Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

5. Doutrina cristã sobre a vida após a morte. Existe o purgatório?

 

Um dos propósitos do blog Indagações-Zapytania é trazer à tona os assuntos ou questões que me deixam insatisfeito por eu não conseguir entendê-los muito bem, por conhecê-los insuficiêntemente, ou até mesmo porque são capazes de levantar muitas dúvidas  e, com isso, me levam a questionar  as interpretações  impostas  por outros. 
Principalmente, quando esses assuntos pertencem ao campo de filosofia ou de religião, onde as únicas “provas” são hipóteses e teorias ou, então, interpretações das verdades reveladas baseadas na Bíblia e na Tradição, e apresentadas como “certezas da fé” ou dogmas.  

As indagações servem aqui para esclarecer algumas dúvidas, separando o “jóio” do “trigo”, e encontrar respostas mais consistentes e satisfatórias para a minha busca pessoal. Obviamente, na medida possível e dentro da minha visão subjetiva.
Penso que  algumas das reflexões (ou colocações a respeito de algumas questões),  que trago para o espaço deste blog, talvéz também possam ser úteis para mais pessoas, que, porventura, vivenciam uma busca parecida.

Hoje, no início do mês de novembro, quando ainda ’exala’ simbolicamente o cheiro de velas e flores que marcaram o Dia dos Finados - decidi retomar as postagens cuja temática é escatologia cristã.  Nestes dias, querendo ou não, os termos como morte, céu, purgatório, inferno, juizo, destino final, fé ou falta de fé ou outros conceitos similares, tornaram-se mais presentes nos pensamentos do ser humano.

Neste contexto, acho que talvéz seja interessante e útil publicar aqui alguns textos que, de forma simples  e aberta, recordam e/ou apresentam a doutrina cristã ensinada pela Igreja Católica Apostólica Romana. O propósito é o mesmo: não fugir dos temas ‘difíceis’ ou ‘ultrapassados’, mas desvendá-los,  sendo coerente com a busca da verdade. E a última instância, onde esse processo ocorre - penso  eu, é a consciência e o ‘coração’ de cada pessoa.

Os textos são de autoria de Ferdinand Krenzer¹.
Anteriormente, já foram publicadas  neste blog quatro textos, que podem ser localizadas pela data de postagem:

1.    Sobre a morte. O que sabemos? No que acreditamos?  - Postagem do dia 29 de janeiro de 2013.
2.    Passar pela morte é atravessar “o portão” da vida”. –Postagem do dia 31 de janeiro de 2013.
3.   A morte carimba para sempre o destino do homem. – Postagem do dia 04 de fevereiro de 2013.
4.  Todos devemos passar pela morte. A questão do julgamento. – Postagem do dia 06 de fevereiro de 2013.

Agora prossegue a reflexão sobre o tema da morte e do destino final de cada ser humano. Na Bíblia, temos diversas passagens que falam da necessidade de purificação do ser humano após a  morte, ou seja, do purgatório.

As indagações a respeito dessa questão são muitas. Quantas vezes perguntamos, por exemplo: O purgatório existe mesmo? Como entender esse termo? Como interpretar as expressões bíblicas a este respeito? O que diz a doutrina cristã a esse respeito?, etc.

O texto abaixo, de Ferdinand Krenzer, fala deste assunto de um jeito bem interessante.
Não deixe de ler.
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(5)
Existe purgatório...?

“[...] A sua obra ficará manifesta, pois em  seu dia  o fogo o revelará, e provará  qual foi a  obra de cada um. Se a obra construída sobre o fundamento resistir, o autor receberá o prêmio, e aquele cuja obra for consumida sofrerá o dano; ele, todavia, se salvará, mas  como quem passa pelo fogo” (1 Cor 3, 13-15); compare também 2 Mcb 12, 38ss.

Notemos logo no início: a expressão popular “o fogo purificador” é um desentendimento, porque a idéia de chamas  que causam o sofrimento e purificam, engana. A palavra em latim “purgatorium”, significa “purificação”; não tem nada a ver com o fogo. São Paulo fala da purificação “como se fosse pelo fogo”, querendo fazer com isso que as suas palavras sejam entendidas no sentido figurativo. Mas, o que isso tem com a nossa vida?

Muitos de nós sabemos como  é difícil e complicado largar  por exemplo o cigarro, ou algum outro vício ou costume – até mesmo quando conseguimos fazê-lo, ficamos ainda com alguma inclinação para isso. Os psicoterapeutas falam do “passado não vencido”. A verdade é que sofremos as conseqüências dos nossos próprios atos, e isso faz parte da realidade da nossa vida.

Isso se aplica também à nossa relação com Deus. Nós nos dirigimos a Ele, tentamos viver baseando-nos na fé, no entanto essa decisão principal ainda não torna o nosso ser humano  sem manchas. Mesmo que realmente não cometamos grandes delitos, como crime ou furto, ainda assim ficamos freqüentemente manchados por omissões  ou por não levarmos à sério as coisas pequenas, como uma mentirinha ou uma palavra que fere alguém. A nossa fé e amor sempre ficam à desejar em tudo que fazemos na nossa vida cotidiana.

Essa imperfeição certamente incomoda o ser humano, quando ele morre e encontra o “olhar de Deus” que penetra tudo. Como num espelho, ele  passa a conhecer a sua fraqueza e imperfeição, e essa experiência constitui uma dolorosa purificação. É verdade que de  modo geral essa pessoa optou por Deus, mas ainda precisa eliminar todo o entulho da sua vida. Desta maneira, todo homem que  morre, passa pelo processo individual de  purificação. O purgatório, portanto, não  é nenhum  tipo de lugar, mas é justamente um  processo que  começa quando o ser humano, finalmente, depara-se com Deus, porém, ainda não está totalmente preparado para isso (Ap 21, 27). Deixemos de lado a questão de duração desse processo – não tem sentido falar aqui do tempo ou quanto isso demora. Em todo caso, as palavras de Cristo – “ [...] É que  serás justificado ou condenado por tuas palavras” (Mt 12, 37), indicam, assim nos parece, a  idéia que ainda na vida futura é possível ser  perdoado e purificado.

Portanto, é possível entender por que os católicos oram pelos falecidos e  pela paz da alma. Acontece assim, sobretudo, no Dia dos Finados (2 de Novembro). Atrás disso existe a fé na comunicação e na comunhão de todos os fiéis que estão ligados entre si e intercedem, mutuamente, uns pelos outros (compare 1 Cor 12, 12 ss). Por isso as obras e as orações de um ajudam aos outros, neste caso – aos falecidos. Já o Judá Macabeu pressentia que algo assim é possível, pois estava convicto de que poderia ajudar aos mortos através da oração e dos sacrifícios oferecidos (2 Mc 12, 38 ss). Por isso, desde os inícios do cristianismo existia o costume de rezar pelos falecidos, como demonstram numerosos escritos nos sepulcros localizados nas antigas catacumbas. Tertuliano (160-220) menciona que no aniversário da morte de um cristão, ele foi mencionado nas  orações durante a santa missa.

(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 349-350)²

Continua...
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¹  Krenzer Ferdinand (nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, 08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus) foi um teólogo católico alemão, sacerdote e escritor na aposentadoria. [N. Do T.]


² Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português), com uma pequena atualização dos dados, quando necessário.  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”. [N. Do T.]

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