Acho interessante a reportagem Adolescentes
e fé, do padre e teólogo italiano Lorenzo Prezzi, sobre as questões
ligadas ao mundo de adolescentes nos tempos atuais.
Na sua grande maioria, os adolescentes atravessam
por numerosas mudanças físicas e psicológicas, mudanças de comportamentos e de
ideias, o processo que frequentemente torna-se cada vez mais complexo e
incompreensível para os familiares e adultos de modo geral. Constitui também um
sério desafio para a Igreja, que precisa elaborar novas maneiras para levar a
eles a mensagem cristã.
A reportagem pode ser bastante útil para quem
estiver interessado em entender melhor esse mundo de adolescentes nos dias de
hoje.
O texto foi publicado em Settimana News, no
dia 12 de maio de 2019, e posteriormente também no site do Instituto Humanitas Unisinos
(IHU).
Vale a pena conferir!
Wcejnóg
IHU – ADITAL
17 Maio 2019
Adolescentes e fé
Eles parecem incapturáveis. Os adolescentes (entre 12 e 18 anos) escapam dos cuidados educacionais escolares, assim
como dos eclesiais. Não é difícil encontrar genitores exasperados pelos seus
desafios. No entanto, é uma época decisiva em que florescem as possibilidades,
também em termos de fé. O número 12 (2018) da Documents episcopat,
revista publicada pela secretaria da Conferência dos Bispos da França,
indica, em uma dezena de breves artigos, os maiores desafios dessa idade:
educativos, missionários e eclesiais.
A reportagem é de Lorenzo Prezzi, publicada
em Settimana News, 12-05-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Reportagem
Arrastados pelas tumultuosas mudanças do corpo, da
mente e da consciência, os adolescentes são obrigados a responder à perene
pergunta: “Quem sou eu?”, em um contexto em que a norma social parece ter
desaparecido, enquanto se multiplicam as injunções (roupas, linguagens, música
etc.) e se torna opressivo o imperativo da autonomia.
Reconhecer o bem, aprender a escolher, viver em
relação: esses são os maiores desafios educacionais.
Digitais
e insubmissos
O ambiente digital e o jogo sexual parecem ser as
características mais intrigantes da nova geração. Os “nativos digitais”
(definição, aliás, bastante controversa) vivem o ambiente digital como algo
obrigatório. As suas capacidades são fruto da aprendizagem na imitação. Eles se
tornam digitais, não nascem assim. Eles assumem os seus imperativos: “imediatismo, ilimitabilidade e continuidade
representam os três pilares do digital”.
O fato de estar sempre conectado não é apenas uma
tarefa, mas também um espaço de personalidade que se soma ao “Id – Ego –
Superego” da tradição freudiana. Assim são identificados os pontos que
caracterizam os “jovens mutantes”:
- os “mutantes” não são mais psicossocialmente
moldados para integrar a autoridade de tipo paterno;
- não são mais psicossocialmente moldados para
integrar os modos de aprendizagem baseados na “submissão” ao saber de um
mestre;
- não aprendem o respeito exceto a partir do
respeito que lhes é concedido;
- aprendem conosco (adultos) a partir daquilo que
nos veem fazer, e não daquilo que nós lhes ordenamos a fazer;
- conversas e negociações “igualitárias” tornam-se
os instrumentos privilegiados do codesenvolvimento nosso e dos nossos jovens”.
A brecha geracional muitas vezes manifesta mais o medo dos adultos do que a
situação real dos adolescentes.
Em relação à sexualidade, o desafio que eles
enfrentam é o de reconhecer o estatuto do corpo, a unidade da sua pessoa e o
sentido dos gestos e dos atos. Trata-se de um horizonte antropológico em
relação ao qual as listas normativas são incompreensíveis.
Acima de tudo, o sexo é vivido como um puro jogo de
prazer, submetido à única regra do consenso. Uma vertigem imediata sem duração
e sem compromisso. O anteparo do gênero torna-se fluido e, para além das
infinitas discussões sobre a teoria de gênero, condiciona a vida afetiva e
sexual dos adolescentes, arrastados pelos modelos propostos a eles pela cultura
midiática.
A sexualidade tende a se tornar o jogo dos
possíveis e se expande sobre a onda de desejos múltiplos e flutuantes. O ato
sexual se reduz a uma experiência, mesmo quando é de tipo homossexual ou
bissexual.
Os modelos de conformidade, por um lado, são os da
publicidade e, por outro, os da pornografia, que “é a principal fonte de
informação e de formação em matéria sexual para os adolescentes”.
Mas precisamente a relação mecânica e desconectada
da emoção transmitida pela pornografia relança a exigência, muito viva nos
jovens, da unidade da sua pessoa e do perigo de uma dissociação íntima quando o
corpo, próprio e alheio, é reduzido a um instrumento. Daí nasce uma
conscientização não só da unidade pessoal própria, mas também de um dom de si
livre e responsável. O controle dos gestos não é mais castração, embora seja
alcançado através de tentativas e erros.
