se com produção, eficácia e o sucesso. O
que conta mesmo - é o sucesso! É preciso
alcançar as metas determinadas. Será que cada um de nós,
pelo menos uma vez não experimentou o medo de não alcançar o sucesso? É tão
freqüente as pessoas sentirem-se culpadas, elas próprias, por desperdiçar e perder
a sua vida, e que terão de arcar com as
dolorosas conseqüências.
Muito
pior, porém, seria uma catástrofe total: a
perda do objetivo final da vida e, ligado a isso, desespero. Justamente
isso significa o “inferno”. Jesus Cristo com freqüência enumera duas formas de
vida após a morte: a alegria e a realização, ou o vazio e o desespero. No
Evangelho segundo Mateus, Jesus diz: “Não
deveis ter medo dos que matam o corpo mas não podem matar a alma. Deveis ter
medo daquele que pode precipitar alma e
corpo no inferno” (Mt 11, 28). (Leia
também Mt 5,29; 13,42; 25, 4-46).
Todavia,
não existe nada que poderia jogar o ser humano nessa situação, a não ser ele
próprio. Isso acontece quando o homem, fechado no seu egoísmo míope, totalmente fecha-se em si
mesmo, e tenta do seu jeito ser “bem-aventurado”. Não deseja nada mais a não
ser ele próprio – e ode permanecer assim para sempre, só consigo mesmo – e isso
será o seu inferno.
Para
viver bem precisamos de estímulos de fora, precisamos ter contato com as
coisas, intercâmbio com as outras pessoas, realização em Deus. Quem negligencia tudo isso ou abusa disso,
esse vai construindo o seu futuro de forma errada.
Todavia, o homem não se orienta
exclusivamente para o mundo que o cerca, mas – sobretudo – também para Deus. O
ser humano que vive exclusivamente para o mundo (o mundo que é passageiro),
acaba descrevendo o seu destino como vazio, sem sentido, incompleto, destruído.
São Paulo diz que homem assim já agora
está mais morto que vivo: “Não sabem que, quando vocês se oferecem a
alguém para lhe obedecer como escravos, tornam-se escravos daquele a quem
obedecem: escravos do pecado que leva à morte, ou da obediência que leva à
justiça? Mas, graças a Deus, porque, embora vocês tenham sido
escravos do pecado, passaram a obedecer de coração à forma de ensino que lhes
foi transmitida. Vocês foram libertados do pecado e tornaram-se
escravos da justiça. Falo
isso em termos humanos, por causa das suas limitações humanas. Assim como vocês
ofereceram os membros do seu corpo em escravidão à impureza e à maldade que
leva à maldade, ofereçam-nos agora em escravidão à justiça que leva à
santidade.” (Rom 6, 16-23);
e ainda:
“Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é
vida e paz. Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é
sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. Portanto, os que estão na
carne não podem agradar a Deus. Vós, porém, não estais na carne, mas no
Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o
Espírito de Cristo, esse tal não é dele. E, se Cristo está em vós, o corpo, na
verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da
justiça. E, se o Espírito daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus
habita em vós, aquele que dentre os mortos ressuscitou a Cristo também
vivificará os vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita. De
maneira que, irmãos, somos devedores, não à carne para viver segundo a carne.
Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito
mortificardes as obras do corpo, vivereis.” (Rom 8, 6-13).
O próprio homem entrega-se para a sua perdição: “O
destino deles é a perdição, o seu deus é o estômago, e eles têm orgulho do que
é vergonhoso; só pensam nas coisas terrenas.” (Flp 3, 19).
Portanto, o homem que vive somente ‘segundo
a carne”- está morrendo, e morre duplamente, tanto para carne, como para o
espírito. Por isso a Bíblia chama esse estado após a morte de “segunda morte”: “A morte e o inferno foram jogados no tanque
de fogo. Esta é a segunda morte, o tanque de fogo. Todo aquele que não foi encontrado escrito no livro da vida, foi lançado no tanque
de fogo” (Ap 20,14). Também nós, quando vemos alguma vida totalmente falha,
fracassada ou destruída – dizemos “isso não é mais vida!”. O “fogo” ardente
no inferno é exatamente esse desespero frente a um
absurdo total, frente ao vazio e à solidão.
Isso também pode estar ligado com a dor física, porque uma ruptura deste tamanho
atinge também a relação do homem com o mundo em que vive. Onde o ser humano não
se relaciona corretamente com as coisas
deste mundo, ali tem que se ferir pelas barreiras que ele próprio constrói. Se
o homem estiver decidido manter essa postura também na sua morte, ele próprio se
excluirá do mundo “libertado”.
Portanto, o inferno em si não é nada mais que exatamente a conseqüência de
rejeição a Deus. Esse “afastamento de Deus” a Bíblia descreve também como “fuga
de casa do Pai” (compare Lc 15, 11-32), ou compara como “viver nas trevas”. Irineu (um dos Padres da Igreja) diz: “Quem
foge da luz vai morar na escuridão”. Aqui também vemos claramente que não é
Deus que castiga o homem, mas o homem condena-se a si próprio.
Se existem pessoas que, deste jeito,
desencontraram-se totalmente com o
objetivo da sua vida, e quantas são – a Bíblia não fornece em relação a
isso nenhuma estatística. Em todo caso, ninguém foi criado para ser destinado
ao inferno. Também, por outro lado, a existência do inferno não contradiz o
amor de Deus, porque o inferno é justamente a rejeição desse amor. O amor fica
impotente, quando não é aceito. A
possível felicidade pode tornar-se eterna agonia, quando alguém percebe que
levianamente destruiu a si próprio.
Bem, até agora analisamos o destino do
homem concreto, do indivíduo. No entanto, o ser humano não está sozinho no
palco da vida, ele faz parte do mundo. O seu destino se entrelaça com o destino
de toda a humanidade e faz parte do destino da criação toda. Para onde caminha
esse todo desenvolvimento do mundo? Qual será o seu fim?
(KRENZER,
F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 352-353)²
Continua...
___________________
¹ Krenzer Ferdinand
(nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, †
08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus)
foi um teólogo católico alemão,
sacerdote e escritor na aposentadoria.
[N. Do T.]
² Obs.: As reflexões
do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o
leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os
temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados
neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição
no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português), com uma
pequena atualização dos dados, quando necessário. O título original: “Morgen wird man wieder
Glauben”. [N. Do T.]
Nenhum comentário:
Postar um comentário