O texto "Paulo
Guedes nos levará ao fundo do poço", do sociólogo
Ivo Lesbaupin, é uma excelente análise da situação política e econômica do Brasil.
Pode ser de grande valor para quem estiver realmente interessado em entender
melhor o que de fato está acontecendo hoje no Brasil, com as atitudes, propostas
e planos do atual (des)governo Bolsonaro.
A matéria foi publicada no blog Leonardo.BOFF.com.
Trago-a também para este espaço para ajudar um pouco na sua divulgação.
Não deixe de ler na íntegra!
WCejnóg
Blog leonardoBOFF.com
18/05/2019
Paulo Guedes nos levará ao fundo do poço:
Ivo Lesbaupin
Ivo Lesbaupin de Iser Assessoria é um
conhecido deste blog, como sociólogo com excelentes e bem compreensíveis
análises de conjuntura. Publicamos esta pela sua clareza e por nos chamar a
atenção das dramáticas políticas que estão sendo impostas ao país e
principalmente aos trabalhadores e aos pobres. Não podemos largar a mão de um e
de outro. Temos que resistir por um sentido humanitário, ético e patriótico.
Lboff
Há três dias o ministro Paulo Guedes falou que a
economia brasileira está no “fundo do poço”. Parecia um estudioso de fora do
governo, que não tinha responsabilidade para com esta situação.
Mas ele dizia isso para convencer os parlamentares
de que é preciso aprovar a Reforma da Previdência proposta por ele. Se não,
afundaremos mais ainda. E ele nada poderá fazer.
Anos atrás li um trabalho de Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de
economia, onde ele dizia que emprego e desemprego não são resultados fortuitos,
imprevisíveis: o país gerará emprego (ou desemprego) dependendo da política
econômica que adotar. Claro, tem de se levar em conta o contexto internacional,
não há dúvida. Mas o que Stiglitz estava querendo dizer é que políticas de
austeridade (ou de ajuste fiscal) produzem desemprego. E políticas
anticíclicas, de investimento público, geram emprego.
Nós vimos isto ocorrer no governo FHC: políticas de
ajuste fiscal que geraram enorme desemprego e, no período Lula, políticas de
investimento público que produziram emprego, mesmo depois da crise
internacional de 2008 (houve uma queda em 2009, mas depois retomou).
O país está à míngua?
Desculpem, como disse um sociólogo conhecido anos
atrás, o Brasil não é um país pobre, é
um país injusto. Temos, o Estado brasileiro tem, muitos recursos.
Recolhe uma quantidade enorme de impostos, sobretudo dos pobres e da classe
média e transfere a maior parte para os mais ricos.
Exemplo: 350
bilhões de reais, no mínimo, por ano, vão para o 1% mais rico, como pagamento
de juros da dívida pública. Por que? Porque temos uma taxa de juros
reais entre as mais altas do mundo: estamos em 7º lugar. Se tivéssemos uma taxa
de 0% ou menos que zero, como Polônia, Estados Unidos, Japão, Grécia, não gastaríamos
esta fortuna (só para os ricos). Quem decide estes juros altos recebidos pelos
ricos? O governo. Então, primeira sugestão, ministro: reduza drasticamente a
taxa de juros. Assim, poderemos discutir a Reforma da Previdência
sem medo de afundar.
A segunda coisa, segundo o economista Eduardo
Fagnani, é que o Brasil abre mão de 350
a 400 bilhões por ano, em isenções fiscais. Quem decide isso? O governo.
Neste caso, a sua pasta, Sr. Ministro.
Terceira coisa: ir atrás dos sonegadores. 500 bilhões por ano. A Receita Federal
sabe quem são os maiores, quanto devem. É só querer cobrar.
E, por favor, taxem os juros e dividendos, que são
recebidos apenas pelos mais ricos. A Estônia é o único país do mundo, além do
Brasil, que comete esta injustiça (de não taxar os mais ricos). Por que o
ministro não cobra do Congresso esta mudança?
Não esqueçamos: a economia de agora está ruim por
causa da Dilma. “Errou tudo”. Errou, sim, alguma coisa, mas não tudo.
Errou, por exemplo, ao adotar, no segundo mandato,
o ajuste fiscal. O desemprego voltou a crescer por causa disso (estava em 6,8%
em 2014).
Mas, depois, a partir de meados de 2016, não foi
ela: o governo Temer fez aprovar a PEC do Teto dos Gastos. Traduzindo: obrigou
o Estado a reduzir investimentos em saúde e educação públicas – pelos próximos
vinte anos -, o que aprofundou a recessão. Votou a Lei da Terceirização e, logo
em seguida, a Reforma Trabalhista, que acabou com os direitos trabalhistas. A
tal reforma, contrariamente ao que diziam, não gerou emprego, gerou mais
desemprego.
O ministro Paulo Guedes interrompeu o ajuste
fiscal? Interrompeu a política de austeridade? Não: está aprofundando o ajuste.
Traduzindo: impedindo que o Estado invista mais, impedindo o crescimento
econômico.
Se o Estado não investe, diria Stiglitz, não vai
ter crescimento.
Sua política econômica, ministro, ao dar
continuidade ao ajuste fiscal, está nos levando ao fundo do poço. Há cinco
meses, só se fala em cortes. Não dos lucros dos banqueiros (que, este ano, já
tiveram lucros maiores que no ano passado, no mesmo período). Cortes nas
políticas públicas, na educação, na previdência. O desemprego está aumentando,
o desalento também. E o governo nada faz para mudar esta direção. Sua única
proposta até agora é fazer aprovar a reforma da previdência.
E todos sabemos que esta reforma não vai produzir
crescimento. Se for aprovada este ano, só começará a ter efeitos no ano que
vem. E, entre os efeitos, não haverá emprego. Haverá menos dinheiro nas mãos de
muitas pessoas, que vão perder parte do que já ganhavam. Ou seja: o mercado
interno vai ser reduzido, justamente um dos principais fatores da melhora da
economia até 2014.
Sua outra proposta de política econômica é
“privatizar tudo”. O Sr. quer deixar de receber os 70 bilhões de lucros
produzidos por ano pelas nossas maiores empresas estatais e transferi-los para
o setor privado. Que governo reclama que faltam recursos e joga fora os
recursos que tem?
Ministro, todos sabemos o que deve ser feito para
aumentar a receita da Previdência: crescimento econômico, aumento do emprego,
aumento dos salários. Já vimos que há recursos para o Estado investir. Se
houver emprego, haverá mais trabalhadores formais, mais gente pagando a
Previdência. Vai ser muito bom.
Pare de destruir o país, por favor.
Fonte: blog leonardoBOFF.com
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