Assim, abre-se uma nova confidência com o adulto,
chamado a acompanhar e a não forçar as etapas. Até a descoberta da
interioridade que habita o corpo, o silêncio meditativo que alimenta a pessoa,
a capacidade de estar consigo mesmo no dom aos outros.
O “eu” e o
“eu creio”
O percurso catecumenal parece ser o mais adequado
para acompanhar a formação de fé nos adolescentes. Começando pela sua
consciência de verem morrer a criança que existe neles em favor de um novo
adulto, percepção que se aproxima da tarefa do cristão de deixar morrer o homem
velho por uma nova vida. No momento do crescimento, a criança que se torna
adolescente aprende a pensar sozinha, a agir por vontade própria, a ser um “eu”
diante dos outros.
O percurso catecumenal também transforma um
simpatizante da Igreja em uma pessoa que é capaz de dizer “eu creio”. Assim, os
pequenos gestos de emancipação podem ser colocados ao lado do rito de passagem
da crisma. Um caminho a ser feito em grupo e dentro das relações que se
estabelecem com as lideranças de fato e as propostas pelos adultos. A estes
últimos, compete particularmente a delicada tarefa do acompanhamento. Ele
conhece a paciência do crescimento, a marcação das etapas, a dimensão
relacional e social.
“Acompanhar uma criança, um adolescente no caminho
da fé significa esforçar-se para criar as condições para um encontro com Cristo,
é a proposta de partir para o seguimento a Cristo em um caminho que lhe seja
próprio. Em suma, trata-se de ajudá-lo a escutar o apelo do Cristo dentro da
sua vida, a descobrir a vocação que lhe é própria e a responder a ela.”
As pequenas decisões ao seu alcance têm o efeito de
estruturar e relançar energias para outros passos. É caminhando que se aprende
a caminhar, permitindo que se intua o fio dourado do Espírito que atravessa as
decisões individuais. O apelo vocacional é totalmente funcional para a
construção da identidade pessoal.
O conjunto da comunidade cristã e os educadores
individuais são chamados a viver a relação educativa sob a insígnia de três
gestos fundamentais: “Eu creio em ti”,
“Eu espero contigo”, “Eu te amo assim como Cristo te ama”.
Sabendo que cada vez menos adolescentes virão à Igreja, e será necessário
alcançá-los nos lugares que eles frequentam.
Um ensinamento “de cima para baixo” não funciona
mais. “Os jovens querem ser atores das suas descobertas, aprendem melhor se são
interativos com aquilo que lhes propomos. Entrar nos seus modos de
funcionamento, utilizar os seus instrumentos midiáticos só pode nos ajudar a
entrar em uma dinâmica nova do anúncio com os instrumentos do nosso tempo.”
A missa e os
ritos
E a missa? “Longa demais, sempre a mesma coisa,
sempre o mesmo que fala.” “Bonita pelos encontros com os outros, mas aos
domingos, sem os amigos, é chata.” “Não se entende nada das palavras do padre e
dos leitores... Até em sala de aula é possível fazer perguntas.” “Ir com os
pais é maçante, e depois só tem velhos”: a dureza das afirmações dos
adolescentes (algumas totalmente compartilháveis até mesmo pelos adultos) não
esconde o desafio explosivo contido no rito, de um mistério que ocorre diante
de nós e conosco, que descentraliza a vida, que interrompe à força os nossos
tempos, que nos obriga à interioridade.
Não é fácil para o adolescente entender a lacuna
entre a turbulência interior produzida pelo rito e o seu aspecto imutável. “Eu
acho que a missa é um problema porque é fonte de angústia para muitos
adolescentes e adultos que têm cada vez menos o hábito ao silêncio e à gestão
das frustrações.” “Devemos reconhecer o incômodo representado pela missa e como
ela requer delicadeza e acompanhamento da nossa parte.”
São duas as pistas propostas: o rito e a
participação da família. A ritualidade é necessária para todos, e viver a
Eucaristia com a família ou com os educadores é o único meio para torná-la
fecunda para os jovens.
A Documents Episcopat propõe, na segunda
parte da revista, uma série de experiências práticas de associações e de
movimentos que são próprios da tradição francesa, como o trabalho nas escolas
católicas e nas capelanias escolares, a ação educativa das novas comunidades,
as peregrinações juvenis e a experiência das “igrejas dos jovens”. Há outras,
como o escotismo e as associações católicas, que também valem para o contexto
italiano.
Limito-me a destacar o papel de Taizé, que
aqui é remetido à sua introdução à oração. “Três dimensões da oração em Taizé
parecem ecoar na busca dos jovens: uma oração acessível, uma oração meditativa,
uma oração do coração”.
A oração da comunidade aberta a todos foi
progressivamente enfraquecida e limada para chamar a maior atenção possível. O
canto com textos curtos da Escritura de forma responsorial e repetitiva
facilita a meditação. “Através do canto, do silêncio, os jovens se descobrem
capazes de um coração novo, de um coração simples no sentido etimológico da
palavra, de um coração contrito.”
Fonte: IHU - ADITAL
Nenhum comentário:
Postar um comentário