Um dos propósitos do blog Indagações-Zapytania é trazer à tona os assuntos
ou questões que me deixam insatisfeito por eu não conseguir entendê-los muito
bem, por conhecê-los insuficiêntemente, ou até mesmo porque são capazes de levantar
muitas dúvidas e, com isso, me levam a questionar as interpretações impostas
por outros.
Principalmente, quando esses assuntos pertencem ao campo de filosofia ou de religião, onde as únicas “provas” são hipóteses e teorias ou, então, interpretações das verdades reveladas baseadas na Bíblia e na Tradição, e apresentadas como “certezas da fé” ou dogmas.
Principalmente, quando esses assuntos pertencem ao campo de filosofia ou de religião, onde as únicas “provas” são hipóteses e teorias ou, então, interpretações das verdades reveladas baseadas na Bíblia e na Tradição, e apresentadas como “certezas da fé” ou dogmas.
As
indagações servem aqui para esclarecer algumas dúvidas, separando o “jóio” do “trigo”, e encontrar respostas mais consistentes e satisfatórias
para a minha busca pessoal. Obviamente, na medida possível e dentro da minha
visão subjetiva.
Penso
que algumas das reflexões (ou colocações
a respeito de algumas questões), que
trago para o espaço deste blog, talvéz também possam ser úteis para mais pessoas,
que, porventura, vivenciam uma busca parecida.
Hoje, no início do mês de novembro, quando ainda ’exala’ simbolicamente o cheiro de
velas e flores que marcaram o Dia dos Finados - decidi retomar as postagens cuja
temática é escatologia cristã. Nestes dias,
querendo ou não, os termos como morte,
céu, purgatório, inferno, juizo, destino final, fé ou falta de fé ou outros conceitos similares,
tornaram-se mais presentes nos pensamentos do ser humano.
Neste
contexto, acho que talvéz seja interessante e útil publicar aqui alguns textos
que, de forma simples e aberta, recordam
e/ou apresentam a doutrina cristã ensinada pela Igreja Católica Apostólica
Romana. O propósito é o mesmo: não fugir dos temas ‘difíceis’ ou ‘ultrapassados’,
mas desvendá-los, sendo coerente com a busca
da verdade. E a última instância, onde esse processo ocorre - penso eu, é a consciência e o ‘coração’ de cada
pessoa.
Os
textos são de autoria de Ferdinand Krenzer¹.
Anteriormente,
já foram publicadas neste blog quatro textos, que podem ser localizadas pela data de postagem:
1. Sobre a morte. O que sabemos? No que acreditamos? - Postagem do dia 29 de janeiro de 2013.
2. Passar pela morte é
atravessar “o portão” da vida”. –Postagem do dia 31 de janeiro de 2013.
3. A morte carimba para sempre o destino do homem. – Postagem
do dia 04 de fevereiro de 2013.
4. Todos devemos passar
pela morte. A questão do julgamento. – Postagem do dia 06 de fevereiro de 2013.
Agora
prossegue a reflexão sobre o tema da morte e do destino final de cada ser
humano. Na Bíblia, temos diversas passagens que falam da necessidade de
purificação do ser humano após a morte,
ou seja, do purgatório.
As
indagações a respeito dessa questão são muitas. Quantas vezes perguntamos, por exemplo:
O purgatório existe mesmo? Como entender esse termo? Como interpretar as
expressões bíblicas a este respeito? O que diz a doutrina cristã a esse
respeito?, etc.
O
texto abaixo, de Ferdinand Krenzer, fala deste assunto de um jeito bem interessante.
Não
deixe de ler.
WCejnog
(5)
Existe purgatório...?
“[...] A sua obra
ficará manifesta, pois em seu dia o fogo o revelará, e provará qual foi a
obra de cada um. Se a obra construída sobre o fundamento resistir, o
autor receberá o prêmio, e aquele cuja obra for consumida sofrerá o dano; ele,
todavia, se salvará, mas como quem passa
pelo fogo” (1 Cor 3, 13-15); compare também 2 Mcb 12, 38ss.
