A ruptura que destroi

O mundo de hoje  “gira” cada vez mais rápido – é uma opinião que ouço com freqüência.  As pessoas se lembram que antigamente era diferente: o ano passava bem mais devagar, demorava muito para a chegada do Natal, das férias, da Páscoa, do aniversário de alguém... As pessoas tinham mais tempo.

Hoje, penso eu, as coisas mudaram muito. Também sinto que o mundo “gira” mais depressa que antes – e quem não reconheceria  isso?  Mas o que espanta, é que o ser humano, hoje,  entrou numa corrida desenfreada atrás do “Ter” e do “Poder”, impulsionado pelas suas incríveis e maravilhosas realizações científicas e tecnológicas, de maneira que está atropelando cegamente os valores e estruturas vitais, sem as quais não tem futuro! O que estamos assistindo hoje é de arrepiar: em busca do progresso, do poder e do lucro, os homens que exercem o domínio na sociedade não querem saber dos outros, dos excluídos, dos pobres e  miseráveis  (no máximo dão lhes algumas “migalhas” para enganar a sua consciência, se é que a têm); agridem a Natureza, destroem o Meio Ambiente; trabalham contra a dignidade do ser humano transformando-o num mero dado estatístico; promovem políticas que visam  desintegrar a família e tornar relativos os valores éticos e religiosos. O homem se julga ter o poder modificar até a própria Natureza.  O egoísmo e a corrupção fazem a festa!  E isso  tudo está acontecendo no mundo inteiro, em todos os países, aos nossos olhos.  

E pior, a maioria da sociedade  fica calada, como se estivesse consentindo com isso.  Até mesmo aqueles, cujo papel neste mundo é serem ‘profetas’  ficam calados.  Talvez alguns até denunciam  os erros e abusos, e protestam, mas sem  a necessária veemência - por que será?   Outros ficam calados, esquecendo da sua missão. Não  falta também aqueles que querem ‘pegar a onda’ e estar junto a tudo o que o mundo lhes oferece, esquecendo do chamado.

Não acredito que a sociedade toda concorda com o rumo que o nosso mundo está tomando;  alguma coisa está errada. Parece que um “torpor” tomou conta de nós...!  Por que será que o espírito da covardia, da acomodação e da mediocridade está tomando conta do ser humano?  O caminho do bem, do respeito, da tolerância, do amor - que é o único para a construção da paz e do futuro melhor para toda a humanidade – parece ficar interditado! Este seria o destino da vida humana? Precisamos “acordar”!

O texto abaixo ajuda a compreender esta questão: 

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(...) A humanidade não se satisfaz com as conquistas e o progresso, ela continua correndo  atrás das ilusões. Cada vez mais!  O homem, que aparece forte e capaz nas suas buscas, ao mesmo tempo mostra-se limitado e ameaçado. Precisaríamos fechar os nossos olhos para não ver que uma enorme ruptura se instala no mundo: em várias áreas, sobretudo na economia, ciência e tecnologia existe enorme progresso; no entanto, nas outras áreas, como vida humanitária, humanismo, os Direitos Humanos - parece que a situação se agrava. Entre a vida que gostaríamos que  fosse, e esta que temos na realidade, existe contradição. Cada um de nós, hoje, percebe a existência de muitos absurdos: injustiça, o mal e sofrimento no mundo – dois terços da humanidade passa fome e muitos morrem por falta de alimentos, enquanto outros tem de tudo e em excesso. Guerras são promovidas sem, ao menos, consultar as populações atingidas. A explosão de violência - as pessoas jovens morrem freqüentemente  no auge da vida, enquanto os criminosos continuam impunes. Existe excesso de sofrimento, lágrimas, dúvidas. Até as crianças inocentes sofrem muito. 


Será que podemo-nos conformar com isso? Não nos revoltamos contra essa realidade? Será que o mundo é arruinado, parecendo uma obra mal feita?

E em nós mesmos, o mal não encontra lugar mesmo quando  queremos o bem?  Desta maneira eliminam se o bem  e o mal? O que, então, ou quem traça e determina a nossa vida? (...)

(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, p.18-19.)

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