Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sexta-feira, 31 de maio de 2013

“Não podemos partilhar o pão eucarístico ignorando a fome de milhões de seres humanos privados de pão e de justiça.” – reflexão de José Pagola.



Uma reflexão muito concreta, do  padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola, nos faz obrir os olhos para a realidade da vida do ser humano no mundo de hoje. Neste mundo, o nosso desafio é sermos cristãos autênticos. Será que entendemos o que isso  quer dizer?
Foi publicada recentemente no site do Instituto Humanitas Unisinos.
Não deixe de  ler.
WCejnog 


Eis o texto:
 




A crise econômica vai ser longa e dura. Não precisamos nos enganar. Não poderemos olhar para o outro lado. Em nosso redor mais ou menos próximo iremos encontrando famílias obrigadas a viver da caridade, pessoas ameaçadas de expulsão, vizinhos lutando pelo desemprego, doentes sem saber como resolver os seus problemas de saúde ou medicação.

Ninguém sabe muito bem como a sociedade irá reagir. Sem dúvida, irão crescer a impotência, a raiva e a desmoralização de muitos. É previsível que aumentem os conflitos e a delinquência. É fácil que cresçam o egoísmo e a obsessão pela própria segurança.

Também é possível que a solidariedade cresça, por outro lado. A crise pode-nos fazer mais humanos. Pode-nos ensinar a partilhar mais o que temos e o que necessitamos. Podem-se estreitar os laços e a mútua ajuda dentro das famílias. Pode crescer a nossa sensibilidade para com os mais necessitados. Seremos mais pobres, mas podemos ser mais humanos.

No meio da crise, também as nossas comunidades cristãs podem crescer em amor fraterno. É o momento de descobrir que não é possível seguir Jesus e colaborar no projeto humanizador do Pai sem trabalhar por uma sociedade mais justa e menos corrupta, mais solidária e menos egoísta, mais responsável e menos frívola e consumista.

É igualmente o momento de recuperar a força humanizadora que se encerra na eucaristia, quando é vivida como uma experiência de amor confessado e partilhado. O encontro dos cristãos, reunidos cada domingo em torno de Jesus, há de converter-se em lugar de consciencialização e de impulso de solidariedade prática.

A crise pode sacudir a nossa rotina e mediocridade. Não podemos comungar com Cristo na intimidade do nosso coração sem comungar com os irmãos que sofrem. Não podemos partilhar o pão eucarístico ignorando a fome de milhões de seres humanos privados de pão e de justiça. É uma piada darmos a paz uns aos outros esquecendo os que ficam excluídos socialmente.




A celebração da eucaristia vai nos ajudar a abrir os olhos para descobrir a quem temos de defender, apoiar e ajudar em momentos como estes. Há de nos despertar da “ilusão da inocência” que nos permite viver tranquilos, para nos movermos e lutar apenas quando vemos em perigo os nossos interesses. Viver cada domingo com fé pode nos fazer mais humanos e melhores seguidores de Jesus. Pode-nos ajudar a viver a crise com lucidez cristã sem perder a dignidade nem a esperança.


(José Antônio Pagola)