Notemos
logo no início: a expressão popular “o fogo purificador” é um desentendimento,
porque a idéia de chamas que causam o
sofrimento e purificam, engana. A palavra em latim “purgatorium”, significa “purificação”; não tem nada a ver com o
fogo. São Paulo fala da purificação “como se fosse pelo fogo”, querendo fazer
com isso que as suas palavras sejam entendidas no sentido figurativo. Mas, o
que isso tem com a nossa vida?
Muitos
de nós sabemos como é difícil e
complicado largar por exemplo o cigarro,
ou algum outro vício ou costume – até mesmo quando conseguimos fazê-lo, ficamos
ainda com alguma inclinação para isso. Os psicoterapeutas falam do “passado não
vencido”. A verdade é que sofremos as conseqüências dos nossos próprios atos, e
isso faz parte da realidade da nossa vida.
Isso
se aplica também à nossa relação com Deus. Nós nos dirigimos a Ele, tentamos
viver baseando-nos na fé, no entanto essa decisão principal ainda não torna o
nosso ser humano sem manchas. Mesmo que
realmente não cometamos grandes delitos, como crime ou furto, ainda assim ficamos
freqüentemente manchados por omissões ou
por não levarmos à sério as coisas pequenas, como uma mentirinha ou uma palavra
que fere alguém. A nossa fé e amor sempre ficam à desejar em tudo que fazemos
na nossa vida cotidiana.
Essa
imperfeição certamente incomoda o ser humano, quando ele morre e encontra o
“olhar de Deus” que penetra tudo. Como num espelho, ele passa a conhecer a sua fraqueza e
imperfeição, e essa experiência constitui uma dolorosa purificação. É verdade
que de modo geral essa pessoa optou por
Deus, mas ainda precisa eliminar todo o entulho da sua vida. Desta maneira,
todo homem que morre, passa pelo
processo individual de purificação. O
purgatório, portanto, não é nenhum tipo de lugar, mas é justamente um processo que
começa quando o ser humano, finalmente, depara-se com Deus, porém, ainda
não está totalmente preparado para isso (Ap 21, 27). Deixemos de lado a questão
de duração desse processo – não tem sentido falar aqui do tempo ou quanto isso
demora. Em todo caso, as palavras de Cristo – “ [...] É que serás justificado ou
condenado por tuas palavras” (Mt 12, 37), indicam, assim nos parece, a idéia que ainda na vida futura é possível
ser perdoado e purificado.
Portanto,
é possível entender por que os católicos oram pelos falecidos e pela paz da alma. Acontece assim, sobretudo, no
Dia dos Finados (2 de Novembro). Atrás disso existe a fé na comunicação e na comunhão
de todos os fiéis que estão ligados entre si e intercedem, mutuamente, uns
pelos outros (compare 1 Cor 12, 12 ss). Por isso as obras e as orações de um ajudam
aos outros, neste caso – aos falecidos. Já o Judá Macabeu pressentia que algo
assim é possível, pois estava convicto de que poderia ajudar aos mortos através
da oração e dos sacrifícios oferecidos (2 Mc 12, 38 ss). Por isso, desde os
inícios do cristianismo existia o costume de rezar pelos falecidos, como
demonstram numerosos escritos nos sepulcros localizados nas antigas catacumbas.
Tertuliano (160-220) menciona que no aniversário da morte de um cristão, ele
foi mencionado nas orações durante a santa
missa.
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du
Dialogue, 1981, p. 349-350)²
Continua...
_____________________
¹ Krenzer Ferdinand
(nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, †
08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus)
foi um teólogo católico alemão,
sacerdote e escritor na aposentadoria.
[N. Do T.]
² Obs.: As reflexões
do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o
leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os
temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados
neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição
no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português), com uma
pequena atualização dos dados, quando necessário. O título original: “Morgen wird man wieder
Glauben”. [N. Do T.]
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