Trago hoje para o blog Indagações uma poesia, de autoria do Pedro
Casaldáliga, que fala mais forte que grandes sermões e eloquentes homilias.
Escrita acerca de 10 anos atrás, ela é mais que atual nos dias de hoje.
Como seria importante, ao meu ver, essas palavras pudessem ser ouvidas e
meditadas durante Jornada Mundial da Juventude - o encontro mundial dos Jovens no Rio de
Janeiro nos dias 23 a 28 de julho de 2013, com a presença do Papa Francisco...
Não deixe de ler e meditar!
WCejnóg
Deus veio até a casa, desdizendo-se de sua glória.
Pediu licença
ao ventre de uma menina sacudido por um decreto de César,
e se tornou um de nós:
um palestino entre tantos, em sua rua sem número,
semiartesão de toscas tarefas,
que vê passar os romanos e as andorinhas,
que morre depois, de morte ruim, matada,
fora da Cidade.
Já sei
que faz muito que os sabeis,
que vo-lo dizem,
que o sabeis friamente
porque vo-lo disseram com palavras frias...
Eu quero que o saibais
de repente, hoje, quiçá,
pela primeira vez, absortos, desconcertados, livres de todo mito,
livres de tantas mesquinhas liberdades.
Quero que vo-lo diga o Espírito,
qual machadada em tronco vivo!
Quero que O sintais como um esto de sangue no coração da rotina,
em meio a esta carreira de rodas entrechocadas.
Quero que tropeceis com Ele como se tropeça com a porta da Casa,
retornados da guerra, sob o olhar e o beijo impaciente do Pai.
Quero que O griteis
como um alarido de vitória pela guerra perdida,
ou como o parto sangrante da esperança
no leito de vosso tédio, noite adentro, apagada toda ciência.
Quero que O encontreis, em um total abraço,
Companheiro, Amor, Resposta.
Podereis duvidar de que haja vindo para casa,
se esperais que vos mostre a patente dos prodígios,
se quereis que vos sancione a desídia da vida.
Mas não podeis negar que seu nome é Jesus, com patente de pobre.
E não podeis negar-me que O estais esperando
com a louca carência de vossa vida rejeitada
como se espera o sopro para sair da asfixia
quando a morte já se enroscava ao pescoço,
como uma serpente de perguntas.
Seu nome é Jesus.
Seu nome é como seria nosso nome
se fossemos, de verdade, nós mesmos.
(Pedro
Casaldáliga)
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