“Creio na
ressurreição da carne” – é um artigo da fé cristã, lembrado e repetido pelos fiéis
em cada celebração festiva. Mas, esta é uma afirmação teológica e muitas
pessoas não estão conseguindo entendê-la bem e têm dificuldade em aceitá-la, por desafiar a própria razão. O
mundo contemporâneo, com a sua ciência, tecnologia e visão materialista,
questiona tudo o que foge do alcance do
método científico...
As
indagaçoes são muitas e muitas questões necessariamente permanecerão sem
respostas claras e sem provas materiais, porque
transcendem as competências e o domínio da ciência. Mas, nem por isso
são menos importantes e válidas. Sobretudo, para quem enxerga o sentido da existência e da
própria vida olhando para o mistério do Amor de Deus, revelado em Jesus Cristo.
Sem isso nada teria sentido. Mas a pergunta principal seria esta: Será que
entendemos o que quer dizer ressurreição
da carne? Entendemos até que
ponto?
Acho interessante o texto que hoje trago para
o blog Indagações-Zapytania. É mais um texto de autoria de Ferdinand Krenzer¹ e
fala sobre esse tema tão difícil mesmo para os cristãos. Talvez a sua reflexão
possa ajudar um pouco nesta abusca de compreensão desse artigo da nossa fé
cristã.
Vale
a pena ler.
WCejnog
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Observação: Quem estiver interessado,
para conseguir acompanhar com facilidade a reflexão de Ferdinand Krenzer e
aproveitar ao máximo as explicações, poderia ler desde o início todos os seus
textos sobre este assunto (é uma série de 11 textos). As quatro primeiras
partes foram publicadas:
1.
Sobre a morte. O que sabemos? No que
acreditamos? - Postagem do dia 29 de janeiro de 2013.
2.
Passar pela morte é atravessar “o
portão” da vida”. –Postagem do dia 31 de
janeiro de 2013.
3.
A morte carimba para sempre o destino
do homem. – Postagem do dia 04 de
fevereiro de 2013.
4.
Todos devemos passar pela morte. A
questão do julgamento. – Postagem do dia 06
de fevereiro de 2013.
Continuação
das publicações:
5.
Existe Purgatório? ... – Postagem do
dia 03 de novembro de 2014.
6.
Deus – o futuro do ser humano. Como entender “o céu”? –
Postagem do dia 04 de novembro de 2014.
7.
‘Condenado para sempre’ . Inferno. – Postagem do dia 05 de novembro de 2014.
(9)
A ressurreição da
carne
“Eis
o que vos declaramos conforma a palavra do Senhor: nós, que ficamos ainda
vivos, não precederemos os mortos na vinda do Senhor. Quando for dado o
sinal, à voz do arcanjo e ao som da
trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá do céu e os que morreram em Cristo ressuscitarão
primeiro. Depois nós, os vivos, que estamos ainda na terra, seremos arrebatados
juntamente com eles para as nuvens, ao encontro do Senhor nos ares. Assim
estaremos sempre com o Senhor.” (1Tes
4, 15-17)
“Pois assim será
também a ressurreição dos mortos. Semeia-se em corrupção e ressuscita-se em
incorrupção. Semeia-se em ignomínia, e ressuscita-se em vigor. Semeia-se em fraqueza, e ressuscita-se
em vigor. Semeia-se um corpo animal, e
ressuscita-se um corpo espiritual. Pois, se há um corpo animal, há
também um espiritual.” (1Cor 15,42-44)
Podemos
“ler” muita coisa, olhando para o rosto de alguém: se esta pessoa é boa, compreensiva, ou se é fechada, áspera
etc. O interior de uma pessoa expressa-se também no seu físico. Por outro lado,
dizem os médicos que os problemas físicos sempre deixam marcas na parte psíquica. O corpo e o espírito pertencem um
ao outro e somente assim, juntos, formam
o ser humano integral – a pessoa.
Também
não é possível separar os 'elos' que
prendem o homem ao mundo que o cerca. Sendo assim, o corpo e o mundo em que ele
existe, também deveriam entrar para a vida futura, se o homem realmente está para continuar a viver
como a mesma pessoa.
A
promessa da imortalidade não fala, portanto, da alma separada do corpo, mas
se refere ao homem todo, à pessoa (1 Cor
15, 1-58; Rm 8, 11; Fl 3, 21). Onde a Bíblia fala da ressurreição dos mortos,
sempre contempla uma nova e total formação do ser humano.
O
corpo ressuscitado, obviamente, não
precisará ter os mesmos elementos materiais que tem o corpo que temos agora.
Perfeitamente sabemos que as células e substâncias que compõem o
nosso corpo se renovam totalmente e de modo contínuo durante toda a nossa vida. No entanto, com o passar dos anos, apesar
disso, continuamos os mesmos indivíduos.
Portanto, podemos aceitar a tese de que bastaria que o nosso renovado “eu” se unisse com a matéria, para que novamente se tornasse o mesmo ser humano. Não devemos entender isso como promessa de que receberemos algum corpo ideal. Trata-se, mais, de uma forma de vida totalmente nova. Falar que o corpo também será libertado quer dizer que ele vai existir sem qualquer tipo de corruptibilidade. Será libertado de todos os condicionamentos da matéria, isto é, não vai depender mais do espaço, tempo, da força de gravidade, aos quais nós agora estamos submetidos. É justamente a isso que se referem os relatos sobre o Cristo ressuscitado (compare Lc 24; Jo 20).
Portanto, podemos aceitar a tese de que bastaria que o nosso renovado “eu” se unisse com a matéria, para que novamente se tornasse o mesmo ser humano. Não devemos entender isso como promessa de que receberemos algum corpo ideal. Trata-se, mais, de uma forma de vida totalmente nova. Falar que o corpo também será libertado quer dizer que ele vai existir sem qualquer tipo de corruptibilidade. Será libertado de todos os condicionamentos da matéria, isto é, não vai depender mais do espaço, tempo, da força de gravidade, aos quais nós agora estamos submetidos. É justamente a isso que se referem os relatos sobre o Cristo ressuscitado (compare Lc 24; Jo 20).
Mas,
se a ressurreição se realizará no fim do mundo, o que então pensar sobre a vida que
continuará a partir do momento da morte? Isso não sabemos e nem a Igreja afirma sobre isso nada em definitivo. Mesmo, porque
não é possível transportar os nosso
conceitos de tempo e espaço para o mundo
extra-temporal. Apesar dessas dificuldades, os teólogos meditaram muito sobre
isso, e fizeram isso de diversas formas. Uns entendem que nesse “tempo de transição” a alma
vive separada do corpo, não podendo gozar da felicidade perfeita, pois
flata-lhe o corpo; outros, porém, acham
que a alma libertada do corpo, entra numa relação ainda mais íntima e
direta com o mundo; tem também aqueles que entendem que a
ressurreição acontece diretamente após a
morte, mas a sua realização se realizará
plenamente somente no Último Dia, quando
o destino de cada ser humano for incluido na ordem do destino de toda a
humanidade.
(KRENZER,
F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 354-355)²
Continua...
__________________
¹ Krenzer Ferdinand
(nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, †
08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus)
foi um teólogo católico alemão,
sacerdote e escritor na aposentadoria.
[N. Do T.]
² Obs.: As reflexões
do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o
leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os
temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados
neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição
no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português), com uma
pequena atualização dos dados, quando necessário. O título original: “Morgen wird man wieder
Glauben”. [N. Do T.]
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